domingo, 9 de dezembro de 2007

Abril

Surge uma formiga com voz de cigarra que encarna um “Menino D` Oiro”. Chama-se Cristina Branco e vem acompanhada por uma trupe de músicos que enaltecem a perfeição, mesmo que seja a primeira data da “ tour e vocês estão-nos a dar sorte.” A pauta ajuda-a na releitura de “Comboio Descendente,” com falsete no refrão. A sua silhueta veste vestido com decote em semicírculo, altiva nuns saltos altos, afaga nos seus braços o TAGV na “Canção de Embalar”, passeia-se pela “Avenida de Angola,” numa toada trágica perante as baixas na frente da guerra colonial. A sua ladainha é da pena de Zeca Afonso, o escultor das paisagens expressionistas, às quais ela empresta a alma e descodifica o “Redondo Vocábulo.” À “Cantigas de Maio” adiciona em seguida “A morte Saiu à Rua”, com uma introdução do baterista Alexandre Frazão que lhe incute um compasso fúnebre e arrítmico. A violência instala-se com a cumplicidade de “cinquenta” Antigos Orfeões da Universidade de Coimbra que entoam o refrão de “Coro da Primavera”, em cada pausa de bateria a voz da cigarra eleva-se num chamamento caloroso. O Verão ilumina a plateia que protesta de pé, a bater palmas no fim de “Índios da Meia Praia”, anavalhada por um colectivo de músicos que eliminam a angústia do passado estar presente, retalhado em dinâmicas acidentais, violento, mortal: Abril.

Cristina Branco “Zeca de Corpo e Alma” Teatro Académico Gil Vicente (Coimbra), 07 de Dezembro

domingo, 2 de dezembro de 2007

La Pisseuse

Facto: Jane Birkin vestia calças da tropa macaca com dois bolsos laterais em cada uma das suas pernas, uma blusa de algodão com decotado generoso preto. No início esperneou e em gesto reflexo chamou a público Sergei Gainsbourg, quando ele se enrolava com ele a um rito, dois por dois, as suas palavras ganhavam formato de gemido que ecoava em francês e em inglês. E o som é sustenido por três multi-instrumentistas virtuosos, que dedilham a harpa e cravavam ao piano de cauda preta melodias num requebro de puberdade, estes lampejos, por vezes inconsequentes outros perfeitos, a equação pendia eminentemente para o defeito. Assoma-se do seu rosto um sorriso grafitado para contrair os contornos do passado: «Vous parlez, français, englais?» Resposta de um cagareu: «Français, français, français» ; « Mon fils il m’a trouvé à chanter une chanson, de Caetano Veloso, il ma dit: maman: tu chantais en japonais?»; «Non mon fils, en portugais. Ahahah! Caetano Veloso il l’a chantée pour moi, ahahah». E a conversa multiplica-se, saem pessoas do Teatro Aveirense, povoado por saudosistas rendidos ao desbarato e inebriados por uma beleza de alma ausente que devaneia pela plateia a cantar uma história de amor esvazio. No palco equilibra-se nas sapatilhas pretas e coloca uns óculos transparentes e tenta acompanhar a banda, pôr mão nos desordeiros, «leaõazinho, leaõazinho», a cacofonia roça uma língua entrelaçada com a de Gainsbourg, numa lição de anarquia a galope, o desastre é conseguido. Por vezes tenta retirar dos bolsos as mãos ou dançar, mas as luzes que perpassam a cenografia de bordel de Pigalle, espalham-se pela memória de Gainsbourg: «je t´aime, moi non plus.»

Jane Birkin, Festival Sons em Trânsito, Teatro Aveirense 30 de Novembro

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Le Mag

Várias figuras em palco vindas de uma África distante, verdejante e com o rio por perto, ondula num ritmo quente semelhante aos passeantes que traficam verdura para a feira, as mulheres opulentas, transportam alguidares enrolados na cabeça. «Mercy beaucoup, come on di ça on portugais?» Vieux Farka Touré irá colocar esta pergunta constantemente ao longo do concerto que está a decorrer no Teatro José lúcio da Silva (Leiria), e obterá por parte da multidão a respectiva resposta: «Muito obrigado!» Ele veste uma túnica de cobre encarquilhado e está rodeado por vários membros da sua tribo que o ajudam a contar as suas histórias relatadas numa língua rendilhada, tolhidas por uma alegria contagiante, mesmo as canções mais lentas são percorridas por um espírito colorido. A improvisação é matéria que vem à superfície, e não vislumbramos o que vem de origem e o que está a nascer aos nossos olhos, esta invisibilidade permite navegar num rio de anil que enxerga o céu.
Surgem quatro tuaregues destacados para enfrentarem um deserto bipolar que é território de guerra onde prevalece a rebeldia suprema, as guitarras jogam entre si num deflagrar constante que sustenta uma cantoria hipnotizante. Os Tinariwen fazem da electricidade um transmissor lúdico, com elas aquecem a fogueira de palmas que irradiavam do público. O líder, vestido a rigor para ocasiões especiais, dança e ergue as mãos, rodopia e o manto de algodão branco cria formas circulares, o djanbé é o único coração desta delegação da paz e do amor.

