sábado, 15 de dezembro de 2012

The Naked and the Dead

Os quatro músicos estão sentados, enquadrados no cenário natural do Salão Brazil, constituído por paredes iluminadas, poderiam ser escaladas por uma mente presa a um dogma ou ferida por uma obsessão. A guitarra acústica, é de teor dramático, a precursão infantil, a voz grave detém o poder da perseguição: “I`ll be back for you”. A soul surge como uma assombração e o violino encaminha-se para o country, “far from”, “I wonder you”, o violino passeia pelo campo urbano, diminuem a altura, “my sun”, o súbito 2x2 revela: “When you pass by” e o fim representa progressivamente em altura o todo: “I`ll be back for you”. Segundo tema: O piano serpenteia por uma caverna onde escorre veneno, a voz funda e grave escreve o seu diário de lamentações voyoristas: “She was dancing”, as teclas serpenteiam visceralmente, “asking”, “give me one last”. Surge o dois por dois a partir do qual o violino escurece a melodia, “trought the valleys”, violino, “for you”, violino, “go away”, violino, 2x2, “remember my hands”, “trought the valleys”, piano + bateria= “chance”. “Tinhamos 80 canções”, para integrar o último álbum dos A Jigsaw denominado "Drunken Sailors & Happy Pirates", mas apenas uma dúzia teve direito a ser editada. Terceiro tema: É um mergulho numa lama viscosa que inunda um quarto escuro, “do you remember the day?”; e a precursão infantil não é capaz de transformar uma piscina num aquário de crianças a brincar à cabra cega, “you came”, o 2x2 faz ferver o cloro e faze-las explodir. O violino assume-se tragicamente por contra posição à harmonica que lhe confere um sentido pop. Quarto tema. “Alegrias e desgostos”, “perguntavam os nativos”. A conjugação dos elementos sonoros, harmonica, guitarra acústica e por fim o violino, explorados numa vertente country, “of wine”, “close friend”. A tempestade levanta a areia do deserto e suja a Joshua Tree, “(bombo) go away”, “loose”, resposta da harmonica: “Don`t need”, 2x2, “hummmhummm”. Voz grave: “Oh! Man”, “dreams”. João Rui apresenta “o primeiro grande convidado da noite: Victor Torpedo!”. Palmas. O banjo introduz os acordes de “London Calling”, assinada pelos Clash, mas num ritmo substancialmente lento, “running”, “nuclear era”, e sem as diversas perspectivas permitida pelas dinâmicas do original. Mas eis que a bateria surge num ritmo marcial, de onde os soldados de chumbo marcam o passo para a morte que é a pátria suprema, “you can go”, “London calling”, “running”, “nuclear era”, a guitarra de Torpedo não sobrevive à devastação e o violino e a harmonica cortam os pulsos simultaneamente quando o ritmo se transfere para um eficaz dois por dois; regressa a marcha da tarola, pausa, banjo e “some of it was true”. A sexta “canção é mais animada”, entra em palco uma mulher de cabeleira farta preta, pele marmórea e lábios provocatoriamente rouges, tem os olhos rubis, a sereia que os piratas se enamoravam: Tracy Vandal. A Jigsaw ganham um estranho gingar rítmico como se fossem os preliminares entre o amante e a sua vítima, virgem, santa; a melodia é tão negra quanto a expressão do negro é concebível contemporaneamente. “You took me down to the valley”. Tracy Vandal: “Your only sister”. João Rui: “Return”. Teclado infantil sublinha a diferença de idades entre o homem, claramente mais velho, e a sua vítima, a dias de lhe vir o período pela primeira vez na vida. Tracy Vandal e João Rui: “Return to me”. Tracy Vandal: “(sedutoramente) He is my lover”, “took me down to the valley”, a sua língua sussurante: “OOOOOOOO”, solo de guitarra. João Rui: “(grave) To me”. A prece do amante: “My hands are up in the sky”. Ele: “Return”, a acompanhar um amenizar gradual do compasso. Ela: “Return”. Ele “Return”. Ela: “Return”. Tracy Vandal: “To me”. João Rui: “To me”. Tracy Vandal recolhe risos do público, através da sua falsa lamuria: “I don`t understand why we never finish at same time”. As palmas marcam o ritmo da sétima canção, e o orgão serve-a como um tapete voador por onde surfam as almas cansadas da vida, a correnteza de um leito: “I hear something down to the river”, que corresponde a uma encosta empreendida pelo banjo que é dilacerado pelo violino, as palmas marcam o pulsar de um corpo em vias de estrebuchar. João Rui e Tracy Vandal: “From me”. Palmas. Tracy Vandal (no imperativo mascarado de sedução): “Come Back”. Coros: “To me”. Os bombos acompanham as palmas e o violino responde: “Turn the sting away from me”. A entrada em cena de Kalo e Calhau, “Bunnyranch”, transformam o oitavo tema numa distinta métrica Rock and Roll, a prova são os violentos breaks da bateria e a contenção e elegância do baixo, que o transfere para os outros instrumentos, maioritariamente acústicos, colonizando-os. O nono tema, corresponde estruturalmente ao anterior, com a harmónica a consignar-lhe uma perspectiva rural, mas comparativamente com o precedente, é executado de forma contida, como um corpo em vias de vomitar mas incapaz de libertar-se da massa fermentada pelo estômago durante uma overdose de heroína. João Rui: “(fundo/grave) I have been hidden from the Devil”. No décimo tema, o narrador dramaticamente encaminha o público para as “darkness”, onde é possível “collecting dreams”. A Jigsaw sublinham a ténue fronteira entre a vida e a morte, pausa, a guitarra acústica desalinha da soturnidade exposta, (2x2), “yes you are right to be afraid”, “darkness”, “alone”, a tarola acompanha-a, “eyes”, “me”, “black”, “dying”. À décima primeira canção, é o banjo que é o construtor da melodia, com a tarola a manchar a sua destreza metálica, quando o bombo ecoa é um “dream”, mas o banjo mantém a sua pulsão sanguinária: “from the butcher”. A voz do além ou para o além: “run”, “to the house”, “to the hills”, surge a interferência do violino, que lhe confere uma falsa leveza pop-country. “Trees”. “Behind the old trees”. A Jigsaw estão a realizar no Salão Brazil, na baixa de Coimbra, “a festa dos treze anos”. João Rui chama ao palco: “Uma das minhas influências”, o guitarrista Augusto Cardoso. Os seus acordes metricamente dedilhados perturbam o órgão fúnebre, o primeiro é o precipício de um desfiladeiro constituído por lâminas de barbear, o orgão a presença impune de Deus. Os bombos são os sinos a dobrar das torres das igrejas. “The devils are in my trail”. “Oh my! The devils is my trail”. Ovação. No décimo terceiro tema, a melodia é potencialmente pop “OOOOO”, mas a versar sobre aqueles “you kow it’s right”, que se precipitam “this`s the end of a tender pain”. Acompanhado pelas palmas do público, “right”. No décimo quarto tema intervém a guitarra como elemento agregador de toda a corrente estilística, “long”, “waiting”, “I can`t”, com a precursão a polvilha-la com obrigatória mortalidade, “enough of this life”, “yes”, com as guitarras a ressoarem com raiva contra um muro que provoca ricochete. A harmonica transpõe o ouvinte para um espaço onde soa um piano mergulhado em Whiskey, e as mulheres com decotes proeminentes seguram a saia rodada, dançam com velhos a feder a suor colado à pele castanha. “Beatiful saloon”. Pausa. “Back to the day”. Se entra pela porta a aragem de um deserto denominado Coimbra, não é somente imaginação, “play the Guitar”, “sad, sad history”, “last time we spoke”, o tempo é marcado pelo 2x2 tétrico, “train” e as escovas sobre a tarola acompanham a harmonica e violino agudo, “back to the day”.

