domingo, 20 de novembro de 2011

In Vivo

Ouve-se uma voz off das colunas do Coliseu de Lisboa, ligadas à RTP internacional que declara que é fundamental apertar o cinto antes da viagem ao futuro, onde a saudade nunca sera dominante, apenas um pormenor irrelevante. Coloquem os headphones e oiçam os acordes da “Valsa dos Detectives”, que remete para os concertos históricos de 1990 que deram origem ao “In Vivo”. Ovação. Um novo tónico emerge da secção rítmica, o violino insurge-se como uma fibra aguda, se parece uma “selva sem leões”, palmas, “cheira-me a fêmeas fatais”, a lentidão promove uma dolente abstracção, “macacos imitações”, “ideias originais”, eco-“maismaismais”, a bateria ruge. “Rei da pop canta para nós”, as harmonias ganham uma tonalidade de raios solares, tropicalismo chic, eco: “Morreu por nós”, baixo, “as cidades tão iguais”, capital: “Faz das tripas corações”, solo de órgão, “orações”. Eco: “Dá-me a voz”, “nosses”, eco: “Por nós”: “Rei do Rock morreu por nós”, “dá-lhe gás”. Jorge Romão com o baixo na passadeira saltitante, contudo, é o teclado que insere efeitos especiais a parodiar Bernard Herrmann, que o violino recria construtivamente e desconstrutivamente. “Compõe para nós”, “por nós”, “nós”, Rui Reininho dança, Jorge Romão ergue o baixo acima da sua cabeça. “Olá cidade maravilhosa, capital do Império”. “Ei”, a canção que beliscou o pecado original, “Vídeo Maria”, da virgem Maria. A bateria dá-lhe um nivelamento sequenciado através dos bombos, palmas, “Tarde de chuva a península inteira a chorar”, ibéria, a inquisição: “Fumando à frente ao altar”, é mortal, fumar é prática de prostitutas, “de um anjo fumegante”, violino, orgasmo é só direito dos homens: “Crescer”, sente, levantem-se, “a língua morta” e por fim o “latim vai mudar”, “compreender”, é censurar, a progressão repetitiva é entrecortada pelo violino: “Atirem-me água benta”, acordes da guitarra resumem o refrão, é pop incandescente, “atirem-me água fria”, e o “nome dela é Maria”: “FRIAAAAA”. Baixo+palmas, solo do Hamond, conspurcado pelo solo do violino, a pátria na lama, “Ai”, “UI”, atirem-lhe, “atirem-me água benta”, perfume é só para putas, “Maria”, “casta eu sei virgem ou não?”, mãe, “Madonna, sabichona”, a progressão é esotérica. Rui Reininho-eco: “AI”. Rui Reininho: “UI”. Rui Reininho-eco: “Ai”. Rui Reininho: “UI”. “Ladies and gents, que bom que é estar aqui desde o último século. Prossima canzone se chiama sette Berlusconi”. “Sete Naves” é a divagação maligna e benigna, extraíram-lhe as tonalidades de fado-pop, mantém-se a dinâmica mecânica-circular, e cada verso é um punhal com diversas lâminas: é a jangada de “vejo destroços de metal a flutuar”, pode ser “o Tejo”, sobre o ritmo da bateria, as guitarras introduzem funk crescente, hipnótico, cego, “desejo de me afundar”, “ao acordar”, não paro de pensar em me suicidar, “paro de martelar”. Hipnose obsessiva repetitiva afectada pelos acordes das guitarras leves-agudos, “metálicos frios”, “enferrujar”, “matérias por soldar”, “diáfanos de envenenar”, “paro de martelar”, “não são feitas para navegar”, “mas nunca a do mar”, é o que nos resta, Rui Reininho coloca-se sobre a passadeira: “O ar”. “Voltam-se devagar”, através de Jorge Romão a síncope cardíaca é contínua, palmas do público. Tóli Cesar Machado, acompanha no sintetizador o outro teclado que injecta acordes da música clássica. Jorge Romão toca e dança sobre a coluna que se encontra lateral ao palco. Violino. Pausa. “As naves que eu construo não são feitas para navegar”, guitarra de Tóli acrescenta-lhe um pendor pop-rock, “fundem-se com o ar”, “vêem-se devagar”. “Wherever, mas nunca a do mar”. Coro: “Lalalala”, “mar”, coro: “Lalalala”. “E elas vêm-se, as mães, voltam-se devagar”. “LaiLarai Bom Bom”. “Obrigado, senhoras e senhores! Se fossem os National diriam: ´Top audience we are going to fuck them!` É verdade com prazer é mais caro!”, ri. “Mil casas no ar”, para te “proteger”, pop flutuante, com as guitarras de cristal fundido, “virou”, “Darth Vader”, “o ar”, e o refrão é libertino: “Pousar na paixão que te roer”, acendem-se as luzes do palco, “acabar”, “prender”, e a decadência é fruto “aconteça o que acontecer”, solo da guitarra, “pousar na paixão que te roer”, “acontecer”, solo do orgão, guitarra semi-distorcida resulta no único indício de agressão à arquitectura pop, semelhante à ondulação das nuvens que circulam no Verão. “Obrigado! Os ricos vão para o tribunal Constitucional! Os pobres vêem aqui! E agora também em francês! À vossa direita está o Tony Carreira”, e aponta para a respectiva bancada. “Adoro as pulgas dos cães, todos os bichos do mato”, o teclado numa cadencia binária a ser o indutor inicial, “Efectivamente”, em Lisboa: “Ici é diferente”, o álibi: “Sem moralizar”. A melodia tem nas artérias uma corrente pop, e a poesia obriga-se a descobrir a beleza no perverso: “Panascas”, a “engatar”, 2x2, “como se fossem mafiosos convictos, habituados a controlar”, “efectivamente”: “ULALLLA”. A bateria segura o ritmo, Jorge Romão dirige-se sobre a passadeira e pede emprestado uma bandeira a um fã, a original que milita na capa do “In Vivo”. Solo da guitarra sobre o ritmo binário: “Efectivamente gosto de aparências”, coro: “Laalalaala”. “Sem moralizar”, coro: “Lalalaa”. “Escuto as conversas”, coro: “Lalala”. “Sem MORALIZAR”, “parprara”. “Americanos simpáticos”, Jorge Romão no inicio da passadeira incita o público a bater palmas. “Ana Lee” surge a pós-adolescente com um guarda chuva oriental. Rui Reininho: “Achas que chove?”, Marta Ren: “Acho que não”. O exotismo dos acordes da guitarra colocam-na numa geografia ainda por ser descoberta pelos portugueses, uma ironia que joga com a ambiguidade poética. Marta Ren: “Uma banheira decorada, num lago champô”, Rui Reininho: “Separadas”. Sai um tufão da garganta de Marta Ren: “UUUUU”, e a música dispara ritmicamente, Rui Reininho e Marta Ren: “Ópio do povo, jaguar perfumado”, é o cúmulo da alienação, surge o cerne de um psicadelismo ébrio, “queimado dourado”, Portugal, “no país em que fumam as cigarras”, Rui Reininho e Marta Ren: “Ana Lee, Ana Lee”. Marta Ren: “Triângulo dourado”. A partir daqui e sobre os acordes do piano insurgem-se as guitarras a lhe incutir uma lógica discursiva de Manchester. “ELÁAAAAA”. Rui Reininho e Marta Ren: “Ópio do povo” . Rui Reininho: “Tigres”, Marta Ren: “De papel”. A delicadeza agri-doce do original é totalmente vilipendiada, Rui Reininho e Marta Ren: “No triangulo dourado”. Rui Reininho recusa que as unhas de Marta Ren, se apliquem sobre as suas costas. Antes, inflige-se arranjadelas sobre as costas, ri, Marta deixa os lábios pintados de vermelho sobre a bochecha esquerda de Rui Reininho: “Ah! A vida de transexual é muito difícil”. Segura uma chávena de chá na mão direita, bebe. O órgão é o respirar da canção, é um cadáver a expiar, espiar, “Leve, levemente como quem chama por mim”, a bateria é omnipresente, e o baixo o agente transmissor, “a tensão do medo puro”, mesmo assim, “subo a mão”, o orgão continua a respirar como um cadáver esquisito. Para quebrar a janela, “encosto ao vidro o anel de brilhantes”, impossível, “são de fancaria”, “porra!”. É-lhe vedado penetrar na “Bellevue”: “Ai o meu coração!”. “Ao meu rendez-vous”, desloca-se “pelo corredor”, segue a camara num traveling que é um flirt com a RTP internacional, “o sorriso cruel”, a mascarada: “Onde era sangue, era uma leve menstruação”. “Rendez-vous”. “As minhas amiguinhas lá no fundo do jardim, agora mais ninguém confia em Moi, Moi”, ressurge o órgão para manter o corpo a estrebuchar, mesmo que os acordes, a dominar a progressão, sejam para embalar os mortos, sobre a qual a guitarra debita agudos perpendicularmente, 2x2, solo do violino, pausa, “Bellevue”. “Ninguém aparece ao meu rendez-vous”, a solidão, cantada docemente: “Confia em mim”, o convite que ninguém aceitou: “Era só para brincar ao cinema negro”, o teclado responde como se fossem os acordes de um brinquedo sonoro para fazer adormecer crianças nos cuidados paliativos. “Os corpos no lago, eram de jovens no desemprego”. Rui Reininho desloca-se junto ao teclado de Tóli Cesar Machado e abraça-o: “Sou o irmão que nunca teve. E também é contra as touradas”. As escovas da bateria, “artéria principal”, canta lentamente “ardem chamas de dois sóis”, o circo romano, “a luta na arena principal”, onde “corre o sangue, mato-me primeiro e a ti depois”, o bombo está oculto, “oculto sangue que tenho para dar”, ligeira progressão, “funeral”, “flores é na igreja”, a lentidão de Portugal: “Sem correr e sem saltar”. Rui Reininho no imperativo: “Vá lá assumam!”. A progressão é pontuada pelo piano, por cada nota, vários palmos de terra sob, o baixo, bateria, e o violino transbordam epicamente: “Oculto sangue, Lisboa tem para dar”. DVD GNR. Jorge Romão: “Podem sempre cantar os parabéns, que a gente agradece”. Os alfacinhas cantam os parabéns, mas parecem contrariados, como se estivessem a responder a uma obrigatoriedade. O comandante do “Piloto Automático” é Tóli Cesar Machado na bateria, da qual retira uma força sonora animalesca, “quando chega a meia-noite começo a capotar”, se fosse somente épico, não é, luzes a baloiçar, a induzir: “Há um monstro dentro de mim”, o ressoar dos bombos elevam-na à mísula, “fígado a explodir”, os restantes componentes da canção acompanham a trip. O ritmo é mais curto no refrão, deixando espreitar, “wisky puro”, coro: “Vodka. vodka”. “Vinho só maduro”, coro: “Vodka, Vodka”. “Gin vó-mi-to”. Coro: “Vodka, vodka”. Rui Reininho: “Vodka. VodkaAAA”. Sobre a progressão marcial: “Ligo o piloto automático num programa a esquecer”, “até ao amanhecer”, “num programa a esquecer”. “Wisky puro”, coro: “Vodka, Vodka”. “Sangriaaaa”, coro: “Vodka, vodka”. “Vinho Maduro”, coro: “Vodka, vodka”. “Bagaceiraaa”. “Vodka, Vodka”. A guitarra retira um solo semi-distorcido, como se fosse o prenúncio do epílogo, mentira, continuamente ganha protagonismo à bateria, e por instantes e com a devida intromissão do baixo, citam Nirvana. “Wisky puro”, coro: “Vodka, vodka”. “Vinho maduro era da Andaluzia”, “era um cálice que eu queria”, “bagaceira”. “Vodka, Vodkaa”. Baterias + guitarra + “Vale Nunca”, “virou”, Jorge Romão atira-se com o baixo a tira colo, da coluna à esquerda dos espectadores. Introduz-se o sintetizador, a tingir a canção de uma tonalidade infantil, “logo ao nascer, é um grito mudo que tentar calar”, mais “crescer”, “MTV cérebro em fuga”, e o segundo refrão acutilante a encontrar a absolvição: “Olha para o que eu faço”, público: “Mais vale nunca mais crescer”. “Mais vale nunca mais crescer”. Solo da guitarra entre o rápido e o lento, solo de Jorge Romão com um pendor orgânico. Palmas. Sintetizador: “E mais vale nunca”, “agora é a doer”, e a banda cria um muro sonoro progressivo, que lhe subtrai a infantilidade, culminando num solo das baterias, que resultam numa jam, que engolem as palmas do público. Rui Reininho alicia Jorge Romão: “Se depois desta não das duas sem tirar, estás fodido! Jorge Romão quatro filhos!”