Festival Au Désert - O Deserto chega em Outubro, Vieux Farka Touré e Tinariwen, Teatro José lúcio da Silva, 18 de Outubro

domingo, 14 de outubro de 2007

Disco Lag

A plateia do Teatro Miguel Franco em Leiria está repleta de um preto pardo, entra em palco um louro com perfil de SS, olha o público, acena a cabeça educadamente e os espectadores acordam, instalando-se o silêncio. O ecrã anuncia In The Nursery, de imediato segue-lhe o seu irmão clone, que arrebenta com as peles dos tambores marciais, um outro músico ocupa-se discretamente de restos de bateria. A música introdutória assinala o aparecimento da cantora que enverga um corpete que lhe acentua o excesso de peito, não se reflecte na cantoria, fantasmagórica por acidente do destino. Por vezes as programações e os acordes do teclado do SS geram redundância, apesar de espelharem um psicadélico pechisbeque que as impregna de um encanto decadente onde por vezes se vislumbra tons de beleza, por vezes tão tépidos, que aceleram o tempo. «The last time I was here I was pregnant!» surge a filha do Tim Burton, que sofre com a vertigem do espaço vazio e do som excessivo, mas não larga a pandeireta que marca um ritmo infantil.

In The Nursery, Teatro Miguel Franco, 12 de Outubro

terça-feira, 31 de julho de 2007

Dallas

"Say it Right" abre a contenda e as luzes seguem o rosto sedutor de Nelly Furtado: "Boa noite Cantanhede! Estou muito contanta de estar aqui hoje," sempre que se dirige directamente ao público, lança uma gargalhada de Cinderela. Ora enverga o vestido de virgem violada "Em tudo o que o Vento Levou", ou, exibe as jóias para visitar o namorado que está hospedado no parque de Campismo da Feira Agrícola, Comercial e Industrial de Cantanhede. "Turn of the lights" é um convite para embarcar numa festa de adolescentes alienados, tentam em "Showtime" aproximar-se da versão que consta em "Loose", em vão. O palco está dividido, na vertical, em três partes, que são ocupadas pelos músicos: "Este é o meu director musical", e por bailarinas lascivas acompanhadas por um traceur, que se atira às luzes como se fosse uma mancha que vai animar a multidão, inútil. A estrela dos Açores ocupa o segundo degrau e debita o seu timbre cristalino como se fosse a narradora das tramas sentimentais, na América latina ou num gueto Sul-africano em Los Angeles. Diz-se "Sozinha" e veste umas calças cinzentas apertadas que dramatizam o seu papel de: "Porque você me deixa tão solta? /Porque você não cola em mim? / Tô me sentindo muito sozinha" com top cor-de-rosa. A magia inflama os ecrãs e ouvem-se os acordes acetinados de "All Good Things (Come To An End)" que é transformado em "SexyBack" interpretado pela corista que é rodeada pelos bailarinos hiperactivos. "Conhecem Timbaland?" a multidão responde afirmativamente numa onda de reconhecimento, ao ritmo de "Promiscuos" assume-se malandra e matreira e que somente acompanha o rapper se este despir a "t-shirt", apresenta o seu partner: este "é Saucrates, podutor, Dj, ahha". Dá aquela "Força", e bolas são lançadas para o público pelos dançarinos equipados a rigor, a Nelly assina uma e oferece-a à primeira fila. A árbitra avisa: "O meu nome é Nelly Furtado e gostei muito de estar em Cantanhede! Hello Cantanahade! Foi uma noite muito special! Foi? Não, mas está quase! Ahahhaha."

Loose Tour, Nelly Furtado, 28 de Julho, Feira Agrícola, Comercial e Industrial de Cantanhede.