“Drunken Sailors & Happy Pirates”, Ajigsaw, 14 de Dezembro, Salão Brazil @ Coimbra (Dedicado a Filipe Ribeiro; Sergio Cardoso; Victor Torpedo; Tracy Vandal).

sábado, 20 de outubro de 2012

Pussy Riot

“Venham cá mais para à frente! Não tenham medo!”. A voz de comando é de Afonso Pinto de tronco nu tatuado. Tem à sua frente uma plateia sequiosa por um tumulto que os liberte da rotina das estações do ano e das ressacas provocadas pelo consumo de polén. O ritmo da bateria martelada por Kalo, transforma “people” em “fat men”, o público transporta com as palmas das mãos Afonso Pinto que percorre a sala do States Club incendiando-a, não canta, e os seus colegas homens bomba: Victor Torpedo, Kalo e Pedro Chau, pouco se importam do paradeiro do cantor de voz de carraça da febre amarela. “Pessoal! Aqui mais perto! Caralho! Venham aqui para à frente! Estamos cá nós para tocar o último álbum!”, ironicamente denominado de “Back to Life”. A guitarra espuma raiva e o baixo e a bateria suportam o embate de um solo explosivo como a reencarnação de Keith Richards. O público rapta Afonso Pinto. E a guitarra de Torpedo revela-se a espalhar um mar de arame farpado onde se crucificam os amantes do pecado original. Um jovem sobe ao palco, e substitui Afonso Pinto mas somente é uma representação animalesca. O cantor/performer é entregue no palco onde pinga o sangue e o suor de: “Human bodies”, o break de Kalo marca o início de uma subida da altura e do ritmo e a progressão obriga a um encurtamento dos acordes de Torpedo, “All cities”, “are boring”. “Ninguém tem colhões para se chegar à frente! Caralho!”. “Rock and Roll”, suportado por um baixo gingão, que a impregna de um ritmo sub-repticiamente neo-funk-punk com a devida resposta da guitarra e da bateria, “big cities”. E Kalo impõe-se através da marcação do bombo e as baquetas sobre os pratos explodem como limalhas a arder, Pedro Chau pontua-a com a mesma elegância e segurança de uma fantástica bipolaridade pop-punk. “Big cities”, “Wall”. “Já toquei em melhores concertos! Pessoal não tem mal nenhum em se divertirem! À minha frente não está ninguém! Venham aqui para à frente caralho! Voçês não têm colhões!”. E impõe-se através do absurdo provocatório: “A minha mão está aqui!”, exibe-a. A profundidade estilística e rapidez com que a quinta canção é executada transmite dois minutos de um precipício punk que é de tal forma encantatório quanto um suicídio assistido pela romântica Coimbra atolada na saudade da despedida. “Boring”, “boring”, “boring”. “Bodies”. Kalo através de bombos grandiosos, propicia um início auspicioso para o sexto tema: “I want to go away”, pausa, “you”, baixo, “face”, “I want to go away”. “One more toy”, “you”, “you”. “Isto é a Queima das Fitas?” A ironia letal: “Queria tanto que isto fosse a Queima das Fitas!!”. A próxima canção é uma artimanha power-punk, em que o ritmo é tão violento quanto os rifs da guitarra. “So sick”. “Away”, finalizada por um solo de Torpedo tão minimal quanto progressivo. Palmas. A estranheza de uma crescente rugosidade funk é a proposta do oitavo tema “baby”, “baby”, surge o 2x2 a equilibrar a equação, palmas, o 2x2 dá lugar a uma frequência rítmica aceleradíssima que a encerra epicamente. A métrica funk-punk é ainda explorada “lies”, “sick of lies”, cuspidas pela boca de Afonso Pinto sendo a verdade é ainda mais perniciosa, “no more lies”. À décima canção surge “she is a punk girl”, “she is a punk girl”, sobre um ritmo tão primário quanto violento, palmas, e a guitarra de Torpedo deflagra na boca da “punk girl” e vem-se abundantemente. Palmas. “Obrigado!”. “Esta é que é punk!”. “1-2-3-4”, o ritmo edifica uma estrutura em que o baixo se revela Rock and Roll, Afonso Pinto fuma, e a sua voz parece abafada pela toxicidade. A progressão é subitamente coberta por uma angustia doentia ou o vácuo provocado pela ansiedade, fonte para suicidas estagiários num escritório de deputados corruptos. Afonso Pinto coloca a mão sob o queixo e medita sobre a voz radiofónica que invade a States, põe o cabo do microfone entre os dentes, enrola-o ao pescoço, puja-o. “Caralho! É a ultima dança! Pró caralho!” . Afonso Pinto atira-se sobre o público e “I`m so lonely now”, Parkinsons esmigalham cada acorde numa contínua vertente niilista, pausa, solo de Torpedo numa perspectiva de continua desconstrução, suportada pela secção rítmica. Afonso nas mãos do público: “I`m so lonely, I´m so happy now.” As palmas ecoam pela sala enquanto os músicos abandonam o palco, quando regressam são recebidos por uma ovação. Baixo= “you are leaving your world”. As tonalidades da primeira canção do encore é a vermelha proporcionada pela guitarra de Torpedo e negra pela ferida aberta pelo baixo/bateria: “You are leaving your dreams”, “Whatever”, “nothing”. Alteram a dinâmica rítmica para as altas pressões, “do”, “caralho!”, a guitarra é subsequentemente perseguida pelos breaks de Kalo. “Outside my brain”; “You leave your dreams”, “Whatever”; “nothing”. “Boa noite Wembley!” A guitarra de Torpedo em contínua distorção em crescendo paralela à batida nos pratos e ao bombo descompassado produzem o nascimento de um aborto: “O (falseto)”; “O (falseto)”; “O (falseto)”; “O (falseto)”. A implosão dá-se sobre um contínuo dois por dois, solo de Torpedo, “you are so poor”, a ironia gritada/cantada em tensão: “Just another new wave”, “just another new wave OOOO”, solo continuo de Torpedo, “just another new wave”.

“Back to Life Tour”, The Parkinsons, 19 de Outubro, Sates @ Coimbra.

terça-feira, 17 de julho de 2012


Blackmailers Don't Shoot

O calor sua os corpos andantes em direcção ao espaço ao ar livre junto ao Tejo: Optimus Alive 12. Ouve-se música vinda do cimo de um palanque sob o qual passo, no controle sou revistado e não tenho nada a declarar: Tenho todas as substâncias químicas escondidas na meia e a máquina fotográfica instalada abaixo do umbigo, não magoa, apenas incomoda. As canetas estarão prontas para serem espetadas na garganta de um polícia? A agressividade dos Parkinsons é debitada no palco Heineken: “Vamos abanar o cu caralho!”. “Ou é só para o futebol?!?”. “Somos punks mas também somos românticos!”. A voz é grave e pertence a Afonso Pinto de tronco nu tatuado, calças pretas, cinto de metal. À sua direita Victor Torpedo de guitarra em punho, olha para o público parado ou sentado constituído por adolescentes bronzeados, vestidos de cores alegres. Não ouvem a guitarra a deflagrar do Torpedo? “Se calhar lembram-se?”. Na bateria Kalo, desfere uma pulsão continua que encontra correspondente à altura em Pedro Chau. “Caralho!”. “Hey! Jimmy!”. Respondo-lhe com a máquina fotográfica no ar e com um sorriso. A última canção é “Alone”, que é devidamente apresentada através da guitarra de Victor Torpedo, que a coloca à sua frente como se estivesse a esmurrar uma mulher, e quando lhe puxa as cordas ela gane, e se lhe arranca os cabelos ela grita, e quando a encontra bêbada na cama: viola-a. Afonso Pinto encontra-se no meio do público e Victor Torpedo desce ao fosso onde coloca a guitarra no nível de visão dos adolescentes, pronta a disparar. A intimidação é algo latente nos Parkinsons: Se não estás connosco estarás contra nós? Liga-te a Parkinsons e consome-os às escondidas dos pais, somente assim farão sentido, caso contrário inscreve-te nos escuteiros e compra Durex. No palco principal está Danko Jones, com a sua distorção constante, é hard rock para pubs frequentados por turistas de terceira idade à procura de uma jovem para ejacular-lhe nas tetas. A fuga tem que ser realizada de ouvidos tapados, para que não haja possibilidade de ser vítima de efeitos secundários perniciosos. O sol foi encoberto por nuvens cinzentas, o calor está consideravelmente mais ameno. No palco Heineken estão a tocar as Dum Dum Dum Girls, vestidas de namoradas dos Beatles, e a música é precisamente uma revisitação aos anos 60, o ritmo é semelhante de canção para canção, o que transmite tédio. O tempo passa devagar, assim como as adolescentes à minha volta, perfumadas de framboesa e de chocolate, vestem trapos que as despem e fumam cigarros como se fossem charros. Miuda, tem rosto e corpo em Mel, de calções zebra, blusa cor de laranja. A primeira canção aparenta ter origem em harmonias com origem numa igreja, Mel canta mas a sua voz é omissa. Quando inserem o ritmo, Mel abana as ancas e levanta os braços e os adolescentes deliram com a sua silhueta. Miuda: “Durmo com Quero”, é a música pop que é reconhecida pela multidão, que levam a Mel para casa como companheira em sonhos húmidos. Ouvem-se repetidas descarga de histeria, e ainda não subiu ninguém ao palco, estão apenas a substituir o backline de Miuda. LMFAO fazem-se anteceder por uma intro que não se sobrepõe à histeria, surge uma trupe de mascarados saídos de um ginásio de subúrbio americano, dançam e aparentemente quem canta é o auto tunes, mas isso pouco importa? Se a histeria é contínua e contagiante e as letras estão tão decoradas quanto o teste de inglês do Nono Ano. No palco Optimus: “I Wanna Be Adore” é a primeira canção The Stone Roses: com Mani, John Squire, Reni e Ian Brown. Este revela durante o concerto inúmeras fraquezas a nível oral, mas não será isto rock and rol? Mas com um groove proporcionado por uma secção rítmica que transmite a essência da soma de elementos: um beat--apoiado no uso dos pratos e um duplo bombo-- contínuo como se fosse um sampler, que proporciona a hipnose, é aí que reside a loucura The Stone Roses. O terceiro génio é Squire, que proporciona um tratado de solos que por vezes correspondiam a progressões que incendiavam as canções. Ian Brown mexe-se lentamente com umas maracas como se estivesse a tentar expurgar-nos dos pecados. A chuva é minúscula mas pinga como se fosse Ecstasy, Ian Brown desloca-se para o interior do fosso e oferece o instrumento a uma fã. “Love Spreads”: “The Messiah is my sister”, cantado com a assertividade obrigatória: “Ain't no king, man, she's my queen”. “Let me put you in the picture”.