. Tóli Cesar Machado entrega as baquetas a um fã. DVD GNR. “São camisas antigas, mais velhas do que muitos preservativos que andam lá em casa”. “Obrigado”. Rui Reininho, fala para o microfone à procura do seu interlocutor numa rede de estrelas, cometas internacionais, radares em forma de naves espaciais. “E o mundo vê”, o piano dedilha lentamente, “já parti e não voltei a pensar onde fiquei”, “lar”, violino, “mar”, slow-pop, com as harmonias de Liverpool, “mar”, um tratado eventualmente académico, “até doutor não sei porquê?”. O inconsciente a prolongar-se pelo consciente: “Já dancei onde parei”, solo do piano, “jobim”, violino, “hesitar”, progressão tropical-psicadélica: assobio: “Imagine”, John Lennon, mas a métrica da canção orienta-a para a divagação estilística de Bryan Ferry. “I`m just a jealous guy”. “Burro em pé” , segue o ritmo da sua precedente, com Tóli Cesar Machado na guitarra semi-acustica, insere os acordes dormentes, “vieste aqui para aprender”, “ar”, bateria, “calar”, o baloiçar é de uma cadencia, flutuante, “a pensar a dormir em pé”, a ordem: “Pára de mensagar”, do professor: “Esse piercing no umbigo é capaz de magoar”. Há um leve recrudescer do ritmo, que segue o teclado e a guitarra de Tóli, “vamos os dois para o castigo”, o teclado parece dedilhado por Paul MacCartney, “burro a dormir em pé”. Rui Reininho emite um urro interstelar. “Pronúncia do Norte”, é recebida com o público dividido entre as palmas e os assobios. “Lá do fundo donde eu venho”, se sois “torpe”, “manos ricos”, se for assim, “hemisfério traga outro forte”. New Max: controla os agudos, “aponta sempre para norte”, público: “É a pronúncia do norte”. Rui Reininho e New Max: “Mar”, o acordeão nem é marítimo ou rural, resume-se a uma alma que se abstrai como as paisagens de Turner. New Max: “Caminhos novos para andar”. Rui Reininho: “É a pronúncia do norte”. New Max: “Maaar”, “não tenho barqueiro nem hei-de remar”, é a confiança total nos astros que nos conduzem para o norte, onde estaremos a salvo da capital. O tempo não pára: Rui Reininho: “Corre o rio para o mar”, os acordes são pigmentados por uma angústia temerária. New Max, lidera, e Rui ausenta-se. “Lisboa vocês estão prontos?”, o slow do norte transfigura-se em funk, com a repetição dos acordes, sob os quais emana um break, “é a pronúncia do norte os tontos chamam-lhe torpe”, “norte”, “EAAAUAU”. Rap: “Contigo GNR. Contigo Jorge Romão. Contigo Tóli. Contigo Reininhooo”: “E!E!E!”, agudos: “OOOOOOO”. “Parabéns GNR! Muito obrigado Lisboa!”. Surge Rui Reininho: “Se vocês quiserem isto é sempre a subir! Isto não é economia, é hot. Esta é linda chama-se: ´Cais`. Levamos três da Académica”, o público responde com risos, “na hora da despedida”. Um intervalo de espera para resolver o problema que prende a bateria, por fim, o início de uma cadência de navio em compasso de espera para se afundar com uma carga venenosa, “quando o barco tem pés para andar”, e “só essas ondas vêem chatear”, liberta “para o crude limpar”, mas o centro onde se encontram os acordes revela um nascimento: “Lá no fundo imundo imenso sais, ó neptunias, sereias sensuais”. Público: “No fundo imenso sais, ó neptunias sereias sensuais”. A música sobe uma oitava mas mantém a cadência de naufrágio, “mar salgado”, “vai ver no cinema se ´Há Lodo no Cais`”, sobe o som do palco, “o mar salgado”, e o ponto de partida é o Cais das Colunas: chegada: “Muito cuidado atina, voltas ao cais”. “Voos Domésticos”, é um contínuo jogo de referências, que ao espelho surgem invertidas, “aqui”, violino, “num tapete mágico”. Há um banco de ar que perturba a respiração da delicadeza instrumental, “olha a turbulência é da tua ausência”, “acredita”, solo do violino, “em mim”, vem “jantar com o Rei”, o trinar da guitarra, “num gesto de avareza só pago a sobremesa… e talvez um caféee”, sintetizador. A incerteza que provoca angustia, canta para “a torre de control”, “fantasma”, “adivinha quem sou”, solo do violino, responde o teclado, solo do violino, baixo: “A turbulência”, “adivinha quem é?”, não responde: “Quem sou?”, violino. “Las Vagas”, psico-pop-head com um forte travo dos bombos e um baixo como uma infusão intravenosa, e um piano que está a jogar a sua vida num pocker pseudo-existencial: “Eu serei a gorda”, “tu serás a magra?”, segura o tripé com as mãos, liberta-se das amarras, e a progressão sugere energia electrostática: “Sou um peixe fora de água”. “Jorge Romão, agora só falta a sereia”, surge uma jovem com rosto imberbe e um olhar tímido, com uma indumentária puéril. Rui Reininho: “Estou aqui há mais de seiscentos anos e a cantar com os melhores”. O baloiço de “Únika”, é um romance de cordel, com as vogais alternando entre as fechadas e as abertas. Ela: “No musgo”, ele: “No teu cabelo, agulha no cabelo”. Ela: “Onde o sol se põe”, ele: “Tu és a única a dar gás, a rainha das marés”. Luísa Sobral, tem um timbre de virgem por dessacralizar, mas que se perde através das suas narinas. Ela: “Alhos”, ele: “A estátua de um martelo e uma foice”, a beleza dos acordes alegres quando sustentam a voz: “És a rainha das marés”. Luísa Sobral: “Sol”, “quando me pagam”, para se despir e exibir o seu corpo lívido a Balthus, solo do violino, e o ritmo de dois por dois prolongam a canção quase até ao fim. Rui Reininho: “A voz única”. “Popless”, fica somente a cargo de Luísa Sobral, o que é uma declaração de amor na voz de Rui Reininho, transforma-se numa canção para adormecer adultos. A guitarra de Tóli Cesar Machado, introduz os acordes e segue o ritmo da bateria e da respectiva caixa de ritmos, que lhe dão uma constante juvenilidade, “sem reflectir”, ela não, “ é um vício danado”, ela não, “passar”, ela não quer “jantar”, “linda”, pedal wha wha, ela não “mostrando interesse”, um sobe “outro desce”. As guitarras aumentam a sua densidade estilística, e revelam uma temperatura, que Luísa Sobral não: “Lá vem ela sabendo que é boa”, “que é boa”, swing-pop, “janela”. Surge, Rui Reininho: “POPLESESES”. “A kiss is just a kiss”. DVD GNR. O piano, indicia um lento entoar, “felizmente a noite sai”, público: “Felizmente a noite sai”. Rui Reininho incita o Coliseu: “Não há isqueiros?”, que se acendem e o transformam numa estância lúgubre. A certeza: “Se o amanhã perdido for”, pode ser “meu amor”, quando “as trevas vão demorar”, o baixo proporciona um gradual aumento da tensão, “se a luz se esvai” em sangue. “Se o céu se fecha sobre nós”, o holocausto, “se o amanhã perdido, overdoses de horror”, bateria corta a cabeça ao teclado, e o público dá as mãos a Rui Reininho: “Directa sim eu declaro morte ao sol” e nesse instante: “Aí vem a luz”, e os raios são emitidos pela guitarra com preponderância dos agudos. “Se o céu não fecha já sobre nós, revela cierta imagem atroz”, público canta com rui Reininho: “Directa sim, eu declaro morte ao sol”, “boiar”, Rui Reininho: “OOOO”, público: “OOOO”. 2X2, palmas, público: “OOOO”, pausa. Público: “OOOOO”, Rui Reininho: “NANANA”, público: “OOOOO”, Rui Reininho: “NANANA”, público: “OOOOO”: “OOOO”. Rui Reininho: “OOOO”. Rui Reininho agacha-se, e usa mesma gestualidade que os árabes utilizam quando, virados para Meca, para rezar, e declara solenemente: “Eu beijo a vossa terra, capital do Império, e o rabo das vossas namoradas também!”. A caixa de ritmos instiga as palmas, e o acordeão declara “Dunas”, mas o cantor e poeta sofre uma breve branca: “Não me lembro desta! Caraças!”. E joga com “as unhas são como divãs”, o calor não é só expresso pelo local onde decorre a acção, mas também pelas harmonias e o ritmo primário, “deitados nas dunas, alheios a tudo”, e depois de um banho no mar salgado, “pensamentos lavados”, “TV”, ainda criança “na idade dos porquês”. “Muito obrigado RTP! Que foi a única que nos apoiou! As outras… as rádios já não passam as nossas músicas!”, e desfere um manguito, “e já agora obrigado à Câmara de Lisboa e do Porto!”. A citação revista pelos olhos de um surrealista: “Hasta la victoria, siempre! Anarquia ou morte! É a minha opinião!”. Durante o “Inferno” do playboy Roberto Carlos, todos os convidados são convocados a cantar: “Eu quero que você me aqueça neste Inverno e que tudo mais vá para o inferno”. Guitarra eléctrica, “matéria principal”, as pegas na “luta na arena artificial”, “saltar”, “oculto sangue que tenho para dar”, é rock: solo da guitarra semi-distorcido, pausa, solo espacial, “saltar a fogueira”. “Sangue Oculto” é a revelação do rock, que de tão sintético é perfeito. “Espelho Meu”, é um constante abrir e fechar de estímulos auditivos, organismo de eterna sedução, break beat, palmas, teclado incidental, “subsídios”. O baixo de Jorge Romão confere-lhe um travo indestrutível, psicadélico, “nós somos inteligentes?”: a resposta: “Perguntem ao meu espelho”, sincope, break beat, “já são muitos anos juntos, frágil, contra tudo decidi”, a resposta: “Saber o que faço aqui? Saber o que é sofrer?”. “Perguntem ao meu espelho!”. Guitarra solo, teclado dá liberdade a um som de marimbas bêbadas de mojitos, e hipnose, essa é corrosivamente bela. “Na rádio na TV, nos jornais já ninguém vê, Portugal na CEE”, com duas guitarras semi-distorcidas e uma bateria rápida, libertam-na do seu carácter primata neo-rock. “Quanto mais se fala menos se vê”, “Queeeero veer Portugal na CEE!”. New Max: “OOOOAIEAAA”. Rui Reininho: “Sexta-feira em Albufeira, o mundo esteve para acabar, era tal a bebedeira”, que o “mar”, assente num 2x2, e os acordes agudos da guitarra eléctrica, precedida pela acústica de Tóli, é um soft-rock, “mas falta a tua confissão”: “É um buraco na Suíça, em Cascais e no Funchal” e o Rui Reininho tem o bom senso de gritar, “chamem a policia!”, não, sim, não, “ninguém vai levar-me a mal?”. E onde está a “confissão” do Alberto João? New Max: “Japão”. Rui Reininho: “Já nem sei em quem votei, onde fiquei, já não dou com o Dj”. GNR perfilam-se lado a lado com os convidados, e simultaneamente agradecem as palmas do Coliseu de Lisboa. Deixam para trás um rasto de silêncio amargo, os fãs ficam imóveis a aplaudir, na esperança de uma derradeira canção.