terça-feira, 26 de junho de 2007

Dirty Stage

No ecrã desenvolve-se uma sucessão de imagens animadas que culminam num estoiro pirotécnico e os acordes de “Star me Up” acendem-no num turbilhão de luzes, o Demo abre a sua boca e canta a consanguinidade do rock and roll. Enfrenta a plateia deflagrando um hálito tempestivo, que reconhece no público o preconceito católico, “I`m so hot!” Preenche o púlpito de gestos lascivos e incita os seus dois colegas de palco a abandonar o triângulo que desenham junto à bateria de Charlie Watts, revelando uma alienação lúdica. Mick Jagger impõe-se em cada gesto, onde fervem as palavras: “Boa noite Lisboa!” As línguas trocadas em “No Expectation”, cantada com uma pin up do fado, revela-se o momento trágico-cómico: “maybe some portuguese flavor, ããã?”, apresentou-a o flamejante e híbrido cantor. O microfone por vezes não resiste às labaredas saídas de “Can´t Your Hear Me Knocking?”, impõem-se às fronteiras da justiça sexual, libertando o líbido dos portugueses que dançam no Alvalade XXI sob o signo “A Bigger Bang Tour.” As cores das torres que emolduram o inferno capitalista viram-se, reviram-se e por vezes inflamam-se num gingar encantatório num destino nos trópicos “It`s Only Rock`n`Roll” com vista para o mar de topázio. O irmão gémeo de Mick, insurge-se contra si, e sublinha as canções com solos desdenhosos num harpear epicurista. O andor penetra a multidão, concentram-se num rectângulo de onde expelem: “Satisfaction” to “Honky Tonk Women”, num coito ininterrupto. O Diabo roça a cauda no varandim e apresenta-se num uivar que dilacera as almas utentes da reencarnação, “uuuuu” e “i guess..” que “you now my name!” “Paint it Black” anuncia-se como o testamento mais breve da história do rock. “Esta noite muito especial”, e ele concretiza a profecia transformando o carril do andor numa passadeira chispa chamas. Os Rolling Stones reúnem-se em redor do fogo de artifício que queima “Brow Sugar” que infecta os portugueses: “Brown sugar how come you taste so good, now? Brown sugar just like a young girl should, now - yeah!.”

A Bigger Bang Tour, The Rolling Stones, 25 de Junho, Estádio Alvalade XXI

terça-feira, 15 de maio de 2007

Gilbert and George

Abrem o pano metalizado e aparece do além George Michael, vestido de escuro com uns óculos espelhados para esconder o olhar que pousa sobre o Estádio Cidade de Coimbra. Absorve as palmas e tenta ganhar a multidão insinuando-se para o público como uma relíquia: “When you go outside these building, you will not feel time pass by!” Faz o apelo do sexo livre “Fast Love”, e conduz pelas artérias de Manhatan num táxi onde transporta uma amante à qual promete: “will be your father figure (oh baby)/Put your tiny hand in mine (I love to)/ I will be your preacher teacher (be your daddy) Anything you have in mind (it would make me).”As cores à sua volta são sóbrias, a banda está instalada na vertical, sendo peças de decoração do cenário futurista. O palco ilumina-se exuberantemente na queixa persistente de muitos homens: “And now you tell me that your having my baby” e o refrão é mordaz: “Somebody tell me/ Why I work so hard for you? (To give you money)." Presenciamos ao surgimento do Bush, vindo de uma Casa Branca travestida de Soho, a dar de mamar ao Blair: “Shoot the Dog” soa mecânico e violento. Intervalo de vinte minutos, “see you”, o ecrã faz a contagem decrescente: seis, cinco, quatro, três, dois, um, ZERO! Surge o rebelde de cabedal que empunha a guitarra com luvas que marcam o ritmo soul de “Faith.” A chuva refresca a emissão e o artista não se esquiva de cantar próximo do público, que aparecem nos ecrãs debilitados pela sua presença ubíqua. Senta-se e embala nos seus braços uma prece que é tão suave quanto breve “Jesus to a Child”, é inscrita na lista dos milagres por canonizar. Rejuvenesce quando está “Outside” a consumar um acto perverso nas vias públicas, o cenário transforma-se em arranha-céus, que escondem na sombra o sexo esquivo. Por vezes recuamos no tempo, e vemo-lo: num veleiro ao largo de Cannes com a namorada, que o abandona, e a sua ausência fê-lo perder a noção do ritmo, “youooooo” o saxofone ecoa como se fosse o epicentro da paixão “the way I dance with youuuuuu.” O cantor alerta-nos para: “Today is the birthday of my dady!” e a multidão de casais tomam a iniciativa de retribuir os parabéns a você ao pai do ex-Wham, “dear dady”. Anuncia “Freedom” é “something very important” no mundo de hoje, os braços erguem-se subitamente como se os espectadores tivessem encontrado o seu destino. A sua despedida é aplaudida: “You are beautiful!”, a banda mantém-se em palco para acompanhar a projecção da ficha técnica dos músicos e do restante pessoal que acompanha George Michael na digressão 25Live. Como se o concerto ganhasse um fundo cinematográfico e a ficção encerrasse no seu âmago a realidade.