As pessoas deslocam-se devagar entre os palcos Clubing e Heineken. Neste ultimo os portugueses estão a delirar com a pop Awonation, que nada acrescentam à história da música popular. A noite quente esconde os corpos que se vestiram para visitar o Alive 12, para seduzir as máquinas fotográficas instaladas em Iphones e coloca-las no Facebook através do Instagram. Os substitutos de Florence + Machine são os inoportunos Morcheeba, um número que nunca conseguiu passar da métrica soft-trip-pop, a Sky é o elemento que se destaca pela simpatia e por ser detentora de uma voz soul adocicada, ideal para ouvir no Ipod antes de se declarar apaixonada por uma mulher polícia. Robert Smith, é um homem gordo vestido de preto e com maquilhagem a manchar-lhe o rosto. The Cure são o seu espelho onde se reflectem diversas vertentes: o meio tempo que com os sintetizadores ganha uma dinâmica negra como sucede em “Plainsong”. A pop de “Friday I`m in Love”, que cantada pelo timbre de Robert Smith revela uma alegria contagiante. A(s) depressiva(s): “Lullaby”. Quando Robert Smith coloca a guitarra para trás e levanta os braços, o público delira com a expressão corporal que mimetiza a de um trapo velho a pedir clemencia pela sua condição sub-humana. O guitarrista que acompanha The Cure, executa os solos derivando para um hard-rock tóxico, a partir dos quais jamais conseguiu impor a progressão, já que a secção rítmica nunca o permitiu. Robert Smith pergunta ao público: “Boys don`t cry`?”. “Ok! How doesn`t want ´Boys don`t cry?`”. “ You can leave the area.”.

Tarde intensa de calor, o sol é uma fogueira onde ardem livros de todas as cores, pergunto se há uma saída? Silêncio. No palco Optimus: Paus debitam duas baterias, baixo e teclado, parecem uma conjugação improvável. Os ritmos pesados perpassados pelo baixo e enrolados pelo teclado, resultam numa equação digna de uma locomotiva em chamas. “Debaixo da roupa vocês estão nus!”, se Paus desejam actuar num festival de nudistas não seria óbvio endereçar a ideia a Alvaro Covões? The Cooks, revelam-se um agrupamento pop-british, congregando inúmeras influencias mas não sabendo a partir das mesmas criar algo original, redundando na constante citação. Quando Caribou começam a pôr a dançar as pessoas, o sol está atrás do palco, o lusco-fusco gradualmente impõe a noite. Caribou é uma máquina pop-electro-funk, este último elemento expande os sons electrónicos por vezes tropicais outras africanos. Nada mais apropriado para instalar uma contínua despreocupação, mas sem relaxarem as pessoas, mantendo-as atentas ao compasso festivaleiro. Quando Radiohead se apresentam é-lhes desferida uma ovação histérica. As músicas usam um sampler sobre os quais os músicos tocam, os écrans atrás da bateria revelam os rostos Radiohead em constante difusão/movimento, invariavelmente sob um fundo azul. Se as primeiras canções ainda são suportáveis, as posteriores não projectam nada de novo. Já o uso dos ecrãs, algo que os U2 utilizaram em “Zooropa” como crítica à globalização, e desta forma obrigar o público a olhar para o vazio onde se encontrava. Radiohead manipulam-no para alienar os presentes: para que não se questionam o porque desta “nova” etapa? Kraftwerk + Brian Eno+ Pink Floyd+ U2 são os nomes que estão na nova fonte das obras: “Kid A”, “Amnenisiac”. Quando se aproximam do “OK Computer”, o mundo de Tom Yorke apresenta-se através da incapacidade de comunicar com o outro, é essa substância que não encontra retorno na constante debitação de fontes sonoras sintéticas e onde o homem é apenas um robot. No palco Heineken está instalado o tumulto e os responsáveis são The Kills, um duo (acompanhados por uma bateria): ele na guitarra, ela a vociferar para o microfone a tortura que o amor promove quando se instala a frustração na vida de um casal. Alison Mosshart tem um sex appeal que é macho e fêmea, a sua voz grave é doentiamente angustiante, repleta de rebeldia e de vertigem. Jamie Hence desfere acordes circulares ou angulares e os solos são uma resposta às deambulações da sua interlocutora. Metronomy, correspondem a uma mistura de Talking Heads, o uso de ritmos tribais, são disso exemplo; e Chic, o baixo domina através do funk invariavelmente quase todas as canções, e por fim o disco sound é usado apenas como elemento decorativo. O público dança, aplaude, grita. “Hey! Tell me how it was the festival untill now? When they told us that We were going to play at tree… I thought´ their`s not going to be their nobody!`”.