Voos Domésticos- Celebração dos trinta anos de carreira dos GNR, 19 de Novembro, Coliseu de Lisboa @ Lisboa

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Defeitos Especiais

Coliseu do Porto, o público anseia pelo início do concerto comemorativo de 30 anos repletos de bancos de ar, turbinas em flagrante delito, do Grupo Novo Rock (GNR). Sob uma estrondosa ovação, entram em palco: Tóli César Machado, Rui Reininho, Jorge Romão. Este empunha um baixo, ao qual se acresce um piano numa vertente clássica, “Alon zi”, violino, o funk do original do “Rei do Rock”, é submerso numa vertente lounge, num apartamento sob o mar, com sofás brancos e uma mesa de vidro snifada por uma loura cadavérica. “Cheira-me a fêmeas fatais”, o violino é o interlocutor do dono do apartamento. “Rei da rádio dá-me a voz”, sobressai o dedilhar de uma guitarra acústica. A sonolência é um indutor venenoso, “as cidades tão banais”, o Porto: “Fazem tripas corações”, rezar: “Indiferentes orações”, a banda aumenta uma oitava, “Rei da rádio dá-me a voz”, “pop”, “Rei do rock morreu por nós”, o cantor imita a mímica pélvis do Elvis, o teclado cita a melodia de “Efectivamente”, solo do violino, palmas, “Rei do Rock canta só para nós”, “nós”, o teclado de Tóli insurge-se e impõe uma gradual e leve progressão. “Vamos à igreja que amanhã é Domingo”, é a introdução à blasfema “Vídeo Maria”, vítima de censura por parte da Rádio Renascença, porque magoava a mãe de Deus. GNR usurparam-lhe a alma numa equação vertiginosamente pop. A versão, que estão a executar segue a linha esotérico-lounge, evidenciada pela anterior. “Entro numa igreja fria”, 2x2, com forte pendor do baixo saltitante de Jorge Romão, “sinto a língua morta o português vai morrer”, a duvida ou a questão: “Estará a meditar”, violino revela angustia, “amo-te Video Maria?”, e para arrefecer a tensão a suplica: “Atirem-me água fria!”, o sacrifício ficcionado: “Por ela desço ao inferno de Dante”, é progressivamente pontuada por uma dinâmica psicadélica, o solo Hamond, coloco-a no interior de uma igreja erigida pelos Jesuitas, o violino responde-lhe com um gemido. “AI!UI” (eco). “Atirem-me água benta”, o pecado mortal: “Por ela assalto a caixa de esmolas”, “o nome dela é Maria”, “se é virgem ou não? Depende da nossa fantasia”, mãe, “Madonna”. Rui-eco- “Ai”, público: “Ai”. Rui-eco- “ui”, público: “UI”, Rui-eco-“EI”. Palmas. “Coliseu do Porto, já temos algum público por cá”. Tóli Cesar Machado abandona o teclado e segura uma guitarra eléctrica, com ligação à pedaleira wha wha, como se fosse um sampler que sustenta os outros instrumentos. “Provavelmente o Tejo”, “sinos ao acordar”, “faro”, o violino reproduz a mecânica do ritmo como se fosse uma mosca de Tzé Tzé, produz cogumelos, “enferrujar” , surge uma progressão circular crescente: “Veias estalando”, “ricas de carbono”, “vejo o rio”, “paro de martelar”, deixa de imaginar “as naves que eu construo não são feitas para navegar”, “as vagas em que elas vogam”, as ondas: “Vão e vêem-se se se voltam devagar”, a banda aumenta a altura, Rui Reininho salta, faz estalar castanholas, o solo do violino aproxima-se do flamenco. O público responde com palmas ao ritmo da bateria. Pausa. “Aguentam a violência de um beijo”, têm a garantia: “As naves que eu construo”. Jorge Romão: “Lalalala”, “elas vogam e fundem-se com o mar”, “devagar”. “Obrigado ladies and gents, aqui no silêncio não há crise. Mais uma música triste sobre Portugal”. As duas guitarras produzem acordes cristalinos, “mil casas no ar”, “as assas são para proteger”, as “imobiliárias”, “virou”, aumenta ligeiramente o ritmo da nave espacial comandada pela BT, “assas são para combater”, “mas só quando quiseres pousar a paixão que te roer”, és, serás, não és, “é um amor que vês nascer”, “prender”, “aconteça o que acontecer”, solo da guitarra com borbulhas de adolescente que delira com gomas e cocaína. “Aconteça o que acontecer”, a progressão atinge o terceiro nível, com um autorizado solo da guitarra eléctrica. “Mais uma música francesa, Zarkozy, Merkel, que se lixem! Nós somos do Porto!”. “Efectivamente”, a pop perfeita, com uma métrica do piano de filme animado em três D, cinestésico, como “adoro o campo”, como “esplanada de um bar, como “pássaros a esvoaçar”, “o riso” da puta dos outros, “cágados”. “Efectivamente”, coro: “Lalalala”. “Adoro os pedrastas que passam”, como “ratos de esgoto”, como “disfarçam ao dealar”, “efectivamente o Porto é diferente”, a declaração de amor: “Gosto desta gente”, como “aparentemente escuto as conversas”. Coro: “Papapapa”, os GNR são gradualmente engolidos pela histeria do público. Durante uma breve citação a “Portugal na CEE”, surge uma pós-adolescente, e canta: “Eu bebi sem cerimónia o chá”, Rui Reininho: “Como uma ideia que mata”. Ela: “UUU”. Rui e a sua partener e o público entoam: “Lotus azul, tigre de papel, triângulo dourado”. Rui: “Princesinha no trono de jasmim”. Ela: “Deixei-a a sonhar por mim”. Ambos: “Ana Lee, Ana Lee” pop com acordes tropicais debitados pelas guitarras. Ela: “São unhas que cravam”, crava-as nas costas do Rui Reininho: “Unhas que cravam” ambos: “São mãos que colhem, Arrroz xau xau”. “Bellevue” , bateria, baixo, teclados, 2x2, baixo: voz: “Leve levemente como quem chama por mim”, no ecrã atrás da banda surge um aeroporto, “subo a mão”, não sabemos para onde vai, a cadência é fílmica, “encosto ao vidro o anel de brilhantes”, quem és? “Com muita atenção”, a expectativa: “Ai! O meu coração”, aqui: o refrão: “Sabem que me escondo na Bellevue”, é o nome deste filme, “ninguém comparece ao meu rendez-vous”, tétrico: “O espelho, o esgar o sorriso cruel”, o local do parto, “experimento o colchão” . “Bellevue”, “rendez-vous”, guitarra acústica, “os meus amigos”, “agora mais ninguém confia em mim” é a declaração de um solitário voyeur, palmas. Ao solo do violino responde o teclado de Tóli, a enegrecerem a melodia, banda, solo do violino, teclado, palmas, o violino penetrante e intenso como o fio da lâmina de um punhal. Pausa. O violino prossegue a sua penetração, cada nota é uma punhalada sobre um cadáver exangue. “Ninguém comparece ao meu rendez vous”, e “as minhas amiguinhas lá no jardim”, “agora mais ninguém confia em mim”. Embala-nos na desculpa: “Era só para brincar ao cinema negro”, “jovens no desemprego”. Palmas. As harmonias que introduzem “Sangue Oculto”, são de um genérico de filme de série B, as escovas da bateria pronunciam que o sangue que alimenta a canção é pulsado de uma fonte vítima da preguiça, “principal”, “a luta na arena”, perde o pender de rock de estádio e enquadra-se na play list de uma rádio que emite no lusco-fusco. “Ao fugir de uma investida”, Reininho ajoelha-se, “ao saltar a fogueira”, canta muito devagar sobre o tónico lounge, “sem correr e sem saltar”, levanta-se: “Portugal não é só inveja”, “oculto sangue, latino que temos para dar”. Sobre o pano de fundo emite uma TV que transmite o passado dos GNR. “Piloto Automático”, é apresentado com a dimensão de uma bateria comandada por Tóli, o pendor da dinâmica é puramente marcial, com os bombos a ecoarem como pulsações que nos revelam a metamorfose: “Quando chega a meia-noite começo a capotar”, provocada pelo “fígado a explodir”, dinamitado por “wisky puro”, coro: “Vodka, vodka”, Rui Reininho: “Bagaceira”, coro: “Vodka, vodka”, Rui Reininho: “Seco madeira”, Rui Reininho: “Vodka, vodka”. “Ligo o piloto automático num programa a esquecer”. O hino contra-natura, “Mais Vale Nunca”, é cantado em uníssono e finalizado com um solo magistral da bateria de Tóli. Segundo Jorge Romão: “Tóli, trinta anos a tocar bateria! O melhor do mundo!”. Tóli oferece as suas baquetas ao público. Jorge Romão: “Gente são trinta anos, o que é que se canta?”, o público canta os parabéns aos GNR. Vídeo com recortes de notícias da banda portuense. O slow-pop, com a preponderância dos teclados, numa cadência sedativa, com o cantor a abandonar os laços que o prendem “esqueci o calor do lar”, teclados e violino, “parado e o mundo vê”, solo da guitarra que é correspondida pelo violino, “esqueci o calor do lar”, do qual “fugi sem hesitar”. Tóli empunha uma guitarra semi-acústica, “Burro em Pé”, meio tempo, “vieste para aprender”, “põe um dedo no ar”, a pop é próxima dos Beatles, quando se inspiravam na obra de Vivaldi. “É verdade, grande surfista: Jorge Romão!” , “pronuncia do Norte” é antecedida por uma ovação, o slow do norte, que eleva um sotaque “lá donde eu venho”, público “torpe”, palmas. Entra em palco New Max: “A bússola não sei se existe”, “é a pronúncia do Norte”, Rui+ New Max: “Corre o rio para o mar”, acordeão, público: “Não tenho barqueiro nem hei-de remar”, é a declaração de independência da poesia, ovação. Rui Reininho retira-se e New Max lidera a canção que subitamente ganha um ritmo soul-funk: “GNR é a pronúncia do norte, os tontos chamam-lhe torpe”, público: “GNR!GNR!GNR!”. New Max: “Não tenho Romão. Não tenho Tóli. Não tenho Reininho”, o seu timbre agudo revela-se no epílogo: “É a pronuncia do norte”, “Porto muito obrigado! GNR 30 anos!”. Após o regresso de Rui Reininho, surge “Cais”. Revista no ritmo de um petroleiro a afundar-se devagar, “barco tem pés para andar”, a sua correspondência é “quando a maré negra chegar”, não há solução teremos que a “limpar”, 2x2, “imundo imenso sais”, “ó neptunias, quais sereias sensuais”, o refrão é a absolvição: “Se o pecado morre ao largo, então é ver no cinema se ´Há lodo no Cais`”, a guitarra de timbre agudo, perturbante, “imenso sais”, “sensuais”, a Foz: “Voltas ao Cais”, progressão contida com ligeira variação. “Voltas ao Cais”. “Esta música é linda”, Rui Reininho coloca a mão na anca direita e a outra na testa. É “Voos Domésticos”, slow doméstico, “ausência”, “ai”, “cozinha”, “campainha”, que se revolta numa ligeira aproximação a um tango encharcado em vinho do Porto: “Num gesto de avareza só pago a sobremesa”. A chantagem emocional: “Olha a turbulência é da tua ausência”, num romantismo depressivo pop, solo do violino, descolam, “ai a turbulência”, “quem és?”, “a torre de control”, “lençol”, “quem sou”. Rui Reininho: “UUUU”, público: “UUUUU”. “Viram os nossos cartazes com a inscrição Câmara Municipal de Lisboa?”, assobios e apupos do público. “Las Vagas”, com teclado como intro, o baixo peja-a de tensão, palmas de Rui Reininho, o teclado é pianíssimo a introduzi-la no universo musical dos Casinos, “marina”, “de ouro a mina”, “aceita apostas”, eu “serei a gorda”, “e tu?”, “e saberás quem paga?”, serei “um peixe fora de água”, o piano mantém-se impávido e sereno perante os acordes do violino, a ser o catalisador da angústia, “serei a gorda”. A partir de “serei a gorda”, a banda une-se ao ritmo do teclado, e aumenta a progressão, que “pensa”, “peixe fora de água”. “Sou um peixe fora de água”, aumenta a progressão, “sou um peixe fora de água”, aumenta a progressão, “sou um peixe fora de água”, massa sonora que reúne o violino, bateria em break beat, baixo, guitarra, teclado, solo da bateria, violino numa luta contra o tempo resulta num psicadelismo associado à morte. “Esta música é muito linda Unika”, “gostem das mães”. É o slow-naturalista, “orvalho”, “na casca de carvalho”, a canção segue as regras de uma composição clássica pop, ganha fôlego quando se transforma em “fantasmagórica”, “aiaiaiai”, e a guitarra eléctrica sola-estoira e transgride como um solo de Slash. “E agora Popless”, caixa de ritmos + bateria + teclado, introduzem as notas do refrão, “subir”, “existir”, “senti-la pousar”, “deixei-a”, “lá vem ela sabendo que é linda”, “cresce”, “interesse”. Tóli introduz o pedal wha wha, repetitivo que se traduz num tímido swing, “POPLESS”, teclado, “foi uma pena deixa-la a jantar”, “passou a hora”, “vibrar”, “bela”, “à janela”, swing pop, com múltiplos casais. Vídeo com os GNR. “Felizmente a noite sai, ainda bem há névoa por aí, estou contente”, a voz suportada pelo piano, “se a luz se esvai”, “se o amanhã perdido for”, “horror”, a bateria irrompe sobre a lentidão do piano, “O céu não fecha já sobre nós”, “revelam cierta imagem atroz”, “perdido for”, a declaração de guerra: “Directa sim, eu declaro morte ao sol”, “OOO”, o solo da guitarra é semi-distorcido que lhe dá o último recorte. Loucura no Coliseu do Porto. “Vamos à la playa?”, com as luzes acesas, os fãs anseiam pelo banho nas “Dunas”, cantada quase na totalidade pelos tripeiros. “Inferno” reúne no palco todos os convidados. Tóli: “Muito obrigado”. “Sangue Oculto” é de novo convocada a subir à arena “principal”, na versão próxima do original que emancipou o rock e rompeu com as fronteiras ibéricas. “Esta é dedicada ao James Rodrigues”, a guitarra eléctrica introduz os acordes hipnóticos do refrão, “a vida é assim e assado”, “para conhecer a verdade”, “perguntem ao meu espelho”, sincope, a introdução do piano talking head, remete-a para o absurdo. “Portugal na CEE”, quando era assunto de jornal “na TV”, rock, “Portugal na CEEE”, a ironia ainda é actual: “Quanto mais se fala menos se vê”, descarga eléctrica, numa métrica de rápidos 2x2. Jorge Romão: “Se nós estamos cá, há trinta anos a culpa é também vossa!” palmas. “Sexta-feira”, com o input de New Max, “ode a Japão”, Rui Reininho: “É Domingo na Ribeira”, palmas-gritaria, “grande buraco da Madeira, ninguém vai levar a mal”, ovação, esperamos a sua “confissão”, ambos: “Já não sei em quem votei”. Acendem-se as luzes do Coliseu, entram os convidados em palco, abrem garrafas de champanhe, e recebem palmas calorosas e entusiástica, GNR sorriem e são fotografados para memória futura.

Voos Domésticos- Celebração dos trinta anos de carreira dos GNR, 12 de Novembro, Coliseu do Porto @ Porto