25 Live George Michael, 12 de Maio, Estádio Cidade de Coimbra

domingo, 22 de abril de 2007

O Ícaro da Lua

Um piano gravado sustém as luzes apagadas que esperam pelos Cult of Luna, que entram gradualmente no palco instalado num Convento em ruínas. A distorção é proporcionada pelas guitarras que dançam no ar como se fossem machados a cortar a carne que rodeia os tímpanos. As credenciais que os dominam conspurcam as paredes com sede pelo pecado original, como se fosse uma espiral de terror perante a fragilidade da mortalidade. O útero da lua é conciso e frequentemente sustenido numa delicadeza esotérica com pormenores electrónicos que lhes presta uma melodia Kafkiana. A hipnose é cinemática e ultrapassa o negro que se apodera dos corpos dos espectadores, que sangram fluentemente. No proscénio instala-se uma voz cavernosa que emite a partir de um megafone directamente para as nossas almas, jorra-mos em direcção ao Mondego. Um feedback inadvertido assinala o único traço humano de uma besta que transmite um holocausto sonoro que se quebra com a saída de três elementos da banda. O palco fica mutilado. Quando regressam, a epopeia infecta o altar de cores sombrias que é inundado por um delírio sónico da envergadura de lua eclipsada.

Coimbra, Convento de São Francisco, Cult of Luna 21 de Abril

segunda-feira, 19 de março de 2007

Alabama 4

“The fucking Alabama 3!” Entram em palco, os quatro elementos originários do Reino Unido, o vocalista Robert Love tem um chapéu preto de abas comprado em Portobello, os óculos escuros escondem o resto da sua alma. Sentam-se numas cadeiras de madeira, o guitarrista dedilha as cordas que ecoam na caixa acústica, que apoiam a voz da corista minúscula Devlin Love, de sombrero castanho claro, quando se levanta e abana as ancas o ar condicionado do Teatro Académico Gil Vicente expele uma brisa marítima de Primavera tardia. Nos intervalos das canções Robert Love conta histórias onde pontuam armas e drogas, por vezes parece que está disposto a fazer-nos a folha quando tira os óculos e aponta o indicador: “That`s the sound of the police” e “they sound like: boom, boom, boom” e “ when I say, what´s the sound of the police? You sing: boom, boom, boom.” A respiração rítmica é evidenciada por uma harmónica que por vezes é um comboio à vapor a cruzar o oeste e por raras ocasiões ouve-se o choro de uma mulher vítima das diabruras do vício. O ácido dissolve-se na boca de Robert Love, tira o chapéu e ergue-se da cadeira, desloca-se à frente da plateia e incita-a a cometer um crime: beber uma cerveja e limpar a arma, sair de casa com ela escondida sob o casaco de cabedal preto e bater à porta da velha endinheirada que é a patroa da casa das putas: “If you don´t open the door, I will send your soul to the graveyard, because I woke up this morning and I got myself some coke!” A guitarra tem as cordas a arder e a harmónica quer mais cerveja, a corista ri das inconfidências de Love: “You threw up in the tour bus!” e regressa à sessão de tiros: “That `s the sound of the police!” e enquanto os seus colegas seguram o movimento sónico ele questiona: “Is anybody in this room who can sing as Johnny Cash? There is nobody as Jonny Cash! Tonight I`m Cash!”

Coimbra em Blues no Teatro Académico Gil Vicente 17 de Março

sábado, 17 de março de 2007

domingo, 11 de março de 2007

Stageo Nazi Film

“Eu estava a folhear o livro e descobri a fotografia, era uma sala com armários a cobrir as paredes, com fichas, e uma mesa com um relógio parado nas seis horas.” Daniel Blaufuks é fotógrafo formado nas escolas da ArCo, “passei pela moda, pelo Blitz onde tirava fotos a concertos, e pelo Independente, onde passei do caderno 1 para o 3 onde trabalhava com as loucuras do Miguel Esteves Cardoso!” Onde se “encontrava a fotografia, era numa antiga prisão, onde foi aprisionado o assassino do Arquiduque da Hungria [Franz Ferdinand.” E sabia que a iria descobrir? “Eu parti para a Checoslováquia com a perspectiva de a encontrar, porque no tal livro não existia data ou localização exacta” e “quando a descobri tirei logo a fotografia” mas foi como mero turista? Não usou qualquer género de artifício, como a luz? “Não, quando estava a visitar a prisão, encontrei o espaço e fotografei, através de um vidro.” E o que sentiu… ah não lhe vou perguntar isso, mas o que lhe pareceu? São as dúvidas de Ana Sousa Dias (“Por Outro Lado”): “a prisão ficava numa cidade chamada Terezín [anteriormente conhecida por:Terezienstadt] que fora usada pelos alemães para depositar os judeus, eles tinham que andar com a estrela amarela, os Nazis chegaram a cunhar moeda para eles terem acesso ao comércio, aliás, era uma cidade como outra qualquer, a única diferença é que eles não sabiam que iriam dali para os campos de concentração. Aliás, esta cidade foi utilizada como forma de propaganda, os alemães realizaram um filme que durava 90 minutos, mas que hoje tem apenas vinte, e foi utilizada para ser visitada pelos diplomatas para fazerem o reconhecimento da boa relação entre os judeus e os Nazis. As pessoas que vemos no filme não sabiam que iam morrer, integrei-o na exposição do BES Photo, mas em câmara lenta, para durar exactamente noventa minutos, porque achei, que só assim as pessoas se iriam aperceber do que sucedeu a todas aquelas pessoas. Os judeus estavam proibidos de sair da cidade”, mas não viam os aviões? “Viam mas julgavam que eles estavam a ser protegidos ou que iriam salvar outras pessoas, aliás aquilo era visto como se fosse o Club Méditerranée ou um Kibutz.” Portanto essas pessoas estavam alheias à guerra? “Completamente. Mas eles sabiam que algo estava a passar, agora exactamente o quê não” e “ a cidade era composta por idosos e crianças, maioritariamente, porque os outros eram usados para diversos trabalhos.”Quanto à sua opinião sobre “a fotografia será sempre abstracta”, é “porque depende sempre de uma perspectiva” e “os meus avós também foram vítimas da Guerra e tiveram que fugir para Portugal. Eu nasci na Alemanha, e vim cedo para Portugal;” com que idade? “Com nove anos.” E chegou a voltar à Alemanha? “Voltei com a minha mãe, e recebi, o que aqui não existe: uma grande carga cultural.” Quanto à imagem integrada no prémio BES Photo, --e da qual ainda não sabemos quem será o vencedor--quando descobriu o local sentiu algum impacto? “Eu coloquei um filtro vermelho, em algumas imagens, para as pessoas se relacionarem e perceberem que aquilo não é nenhuma ficção.”