Optimus Alive 12, 13-14-15 de Julho @ Oeiras

domingo, 1 de julho de 2012

Home of Echoes

“Oh! Porto!”. palmas, guitarra, bateria e baixo estabelecem a progressão, a guitarra grave sobressai. “I feel”. “I feel”. Quando a métrica da bateria estabelece o 2x2, surge a vulgaridade, “Just killing people”, “say”, surgem breaks que lhe alteram a dinâmica, “OOO”, “going down”, pausa, “down”, alteram a frequência sónica, que aligeira as cores negras que começavam a pairar sobre “Storm”: “People flowers in the head”, “People flowers in the head”. Palmas. “Obrigado! Portugal!”. Guitarra sob uma bateria alta, “If I say”, o baixo injecta-lhe de hipnose, o ego e o super ego lutam para dominarem o Super Homem. A guitarra de Will Sergeant contorna a canção com a semi-distorção que a impregna de uma pop doentiamente doce e amarga, ocre e escuro, grotesco e o belo. “Loosing my touch”. “Anyway”. O solo da guitarra de Sergeant recorre ao delay iluminando-a com uma segunda alma, “tonight”, “(solo de Seargent) rescue”, 2x2. “Can you tell?”. “Song”. “Don´t know what I want”: “Kisses them I want”. “Rescue”. “Rescue”. “Rescue”.“Rescue me”.“Rescue me” , solo pontual de Will Sergeant. “I forgot just why I brocke my neck”. O blues é infecto contagioso, “Why falling?” . “I`m singing”, a progressão com origem na secção rítmica é delirante: “Is just the blues I`m singing?”. Palmas. “Thank you”. O sintetizador promove um efeito de acordes que reportam para um quarto de um bebé que adormece gradualmente imerso em sonhos que se transferem do inconsciente para o consciente. Surge a cadência rítmica 2x2, e a ironia: “'Astonishing weather”. “Why can I be like anyone?”. “Wheather”, o baixo aproxima-a da pop, “Skies above”, “some skies”, “need it more”, “skies above”. Breaks da bateria e solo da guitarra eléctrica de Will Sergeant . A ironia: "Astonishing wheather”, “Now”. Echo and the Bunnyman alimentam “Villiers Terrace” através de arranjos neo-kitsh: “love her more than life”, “you got it”, “ (solo de teclado) you meant it”, baixo. A ironia: “Astoninshing weather.”. Palmas. “Thank you! You are a incredible crowd!” Guitarra semi-distorcida de Sergeant , a bateria alta e rápida, pop-punk, “all I need”, “and”, “and I`m going?”, “and you are going?”. A penetração na vagina: “I feel loveee?”.“(solo de Will Sergeant) I can feel?”. A métrica que Echo and the Bunnyman impõem é de puro e simples rock and roll, mas a progressão do baixo coloca-a na pop, “never thought”, baixo e a omnipresente questão: “Can I feel it?” . “Why I`m falling?”. Solo repetitivo e circular de Sergeant, a partir do qual a banda enceta uma rápida progressão. Voz grave e tensa de Ian McCulloch: “You”. “You”. A circularidade dos instrumentos ocupam espaços mínimos na métrica e estabelecem uma lógica psicadélica: “You is all I need”. Palmas. “Obrigado!”. Os pratos da bateria são metricamente acompanhados pela guitarra de Will Sergeant. Ian McCulloch : “To see”. “Sound”. O baixo e o teclado emergem-na em tonalidades negras: “ONONON”. “Touch”. “Saw”. “Say”, “(solo do teclado) girls.”. Bombo + voz: palmas: Doors: Ian McCulloch, coloca sobre a cabeça o capucho do seu corta-vento sintético, tem óculos escuros e um cigarro entalado na mão direita, contemporâneo de Ian Curtis. Fuma.“I keep the eyes on the road”. “Road”, “ (solo de Sergeant) time”, “Baby road”, “(solo de Sergeant) Lady”. “Save my city”, a progressão é digna do Rei Lagarto a serpentear pelo deserto com uma garrafa de Ecstasy. Ian McCulloch: “One, two, tree, four”, levanta os braços para à frente e mostra as mãos abertas a perfurar os cérebros, que se despenteiam quando sopra o vento frio de Verão, na Serra do Pilar, Vila Nova de Gaia. A guitarra semi-acustica é vilipendiada pelo baixo: sobre estes a voz fala/canta, imersa num tempo onde predomina um lodaçal de enigmas: “Finger”. “Blue”. “The King is singing”. “Bleading”. “I see”. O baixo é o único elemento que acompanha a voz que narra: “My face”. “Loving fall”. “Feeling”. “Blowing heart”. “Stealing”. Levanta os braços, a bateria surge e revela o canto negro: “ (solo continuo de Sergeant) My face is running”. O baixo predomina, Ian McCulloch: “To see”. “Fall”. “Around”. “See”. “See your face runing”. “My seven seas”. Palmas. “Thank you”. “This next song is ´Bring on the Dancing Horses`”. Sobressai o sintetizador dolente e circular, “jimmy Brown (eco) made of stone”, “Charlie Clown (eco) no way home”. A serenidade na progressão pontuada pelos acordes solares de Will Sergeant: “Bring on the dancing horses”. “The world”, “falls apart”. A ordem: “Fake it!” , “Billy all alone (eco)”. “Singing”. A pop revela-se através da guitarra de Will Sergeant a polvilhar todos os outros instumentos com polén cristalino, “the world”, “we had”, “fall apart”. “Heart”. “Heart”. “(solo de Sergeant) Heart”. “Heart” e a guitarra de Sergeant progide e emoldura continuamente a canção. Baixo + palmas. “Jimmy Brown made of stone”, palmas, bateria, “Bring on the dancing horses”. “Until it fall apart”. Dito tão poético quanto assertivo: “Precious heart”. “Heart”. “Precious Heart”. “Heart”. Solo do Sergeant, “bring on the dancing horses”, “a new Messiah”. Palmas. “Thank you!”, “Think about it! (Sorri)”. O orgão marca a marcha aparentemene funebre, “help me”, “tears (bombo)”, “back to you”. A cadência dos instrumentos respeita criteriosamente o cliché beatleiano, em que os acordes circulares nunca se esvanecem. “Wish you were here”, “home again”, solo de Will Sergeant, “over”, orgão/bateria, “sking” “last try”. 2x2. A overdose: “Wispering: ´I was dead`”, “heart”. A overdose: “Home again”. Solo de Will Sergeant repetitivo. “Wispering”. O convite: “Try”. “Help me”. “Stars”. “City”. “Can you take me back home again?”. O orgão: “La”. “La”. “La”. “La”. “La”. “La”. “La”. “La”.”La”. “Be allright”. “Evrething is going to be allright”. “Zimbo” é marcada pelo solo de bateria que inside sobre os bombos, que acordam a multidão, palmas. Guitarra semi-acustica, “now” , “all my colours”, os breaks dão-lhe dinamismo, solo de continuo de Will Sergeant. Resurge o bombo da bateria: “Heart in pieces”. “Give me”. “Last day”. “Last day”. Solo eléctrico continuo, “down”. “Down”. “Down”. “The Fountain” é uma canção com melodia pop, “I sleep at my house”, sobre o compasso 2x2: “It´s all”, “It`s better”, “I follow the sea”, “free”. Guitarra de Will Sergeant, “forces”, “fall somehow”. “Kisses”. “Yeah”. “Now”. “Now”, Now”. Baixo: “Will be fun”. A bipolaridade: “Life is sad”, “number”, a ordem do narrador: “Call now!”. A pop vagueia entre a tristeza e a alegria nunca redundando em melancolia. “Aleluia”. “Aleluia”. “Aleluia”. Sintetizador e bateria e solo da guitarra de Will Sergeant (solo) a impor-se como o fio condutor de “Never Stop”. “Money shacking”, “come back”, “let me down”. Aumentam o ritmo: “(solo de Seargent) Stop”. “Understand”. “(solo de Sergeant) Skie”. “Stop”. “Found”. Solo de Will Sergeant contínuo e repetitivo e que ganha uma dimensão espacial ao recorrer ao delay: “All”. Delay. “All”. Voz grave seca sedenta: “Stop”. “Stop”. “Stop”. “Stop”. “Stop”. “Stop”. Palmas. “Thank you for coming!”. A métrica ritmica de “Think I need It” é semelhante à canção anterior, mas a melodia corresponde a uma corrente pop quase como uma obesessão compulsiva: “(solo de Sergeant) I need you”. Compasso de espera para sublinhar: “Wherever you are”. “Wherever you need”. “Wherever you are”. “Wherever you need”. A prece em vertigem direcionada para diversos ângulos de visão: “I think I need It too”. A componente “The Diesea” é confiscada pela guitarra eléctrica de Will Sergeant, munida de uma distorção em que as notas musicais são dotadas por arestas que sangram um corpo com pulsão para a auto-combustão. “Diesea”. “TVs”. “Just giving”. “The chance”. “We want”. “Diagnosis”. “Something”. Ian McCulloch: “I like the diesea” , solo minimal de Will Sergeant, pratos e bombo a surgir incidentalmente. “From heaven”, “Don´t waste it”. O corpo pinga e arde: “Life is a diesea”. A densidade sonora de “All that Jazz” é assinalada pelos bombos entre o rock and roll e uma marcha militar com a presença da Rainha Isabel II a ouvir a voz de Liverpool: “Union Jack”, violenta a cuspir as palavras, “barricades”, o baixo é o ponto por onde a música flui e encaminha-a sobre o 2x2 para a esfera: “Why I feel?”. Guitarra sobre a frequência da bateria, “Wispering”.“Killing Moon” é apresentada por Ian McCulloch: “The best song ever writtem!”. Os acordes da guitarra graves de Will Sergeant, seguida pela secção rítmica, conferem à canção uma tragédia concretizada por amor: “Under blue Moon I saw you”. Quando se fundem nuvens escuras surge uma tenebrosa tempestade. “(Solo de Sergeant) Killing time”. O primeiro raio: “Fate”. O trovão: “Given yourself to him”. O baixo mantém a tensão atmosférica num prenúncio: “Kiss me”. Suavemente, poeticamente: “Your lips (solo de Sergeant)”. “Under a Killing Moon I saw you”. E se o futuro: “Will come too soon”. Solo repetitivo de Will Sergeant. “So quietly”. Compasso de espera. A guitarra semi-acustica repete os acordes que congregam a subtileza da tragédia: “Under blue Moon I saw you”. “Beg you”. “(solo de Sergeant) Killing time”. “Fate”. “Up against your will”. “You give yourself to him”. Ah: “Your lips a magic world”. “Fate”. A densidade cromática é a negra mesmo sendo noite de lua cheia. O uivo: “(solo de delay de Will Sergeant) Lalala”. “Fate”. “Through the thick and thin”. “Wait until”. A voz a decrescer: “To him” “To him”. “to him”. “to him”. “to him”.“The Cutter” a guitarra é acompanhada por um sample de sitara: “Who's on the seventh floor?”. “What's in the bottom drawer?”. O ritmo é mecanico: homem versus alma. A alma: “Spare us the cutter”, ecoa num manto perverso, “Spare us the cutter”. Echo and The Bunnymen, emergem e retiram-lhe a vertente claustrofóbica proporcionada por uma overdose de cocaína. “Not just another drop in the ocean”, sitara, “Come to the free for all”. A voz sacra: “Drops in the ocean”, solo semi-distorcido de Will Sergeant. Ian McCulloch abre os braços: “Loss”. “When the dirt is off?”. “Not just another drop in the ocean?”. O corpo dissolve-se na alma: “Am I the happy loss?”. ”Will I still recoil?”. “(Solo minimal de Sergeant) When the skin is lost?”, teclado incidental, aumentam a progressão. Ian McCulloch estende o braço direito e abre a mão: “When the dirt is off?”. Palmas. “Obrigado”, o pulsar do baixo é paralelo à programação, solo eléctrico distorcido de Will Sergeant sobre a guitarra semi-acústica, o baixo sublinha “Over the Wall” com um carimbo suicidário. “Question?”. “But the monkey on my back”. As cores densas são absorvidas por acordes cristalinos, uma falsa esperança: “Over the wall”. “Hand in hand”. “Over the wall”. “Watch us fall”. Solo de Will Sergeant, baixo, “There's something to be said for you”. Blues. “But the slug on my neck”. “OOO”. “OOO”. Aceleram o ritmo, solo de dealay de Will Sergeant. Falado: “I'm walking in the rain”. Cuspido: “To end this misery”. Cantado: “I'm walking in the rain”. Amado: “To celebrate misery”.“What do you say?”, a resposta: “I couldn't hear you”. “AAAA (progressão/solo de delay de Will Sergeant)”. Ritmo tribal: “Out on the road coast to coast”. Will Sergeant insere delays explosivos, psicadélicos, “I can`t sleep at night”. Compasso de espera: “OOOOO”. “How I wish you'd hold me tight”, “Come on and hold me tight!”. Sobre “Nothing Last Forever”, Ian McCulloch é peremptório: “This is one of the best!”. A melodia pop é frágil, citando os Beatles na profunda melancolia. “I want it now”. A utopia: “I need to live in dreams today”, progressão, “And never let you know the way I feel”. A alma: “The love that always gets me on my knees”. Solo pontual de Will Sergeant, “Just trying to, trying to, trying to forget”. “(guitarra semi acustica) Nothing ever lasts forever”.“(guitarra semi acustica)Nothing ever lasts forever”. “(guitarra semi acustica) Nothing ever lasts forever” .“(guitarra semi-acustica) Nothing ever lasts forever.”. O baixo delineia os acordes de “Take a Walk on the Wild Side” de Lou Reed: “Hey! Baby! Take a walk on the wild side”. Ian McCulloch: “TuTUTUTU”. O travesti: “She is a he”. “OOO”. “Take a walk on the wild side”. “Yes she does”. “Nothing ever lasts forever”. “Don`t let me down”. “Come I`m gona take you in my arms”. Solo de Will Sergeant. A ansiedade: “Runing to your love”. Echo and The Bunnymen promovem um ínicio em simultâneo, dramaticamente límpido e assumidamente negro: “Grace on the water”. “Lips like sugar”. “Lips like sugar”. A bateria resguarda-se no 2x2, “to share this moonlight”. Grave: “Lips like sugar”. Grave: “Sugar kisses”. Solo de Will Sergeant. Aguda: “She knows what she knows”. Teatralmente grave: “Sugar kisses”. Breaks + delay repetitivo de Will Sergeant + sintetizador a impregna-la de infantilidade. “OOOOO (bombo)”. “OOOO (bombo)”. “OOOO (bombo)”. Palmas. “My own (eco)”. “My own (eco)”. “My own (eco)”. “My own (eco)”. “OOOOO”. “Yeahyeahyeah”. Solo de Will Sergeant. “OOOO”. Psicadélico-progressivo. "Let me out”. “Let me out”. “Let me out”. Breaks, e dispara o delay de Will Sergeant, desliga-o, palmas, “yeah (eco)”. “Smash”. “You! (eco)”. “You! (eco)”. “Change”. “Promise”. “OOO (eco)”. “OYeayeahyeahyeah”. “Who`s the winner?”. Guitarra de Will Sergeant: “Like sugar”. “Sugar kisses (eco)”. “Sugar Kisses (eco)”.