sábado, 8 de outubro de 2011

Psicanálise dos Contos de Fadas

Teatro Académico Gil Vicente, Adolfo Luxúria Canibal é o último a subir ao palco: “Boa noite Coimbra”, atrás dos músicos há uma fotografia de um urso de peluche com o rosto com uma fractura que expõe um osso podre, veste uma t-shirt com Mao Tse Tung. As luzes vermelhas iluminam: “Esta é a história de Gonçalo Capitão, maoista”, a voz do narrador é o ronronar de um lobo a estudar a sua presa, o baixo movimenta-se como uma fada negra, a impor o ténue balanço, “escabrosos carnavais”. A banda: duas guitarras, bateria e teclado, assumem-se gradualmente como cúmplices do baixo. “Misteriosos barcos de pesca”, “e as noites de lua cheia”, “roubadas, profanadas”, a guitarra de Vasco Vaz descarrega a distorção, revela-se o teclado, “Vamos em frente, olho por olho, dente por dente”, aumenta a progressão, “Ó Capitão”, “mas tudo tem um fim e o fim chegou”, mas ninguém acredita. A guitarra reduz a melodia num solo magistral, “o Capitão foi condenado”, “morte”, as notas do teclado relembram a melodia de exaltação de uma pátria invisível. O canto do Canibal pretende levar consigo as nossas almas, “ecos malditos do Capitão”, a toada: “Vamos em frente, olho por olho, dente por dente”, seguimos o homem que nos chama ratos? Seguimos? O Canibal, levanta o braço direito, deixa-o em suspenso, e deixa a mão morta pender de um lado para o outro da canção. Coro: “Vamos em frente, olho por olho, dente por dente”, solo de Vasco, cinético, a ordem: “Levanta o braço e canta sem sorrir”, levanta-o e luta pela mão morta. A bateria dá início à segunda canção dos Mão Morta, de Braga, baixo, a guitarra procria a distorção como um bem comum. “Ruínas das igrejas jezuitas”, blasfemo queimem-no na fogueira, “e segue sempre em frente”, “carruagens”, “aí”, “mete pela rua”, “aqueles redondos”, “cafezinho com esplanada”, o pormenor: “Onde servem café de saco”. O agente Canibal narra com os tomates a substituir as amígdalas: “Contorna o lago dos cisnes”, “até chegar”, “aí”, “vira à direita”; “pela rua que passa nas piscinas”, “um centro comercial”, que é o “maior da Europa”, “complexo desportivo no fim do qual encontra a maternidade”, a guitarra de Vaz é um tempero tóxico exalado por veículos bêbados de gasolina. Eco. Mão Morta pontuam-na com uma ligeira variação para resgatar à dolência venenosa: “E o sonho é deserto”, o ritmo aumenta: “O tempo não espera”, aumenta a altura, “mim”, bate o bombo. A canção ressuscita quando nos engloba na equação maldita: “Por mim, por nós, por vós”, a guitarra revela-se metaleira, voz cresce em distorção: “Por ninguém” , “por”, distorção, “infinito”, vómito. O teclado é uma harpa de brincar, baixo, bateria introduz um ritmo de fábrica onde as máquinas são de matéria humana, mecânicos dos nossos próprios corpos, Canibal num solilóquio evocando uma demência assaz peculiar, abocanha cada palavra: “Tu disseste”, “eu disse”, “o que nos vem”, “eu disse”, “falei”, “um dia fiquei sem nada”, emerge a harpa dedilhada pelo pianista esquelético: “Eu disse para que é que isso interessa?”, “tu disseste: Nada”. Mão Morta progride acompanhando a toda infantil do pianista, que introduz um sampler de uma sitar, mamada, snifada. “Procuro o sonho da vida”, a epopeia: “Escrevo paginas e páginas, depois esqueço tudo”, a mecânica da fábrica continua a produzir cadáveres coupé, a “alastrar” pela A1, “a anarquia continua no mesmo sítio, não se passa nada” , “a anarquia toma conta de ti”, “nada”, solo de cal de Vaz, sobre a progressão rítmica: “Nada”. Quinto tema: Ritmo lento, teclado insere a melodia a partir da qual a banda progride, 2x2, o pedido formal educado sofrimento: “Alguém me faça um bico”, o noise é contido, solo-Vaz, “mortos vivos”, noise, “ressequidas”, sob a carga distorcida: aumenta o ritmo: “Alguém me faça um bico”. Sexta canção: As colunas de som começam a dar de si, o pianista segura uma guitarra e junta-se às outras duas, prometem uma descarga de adrenalina, surge a primeira rajada distorcida, “ÓOOOOOOODIO” , “OOOOOOOO”, distorção, “o teu esqueleto ciumento”, “ÓOOOOOOOODIOOO”, solo da guitarra de Manuel Pedro, as guitarras impõe uma tensão contida, entre um punhal e uma floresta. “A colecção de animais embalsamados”, “eu estilo ódio”, “ÓOOOOOODIO”, olha para as suas mãos: “De bruxo” : “E a obscenidade dos seus animais embalsamados”, “estilo ÓDIO”, “ÓOODIO”, distorção rápida e acelerada, “ÓDIO”, “estilo ódio”, “OOOOOOOO”, “estilo”, “OOOOOOODIO”, “ODEIO-TE”, “sonâmbula”, “ÓDIO, OOOOOODIO”, “ODEIO-TE”, “morta nasça as paredes”, “OOOOOOOOOOOOOOOOOOOODIO”, “ÓDIO”, “ODEIO-TE”, “maldita”, a partir de “sagrada” há uma crescente progressão: “OOOOOOOOOOOOOOOOOOO”, “ESTILO ÓDIO”, o ritmo é mais curto e rápido, “ÓDIO”, a final progressão noise incidental poderia ter sido épica: “ÓDIO”. “Boa noite Coimbra, mais uma vez. Gosto de pessoas bem comportadas. Tenho horror a pessoas mal comportadas. Demos uma vista de olhos por alguns temas da nossa história”. A massa sonora das guitarras a debitarem em paralelo transportam a melodia para as cinzas dos mortos que repousam onde as fadas são anjos malditos, “prostituem”, instala-se o noise-rock, “jamais”, ele nos deixara segui-lo, “escondidos entre a massa da sala”, a voz retira os testículos das gengivas e coloca duas vaginas: “Mulher nascida dos ratos”, a munição das guitarras parece granadas, sobrevoam o ritmo compassado de marcha militar contra os portugueses. Voz de Canibal: “Visitas-me AARRRGG”, progressão, “mulheres que eles amaram”, Vaz-solo segura toda a lógica discursiva num punhado de notas, “sempre caídos”, “os denominar”, “Aí, escondidos”, com a Mão Morta a rejeitar o feto numa sequência sintética de tão genial. Palmas. “Sobre o próximo tema vou contar uma história. É um tema sobre o meio das artes plásticas, que é um meio muito asséptico. Há muitos anos, ando a pensar em escrever algo sobre esse meio. Havia uma banda berlinense industrial, que tinha um tema passado numa galeria de paredes brancas, com uma gota de sangue deixada cair por uma visitante. Depois de perceber a letra da canção. Um ano ou ano e meio depois conseguimos chegar a essa ponta”. “Fazer de morto”, noise-pop, com o ritmo a pender para o lado do segundo, “escorria pela cara”, “quadros abstractos”, “a morte não é mais do que uma predisposição”, o absurdo: “Pra fazer de morto basta no chão”, o Hamond dá-lhe um súbito alento histórico, “mais tarde quando vagueamos em passeio”, “o seu corpo forma nas minhas mãos”, e mostra as garras de Canibal, para distrair: “Prá fazer de morto basta só no chão”, coro: “Meu irmão”, Canibal: “Esticas o corpo, estendes o corpo”, aumenta o ritmo, hiatus progressivo, o solo penetra-a: “AAAAAAAAAAA”. “O demorado é Vasco Vaz”, que imprime os acordes que guia a canção pop, “Só à espera de te ver”, pausa, “é mais fácil antever a chegada de um tufão”, sob esta estrofe a guitarra repete os acordes do refrão, “estival”, “amor sem arnês”, e os “novelos de paixão”. “E agora o nosso cenário, eixo Europeu, é fácil culpa-lo pela nossa situação desbragada. Chamando-lhe a divida soberana. A dívida alguma vez foi soberana? A dívida privada é soberana? Soberana? Soberana?”. A distorção é incutida como um vaso sanguíneo, mas o tempo é em contra ciclo, “pelo matagal”, “de quando em vez”, “rasgado”, as actrizes: “Feliz de janelas a iluminar prostitutas”, que vendem: “Carícias obscenas”, “peluche”, “escapada”, descarga dos Mão Morta, “cuspindo fogo”, “com as suas mãos pequenas”, noise-metal, “ouve-se a rádio a anunciar”: “Que faço eu aqui com as mãos manchadas de sangue?”, Canibal coloca as mãos à sua frente, o pingar do fluido é originário de um cadáver baptizado de Portugal. A guitarra de Vaz, impõe a distorção como centralidade, “mexer no que me dá”, “gritos”, “fustigam folhas do Outono”, Vaz-solo-progressivo, “no ar”, “esplanada”, “turma que passa”, “puberdade”, “rapariga”, “descubro Toulouse Lautrec”. “Paris”, solo-metal, “cortei-me”, “parei”, “amor eterno”. “O próximo tema chama-se ´Teoria da Conspiração`. Sabem o que é a incerteza da verdade? Da manipulação da informação governamental? Dos jornais que os vossos amigos leram? Nas redes? E sabem que tudo isso é contraditório? Já que tudo é uma teoria da conspiração”. O ritmo é de 2x2 mas os acordes reportam-na ligeiramente para o rock and billy, a guitarra de Vasco Vaz quando se aproxima dos monitores, os acordes distorcidos ouvem-se embrulhados numa frequência que os inibe de se exporem totalmente. Décimo terceiro tema: A guitarra é munida da distorção de Manuel Pedro, e dissemina-se pela “cidade”, “de fantasia”, “contra gritos”, pausa mas mantêm o feedback estático, distorção, “moderação”, “alma”, o Canibal devora o microfone, ouvem as tripas a contorcerem-se e remexerem-se: “OOOOOOOOOOOOOOOOO”, os Mão Morta respondem-lhe com uma electricidade limitada pelas colunas meramente académicas. Décimo quarto tema, as guitarras na frequência aguda, com o impulso da bateria aumentam o ritmo e a altura: “E se depois?”, “o Zequinha morrer?”, “e se depois?”, “perseguir”, “e se depois o Zequinha morrer”, solos das guitarras em paralelo evidenciam angústia, a bateria aumenta o ritmo, e passamos para o lado do speed-rock, o Canibal dança, pausa, bateria + solos agudos, crescendo: “AUAU”, “e se depois?”, coro: “E se depois?”, Canibal: “E se depois?”, “e se depois?”, “e se depois?”, “depoisdepoisdepoisdepoisdepois”. “1º de Novembro”, coro: “Lálálálálálálálálálálálálá”, punk-rock, “horizonte”, duas guitarras sustentam a distorção, “solidão, saudade”, a de Vaz introduz acordes funky, próximos de Prince. Coro: “Solidão”, Canibal: “Saudade”, coro: “Saudade”, Canibal: “Romagens”: “OOOOOOOO”, Canibal, coloca-se no lado esquerdo do palco, levanta o fio do microfone e traduz o português para árabe, entra em palco uma dançarina do ventre vestida de sedas pretas, traz o perfume dos desertos onde as miragens representam o futuro do peregrino. “Obrigado, Coimbra, parece que estão a sofrer terrivelmente com o som. Parece que o sistema não aguenta. Pediram-nos encarecidamente para deixar alguma coisa do P.A”. Bateria, rock, “para nos endividar, para esconder a pobreza real”, os bancos, “são as tetas da alienação”, solo sobre a massa sonora, 2x2, “o trabalho”, “morrer”, “e se formos a ver não têm nada a esconder”, “tenho que sobreviver”, “não se chama viver”, “ciclo infernal”, os bancos e o Estado: “São as tetas desta nossa alienação!”. O último tema segue a conduta do anterior, “E Vamos Fugir?”, Vasco Vaz é sinónimo de condução, “um labirinto”, speed-rock, “mediáticos”, a verdade: “A realidade não existe”, e a certeza de que não há escapatória para Portugal: “Tive uma ideia, vamos fugir?”, Mão Morta salienta a distorção: “A televisão transmite as ordens!”, a certeza de que Portugal é a terra do nunca: “Tive uma ideia, vamos fugir?”, “top models”, “prémio Nobel”, é o “maior dealer”, o grito: “AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA”, distorção e um ritmo de metal, vil, que nos transporta para o nunca onde as formigas são as cigarras.

Pelux in Motion, Mão Morta, 6 de Outubro, Teatro Académico Gil Vicente @ Coimbra

sábado, 1 de outubro de 2011

Cunt Rock

O Ovni é uma entidade criada por extraterrestres. “This firts song is ´Against the Law`, don`t be scare”. A melodia é um diabo à solta vestido de saia, “crashing my bodie against the wall”, ritmo dois por dois, “I can`t wait no more”, o tempo é escasso, Bunny Lake: “Upside down”, “of life”, “out of control”, “against the law”, a tragédia cantada por um arcanjo de negro: “The way I feel about love”, o solo da guitarra contém o resumo da melodia e a partir do qual o ritmo acelera, “your kind of life”. A “ghost of the past”. “This next song is ´Rebound`”, soneto discreto quase infantil, esquartejado pelo ritmo marcial, golpe de Estado num país desértico, com a voz de Bunny Lake a encarnar as tágides fatais imersas em lavas negras que escondem as digitais, solo semi-distorcido, “I `m falling in your life”, a fatalidade: “I can`t stop this rebound”. Palmas. “Obrigada! This next song is about”, Bunny Lake despe o casaco que escondia uma t-shirt negra de alças que a cobre até as ancas, entre as quais consta uns hot pants de lantejoula, sobre o peito a branco está a inscrição: “I`m a Cunt”. E a partir daqui o diabo abandonou a floresta onde inverna e se diverte a devorar o seu semelhante, escravo da morte. “I don`t now wich words to use”, o eterno problema “you talk too much”, com o combo de guitarras e da bateria e do baixo a predestinar a canção na estética pop-billy, é relevante o solo de Torpedo em diagonal, “I don`t now the words to use”, surf-billy, “scape”. “Playing with the Devil”, ritmo dos bombos ecoa como uma bomba pronta a explodir no rosto dos presentes in States, Coimbra, está calor. A bateria de Kalo expulsa o diabo da pop para dentro de uma massa libidinosa, rock and roll. Bunny Lake levanta os braços acima da cintura, move-os paralelamente e simetricamente como uma boneca alimentada a luz lunar, as luzes multiplicam-na como um arco-íris filtrado por um diamante, o psicadelismo surge como figura de estilo, as responsáveis são as guitarras a disparar acordes paralelamente. “This next song is call ´One Way`”, a bateria carrega com o seu pendor hair heavy metal, as guitarras em suspensão, “Their`s one way to get me”, a percepção da saudade pertencente à não-inscrição: “You have to kill your sadness”, “around my soul”, há um feedback que se mantém estático no ar, “tender”, dois por dois, pausa, o feedback prolonga-se estaticamente a dominar a canção para a dinamizar, “heart to folow, I `ll reach your sorrow”, “please stay”, “please”. Tiguana Bibles atiram-se à canção tais cães de crómio, “everything is going to be allwright”, a bateria é de um potencia animalesca, rock, solo, bateria, voz: solos das guitarras em paralelo, “I”, bateria, solos, “all the time”, “please stay”, as guitarras carregam na velocidade, “I want”. Ovação. Slow, tremelim de fantasia, o refrão: “Meu amorr”, “don`t tell me how do I feel”, “meu amor”, “I`m swimming in your see”, a sua voz substitui o tremelim electrónico: “OOOOOOO”, as guitarras libertam-na do sofrimento, “loving you”, falseto: “OOOOO”. “Thank you Jimmy, who bring me roses! Before the concert! I never get flowers in this country! I didn`t even now if there is flowers in this country! I now you have spiders! But flowers! Thank you very much Jimmy!”. “Let´s make a deal put me out of misery”, “you have to find my angel”, as raízes do rock billy sobressaem na carne dos Tiguana Bibles, como uma serpente daninha, solo encarregado por Victor Torpedo, “now the stars are falling, I want to kiss you darling”, impregnado peloo tremelim electro do músico com o cabelo a encobrir-lhe o rosto, Agusto Cardoso de seu nome, e o baixo do Pedro Serra, sobressai. Bunny Lake, dança ao som da sua banda de bandidos encobridos pela noite, os acordes de Torpedo ocupam o espaço deixado vago pelo baixo: “Break the wall”, o refrão é magnânime: “We are explosions”, levanta os braços cobertos por luvas negras. A marcha fúnebre que se segue, “is about”, “I`m so happy to be”, “I want to be alone”, “from me and my house”, o dois por dois é tão lento, sobre o qual a banda equaciona uma progressão decadente. “My bass player wish he was a lady”, a ironia da musa. A abteria de Kalo dá o seu pulsar violento, guitarras, solo, “close your eyes”, speed-billy, “you can see”, “I`m special”, “soul”, guitarras paralelas, “inside my soul”, solo-Torpedo, solo da guitarra de Augusto Cardoso. Bunny Lake abandona o palco, dança, e canta junto ao público despe os saltos altos, “soul”, “come inside my soul” sobe à missula: “Love come inside my soul”. Dispara sobre Torpedo: “This guy plays the guitar and party! One more new, we like to experiment in people we trust”. A lírica: “I want to tell you, you are crazy to cry”, o vómito: “I`m sick of the world”, “of gold”, a bacteria corrosiva é a bateria que arrebenta como artilharia pesada, a intromissão do teclado fantasma adensa a melodia oferecendo-lhe a metáfora retro, “I`m gona to tell you”, o vómito: “I`m sick of the world”, “soul”, o ritmo aumenta, assim como a altura, “crazy”, teclado-baixo-bateria submergem a canção na enunciação. A confissão: “Just to see I was very scare for today. This is our last song”. “Surrender”, é apresentado através de um paladar épico, dramático: Bunny Lake de joelhos: “You push your hands”, “surrender”, bateria, “in you lips”, esquizofrenia, “surrender”, é o cunt rock fílmico, alteram o ritmo, “heart”, o teclado é o agente secreto, “heart”, “from your heart”.