Daniel Blaufuks em "Por Outro Lado"

domingo, 4 de março de 2007


O Sonâmbulo

Comunica lentamente como se cada frase tivesse o peso de uma vida: “eu pedi aos meus pais, em vez de ir para as montanhas, para onde iam durante as férias, que pudesse ficar em casa a ler e durante esse período, li de dia e de noite, lia um livro por dia.” Chama-se Tomás Eloy Martinez e conversa com a inevitável Ana Sousa Dias, que o acolhe no estúdio de “Por Outro Lado”. E como é que começou a escrever? “Decidi que poderia tornar as histórias que imaginava em contos, e escrevia tudo o que me parecia verosímil” porque “eu acredito que o escritor é aquele que escreve sobre aquela área cinzenta que existe entre a realidade e o sonho” e é “precisamente durante o sono, quando sonho, que nascem as minhas histórias, acordo e escrevo o que vi, no dia seguinte releio para ver se há algo de substancial que possa ser explorado numa história.” Na, Argentina de onde é originário, “fui perseguido pelo ditadura militar”, algo que o obrigou a procurar “refúgio nos Estados Unidos, onde a minha mulher, que era venezuelana, foi convidada a dar aulas numa universidade”, pouco depois “fui convidado para criar o gabinete de estudos latino-americanos, onde institui os estudos sobre a literatura portuguesa, que é riquíssima.” À “saída da universidade, eu e a minha mulher fomos atropelados, ambos voamos, mas eu caí e fiquei tumefeito, ela morreu. Fiquei tristíssimo e cai numa depressão profundíssima, mas eu tinha que tomar conta da nossa filha que tinha quatro anos, para além de me ter enamorado, oito meses depois, de uma outra mulher e voltei à escrita.” Uma das suas obras era uma ficção sobre a relação entre “Evita e Perón, que eu criei parcialmente, porque havia partes já realizadas por um historiador, eu limitei-me a preencher as partes que faltavam à realidade. Depois de o ter escrito recebi um telefonema numa noite, eu já estava deitado, porque somente gosto de escrever de dia, especialmente durante a manhã, atendi e oiço: “você está enganado, nós é que somos os donos do cadáver de Eva Perón.” Eu respondi: como? Mas não me podem telefonar durante a manhã? “Não. Tem que vir ao nosso encontro ao café”, eu liguei para o meu advogado e disse-lhe: que faço? “Eu vou contigo, fico noutra mesa a ver o que se passa, porque eles a mim não me conhecem.” Mostraram-me fotografias do cadáver, que estava embalsamado, fui à casa de banho com o meu advogado e perguntei-lhe: que faço? Estas pessoas tinham o cadáver de Evita há vinte anos! Ahaha!” Enquanto director do departamento de línguas latinas “organizei um colóquio com diferentes escritores e jornalistas. Telefonei ao sub-director da “Folha de São Paulo” para confirmar a sua vinda aos Estados Unidos, ele disse-me que sim que viria. Pouco tempo depois volto a telefonar para o Brasil e informam-me que esse jornalista havia desaparecido, como? Fiquei surpreendido. O que se passou foi que ele havia dado dois tiros na cabeça da noiva—eles viriam realizar a lua de mel à América—porque esta havia sido infiel e que havia fugido! Ela foi-lhe infiel com um outro convidado ao tal colóquio! Algo que eu já havia escrito em “La pasión según Trelew”, ahahha! Telefonei ao director do “Estado de São Paulo”, que já havia recebido o livro, e ele disse-me: “é incrível! Como é possível! Que coincidência!” Ri do facto de, por vezes, escrever a realidade: “coloquei na voz da Evita a seguinte frase: obrigado por existires, como se ela o tivesse dito ao Perón. As entidades argentinas colocaram-na no túmulo da Evita! Ahahh.Obrigado por existires!”