Echo and The Bunnymen, 30 de Junho, Concertos de Verão—Serra do Pilar @ Vila Nova de Gaia

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Sci-fi Lullabies

Acordes de guitarra compasada, bateria: “OOOO”, “She iiis runing”, “She iiis runing”, a guitarra semi-distorcida de Richard Oakes, percorre paralelamente os versos de Brett Anderson: “She said: ´Come rescue me`”, aceleram, “mine”, “´come rescue me`”, “Hollywood life”. Richard Oakes retira das cordas da sua guitarra vermelha eléctrica notas curtas, longas, curto, longo, e abana a cabeça em direcção ao chão do palco do Primavera Sounds Porto. “OOO”, “OOO (sobre o solo da guitarra)”, “Come rescue me”, “Hollywood Life”, “takes the Hollywood with love (solo de Oakes)”. A voz de Brett Anderson violentamente tensa seca e grave e os agudos multiplicados pelo eco: “LOOOVE”. Solo de Oakes introduz o refrão electrostático de “Trash”, que percorre a canção de inumeras perspectivas. “Maybe is the clothes that you wear”, “baby it`s so beautifull now”, “tonight”, “beautiful now”, Brett Anderson frente à frente com o público: “Traasssh you and me”, “Trash me and you (solo)”. O tédio cantado em falseto: “DOOOO”, breaks da bateria, “We had”, 2x2, baixo a penetrar na veia como uma agulha carregada de heroina. Brett Anderson de camisa azul calças pretas e sapatos de pele sintética, quarenta e dois anos, casado. Acentua nos agudos do “a”, como a heroina a mistrurar-se com o sangue, um shot: “TRASAAAAAAAAAASSH you and me”, aponta o microfone para o público saltitante. E os agudos, “Everything We dooo”, pratos da bateria. Richard Oakes: solo agudo, solo ssustenido e repetidos em sentidos opostos. Brett Anderson: o refrão : “TRASAAAASH you and me”, “(solo de Oakes) Trash me and you”, “OO You and me” a resposta: “(percorrido pelo solo semi-distorcido de Oaeks) YEAHYEAH”, “You and me yeah yeah”, “(solo continuo e entrecortado de Oakes) AAA you and me”, solo de Oakes a partir dos quais Brett Anderson dança. Palmas. “Obrigado”. Richard Oakes introduz os acordes trepidantes, consecutivamente seguido pelo baixo e pela bateria marcial de Simon Gilbert. Brett Anderson: “Soo easily, Filmstar”. A descrição na frame: “Filmstar living”: “Believe me is impossible to say”. A(s) mascara(s): “Wash your brain, play the game again, yeah, yeah, yeah”. O baloiçar da bateria, transporta-nos para o Soho londrino: “Driving in a Car”, “yeahyeahyeah”, solo de Mat Osman (baixo), solo de Richard Oakes. Brett Anderson dança “It`s impossible to say”, ah “to believe”, “(o ritmo acelera sincopadamente, com a circularidade do baixo e da guitarra a produzirem psicadelismo): Again, again, again, Yeah, Yeah” . Brett Anderson canta sobre a sincope: “Filmstar” . “Filmstar”. “Filmstar”. Público: “YEAH”. Brett Anderson: “Filmstar”. “Filmstar”. “Filmstar”. Público: “YEAYEAH”. Brett Anderson: “Filmstar”. “Filmstar”. “Filmstar”. Público: “YEAHAYEAH”. Brett Anderson: “Filmstar”. “Filmstar”, “Filmstar”. “YAEHYEAH”. Palmas. Guitarra solo distorcido, com a subsequente violencia ritmica de Simon Gilbert, um turbilhão electrochoques de glam rock de “Animal Nitrate”. Brett Anderson:“OOOO”. Público: “OOOO”. Solo de Oaeks. Brett Anderson: “OOOO”. Público: “OOO”, solo de Oaeks, “place”, “broken home”. Apoteose. “Obrigado Porto”. Acordes da guitarra eléctrica inserem as tonalidades agrestes de “We are the Pigs”, “all people say: ´stay at home tonight`”. Cantado através de uma voz grotescamente limpa e em que os graves são os prenuncios de que o destino de Portugal é o medo: “ (percorrido por solo de Oakes) I say we are the pigs, we are the swine”. A solução: “(percorrido por solo de Oakes) We are the stars of the firing line” . “I say we are the Pigs”, solo de Oakes, curto agudo progressivo, recorrendo a notas dilacerantes que decepam um coração a pulsar por cocaina. A bateria ergue o ritmo semi-marcial de “To the Birds”, o baixo abre espaço compassado para a guitarra de Oakes. “Take your life”, “Happen tonight”, a melodia que emerge desta conjugação é lava expulsa por um vulcão (guitarra de Oakes num serpentear continuo das notas) a percorrer uma encosta tropical. “At my side”, “I know”, “Take my life”, bateria, baixo e guitarra de Neil Colding, e Richard Oakes desconstroi as notas circulares do refrão. “Bicycles”, aceleram progressivamente num transe sexual: “LALALALALALA”. A voz de Brett Anderson concentrada sobre a guitarra de Oakes: “Their`s a song playing on the radio, Sky high in the airwaves on the morning show”, a banda emerge e coloca-se paralelamente aos acordes de Oaeks . A voz de Brett Anderson quase em falseto: “And as I open the blinds in my mind, I'm believing that you could stay”, “If you could see”. A voz prolonga as vogais: “Fears away”, “if you stay (solo de Oakes)”, “We`ll be the Wild Ones”. O falseto abre as vogais: “Running with dogs today”. A banda enquadra-se desalinhadamente entre o blues e o rock, o paradoxo: “(percorrida pela guitarra de Oakes) And it's a shame the plane is leaving on this sunny day”. A declaração de um amor eterno: “Cos on you my tattoo will be bleeding and the name will stain”. “And oh if you stay I'll chase the rainbown fears away”. “We'll be the wild ones running with the dogs today”. A prece: “OOh if you stay (solo de Oakes)”. “AAA if you stay (solo de Oakes)”. “AAAA if you stay (solo de Oakes)”. “AAAA if you stay (solo de Oakes)”. “We'll be the wild ones running with the dogs today (baixo de Osman)”. Neil Codling, prolonga as notas do seu sintetizador que ficam estáticas num suplemento neo-Kitsch, a inserção da bateria impregna-a de tesão e a guitarra parece desafinada: “She Knows”, “I think about silence”, “Shadow (agudo)”, “nothing”, “love is Summer time”. Richard Oakes sola sobre a massa sonora suspensa no ar, “With self control”, as luzes do palco são roxas, “no barriers”, “shadow”. A canção: “Sabotage” é de uma densidade estética épica. A lírica “Love is Summer time (solo interno de Oakes)” é doentia. Solo de notas abertas de Oakes: “The sky”. “Love is Summer time (agudo/sustenido)”. O ritmo binárico sincopado de “She”: “OOOO”, “OOO”. Brett Andersen dança freneticamente, cada nota da secção ritmica remete-a para um ritmo marcial de uma mulher: “Sheee is a Killer”. A mulher leviana: “Sheee another night”, “another pillow”. ”No one wants to see”. E o frenético falseto, como se Brett Anderson fosse o narrador de uma tragédia: “She, shashaking up the karma”: “She, injecting marijuana”. “She`s”. “No one wants to say: ´No education it`s the arse of the nation`”. “Shee”, “She is bad, she is bored, she is bony, she is”. “OOO”, “SHEEE”, “OOO”. “SHEEE”. “OOO”. Bateria + palmas + guitarra semi-distorcida + voz: “Like killing machines”. A maquina de Glam Rock sofrega por sexo: “She'll be a sucker for the shotgun show”. “Like the killing machines here we go”. O sumário de uma existência: “He's a killer he's a killer he's a flashboy ohohoh (eco)”. Baixo. 