In Loving Memory Of…, Tiguana Bibles, 29 de Setembro, States @ Coimbra

sábado, 13 de agosto de 2011

Piloto Automático

Noite húmida cobre a Batalha de Aljuz Barrota, há muitas padeiras e imigrantes, jovens e velhos, postos de venda de cerveja. O palco está instalado junto ao Mosteiro da Batalha, os batalhenses ficam inertes ao apelo do ritmo prog-rock-electro que infecta o pop-fado de “Sete Naves”, surgem Rui Reininho, Tóli César Machado, Jorge Romão com mais três irmãos sanguinários. Rui Reininho (Rei): “Vejo destroços de metal a flutuar”, “provavelmente o Tejo”, “sinos, sinetas ao acordar”, o “ritmo” é mecânico e circular, “paro de martelar”, solo da guitarra, “vejo estas veias estalando”, “artéria por estalar”, levanta os braços, “diáfanos por envenenar”, “vejo isto”, “outro ritmo”, “pára de martelar”, a música continua a contrariar a narrativa do Rei, as luzes negras e brancas acompanham a sincope: “As naves que eu construo aguentam a violência de um beijo mas nunca a do mar”. “Fode”, o sangue começa a estalar, “elas vêm-se, volteiam-se devagar”, o Rei encarna Bruce Lee e dança, “OOOO”, “AGORA”, e pede ao povo que se venha, levanta o braço direito para os acordar: “AAAAA”, solo da guitarra a mimetizar os acordes do refrão, “as naves que eu construo não são feitas para navegar”, pausa, “nunca a do mar”, “ar”, “vêm-se”, “vêm-se”, “voltam-se devagar”, “beijoo”, solo-guitarra, “nem a do mar”, “AIAIA BOM”, “AIAIAI BOM”. O Rei dirige-se aos súbditos: “E a Batalha está ganha! Ainda agora começou!”, não é ironia, a declaração de guerra é sincera. Assim o demonstra, “Sexta-feira (um seu criado)”, a canção rock and roll, que se prostitui “em Albufeira”, “para acabar”, “era tal a bebedeira”, “ninguém sabia onde era o mar”, “beija-me”. “Já é Domingo na Suécia, Cascais, Funchal”, “a policia”, “bem contra o mal”, “falta a tua confissão”, com a canção muito próxima do original, “amei”, “já não dou com o Dj”, solo da guitarra substancialmente prolongado e distorcido, “falta a tua confissão”, “beija mão”, “de quem gostei”, “dó”, “já não há, já não dou”, “nem pró Dj”, com o Rei perdido na Batalha. “Obrigado meninos, meninas, senhoras. ´Efectivamente` foi estreada aqui no tempo do Mestre de Aviz”. A canção redefiniu a pop, o ritmo é por si só de uma circularidade lúdica, subtil, com paredes rupestres com “pássaros estúpidos a esvoaçar”, o tédio do “riso das crianças dos outros”, o refrão é assertivo: “Efectivamente”, coro: “Lalalalalala”, “sem moralizar”, dois por dois, “engatar”, a guitarra insurge-se para lhe dar progressão, “controlar”. “Efectivamente”, “sem sincronizar”, a guitarra emerge mas desta vez complica, o teclado não resolve a questão, “sem moralizar”, “m-o-r-a-l-i-z-a-r”, coro: “LAAALALALA”. “Pois é, esta época passada foi uma série de títulos que ganhamos. Primeiro lugar desde 96! Obrigado! A nossa reciprocidade”. A música é um tónico tropical, um fluído que suporta o Rei: “Qualquer escravo era feliz”, “vender macacos do nariz”. A perspectiva sobre a mudança de paternidade: “O papa agora faz de mama” e “a mama tem mais cabedal que o papa”, “o futuro nas televisões”. “AAHH os bebés vinham todos de Paris”. “AAAH os bebés eram todos para meter no nariz”, blues-pop, “a mama vive tão longe do papa e os bebés ganham mais que os papas”. “O papa tem mais paciência que o Papa”, eco: “OOOOO”: “Vai Batalha agora tu!”. “A próxima canção é fantástica, porque começa no princípio e acaba no fim”, é o slow noctívago-pop de “Morte ao Sol”, “felizmente a noite sai”, solo-guitarra, “este lugar”, solo-guitarra-fm. “Metamorfoses de horror”, quem o determina paradoxalmente é o Rei sol: “Vão demorar?”. “Estou contente se a luz se esvai”, “revela cierta”, “rouca voz”, o vento sopra bolhas de sabão, “meu amor”, “directa sim”, “declaro morte ao sol”. “Directa não”, “morte ao sol”, progressão, o solo da guitarra substitui na íntegra o da gaita-de-foles de Paulo Marinho no original. “´Bellevue`, vous parlez fancais? ´Une Valse a Mille Temps`”, a referência ao universo do belga Jacques Brel, ganha corpo na progressão dos acordes e no ritmo compassado, que é Porto travestido de Paris. A narrativa é de papel químico de um policial, imerso num sufoco, o telefonema: “Leve, levemente como quem chama por mim”, que lhe permite ter uma “ideia brilhante que cintila no escuro”, a acção: “E subo a mão”, a guitarra percorre o refrão, “diamantes”, “salto à janela”, “coração”. “Bellevue”, “rendez-vous”, o ritmo acelera, “último estertor”, “cruel”, o local do crime: “Cama de dossel”, o detective põe-na à prova, ”experimento o colchão”, “solidão”, o baixo encorpado de Jorge Romão. “Rendez-vous”, “lá no jardim”, “confia em mim”, pausa, os teclados aumentam a tensão, quando o Rei assobia no microfone, a guitarra de Tóli César Machado sobressai. “Stop”, a revelação do autor do crime: “Sabem que me escondo na Bellevue”, alegre ma non tropo, decadente, “os meus amigos no fundo do jardim”, “ninguém confia em mim”, o alçapão: “Era só para brincar ao cinema negro”, as provas: “Os corpos no lago de jovens no desemprego”. “Atrás de mim a História, à minha frente o futuro”, quando o Rei disse: “atrás”, colocou os braços em direcção ao Mosteiro, quando referiu: “futuro”, para à frente. “É pena a Assembleia [da República] não estar aberta. Tenho um jeito para estas coisas. Então e o meu chá?”. O funk-pop de “Rei do Roque”, a narrativa beat: “numa selva sem leões”, “Rei da Rádio dá-me a voz”, “Rei da pop compõe por nós”, “Rei do Rock morreu por nós”, a síncope instala-se, “evidentes orações”, electro-pop-rock. “Isto é Oeste? Vamos lá ver isto. A ver se não me engano nas vogais”. A música que se segue é um slow movido a gás, ecológico-pop, o naturalismo da “casca de carvalho”, “a agulha no cabelo”, o refrão desconcertante: “Unika a pagar o gás”, teclado de Tóli, “um crucifixo, as mãos, os dentes de desejo”, “si lui trouvez”. “Unika a dar gás”, “a rainha das marés”. O hino ao ópio, com uma introdução hindu, urdida enrolada e fumada pelos Beatles: “Ana Lee, meu lotus azul, ópio do povo”, “Ana Lee”, a melodia é Trópico de Capricórnio, “num Lotus azul, nada de novo?”, “Bragil”, “jasmim”, “e a ouvir-se”, “num país onde fumam as cigarras”, sobressai a bateria, “tigre de papel”. “Lotus azul”, “poente dourado”, solo-hard-rock da guitarra, aceleram o ritmo. “Ana Lee”, “jaguar perfumado”, “tigre de papel”. “Vamos fazer uma estreia mundial”, ri. “Esta é para os Bombeiros….”, levanta os braços , “Que são os Bombeiros!”, palmas do povo. “Voos Domésticos”, o original que dá nome ao um best of reescrito, produzido por Flack. Uma melodia slow-pop-kitsch, que poderia ter constado no “Retropolitana”, domínio dos teclados, “o que faço aqui?”, “e então se tropeça-se”, “em mim”, “olha a turbulência é da tua ausência”, “adivinha”, “algures na cozinha, soa a campainha”, é o Rei, “num gesto de avareza só pago a sobremesa”. Avisa: “Olha a turbulência é da tua ausência”, é “a torre de control”, “adivinha quem sou?”, a densidade psicotrópica é densa, com os teclados entre o universo pop-prog, a guitarra a assumir-se como o interlocutor do Rei. “Escuta a turbulência é da tua ausência”, “fantasia de lençol”, o psicodrama: ”adivinha quem sou?”. “´Voos Domésticos` à venda em todas as casas da especialidade, que são poucas, são mais os piratas”. Do ar? “Asas”, a pop-cinética de veludo, andamento de meio tempo, letra onírica: “Servem pra voar”, “pra sonhar”, “espreitar”, “não te esquecer”, o Rei voa, “por combater”, “tentar não te esquecer”, “no alto do ar”, “se quiseres pousar a paixão que te roer”, “é um amor que vês nascer”, o solo semi-distorcido circular resume a melodia. “Estão a ver isto”, o Rei aponta para um copo que contém: “Mesmo chá!!”, Tóli César Machado desloca-se da direita para o centro do palco, recorre do microfone do Rei: “Toma lá do meu!” e estende-lhe o seu copo. O Rei enólogo chega à conclusão: “Ah! Isto sim é chá da marca do Jorge Palma! Um grande herói!”, riso do povo. “A Pronúncia do Norte”. “Um dos melhores compositores vivos: Tóli Cesar Machado”. A ironia rock de “Cais”, não é totalmente aplicada, o ritmo é substancialmente mais lento comparativamente com o original, e nem se assemelha com a versão que roda na TV, internet e na rádio pirata. “Se ondas vêem chatear”, a lírica é premonitória: “E quando a maré negra chegar?”, “crude limpar”, “imenso sais”, “sereias sensuais”. O narrador volta à terra: “Se o pescado morre ao largo”, “vai ver se há ainda lodo no cais”. “Voltas ao cais”, a canção diminui o ritmo e instala-se um ritmo marcial, próximo do break beat, “sensuais”. “Imagino o Carlos do Carmo no Allgarve com as bifas em topless a cantar: ´I've Got You Under My Skin`”. “Espelho Meu”, “Porto 1980”, os acordes disparados pela guitarra em delay coloca-a no pedestal do psicadélico, as luzes brancas incendeiam o espaço como se fossem bolas de espelhos, a banda joga em bloco, vibrante pulsão agressiva, fantástica: “Perguntem ao meu espelho”, a banda faz uma pausa, e Tóli Cesar Machado encerra a canção com acordes rítmicos, genial. Qualquer imigrante emociona-se com “Dunas” poluídas. “Sem reflectir”, “velho habito”, “a lado”, “ficar quieto”, “senti-la a vibrar”: “Ah! Lá vem ela”, “a relva cresce”, “um peito assim, ai”, “sabendo que é boa”. A demência: “AIAIAIAIAIAIAIA”, denso fílmico, “acabar de jantar”, “não pedia para ficar”, fica “sabendo que é bela”, “interesse”, “talvez assim”, “linda”, o teclado liberta-a da tensão nada característica da bossa nova: “PoPoPopLess”, o solo da guitarra distorcido, funciona como se fosse o coro da Antiga Grécia. O rei encarna o Axel Rose, “lá vem ela”, “mexe”, “AIAIAIAIAI”: “PoppopLess”, eco, “PoppopLess”, eco “PopopLess”, eco. “A próxima musica é mesmo em espanhoel: ´Sangue Oculto`”, o solo da guitarra que inicia a canção é menos linear que o original, a banda é uma máquina de rock and roll, finalizada com um desafio anti-touradas: “Se puderem mostrem compaixão pelos animais, não se arrependem!”. Encore. “Nós vivemos disto e para isto!” Blues-pop de “Burro em Pé”: “Se foi só para nos ver”, “mais vale me calar”, “tira o cabelo da boca”, “esse piercing no umbigo fica-te mesmo a matar”, o fraseado de música clássica, retira-a da mediocridade, a guitarra solo mimetiza os acordes dos teclados, “IONHK”. O Rei explica: “O burro é um dos animais mais inteligentes que há!”. “Há um bicho novo para limpar”, popopop, com refrão: “Vaisouvirever”, “mais vale nunca mais crescer”, poprock, “cérebro em fuga”, coro: “Mais vale nada”, “crescer”, “mais vale nada”. Seguido de um tufão soul-pop-tropical que aquece o “Inferno”, com os devidos aditivos ao romantismo latino-americano. “GNR, trinta anos venham mais Trinta!”.