Tomáz Eloy Martinez em "Por Outro Lado"

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Hurt

Entro em palco acompanhado por mais quatro elementos, os seus braços são alimentados à electricidade, sobre as nossas cabeças temos candeeiros indústrias, com a marca americana: Nine Inch Nails. Acelaramos para o tema que escrevi quando estava à beira da falência técnica dos meus sentidos, e a razão apenas me feria em cada raciocínio:"Mr. Self Destruct." A distorção acende e apaga as luzes ininterruptas que queimam o olhar dos portugueses, aceito as palmas mas tenho medo de “fuck up our first concert”. A minha voz escarra contra os "March of Pigs", que se clonam para alimentar o futuro. Já sofri por "Something I Can Never Have", mas nunca percebi o destino das minhas ansiedades que me rejeitavam para o colo dos americanos: "Help Me I Am In Hell, Hell!" Fui ignorado pelo sorriso dos meus pais, que julgavam que deram ao mundo um falhado que veste na alma os ossos da morte. Hoje sou o capataz desta fábrica de onde caem pingos do tecto e a guitarra se digladia com a maquinaria, o alarme dispara e bloqueia as luzes de palco: “Just pretend we have kick ass lights”, a multidão é rasgada pela revolta dos que instauram a anarquia e a dor nos seus congéneres. “You Know What You Are?”, mas ninguém responde à minha inquirição, ouvem-me para se libertarem da alienação que a sociedade lhes incute. Magoo-me em cada nota do piano e os versos são o testamento de uma nação que me baptizou de Trent Reznor: ”What have I become/ My sweetest friend/ Everyone I know goes away/In the end.”

Nine Inch Nails, Coliseu de Lisboa, 10 de Fevereiro

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

800 Escudos

Tem a cabeça destituída de cobertura, lentes densas fazem realçar os seus olhos e pontua o seu discurso com números: "a minha mulher ofereceu-me uma tesoura, que lhe custou oitocentos escudos, com ela cortei o alumínio que tinha dois centímetros de espessura.” Ângelo de Sousa é escultor e artista plástico,"eu desenhava e guardava, o que não gostava deitava fora…” E como sabe que não gosta de um trabalho? Questiona Ana Sousa Dias (“Por Outro Lado”), “isso sucede quando tenho nojo da minha obra” e “se desenhar 1000 é possível que 100 vão parar ao lixo!”, sublinha a sua voz enrouquecida, os gestos acompanham as frases de forma displicente. “Após o vinte e cinco de Abril tínhamos reuniões que duravam dias! Um falava, falava, depois era a vez de outro e eu aproveitava para desenhar, desenhar, aquilo era um sofrimento!” As obras que estiveram na Gulbenkian, foram quantos desenhos? 200? “Não, muito mais, muito mais.” E o facto de ter tido vinte na nota de curso, isso modificou a sua vida? “Nada.” Mas foram só quatro com nota máxima? “Não, foram mais. Mas essas notas foram dadas para fazer concorrência à Escola de Belas Artes de Lisboa, nada mais. A nós os quatro deu-nos jeito, formamos uma sociedade que durou quatro anos, era uma forma de atrair as pessoas.” E em Londres como foi a sua vida? “Mandavam-me desenhar uma modelo loura, branca, de olhos azuis e diziam-me: “carregue mais nas sombras! Carregue mais nas sombras!” Mas eu não via nada sombreado na mulher que era loura, desisti, também já era algo que eu fiz durante seis anos todas as manhãs no Porto.” E o que fez por lá? “Nada.” Mas não visitou nenhum museu? “Ah! Ia muito ao cinema com a minha mulher, ver ciclos de cinema francês nomeadamente da nouvelle vague. Fui aos museus estudar como é que os gajos chegaram a determinados resultados. Porque é isso que me interessa numa obra, perceber o processo e avaliar o resultado.” E não tem curiosidade em saber para onde vão as suas obras? “Não, nenhum. Ainda há pouco tempo arderam duas obras que tinha num atelier, e não tive pena nenhuma, elas foram à vida, acabou! No outro dia fui à casa de um coleccionador, ele convidou-me para subir para ver onde estavam umas telas, e eu recusei!” Mas não quer ver? “Não!” Mas porquê? “Essa parte já não me diz respeito, nem quero saber. E quer outro exemplo? Telefonou-me um cliente ao qual lhe havia caído um quadro ao chão e que se havia partido, eu perguntei-lhe: mas o senhor colocou o fio de nylon em vez do arame? "Sim." Então que quer que eu faça? Que perca duas semanas a concertá-lo? Ardeu! Acabou!"