2x2. Solo desconstruido por parte de Richard Oakes: “Killing machine”: “It's the same old show, he's a killer, he's a flash boy ohoohoh”. “Lalalala”. O dois por dois da bateria é continuo, e gingão como as ancas de Brett Anderson: “I feel real now walking like a woman and talking like a stone age man”, “I feel real”, “talking like sugar and shaking that stuff”. A dependencia da heroina: “Singing I can't get enough”. “Singing I can't get enough”. “I feel real like a man like a woman like a woman like a man”. “Teenage tough”. “Can´t enough”. “OOOO (solo de Oakes)”. Oakes prolonga as notas e distorce-as repetidamente, usando o pitch para inserir tremelim hipnótico. “Singing can`t get enought”. Pratos de choque e a guitarra progridem segundos até se extinguirem no ar como uma nuvem de cocaina. Público: Palmas. O ritmo aumenta violentamente, e Oakes insere um rasgo de distorção no interior de cada uma das nossas narinas. “Singing can´t get enought”. “Obrigado! It`s very nice to be here in Porto”. A melodia é revelada pelo teclado ondular/progressivo. Brett Anderson, coloca-se frente ao público: “Watch the early morning sun”. O jogo de memorias alcoolizadas: “Under the jet plane sky” . “Sleep away and dream a dream”. A Nursery Rhymes: “Life is just a lullaby”, o falseto agudo sublinha o “L”. A esperança e a desesperança: “And everything will flow”. Público: “OOO”. A luz: “Watch the day begin again”. As cinzas: “Whispering into the night”. Suede: “See the crazy people play”. “Under the jet plane sky”. “(solo da guitarra de Oakes; marcado com a progressão ondular do teclado) Life is just a lullaby”. “AAAAAA”. O sintetizador modela-se continuamente projectando a grandiosidade de uma porgressão alegre, mas que encontra na vocalização de Brett Anderson uma profunda e visceral melancolia: “Everything`ll flow”. “AAAA”. Pratos, guitarra eléctrica, conjugação glam punk: “Because we're young (solo de Oakes), because we're gone”. “Oh! Yeah! So young (solo entrecortado de Oakes)”. “So young”. “Common”, “OOOO”, solo de Oakes, “OOOO”, solo de Oakes, “OOO”. Brett Anderson lança o cabo do microfone circularmente no ar, o público bate palmas, fica estático e o cabo enrola-se à volta do seu tronco e ri (palmas do público). A guitarra de Oakes é de uma distorção rapida e continua. A exibicionista: “Well she's show showing it off then”, “She”, “yeah”, a maquina que progride é de glam rock punk, que aparentemente coexistem na antítese. O negócio: “And all the people shake their money in time”. A demencia associada à dependencia amorosa: “Oh dad, she's driving me mad, come see (solo continuo de Oakes)”. Oh!: Brett Anderson: dança, vira costas ao público, coloca o pé sobre o bombo da bateria e voa em direcção ao público: “Driving me mad”. A violência de “Metal Mickey” reside neste verso: “She sells heart, she sells meat”, corroida pela estrutura em constante frequência continua e descontinua, “OOOOO”. “OOOO”. “OOOOO”. Ovação. “Obrigado!”. A guitarra semi distorcida de Oakes, é o oposto do desejo de Brett Anderson: “Come to my house tonight”. Com o acentuar do “O” : “You and me together on electric light”, unem o gótico ao glam e ao rock: Suede: “We can be together in the nuclear sky (agudo)”. Gótico: “Stay together (solo agudíssimo de Oakes)”. A poética: “Two hearts under the skies remain”. “Paradise? Or have you come to touch me?”. As luzes apagam-se em palco: “Come to my arms or not”. “Single file in the nuclear night”. “OOOOO”. Palmas. “Many Thanks”. “Apparently we don`t have lights. But we`ll carry on”. “New Generation”: “And we shake it around in the underground”. A esperança: “And like a new generation rise”. “OOOO”. “Like all the boys in all the cities I take the poison I take the pity”, a melodia que suporta os versos é negra, a métrica é rock and roll: “OOOOOO She is calling! Here in my head! Can you hear her calling? (solo distorcido de Oakes)”. Agudos angustiantes dementes: a hipoxifilia: “And I'm losing myself, losing myself to you”. A rotina: “I wake up every day, to find her back again (solo de Oakes)”. Quando a bateria desfere a métrica dois por dois com os respectivos breaks, o palco começa a ser manchado por focos vermelhos que iluminam Suede, maioritariamente vestidos de escuro. “Cos like all the boys in all the cities, I take the poison I take the pity”. O terceiro parceiro da relação amorosa: “We take the pills to find each other”. “Can you hear her calling?”. Estabelece-se a progressão dos acordes de “I`m loosing myself to youuu (solo Oakes)”. “To you (solo de Oakes)”. “To you (solo de Oakes)”, o bombo marca o desacelerar do ritmo, o baixo sobressai, e Brett Anderson assobia como um Guarda Rios. “Obrigado! We have being Suede! Thank you so much!”. O ritmo é paralelo à métrica da guitarra: o hino: “High on diesel and gasoline, psycho for drum machine”, “hits”, “on the pill, got too much time to kill”. “Sing it! For once!” Brett Anderson: “OOOO”. Público: “OOOO”. Brett Anderson: “Oh, here they come, the beautiful ones, the beautiful ones”. “You don`t think about it, You don`t do without it, because you are beautiful, And if your baby is going crazy, that`s how you made me.”. “COMMON!”. “Lalalallalalalallalaallalalallalalallalalalallaalallalalallalalal (solo progressivo de Oakes) alalallalalallalalalallalla”. “Obrigado! Goodnight”. “Hello again”. Guitarra semi distorcida, bateria + baixo a meio tempo e a voz de Brett Anderson narra o dia: “Today she's been working, she's been talking, she's been smoking”. Suavemente: “But it'll be alright”, “Cos tonight we'll go dancing, we'll go laughing, we'll get car sick”. A eterna solidão: “and it'll be okay like everyone says”, “OOOO whatever makes her happy on a Saturday night, Saturday night”. Diminuem a altura dos instrumentos e a voz ganha uma textura premonitória: “Cos tonight we'll go drinking we'll do silly things”, a melodia é tão negra quanto pernisiosamente kitsh, que a colocam no precipicio da perfeição. “I`ll be ok”. “It´ ll be allright” . Aponta o microfone para o público: “Sing”: Público: “On a Saturday Night”. Brett Anderson: “On a Saturday Night”. Público: “On a Saturday Night”. Brett Anderson: “On a Saturday Night (solo de Oakes)”. “We'll go to peep shows and freak shows”. “We`ll go to discos, casinos”, “We`ll go where people go and let go”, “oh whatever makes her happy on a saturday night.”. “OOLALALA (solo de Oakes violentamente distorcido)” . “OOLALALA (solo de Oakes violentamente distorcido)” . “OOLALALA (solo de Oakes violentamente distorcido)”. “OOLALALA (solo de Oakes violentamente distorcido)”. “OOLALALA (solo de Oakes violentamente distorcido e progressivo)”. A guitarra acustica insere os acordes dolentes de “Still life”, o sintetizador cria uma textura provinda de matéria sonhada. A voz: “This still life is all I ever do”, “I'll go into the night into the night”. O compasso de espera: “There by the window quietly killed for you”. Voz + guitarra acustica e sintetizador: “They hired a car for you”. “To go into the night, into the night”, “into the night”, “into the night”. “She and I into the night”: “And this still life is all I ever do”: “There by the window quietly killed for you”. “Stay”. “All ever do”. “Stay all right”. “Stay”, mantêm-se estáticas as cores dramaticamente negras, “Stay long (falseto)”. Surge a bifurcação, o teclado aumenta a tónica sobre os graves, e Richard Oakes troca de guitarra, e desfere um solo épico eléctrico que se cola e dá continuidade à malha do sintetizador e consequentemente prolonga a nossa memoria para um universo em constante mutação.