Voos Domésticos, GNR, 12 de Agosto, Festas da Batalha @ Batalha

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Cabo Verde

Ilha isolada pelas margens do mar é o centro de beleza chama-se: Mayra Andrade e é fruto maduro. A bossa nova é pejada por uma tonalidade africana, a bateria a proporcionar um início perfeito a que se junta o contrabaixo, surge Maya Andrade veste de vermelho, é um vulcão ou a sua lava, ambos ao mesmo tempo. “Uma mulher”, a narradora onisciente, “uma beleza que me aconteceu”, “o seu corpo contra o seu”, “me falou que o bem é mau e o mal cruel”, pausa, guitarra acústica, “dor”, solo do contrabaixo, “quis inventar”, “natureza feliz”, “como é bom tocar um instrumento”, solo da bateria, “besteiras de menina, disse não”, a precursão é batuque de samba. Mayra Andrade irrompe pelo scat: “LelE”, “como é bom tocar”, pausa, “um instrumento”, “OoOOOo”. Segundo tema: Mayra segura um instrumento ritmico, que oferece à canção uma perspectiva infantil, o corpo da música pretende aproximar-se de um jazz tropical, o crioulo coloca-a em São Vicente, “decionario”, “magia”, “realidade de hoje em dia”, “democracia”, “pra buscar”. “Muito obrigada a todos muito contente por estar nesta sala magnifica. Nesta sala não sei… Não vou dizer de 1910. Mas pus um vestido assim”, sorri e coloca a mão sobre a anca esquerda e parece puja-lo como se fosse uma sereia a apresentar-se ao noivo na noite de núpcias. Bateria, contrabaixo, “esse milagre”, guitarra, “onde é maior”, “bandeira que tem”, em crioulo, “AlAlAlao”, “na bandeira”, “Aiooaiooai”, com repetição oral por parte do guitarrista, o solo deste prolonga-se, “bandeira”, “lha bandera”, “AioAioAioAi”. “Obrigado”. Na quarta canção, a guitarra impõe acordes curtos, que servem de métrica à letra: “deixem-me contar uma história”, “de um amor”, “tanta história para contar”, “eternidade”, embalada por um funk imposto pelo contrabaixo e pela bateria: “leliai leiliai leiliai”, “leilia oliae laie laia”, com voz grave do baterista a fazer de coro, solo do contrabaixo, “tanta história pra contar”, “filhos do Atlântico”, “Cabo Verde”, “laileilailadia”, coro “leeileiaa”, Mayra: “Lelalaielllalaei”, “leilaielaielaia”, abana as ancas enquanto dança de costas para o público sentado em cadeiras estofadas no Casino da Figueira da Foz. As escovas da bateria impõe um ritmo lento e intimista, à quinta canção, “AA” sem microfone a criar um eco, “sonho grande, bonito cheio de luz”, “que grande cruz”, “estrela brilhante”, falseto: “EEEEE”, “venganza”, solo da guitarra em paralelo com o contrabaixo, o ritmo quase se esquiva para o silêncio, “tem um sonho”, “sonho grande”, “segura”, “grande cruz”, “venganza”, “estrela brilhante”, tensão rítmica, “abbabebe”, com a boca fechada: “Mmmmye”, boca aberta: “EeEEEEE”. Sexta canção: Bateria/baixo, progressão gradual, scat: “OOOO”, “OOOOOO”, “OOO”, “OOO”, “OOOO”. A sétima canção começa como a anterior, o meio tempo serve de base que por vezes é reprimido por uma alegria contagiante: “Muita saudade”, a dor que não magoa mas que nos fere porque Mayra Andrade chora como uma viúva cabo-verdiana: “AIAIAIAIAI”, “AIAIAIAIA”, “OOO Byeyeye”, solo da guitarra, “fica a saudadi”, “AIAIAI”, break beat, Mayra Andrade dança como se estivesse abraçada ao seu amor. O ritmo lento mantém-se na oitava canção, a guitarra desafia esta estrutura e apresenta-se um pouco revoltada, “sem sinal”, “dispedida”, “chicotadas”, solo do contrabaixo, chora: “eieiuaaaeaaa”: “OOOOOO”: “AIAAAAAEEE”: “AAOOOOOO”, o ritmo acelera ligeiramente e o contrabaixo salpica-a de um dramatismo intenso. A guitarra acústica é substituída por uma eléctrica picola, a melodia é uma morna de alterne cantada em castelhano, “Bessame com passion”, “mira-me porque quiero alcançar tu alma”, “quiero Salir de tus braços”, “perder la calma”, “bessame com passion”, “sentimiento”, “sentimiento”, solo de guitarra, “mas puro sentimiento”, “como lo siento”, “lha sé mas bien el camino”, “el camino percorrido por la guitarra”, Mayra Andrade dança de frente para o público. “Uma salva de palmas para Pablo Milanes”, o autor da canção. “Tu nunca”, a percursão é apenas um elemento postiço, já que é o contrabaixo que acompanha a voz da diva, “tu nunca”, “corazon”, “corazon”, “nacionalidade”, palmas, bateria/guitarra, “embarca para São Tomé”, palmas, “tu nunca”, a guitarra incendeia a canção e orienta-a para o fim, com ajuda da pequena percursão que Mayra Andrade toca. O décimo primeiro tema, tem por base o djambé, e o contrabaixo, Mayra não gosta da cor amarela das luzes, “Maria Bethania, disse um dia: ´Tira-me esse amarelo de cima de mim, não sou nenhuma bananeira`”, o técnico demora a perceber a ironia da princesa de Cabo Verde, “comme si non pleuveux”, tem um coro que lhe dá uma alegria que a letra não contém, “jolie le soir”, “chaque jour”, coro: “comme si non pleuvex”, “a pris”, “Lalala”, coro: “Comme si non pleuveux”. Scat: “Lalalala”, coro: “Comme si non pleuvex”. Décimo segundo: bateria/guitarra, “I need”, “until I do”, “I `m hoping”. “I love you”, estas três palavras saídas da boca de vulcão de beleza, ganha a certeza de serem de um erotismo magico, a canção é uma versão de um tema dos Beatles, um dos mais medíocres que estes criaram: “I Want”, “I Want”, “I Want”, “I love you”, “Michele”, “The words I now”, “Michele ma belle”. Á decima terceira canção, Mayra Andrade pede uma “participação fortíssima do público”, “Oh! Senhora da magia”, palmas, “mostram cultura”, palmas, “Obé, obé, obé”, palmas, “OH! Mulher sabida”. “Carrossel”, insere-se num ritmo brasileiro, “et la vie sorrie”, a esperança é uma tontice: “dans la folie de l`espoir”, “de mon couer”, “dans le ciel”, “revê”. Mayra dança enquanto a guitarra eléctrica picola prossegue e inconscientemente lhe responde, mas Mayra não a ouve e continua a desfiar a sua tristeza: “Dans le ciel”, que não contagia o público que lhe responde com palmas e a pérola dança: “Caroussel, tourné ma vie”. O cavaquinho remete-a para Cabo Verde, assim como o creoulo, “Marinheiro”, é uma ou traz uma “melodia”, que tem “poesia”, “animal”, “melodia”, “poesia”, “balanço de mar” este verso é o espelho do ritmo da canção, “turbulento o tempo”, saudade: “OAAAAAA”, “balanço de mar”, “um tempo”, e a sequência seguinte é preenchida com solo do cavaquinho, bateria e baixo, seguram o ritmo, “brisa de mar”, “balanço de mar”, “um tempo abençoado”, “balanço de mar”, “tempo abençoado”, ritmo 2x2, scat: “AAAAAAAAAAAAAA”, “TATATAAATA” que é repetido pela bateria. Palmas. O penúltimo tema é slow em creoulo, e que tem como correspondente a “lua”, sponken word, “na boca”, canta: “lua”, “OIOIIOIOIOIOIOIO”, “lua nova, cheia, redonda”, a guitarra eléctrica picola é dedilhada nota após nota, o solo deixa a sala em chamas que ardem como a pedra nas mãos da lava. A percursão dá sequência à morna pop, “OIOIOIOIOIOIOIO”, coro: “OIOIOIOIOIOIOIO”. A última é mais uma morna de cariz arrebatador, “nina”, “EEEE”, “menina oi”, “menina EEEE”, “vo pra casa jantar”, “sucupira”.

Mayra Andrade, 9 de Maio, Casino da Figueira @ Figueira da Foz

terça-feira, 31 de maio de 2011

Electric Blood

Vítor Rua está a deambular pela sala Arte À Parte, numa rua contigua ao Quebra Costas, em Coimbra, afogada num silêncio soturno e nocturno Sábado. Sobe ao palco Vítor Rua, sustém uma guitarra eléctrica de oito cordas, está descalço, acaricia as cordas prolongando o som como se fossem ondas de um mar tépido à beira do Equador. Um lampejo agudo, é o inicio de uma tempestade, à qual se juntam mais agudos repetitivos, sobre estes a percursão que com as mãos Vítor Rua desfere ao longo da guitarra. O som do mar mantém-se sob os agudos, Rua segura um pente de metal coloca-o sobre as cordas e o som é o picado da agulha num vinyl velho ou início da transmissão da TV a preto e branco. Arrasta-a sobre o braço da guitarra evocando arranhões sobre o metal, usa-a como elemento de percursão pela guitarra. As mãos acalmam a demência que estava e pronunciar-se, a mão esquerda segura as cordas a direita estimula-as, ambas passam continuamente sobre o braço da guitarra. Com a ponta dos dedos sobre as cordas, esfrega-as, provocando sons díspares agudos, a mão esquerda e direita batem nos graves, a mão esquerda bate sobre os agudos. A mão esquerda segura um objecto que toca sobre a escala do braço da guitarra, o objecto funciona como percursão variando acidentalmente e incidentalmente. O pente de metal é aplicado sobre as cordas remetendo para sons incidentais e repetitivos, a estranha surdina retira-lhe ritmo e em seguida aumenta em altura, com o pente de metal a provocar sons agudos, como uma invasão de milhares de Esidore Ducasse. A percursão é semelhante à que deu início ao concerto, as mãos no corpo da guitarra aumenta gradualmente a altura e a velocidade, a mão esquerda toca nas cordas, a direita rasga-as, viola-as, rasga-as, viola-as, rasga-as, viola-as, rasga-as. Mantém-se a percursão, e a repetição de viola-as, rasga-as, viola-as, rasga-as. Anula o eco recorrendo a um dos pedais. E encaminha-se para um suave e perturbante detonar da percursão, Vítor Rua olha para a sua pedaleira e vê-se desligado da corrente eléctrica e em surdina: “Será que vai voltar o som?”. Percursão sobre as cordas da guitarra, a mão esquerda segura as cordas a direita bate nestas, proféticas marteladas sobre um crânio, insere a precursão como loop, Vítor Rua desfere um solo distorcido e agudo, a percursão desparece, solo rock and roll, anula a distorção e toca incidentalmente sobre as cordas, aumenta em altura e o ritmo, e o solo que recria aproxima-se a um flamenco com ácidos. Desaparece o eco da guitarra, e a sequencia é de uma métrica minimal, mas explicada em segundos, que insere como loop, e irrompe com um solo rock, em que as notas são dedilhadas de forma lenta mas agressiva, um potente punhal ou cruz. Ámen. Solo funk-progressivo. Vitor Rua acende a luz do seu relógio. Coloca a guitarra sobre o chão alcatifado, a métrica minimal é introduzida, mete as mãos nos pedais e corta a progressão. Com as mãos nos botões do sampler, insere sons de sirenes, como se fossem carros de choque bêbados a querer entupir o trânsito, a altura eleva-os ao grotesco da distorção. Ovação. Vítor Rua: “É irrecusavel!”. E coloca o pé direito sobre as cordas da guitarra a tentar transferir o sangue eléctrico para o interior de Vítor Rua.