Ângelo de Sousa em "Por Outro Lado"

sábado, 3 de fevereiro de 2007


1978

A oito de Abril de 1978 morreu Jacques Brel, um património inestimável para a humanidade. Na sua obra predominava a ironia decadente de um século que assistiu a guerra de estudantes e sindicatos contra o Estado. A origem belga e a família burguesa, retratou-as ao pormenor, o recorte dos amores extremos, bombons, «Les bigottes», «eu choro como eles mijam sobre as suas mulheres infiéis!», a sua interpretação de Don Quixote a subir à cruz da redenção em cada verso. Esteve quinze minutos a ser aplaudido de pé: Brel sobe ao palco d ` Olímpia, de robe, as luzes iluminam o rosto suado, a câmara aproxima-se dos seus olhos: «ça justifie, quinze ans d` amour!» Aplausos. Nunca mais voltou, dedicou-se a encarnar uma alma errante, que atracava de ilha em ilha, à demanda do heterónimo perfeito. Em palco era incansável, violento, misógino, a cuspir os versos fumarentos, visceral, incólume. As suas canções são gritadas em Paris, ele é a alma da geração do romantismo eloquente, não acreditamos na desigualdade! Jacques Brel é a voz dos megafones, os acordes graves dos carros revirados a arder que acompanham o compasso das botas dos estudantes: «les bourgois! Les Bourgois! Les bourgois!»

sábado, 27 de janeiro de 2007


1989

A queda do muro de Berlim, em 1989, provocou o surgimento de novas correntes migratórias e o fim da guerra-fria. Anteriormente, tanto russos como americanos apoiavam ditaduras, vendiam armas, compravam petróleo e controlavam as cabeças dos fundamentalistas, orientando-os no mapa do ódio. Com a queda do muro os americanos impuseram-se no mundo. A América é atacada por aviões, repletos de passageiros, que são pilotados por suicidas instruídos em escolas de aviação americanas, caem as Torres Gémeas, o Pentágono foi atingido, o parlamento foi evacuado, Bush andou às voltas no ar até que o sinal vermelho fosse apagado. Nasce um novo mito: Bin Laden. Os americanos tinham um novo inimigo, os “terroristas”, que rezam por Alá e consideram a sociedade ocidental decadente. Bush provoca a guerra no Iraque a propósito de armas nucleares inexistentes, há terroristas que rezam pelo Papa e a Virgem Maria e que licenciam guerras para controlar o petróleo. Com o esvaziar da União Soviética o mundo não se compõe da mesma forma, se antes éramos divididos por ideologias, hoje separamo-nos por religiões, e não será está a ideologia das almas?

domingo, 14 de janeiro de 2007

K4


Os sintomas da minha vida estão inscritos em cada uma das minhas obras, foi com elas que perdi a pureza. Enalteço as cores dos corpos que são dedilhados nas cordas de um violoncelo semeado com sémen da minha palete. Estou distante da esquizofrenia do Picasso mas próximo dos traços físicos do Modigliani, com eles reduzo a realidade a uma escravidão geométrica que se movimenta por entre as minhas pinceladas. Recordo Paris e divido a solidão com a imaginação: retalho a cabeça de uma mulher e desmancho a minha virgindade. O rasto rasga os ventres das telas com espelhos de um bordel, queimo os espíritos beatos com cores azuis de Paris, onde espreitava o peito das Madames. Ensaio o ímpeto do meu braço fatigado das noites a pintar, abro as janelas azuis e vejo um céu de mofo e a inconstante tosse ressurge e impede-me de suster a mão firme, recorro à concentração para resolver a minha deficiência. Lavo as mãos num alguidar de sangue que escondo no sótão da nossa casa de Manhufe, retiro das unhas os restos de tinta, cuspo. Tropeço no livro dos desenhos de tinta-da-china à lupa das noites em que a Lucie adormecia sozinha. O remorso. Na tela resolvo o enigma: Aqui estou perante vós, testemunhas da minha existência, a transmutar-me em tempo.