Suede, 7 de Junho, Primavera Sound Porto @ Porto

segunda-feira, 4 de junho de 2012

As Vinhas da Ira

Bateria possante, seguida por um tremelim, “Olá Lisboa!!! Como estão?”, é a voz de Bruce Springsten, com colete e calças pretos, no pulso direito uma pulseira de cabedal preta. Surgem os acordes da guitarra; a banda é composta por duas guitarras, baixo, violino, secção de metais e coros, hamond. Ouvem-se chicotes a estalar sob a canção: “I've been knockin' on the door that holds the throne”, “hearts (agudo)”, “turn to stone”. O refrão: “We take care of our own” é uma declaração de independencia para com a América que prostituiu a democracia ao capitalismo. “Common”, os chicotes agridem-nos: “Super Bowl”, “Stay at home”, a América é uma prisão: “We take care of our own”, surge a progressão circular dos acordes do refrão, o pulsar é de Rock and Roll: “UUUUUU”, “UUUUUU”, “UUUUU”, “UUUUUUUU”. A bateria desfere o bater da certeza: “We take care of our own”, “the eyes”, “mercy”, bombo, “the Throne”, hamond sobre a massa sonora dos outros instrumentos. “We take care of our own”, “stone”, aumentam o ritmo e a altura: “EIEIEIEI”, “EIEIEIEI”. “Olá Lisboa”. Guitarra eléctrica e voz: “I was raise in New Jersey”, “some years ago”, “come and go”, “Recking ball”, “Recking ball”, violin e a confisão: “Now my home”, “split”, é Rock and Roll: “The Giants play the game”, e chama a banda para a boca de cena do Palco Mundo, do Rock in Rio Lisboa. “Cause tonight”, vão voar “Reckering Ball (bombo)”, “Reckering Ball (bombo)”, “Reckering Ball (bombo)”, o ritmo aumenta e os metais emergem para aligeirar o ambiente eléctrico entre o público e o Boss. “Here”: “So”, “hold tight”, “tight”, a poética bélica: “Don`t fall into your sleep”, solo do violino. Uma voz feminia secundária: “Beauty is being giving to them”; o baixo remeta-a para o blues que circula à volta da soul: “Glorious”, “Wind”, “Heart”, a punhalada: “Hard Times Go, Hard Times Go”, “Reckering Ball”, “Reckering Ball”, bateria + baixo, coro: “Reckering Ball”. “1-2-3-4”. Coro: “AAAAAA”, “AAAAAAA”, os dois por dois desferidos pela bateria parecem multiplos de Rock and Roll, que os restantes musicos perseguem e respondem continuamente. Coro: “AAA”. Coro: “OOO”. Bruce Springsteen: “Reckering Ball” e os metais respiram agudamente. “1-2”, o piano marca a canção com um manto funebre, ou será o serpentear do descapotavel em que seguiram Jackie Kennedy e John Friztgerald Kennedy em Dallas? Intervenção: da E Street Band. Bruce Springsteen: “Smashing”, “Cross Fire”, “I don`t give a damn”, “soul”, “dream”. O desejo: “You wake up in the morning and we feel so real”. A prece: “You have to belive”, “winds”, as guitarras descarregam a sua eléctricidade comedida, que é circulada pelo exterior pelo orgão funebre. A lírica é a sua esperança: “I belive in the Hope”. A violencia: “But you have to leave everyday”, solo de Bruce Sprinsteen, curto e agudissimo e entrecortado, recebe resposta do Sax do sobrinho do malogrado Clarence Clemons. “OOOOOO”. Bateria: 2x2, os instrunentos no Palco Mundo são na sua maioria acusticos, remetem para a rebeldia das canções irlandesas, profundamente constestatárias: “Death of Old Town”, o violino é profundamente agelical e associado aos metais é uma granada a explodir no interior de um corpo em movimento, elevam a canção da rua para a igreja católica. “Night”, “singing death to Old Town”, “boy”, “When it come”, “rising sun”, a bateria insurge-se guerreira e heroica, contra o “Sunday Blody Sunday”, “straight to Hell”. Bruce Springsteen acentua no portugues: “FÉI”, os músicos marcham em palco contra o massacre ocorrido em Derry na Irlanda do Norte. Datado: 1972. Os metais anunciam “My City in Ruins” e o coro: fantasmagoricamente: “UUUUUUUU”. O baixo proporciona a introspecção. “Olá Lisboa! Como estão? Esta musica é sobre coisas que vão e coisas que ficam para sempre”. “It´s a red bloody soccer”, “The rain is falling down”. O hamond estirpa-a: “Congregations are gone”, metais levantam uma nuvem densa mas simultaneamente libertadora. O refrão é derrotista: “My City is in Ruins”. A resposta: “UUUUUUU”. Bruce Springsteen: “Empty Streets”. A repetida constatação revela o êxodo rural do sul da América, tingida por campos de algodão: “My City is in Ruins”, metais agudos, “My City is in Ruins”, metais agudos. O imperativo: “Common rise with Us”. Coro: “Right”. Solo da trompete de varas. Solo em surdina da trompete. Solo do saxofone. Coro: “UUUU”. Pergunta à: E. Street Band: “How is in the House”. Dirige-se à multidão: “How is the house tonight?”. “Where`s my baby?” Onde? “She is in”. “Onde está Patti? Em casa com as crianças”. Hammond pulsa a negritude neo soul, “I Want to Know”. A questão é por si um enigma: “Can you feel the Spirit?”, “Can you feel the Spirit?”. Ilude o público através do seu coro: “Say eyeyeyey”. Público: “Yeyeyeye”. “E. Street Band made miles to come here to Lisbon to a mission: To give you the Power of the Sexual Orgasm. Within the Power of Rock and Roll. Can you feel the Spirit?” . Coro: “Yeyeye”. O ritmo é sustenido, os metais borrifam-o com a porção soul. Bruce Springsteen senta-se como um missionário desgastado de viagens: “Mission”, 2x2, a guitarra e o baixo polvinham-a com blues e insurgem-se os metais: “Plash”, “take”, “take you”, “Spriti of the Night”. O coro promete uma miragem: “All Night”, metais altos, “With a crazy Cat”, “feel? (em estado de transe, entre a autopunição e a demencia selectiva)”, “feel? (e os metais inserem um sopro sedutor)”. “Sprit of the Night” . Coro falso e velhaco: “All Night”. Desloca-se para o interior dos fossos que separam a multidão do Palco Mundo no Rock in Rio Lisboa, toca-lhes nas mãos, histéria. Solo do saxofone. Sobe ao Palco Mundo. Coro: “OOOOOO All Night”, palmas dos músicos, “dancing in the Moonlight”. Reflecte através da palavra falada: “Really hurts”. “Making Love (voz grave presa na garganta)”. “Jeany sais: Hey little brother is time to go”. Bruce Springsteen ergue a voz: “All night”. Coro: “All night”. Voz: “All night”. Coro: “All night”, metais em altura, “Sprit”, “Can you Feel?”. Coro: “Yeayeayea”, o solo do saxofone perfura o ritmo regressivo da E. Street Band. O piano insere os acordes poupularizados por Pati Smith,. “Take me Now babe”. A rotina: “I Work all day”, “Comes (a E. Street Band insurge-se e sublinha o verbo)”. “Hands”. “Never”. “Know”, a utopia lirica: “Because the night belong to the lovers”, a intimidade cantada através dos graves: “Belong to Us”. Voz + piano e baixo, encaixam-se os restantes instrumentos, a prece de joelhos perante o amor da sua vida: “Common try to understand the way I feel”. “Because the magic belong to us”. “Because the night belong to lovers”, solo eléctrico da guitarra de Bruce Springsteen, “take” . A frase melodica do piano introduz o clorofórmio: “Because the night belong to lovers”. “Because the night belong to us”. Solo do guitarrista magro, veste casaco e boina pretos, sobe e desce a escala repetidamente, enquanto desfere o solo comprido e sustenido, desloca-se para lá dos monitores do palco, eleva a guitarra e sustém a nota continuamente, como um raio de luz que deriva de uma lâmina manchada com sangue. Dirige-se de costas para o público, em direcção à E. Street Band, e rodopia e as notas rodopiam, um exercicio para revelar sinestésicos de tão brutalmente perfeito. “1-2-3-4”. Impera a métrica do Wall of Sound, solo do guitarrista de boina preta, à direita de Bruce Springsteen que desfere um solo que perfura a Wall of Sound. “Close your eyes”. A E. Street Band recoloca-a numa transfução entre o pop-rock, “surrender”, “cold”, “Win”, teclado, “No Surrender”. Surge um coro