Electric Suite, Vítor Rua, 28 de Maio, Arte À Parte @ Coimbra

sábado, 28 de maio de 2011

Vanitas

A voz de Polly Jean Harvey ecoa pelos corredores da Aula Magna, uma sala pertencente à Reitoria da Universidade de Lisboa constituída por lugares sentados. PJ Harvey, veste uma túnica vermelha e nas mãos tem uma harpa, que parece uma lira, sobre a sua cabeleira negra e densa, a sua auréola recriada em penas. “Heavies stones”, harpa, voz aguda: “Big”, solo do teclado, Mick e Pj: “AAAA”, “AAAU”, a pontuação da música é entre o jogo infantil de uma criança e as labaredas de um pirómano, a guitarra insere-se, palmas dos músicos. “Can forget”, o presente: “England shakes”, “to forget”, palmas de Mick Harvey. “The Words that make you murder”, Mick e Pj: “This two are the words that murders”, “Dying”, “These are the words”. PJ: “Not explain”, coro masculino com PJ: “If I take my problems to the United Nations?” a música rodopia em redor do refrão com ritmo acelerado, a contra-posição das vozes realça um carácter teatral da música, a voz aguda ouve os homens a responder-lhe? Ela é a vítima dos outros, de nos, de vocês: os cúmplices. PJ Harvey tem a voz aguda tão aguda quando o silvo de uma bala: “Take my”, a solidariedade é para com PJ, incendeiem a alma com o seu canto. O orgão reflecte-se em “All and Everyone”, surge a harpa e a voz de PJ é masculina com ligeiros elementos timbricos femininos, o teatro de guerra é devastador: “Dead was everywere”, “it was in the”, “drinking whater”, ritmo marcial, “sun”, “death was everyone”, discursa e tange a lira: “Death was everyone”. A canção muda do tempo lento para um ritmo folk, misturada com a progressão final liderada pelo orgão de Mick Harvey. “The Big Guns Called Me Back Again”, bateria, acordes da guitarra, “to my senses”, “OOOOOOO”, “the sun”, coro: “I could go”. “Back again”, “because I hear”, “singing”, “far away, I hear the guns again”, o génio é o canto de PJ, que se eleva acima do acontecimento a apelar para a guerra ou contra esta? “Written On The Forehead”, a primeira canção que PJ Harvey abandona a harpa e passa para a guitarra acústica, blues muito próximo do universo tétrico de Nick Cave, o refrão é um chamamento: “Let it burn”. “In The Dark Places”, segue a linha da anterior, com as guitarras em distorção, “UUUUU”, coro: “Someone”, PJ: “In the fields”, “before us”, coro: “It was”, Harvey e PJ: “In the dust, in the dust”, “come”, “men”, “in the forest”, coro: “Mama”. Piano, ritmo dois por dois, “The Devil”, muito agudo: “AAAAAAAAAA”, a túnica vermelha encobre-lhe os pés, se é uma massa flutuante como uma alma não é fantasia. “Return to myself”, ritmo repetitivo, “come”, “come”, “come”, denso, pausa, e apenas prossegue o piano: “IAAAA SEEEEEE”. “The Sky Lit Up”, iniciada com distorção da guitarra, “never lies”, “this World”, PJ dedilha a guitarra eléctrica. “This skies”, “I saw the Jews”, rock de combate, “Sky my friend”, “Skieesliupuuuu”, “Skieesliupuuuuu”. “The Glorious Land”, a programação e bateria realçam uma componente de invasão, os dois pianos e a guitarra de PJ Harvey, recriam um cenário bárbaro, pop-folk, “OH! AMERICA!”, “OH! AMERICA!”, que ganha uma tonalidade pop com uma trompete samplada, símbolo da invasão americana sobre os índios, “children”. “The Last Living Rose”, rufo, a sua narrativa é a guia por entre uma paisagem naturalista mas com elementos simbólicos da Vanitas. “England”, o baterista ocupa a boca de cena do palco com um tambor, de realçar que PJ Harvey está à esquerda do público, voz infantil: “AAAAA”, “AAAAA”, “AAAAA”, “AAAAA”, a guitarra acústica de PJ, dá-lhe uma perspectiva campestre, a sua lírica passa da beleza naturalista da canção anterior para o apelo de um poeta: “Reaching from the country, that I now, England you need the taste”, a ode é para “to you England”. “Pocket Knife”, é a canção que é corrompida pela distorção, PJ Harvey dança, a métrica é curta: “Wife”, “young”, “how”, “last”, guitarras, “where is coming”, “hunting”, “runing”, “break heart, fall apart”, recebe uma ovação. “Bitter Branches”, sequencia rápida, as guitarras de Mick Harvey e de Josh Parish, associam-se propressivamente, Mick e PJ: “just get lovely”, “just get lovely”, “just get lovely”. “Goodbye”. “Bitter Branches”, a bateria, guitarra, piano, melodia-suave-pop, que se desvanece para uma melodia celta, PJ Harvey arrisca o canto lírico, em contra-ponto com a voz grave de Mick Harvey. “Down by the water”, tem um carimbo soul-pop com uma intensidade trágica: “I lost my heart, over the bridge”, “so much to me”, “just what I found”, “That blue eye girl”, “down by the water, I took the hand”, teclados, bateria, “Jesus”, “my lovely daughter, I took her home”, “little fish”, “give me back my daughter”. “C`mon Billy”, canção em que tudo é perfeito, as harmonias, o ritmo promovem uma densidade cromatica numa cadencia melódica épica quando o orgão se intromete entre os instrumentos. “Hanging In The Wire”, o coro canta com PJ Harveu estática, o ritmo é lento, “water”, a voz grave de Mick Harvey acompanha-a: “In the water”, “begun”. “The Colour of the Earth”, a voz de Mick Harvey lidera, o tambor na boca de cena, o baterista veste botas de equitação e colete, é o costume drama que os une os músicos em termos formais. A música é de protesto e em simultâneo de admiração pela beleza da natureza do Reino Unido. “Big Exit”, “UUU”, teclados, “fingers”, “OH! I MISS YOU”, “OH! I Miss YOU!”, “OH! I MISS YOU!”, guitarra distorcida, “in the corner”, “doorway”, “listening”, “London”, “London is listening?!?”, “OH! GOD I MISS YOU”. “Angelene”, “I frist”, guitarra, teclado, “I see”, “my soul”, “life”, meio tempo, “tired”, “joy”, “miles away”, “I see”, é a espiã das almas, “miles away”. “OOO”, “the faces I recall”, “creeps me”, “bring me down”, “pretending”, “I think nothing but”, sacrifício, “myself”, “I free myself from my family”, longe, “away”, eles, “never want me anyway”, “sirenes”, “sirens”.

Let England Shake, PJ Harvey, 26 de Maio, Aula Magna @ Lisboa

quinta-feira, 26 de maio de 2011

ToyBoy

Twin Shadow, é nome de partido, o cabecilha é George Lewis Jr, tem um chapéu de Féz azul e veste blazer da mesma cor. É moreno e tem um bigode que lhe dá uma adjectivação kitsh, é nesta vertente que se explora o imaginário de Twin Shadow. O ritmo da primeira música, é dois por dois, as harmonias progridem numa estrutura progressiva distorcida. George Lewis Jr, “enjoy yourself”, a canção seguinte é disco sound, a voz é imperceptível, a variação redunda num power-pop, e na recta final decai para o euro-sound. Terceira: Pet Shop Boys, tem o beat e a melodia viciante, viciada, tóxica. Loucura instala-se quando o ritmo acelera, 2X2, a progressão do teclado dedilhado por uma morena de franja, que balança o corpo insinuantemente, “Thank you very much”. Quarto: é pop de novela, apesar da psicadelia associada não se destaca em relação às anteriores. Sexta canção: pop desconstruída. Sétimo: Slow carregado de teclados que o ritmo associa aos Beatles. Oitavo: Stone Roses, voz processada, que após o inicio resvala para a progressão. “This song is call ´Castles in the snow”, uma ilha que se aproxima perdidamente dos Portishead (do primeiro álbum), após ver que a audiência fervilha por todos os poros, por dançar, imaginar uma noite mais quente parece uma utopia, o elogio: “You guys are crazy!”. Decima: power-pop que gradualmente se aproxima do rock, palmas do público que preenche a sala de concertos da majestosa Lux. Decima primeira: pop, tão kitsch que roça o mau gosto, o nome que associo pode parecer um elogio para a vasta audiência: Europe. “Thank you so much! Everyone!!! Thank you! Thank you!”

Forget, Twin Shadow, 25 de Maio, Lux/frágil @ Lisboa

quarta-feira, 25 de maio de 2011

War

Campo Pequeno. Estão a colocar os instrumentos dos The National em palco, há um teclado à esquerda habitualmente usado por um músico que se encarregava também do violino. A surpresa é que este não surge quando The National, entram em palco, recebem em troca uma ovação tão quente quanto os quarenta graus de histérica temperatura. O ecrã que é usado como cenografia visual, apresenta uma cor roxa e a banda sonora é country, quando surge Matt Beringer a ovação pode ser caracterizada com uma loucura generalizada. “Star a War”, é de uma melancolia contida, a voz Beringer, é efectivamente doentia, “sometimes more”, “walk away now”, a banda sobrepõe-se ao narrador, “I get the money, I get funny again”, que desarmante ironia, resposta: “Walk away now”. O belo na escrita de Beringer é a dualidade, há dois narradores, que simultaneamente são interlocutores. “Sometimes more”, “walk away now”, “because you are going to strart a war”, “money”, “I get funny again”, ecrã laranja, palmas do público, finalizada com as guitarras dos gémeos Dressner em crescendo. “Thank you very much!”. “Anyone's Ghost”, 2X2, o baixo oblitera a canção e dá enfase à bateria, “didn`t want to be”, o paradoxo está disseminado na poética de Berigner, “but I don`t want any else”, melancolia é constante, “heart”, “didn`t want to be”, a negação levada ao extremo da auto punição, as guitarras dos gémeos deflagram, e transportam-na para o expoente máximo da beleza. “Secret Meeting”, o ritmo é uma valsa repleta de exuberância, “I think”, “didn`t”, delicado, “sorry I meet you”, “I have a secret meeting”, os metais (trompete/trompete de varas) adensam a melodia, a revelação: “I think this place is full of spies”, “sharks”, sangue no ecrã, o gémeo da direita: grita: “Secret place”, resposta: “Sorry I meet you”, grito: “Secret place”. A viagem guiada por Ohio, “Bloodbuzz Ohio”, a incerteza de enveredar por um discurso de novela: “I never married”, 2X2, “I have a thought about God”. “Slow How”, melancolia fúnebre, “so you”, guitarras, spoken word, “small”, metais, “I want”, metais, “to you”, guitarras, “think about you”, linha da guitarra grave, “I dream about you”, “29 years”, parece um eco que prolongam o tempo da narrativa para um sub-texto que nos fere, tanto tempo? Palmas. Progressão. “I think about you”, baixo. “Squalor Victoria”, a precursão marcial domina a canção, com o gémeo da direita no teclado. Criando uma densidade cromática densa, negra, grito: “Squalor Victoria”, grito: “Squalor Victoria”, grito: “Squalor Victoria”, funde-se o wall of sound, resgatado à história do rock and roll pelos génios-gémeos das guitarras. É a bomba que explode, o centro a partir do qual The National perpetuam-se na memória da multidão em histeria sincera como o é toda a loucura, demência, alienação, liberdade. “Thank you very much”. “Afraid Of Everyone”, as teclas inserem os acordes lentos graves e ondulantes, a voz é um contraponto não por se encontrar acima dos instrumentos, mas pelo que conta: “I`m afraid of anyone”, a vulnerabilidade característica de um escritor de romances falhados. Coros: “UUUU”, a conclusão drástica magoada mas dependente, “I don´t want this drugs to solve it”. Palmas. As guitarras em paralelo, “I `m afraid of anyone”, “With my kid in my shoulders”, “I don`t want drug to solve it”, guitarras, os metais prolongam-se em variações mínimas e solam, explosão distorcida das guitarras, que instigam o transe. “Portugal”, “Little Faith”, slow, “turn around”, “take me now”, “my mind”, “baby common”, “everything”, 2X2, distorção, “miss something”, “I miss something”. “Abel”, a certeza incerta esperança para os receptores, “God is by my side”, as guitarras dominam a melodia e invertem-na. Palmas. “All The Wine”, a divagação de um vagabundo do Ohio em Nova Iorque durante o Inverno. “Sorrow”, “find me”, “sorrow”, denso, guitarras, metais, a partilha cruel: “Sorrow is anybody”, baixo-bateria, a névoa instala-se no ecrã, mistura-se com a banda, spoken-word: “I don`t want”, trompete eleva a canção à eterna levitação da música perfeita. “Thank you so much!”. “Apartment Story”, melancolia binária, narrativa , “all by myself”, “everything”, “it`s diving”, guitarra, “so easily”, bateria, “I `m getting tired”, “tired”, “too easily”, guitarras em paralelo, pausa, a lei: “Do what ever the TV tell you”, “alright”, pop, “now”, “things allright”, Matt anda com o tripé e canta. “Conversation 16”, a progressão crepuscular percorre a canção pop-slow, “trouble”, “I want”, “anymore”, guitarras em paralelo, spoken-word: “Silver girls”, coro: “UUUU”, “I need your”, “I need more”, “I`m confident”, “be more romantic”, “more”, coro: “OOOO”. Ovação: “Obrigado”, “A new song”, “Lucky you”, “everything you get to the”, guitarra, voz, teclado, “zone”, trompete, “nothing you can do”, “you want me?”, não obtém resposta: “You want me?”, “nothing you can do”, solo exuberante da trompete a retirar a canção da melancolia tépida, distorção das guitarras, “you want me?”, no ecrã surgem cisnes. “Thanks so much”. “England”, teclado, guitarra, metais, as luzes brancas estão estáticas, “feel today”, “lost today”, “you lost”, spoken-word, palmas, “Los Angeles”, meio tempo, “everything you say”, “you must be”, a bateria insere-lhe alguma alegria: “I don`t need to go to England”, “Los Angeles”, “hot in the city”. “Fake Empire”, progressão, pausa, teclados, “in my lemonade” , “half away of a fake empire”, a poesia é irónica, “shoulder”, “fake empire”, acordes do teclado mimetizados pela banda, palmas, trompete, a progressão eleva-a ao reduto da tragédia épica. Berigner dedica aos presentes “Friends of Mine”, mas é um flop, a banda a tentar encaixar no domínio do rock repetido por milhares de outros artistas e o berreiro Berigner, piora a situação. Desculpa-se: “We almost get it! The problem was: Aararra”, grita ao microfone. “Mr. November”, a progressão perfeita conduzida pelas guitarras dos gémeos, génios. “Terrible Love”, também percorrida por uma potente progressão, “walking with spiders”, “it takes a ocean”, ovação continua. “About Today”, a pop- poética progressive, “today you where far away”, “tonight”, “ask way”, “walk away”, “tonight”, “eyes”, “I just watch”. No último tema The National abandonam a ligação à electricidade, e com duas guitarras acústicas, os metais, Berigner, canta o que os portugueses cantam, levantam os braços, ondulam, “baby cry”, “baby cry”, “to you”, “bring myself”, “cry baby cry”, “I´ll explain”.