D. Branca

Estudou no Técnico Química mas cedo, “decidi partir para Londres, mas o objectivo era Paris.” Porquê Paris? “Era o centro da Europa.” Paulo Branco veste blaiser castanho, camisa verde e gesticula como se estivesse a conversar num café datado de 1977 com o director dos Cahiers de Cinema, sobre a possibilidade de abrir uma sala de cinema nas imediações do coração de Paris. E o que fazia em Londres? “Lavava pratos”, mas, “nunca fui um exilado político, mantive a inscrição na faculdade e vinha aqui com frequência.” E porque mora em Paris? “Posso passear por Montparnasse e ver os sítios por onde passaram os artistas que marcaram uma época.” O que é um produtor? “É o que tem que procurar os meios financeiros para iniciar a obra, é a pessoa que se compromete a acabar o filme. Só que eu vou um pouco mais longe, porque também sou distribuidor.”. “Quem me incentivou a produzir foi Manoel de Oliveira, eu tinha 28 anos e o Manoel setenta. E produzi de seguida: “Oxalá”; “Francisca” e “Silvestre.” E como é dar-se com tantas pessoas diferentes: “No caso do César Monteiro existiram traições da sua parte e da minha também”, já, “com o Maoel tive a sorte que o “Francisa” fosse elogiado por dois ou três críticos, como uma obra excepcional.” E dá como exemplo: “um amigo comprou um DVD do filme na China. Aaha, mas eu sou pela livre circulação.” Não se importa com isso? “Não, sinceramente, não”. Destaca, veemente, que “já não estou presente durante as filmagens mas tenho gente que me informa.” Mas o seu papel é de procurar subsídios? Ai, não se pode usar esta palavra!?! “O produtor tem que procurar meios. Mas num país onde se dá subsídios para a indústria e agricultura, repare, só existem agricultores por causa dos fundos, caso contrário… porque é que não se há-de financiar o Cinema? A Maria João Pires já abandonou Portugal, a Paula Rego está em Londres e o Emanuel Nunes, que encontro em Paris. Este governo assinou um acordo com as televisões por mais quinze anos, e não incluiu qualquer apoio ao Cinema! O que eles gostam é de futebol. Eu já não digo que apoiem um filme português mas europeu!” Mas da Dois não tem queixa? “A Dois já passou mais cinema do que agora.” Ana Sousa Dias (“Por Outro Lado”) respira fundo; “sabe nos dias em que estava a preparar esta entrevista vi a que deu a Maria João Seixas, e onde realçaram esta sua característica: “vamos começar, depois logo se vê, é que dizem que tem muitas dividas?!?” Ela inclina-se na cadeira e aperta os intestinos, Paulo Branco estica as pontas dos bigodes e exibe os seus dentes amarelecidos pelo Gitanes, o seu risco ao lado, seboso, enquadra o seu rosto de três dias por barbear, enruga-se: “é natural que numa empresa com 25 anos tenham existido altos e baixos.” Os realizadores têm poder total na montagem? “Na América não, na Europa parcialmente.” E zanga-se muito quando as coisas não correm como espera? “Muito, até para evitar uma úlcera, ahahha!”

Paulo Branco em "Por Outro Lado"

sábado, 6 de janeiro de 2007


No Beauty Without Danger

No "Beauty Without Danger" da autoria de Max Dax e Robert Defcon é a biografia dos Einsturzende Neubauten (E.N) onde é revista a carreira da banda de Blixa Bargeld. A sua estrutura é composta na totalidade pelo discurso directo, logo não existe qualquer tipo de reflexão exterior a banda, sobre o seu percurso ao longo destes vinte e cinco anos. Exceptuando o posfácio assinado por Arto Lindsay que se assume como «amigo» da banda e redige um texto comprometido. "No Danger Without Beauty" é uma boa fotografia da vida artística dos E.N: o início marcado pela anarquia, que eles apelidam de "improviso", isto é, não existiam ensaios de qualquer tipo, tocavam quase sem destino. Compreender o que eles entendem por "som" que é acima de tudo o ruído e o seu domínio, a procura de materiais em sucatas para construir “instrumentos”. A introdução de dois instrumentos convencionais: a guitarra— que no início já existia pela mão de Blixa— e do baixo. E entrar em contacto com os métodos de trabalho, os mais produtivos e os inconsequentes que por vezes provocavam bloqueios artísticos, muitas vezes resolvidos à custa de speeds, que era a droga mais consumida. Para além deste panorama extraordinário, há uma outra que os une a outros projectos convencionais, os desentendimentos criativos com FM Einheit e o seu consequente distanciamento. Para além, da discórdia relativamente aos direitos de autor, que levou a formação que tocou na Voz do Operário, no início da década de noventa na promoção de “Tabula Rasa”, o fim: Mark Jung é hoje um quadro superior de uma multinacional, e F.M Einheit — que entrou para os E.N com apenas dezasseis anos— é compositor de música para peças de teatro. Os E.N apesar da auréola de niilistas e de terem conseguido vingar uma ideia artística marcadamente utópica, são hoje um colectivo que compõe por contraposição ao passado: o silêncio. «Eu não posso continuar a partir coisas em palco, como quando tinha vinte e cinco anos, hoje tenho quarenta e cinco, o espírito é diferente» é a constatação de Blixa Bargeld, que vive entre Shangai e San Francisco e apenas vem a Europa para trabalhar com os E.N, já que abandonou recentemente os Bad Seeds. Os Einsturzende Neubauten são uma paixão da adolescência, que perdura apesar de todas as idiossincrasias, paradoxos e outras questões que fazem parte da natureza humana. Eles fizeram-me ouvir de outra forma os sons produzidos pela sociedade herdeira da revolução industrial, devo-lhes isso, tento ouvi-los com a curiosidade que por vezes ilumina os espíritos sequiosos por outras realidades.