Hight Violet, The National, 24 de Maio, Campo Pequeno @ Lisboa

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Mars Attacks

Noite quente enche o porto da Casa da Música com um número inferior de visitantes do que a noite que acolheu Nina Haguen. Passeamos pelo espaço lunar de vidros ondulantes, na Cibermúsica apenas estão os técnicos e Álvaro Costa, à espera das vinte e três horas para iniciar a sessão. Espreito pelo envidraçado para a Sala Suggia e vejo uns rapazes a tocar instrumentos ritmicos, denominados de “Drumming”, deito-me num puf, próximo da entrada da sala Suggia, e os músicos são a ser projectados no tecto. Na Sala Suggia há uma instalação: entre o público e o palco escuro está uma teia transparente que tapa o palco de onde emana uma música distorcida progressiva, para abrirmos as portas da percepção. Ergue-se o pano e encontram-se objectos dispares em palco, à esquerda uma tenda, à direita um escadote onde se encontra um teclado, ao centro a mesa de misturas. As canções foram sujeitas a uma perpectiva de Club, o Dj veste tshirt preta, é parcialmente careca e barbudo, baixo e magro. A estrutura das músicas é o beat, que faz levantar um casal de teenagers, que lideram os que se encontram atrás a dançar. Matthew Herbert saltita consoante os beats, que insere ou os acordes acrescidos do respectivo ritmo, sobe à escada e tecla, porém a sua noção de teatralidade esgota-se no seu movimento corporal e na sequencia da encenação. O resto é o seu natural virtuosismo que por ser genial e se apresentar de uma forma substancialmente exibicionista, obriga-me a levantar-me e procurar companhia no Bar contiguo à Sala 2, o mais belo dos que abastece a Casa da Música, mas não se encontram estrelas pop. Super-Bock. Sala 2, Laurel Halo tocou quarenta minutos que tive oportunidade de não presenciar, espreito pelo vidro curvo e Herbet ainda está a subir e a descer a escada. Na Suggia o trance está instalado e consequentemente o público passou de dois a dançar entre o palco e as cadeiras para uma multidão, Herbert segura numa bandeira onde está inscrito: “The End”, sorri, e recebe uma ovação que o coroa de Jaques Tatti do Club? Os quatro músicos que acompanham Ariel Pink estão a fazer o sound-sheck, há dois teclados, baixo, bateria, e ao centro uma mesa que Ariel Pink usa para processar a voz. Primeiro tema: meio tempo, dois teclados, baixo, bateria, voz, é por esta ordem que se apresentam: “sometimes”, desloca-se com o tripé. Ariel Pink tem na cabeça uma touca laranja, e os óculos escuros encobrem o olhar do génio californiano. “Sometimes”. “EI”. Segunda canção: duas guitarras, baixo, bateria, harmonias vocais proximas dos Beach Boys, a voz processada de Ariel: “for you”, num falseto agudo. Solo da guitarra, pop solar, california dreaming, “for you”, belo/quente, “no more”, falseto do coro: “for you”. “OH PORTO”, ouve-se da boca de Ariel como um cântico clubista, ironia. “Bright Lit Blue Skies”, o single que decorrere de “Before Today”, oitavo album de originais, é pop singela, clássica, mas espartilhada por uma emissão low fi que perpassa todo o concerto. “Blues Skies”, “AAAIAIAIIAIIAIA”, o público ocupa a parte de frente do palco, dança, “AIAIIAIAIIAIAI”. Quarto tema: “OOOOOOOOUUUU”, rock-blues, “stay”. Seguinte: instrumental: teclas: voz: “OOOO”. Quinta canção: funk com uma óbvia imersão do baixo como uma força pulsante, teclado, voz: “Mais uma cerveza por favor”, é o pedido de Ariel Pink. O sexto, mantém a metrica funk, “it`s allways the same”, por vezes Pink processa a voz para um nível inferior aos instrumentos, tornando-a imperceptivel, Ariel gesticula, já sem a touca laranja, mas com uma fita de tenista branca a segurar os cabelos louros, mantém os óculos escuros para se proteger das radiações das luzes. Há arranjos nesta canção, nomeadamente os acordes da guitarra que sugerem Prince da década de oitenta, misturado com drogas brancas. Palmas do público. Sétima canção: Beach Boys, mas com ritmo dois por dois, pop-com-cocaina, agudos: “EEEEE”, baixo, “Oh! NO!”. Oitavo: Mantém o ritmo da anterior, que é gradualmente corrompida por uma progressão, punk-pop. Nono: o baterista mimetiza o ritmo dos Queen, “We Will Rock You”, “she at”, os teclados adocicam a canção. Dezimo: instrumental em que predomina a distorção numa clara citação aos Sonic Youth. Dezima primeira, baixo mais bateria, com a canção dividida em dois ritmos, a primeira rapida, a segunda lenta, “get on”, “put on”, sobreposição de vozes, recta final noise-rock, low fi, grita e processa a voz: eco: “AUAUUU”, psicoterapia. Dezima segunda: o baixo impõe uma métrica entre o blues e o soul, que os outros seguem, Ariel desloca-se com o tripé a cantar em silêncio. “Obrigada”, ri. Penúltimo tema: pop incongruente, low fi. Fim: Pop incidental, “AAAA”, dois por dois. Fim 2: progressão pop, “AAEEAEAEAEEAOOOO”, cacofonia, piscadelica. Manicómio.

Clubbing= Mattew Herbert+Ariel Pink`s and Haunted Graffiti, 21 de Maio, Casa da Música@ Porto

sábado, 7 de maio de 2011

Metal Mickey

O teclado está a impedir a entrada dos Suede no palco da Queima das Fitas do Porto, os técnicos e o músico Neil Codling estão a tentar resolver o problema, a ansiedade aumenta e a resolução parece cada vez mais distante. Às 01h 05 ouve-se uma música clássica recheada de violinos, é o sinal para que entrem: Mat Osman, Simon Gilbert, Richard Oakes, Neil Codling e por fim Brett Anderson, veste camisa cinzenta e calça preta, é alto e magro. Palmas e gritos. O bombo da bateria marca o ritmo de “She”, “UUUUUUUU”, “walk like a killer”, “killer”, a banda preenche os espaços abertos pela bateria e os Suede entram a matar, “she`s”, “SHEEE”, ritmo mortal, coro “AAAAA”, “no education”, “she`s”, “UUUUU”, Anderson rodopia, “AAAA”, “No education”, “sheeeee”, “UUUUU”, solo da guitarra progressivo mas colocado sob os outros instrumentos, “she”, Anderson balança a cabeça e marca o fim da canção, “EEEEEEE”. O estilhaço sonoro impõe-se no psico-pop de “Trash”, descarregada como fosse uma overdose de fama, “trash”, “beat”, “oOOOOOOO Maybe”, “trash”, “you and me”, “letter”, “trash me, and you”, “Doooo”, solo, apoteose. O dramatismo fílmico de uma noite por Mulholand Drive a passear com uma loura junkie, a força desta matriz é a guitarra distorcida que corrompe a épica melodia de “Filmstar”, “driven in cars tonight”, “filmstar living in cars”, uma anorexia nervosa que a leva a “change your name, change your brain”, descarga de metal da guitarra. Andreson aproxima-se do público, “imposible to say”, “play the game”, baixo gingão, mas a distorção da guitarra entrecorta-o, à qual se junta a de Neil Codling: “change your name”, “Filmstar”, “Filmstar”, “Filmstar”, coro: “yeah, yeah, yeah”, “filmstar, filmstar, filmstar”, coro: “yeah, yeah, yeah”, “filmstar, filmstar, filmstar” , “Yeah, Yeah, Yeah”, Andreson junto ao público: aplausos. “Animal Nitrate”, o hino de uma única arte marcial, ao se revelar como um astro que não sofre com a gravidade que o circunda, é a violência do adolescente que crê na imortalidade, “OOOOOOOO”, a guitarra de Richard Oakes anula a de Neil Codling, que se manteve shoegazer durante todo o concerto. “Diamond”, solo de Oakes, distorcido, violento e progressivo, que gradualmente projecta acordes circulares “OOOOOO”, “animal she was”, “animal”, “OOOOOOOO”, “animal”, “OOOO”, solo curto, “animal”, Anderson dança, aplaude, solo curto, Anderson rodopia. Solo distorcido de Oakes, bateria + baixo, guitarra, “stay home tonight”, “We are the pigs”, “fire in life”, solo da guitarra, “in my home”, “we are the pigs”, “of the fireeee”, “We are the stars of the fireeeeeeEEE”, ritmo marcial, distorção da guitarra solo, Anderson dança de costas junto à bateria, “OOOOOOO”, solo agudo prolongado, “We are the pigs”, ajoelha-se e grita: “EEEEEEEEE”, o feedback da guitarra mantêm-se ligado enquanto os outros instrumentos silenciaram-se. “By the Sea”, a balada retro-kitsch, com os teclados a sobressaírem, a guitarra sola e bateria acompanha-os, o baixo abre a canção para o espaço sideral, “she can walk any time”, guitarra-solo, “light”, “life”, “I Wot`n touch the ground”, guitarra-solo, “ground”, o ritmo da bateria perde a progressão- psicadélica e inverte para o 2X2. “She can walk any time”, “acros the sand to the see”, “a new life, I won’t touch the ground”, solo-guitarra,” “stay, goodbye”, o ritmo transfere-se para um resumo das outras duas partes da canção, corrompida por um solo crescente da guitarra, “new life”, dramático, pausa, bateria, “see”, “by the sea will bringgg”, “seee”, “brinng”, pausa, Anderson segura no microfone: “And SOOOOOOOO”, os teclados encerram a equação. “Drowners”, é revista com duas guitarras, e a pergunta perniciosa: “Do you belive in love?”, Andreson dança com o tripé, “around us”, guitarras distorcidas, a canção é transmitida gradualmente num parênteses progressivo- circular, e a voz de Andreson é continuamente aguda. “Flashboy”, é apresentado com um resumo Rock and Roll, quando o Glam desaparece das canções dos Suede, surge a redundância, mascarada por um ritmo break beat marcial, com as guitarras paralelamente a debitar os mesmos acordes, “he is a Killer”, “he`s a flashboy”, “AAAAAAAAAAA”, o ritmo aproxima-se do hard-rock, voz: “Like a killing machine”, power rock, solo, “baby”, agudos: “OOOOOOO”, “killer”, “boy”, “OOOOOO”, o ritmo acelera, solo agudo, “Lalalallalalallalalal”. “Can`t get enought”, bateria, palmas, solo agudo progressivo, aceleram, “I feel real”, dança com o tripé, “teenager”, “singing I Caaaan`t get enought”, “I feel real talking about sugar”, “AA Can`t get enough”, “like a woman, like a man”, solo da guitarra e que se sobrepõe ao refrão: “Can`t get enought”, “like a stonehenge man”, solo de notas curtas. “Everything Flow” , o slow-pop, com sintentizador de anos 80, que suporta a canção, como se fosse um dilúvio circular, constante corrente para “sky”, “Sleep away”; “Life is just a lullaby”, “AAAA”, “everything will flow”, “AAA”, solo, “lullaby”. “So young”, bateria, “beacuse you are young”, “electric mind”, “so young”, Anderson brinca com o microfone, “so young” guitarra distorcida, os teclados indica o meio tempo, “and you are”, teclado, o ritmo acelera, “so young”, a guitarra de Oakes finaliza com um solo prologando circular distorcido e corrosivo. “Metal Mickey”, Anderson salta, “shout”, “she is so”, solo metaleiro, pausa, “she is so”, “OOOOOOOOOO”, “OOOOOOOO”, “OOOOOOOOO”, Anderson olha directamente o público, abre os braços acima da cintura, o seu tronco roda da direita para a esquerda, ri. “Wild Ones”, a guitarra acustica dedilhada por Codling, insere os acordes da canção, “there`s a song playing on the radio”, “on the morning show”, a bateria retira-a da utopica e épica flutuação, “and if you stay”, “like a morning”, “stay” falseto, solo, falseto, solo, “Dj”, “shame”, “bleeding”, “on a sunny day”, “tatoo”, “AAAOO if you stay”, “Skyes”, “please stay”, meio-tempo, “chase the rainbow” , “stay”, “today”, guitarra-solo, “if you stay”, “OO if you staaaaaaay”, “OOOO if you stay”, guitarra, “wild” falseto, “today” falseto. “New Generation”, a banda emite em registo noise, com a guitarra de Oakes a ser a dissonante, Anderson canta: “A new generation rises”, “the pity”, “to find each other”, “Calling in my head!”, “can you hear them calling??”, “in my head”, “is a new generation calling”, “loosing myself to you”, guitarra dissonante, solo de Matt Osmand. “All the boys”, “in all the cities”, “to find each other”, “in my head!”, “Can you hear them calling?”, “it´s like a new generation calling”, “loosing myself to youOOOO”, solo, “YouOOOO”, solo, bateria, ritmo 2X2, métrica colectiva pefeita. “Beautiful Ones”, guitarra distorcida introduz os acordes pop, bateria, loucura no público, “the hits to the beats”, Andreson percorre a frente baixa do palco, a cantar, “time to kill”, “beautiful ones”,”sing it!”, determina Anderson: “Alalalalala”, speed, “beat”, “gasoline”, “here comes the beautiful ones”, “you don´t do it”, “you are beautiful”, “OOOAAA”, “babies going crazy”, “LALALALALALALALALALALALALA”, distorção, solo da guitarra a mimetizar a melodia do refrão, o fim é em contra- ciclo. Suede, ausentam-se pela esquerda alta, e quando regressam, o último a entrar na festa é Brett Anderson, “Saturday Night”, é tocada irrepreensivelmente, “to the river”, “Obrigado!”.

Suede, 6 de Maio, Queima das Fitas do Porto @ Porto