de mulher fantasma que percorre o diálogo entre: Bruce Sprignsteen: “Lailailailai” e Steven Van Zantd: “Lailailai”. Bruce Sprignsteen: “Lailailailai”. Steven Van Zantd: “Lailailai”. A E. Street Band diminui o ritmo e faz uma pausa, “sreet”, guitarra, “room”, “War”, “The street beneath the sky”, “eye”. Bruce Springsteen: manda a E. Street Band acompanha-lo na boca de cena do palco: “Common”, metais, “Surrender”. Instala-se uma pigmentação soul/pop: “Street, baby surrender”. Coro feminino: “AAAAAAAA”. A E. Street Band marca a progressão: Coro feminino: “AAAAAAA”. Bruce Springsteen desloca-se ao fosso e retira do público um cartaz com a inscrição: “She`s the One”. O orgão impõe-se através de um agudo metálico sustenido, percursão, a percorrer a canção que abre o coração de Bruce Springsteen: “I smile”, “Starring at the door with my bike”, “stone”, “fun”, “rising sun”. “OOO (break da bateria) OOOO She`s the one, yeah”. A bateria institui um ritmo marcial, “In your heart”, “never going to live other”, a incerteza que o compromete com a mortalidade: (progressão ritmica e melodica) “But tonight”, “all behind”. “OOOOO She`s the one”. Voz fortemente grave: “ONEEEEEEE”, aceleram a progressão, “yeahyeahyeahyeah”, solo continuo do sax, “OOOOO She was”, solo continuo do sax, “OOOOO She was”, solo continuo do sax. Bruce Springsteen retira do colete uma harmonica, sopra sobre a grelha e surge o derradeiro sopro de vida do homem abandonado pela mulher que personicava a América. Springsteen desloca-se ao fosso e retira do público um cartaz com a inscrição: “I`m on Fire”, a bateria e o teclado enrolam-se tepidamente, “Hey litle sister your dady is in home?”. A insinuação mascarada de pergunta: “Tell me little baby he`s good to you?”. O ciúme: “you, I call my desire”. Bruce Springsteen: “OOOOO”. Público: “OOOOOO”. Bruce Springsteen: “I`m on fire”, “EEIEOOOOOOO”, mistura-se com o piano que a adorna com um negrume sob um ritmo eterno. Bateria, Bruce dá-lhe a voz: a “Shackled and Drawn”, “OOOO”. Resposta da multidão: “OOOO”. Bruce Springsteen: “OOOO”. Público: “OOOO”. Bruce Springsteen: “OOOO”. Público: “OOOO”. Bruce Springsteen: “OOAA”. A explosão de um peito cravejado de balas: “Wrong”. A E. Strret Band entre a Soul e o Rock and Roll, “carring on”, “Shackled”, os metais sublinham o seu carácter Soul com um travo de sangue em cada nota, cantada pelos escravos nos campos de algodão ou pelos negros no Bronx? A escravatura é transversal às duas. “Dark”, coro: “Carrying on”, os metais soul, seguidos pelo Hammond. Coro profundamente modelado e comprometido com uma entidade Superior: “OOOOO”. Bruce Springsteen: “Keep singing”, metais, hammond. Coro: “OOO”. Bruce Springsteen: “Put down”. Coro: “Carrying on”. Bruce Springsteen: “Keep singing!” e desloca-se para o fosso, os metais respondem-lhe:, “Common sing!”, “Common now sing it!” . Coro feminino: “AAAA”. E a peste é expurguida pelos metais. As guitarras acusticas dominam o timbre, sobre um ritmo espaçado: “Waitin`on a Sunny Day”, é um raio de luz dividido pelas nuvens supensas no céu. Público: “OOOO”. Bruce Springsteen: “1-2-3”. “It`s raining”, “in the sky”, “be OK”, “falling”, “Don´t you worry”. Bruce Springsteen: “I`m waiting on a sunny day”, sobem uma oitava, e Bruce tem à sua frente uma criança que canta a esperança: “I`m waiting on a sunny day”. “Common E. Street Band”, aumentam a altura e a voz de Bruce “I´m waiting on a sunny day” é paralela ao saxofone. Bruce munece da harmonica, e sob o foco de luz branca acentua a sua solidão perante Deus, guitarra, os ecrãns mostram um rosto comprometido com uma peregrinação perpétua. “She was only seventeen”, bateria marca o ritmo da corrente: “We go down to the river”. Casamento: “We went down to the Church House”. A sentença: “Down to the river”. A harmonica é a espada de Damocles a serpentear como uma cascavel sobre a areia de Mojave. “They must join us in the air”, os bombos da bateria injectam-lhe vida: “She don`t care”, “Came true”. Grave: “Down to the river”, “Down to the river my baby”. “We go down to the river”. Falseto: “OOOOO”. Desce: “OOOOO”, encerrada pelo murmurar da harmónica. “1-2-3-4”, o teclado insere notas circulares, sobre o qual a voz flutua e ecoa: “My oh my”. A bateria é o reflexo do refrão: “Common up to the Rising”, “rising”, “Common up for the rising”, “Lalalallalalla”. Coro: “Lalalalallala”, solo da guitarra eléctrica de Bruce Springsteen, “Stand before you”. Bruce Springsteen: “Lalallalallalla”. Coro: “Lalalalallal”. Vem ao de cima os acordes circulares do teclado: “Onethounds suns”, “pictures of children”, “mixed with mine”, “Sky”, coro: “UUUUUUU”. “Sky of Mercy, sky of Fear”. A E. Street Band antes que Bruce Springsteen cante: “Common up for the rising sun”, desfere uma onda sonora que transforma o refrão num hino. “Lalalalalalalaala”. “1-2-3”, vilolino de uma mulher duplicado da Pati. “Everything I mean”, “touch”, “But I give a damn, I Know to much”, violento dois por dois da bateria, “Shall pass”, “Lonesome Day”, “Lonesome Day”, “It`s allwright”. Coro: “YeahYehaYeah”. Bruce Springsteen: “It`s allwright” a esperança é continuada pela épica secção de metais, a segunda voz em palco do Boss. Guitarras acústicas, sobre as quais discursa: “All the hard times in Améria. People lost jobs, houses, life changed forever. I try to come up with a end. Theirs no end! History? I realize I need to rewrite a ghost history”. O local: “Graveyards at night”, “and are you listening?”. A lua cheia: “Silver night”, “Down bellow”, “fire”, “Cold grave stones”, “This is the song they sing: ´Long here in the dark`”, a E. Street Band mimetiza acordes country (ritmo)-pop (melodia)- Soul (alma). Cantam as guitarras e a voz grave: “Alone in the grave. Voices call me.”. Bruce Springsteen: “Hey”. Público: “Hey”. Bruce Springsteen: “Hey”. Público: “Hey”. Bruce Springsteen: “Hey”. Público: “Hey”. Ovação. “This one is for old fans. Teve muitas saudades minhas?”. A palavra negra sobre o piano: “As radio plays”. A resistência: “Don`t turn me on again”. O desespero: “I can`t face myself in the mirror”. A fuga manchada com desespero: “Hey, It´s all right with me”, o baixo injecta-lhe um balanço transversal, “in the rain”, orgão, “window”. O refrão é: “OOOO take my hand”, “OOOOO”, “OOOOO find the lover”, “We can make it if we run”, solo de guitarra, “The door is open”. “We`ll be free”. “Screaming every night”. “Before dark, you hear the engines?”. “It`s the town for loosers”. A bateria é o pulsar de uma nova América, e orgão insere as notas circulares e serpenteantes de groove de puro Rock and Roll e as guitarras acusticas adocicam-a, comandada pela eléctricidade de Bruce Springsteen. “Born in The USA”, “I was born in the USA”, “come back home”, “Wheelman”, para o público: “You don`t understand”. Público: “I Was born in the USA”. “I Was born in the USA”, “I Was born in the USA”. Bruce Spingsteen: “I had a brother how fought in Vietnam” . A recordação naturalista: “I got the picture”, breaks da bateria, orgão delineia os acordes do refrão, “four years down the road”, “you know?”. “I was born in the USA”, “I Was born in the USA”, os metais dão o sopro de um país ainda por se cumprir, e que ergue a bandeira da liberdade manchada de sangue. “I`m cool”. “I`m cool”. “I`m cool”. “YEYEYE”. “Lisboa”. “1-2-3”. “Wheel”. “Suicide Machine”. Bruce Springsteen: “OOOO”. Público: “OOOOO”. Bruce Springsteen: “Suicide”, “baby with wheels”, “Born to Run”, os metais, “I want to be your friend”, o teclado suporta a lírica com a métrica entre o cantado e o falado: “your eyes cross mine”. Público: “OOOO”. Bruce Springsteen: “OOOO”. “Feel”, “I want to Know”, metais mais teclado, e o saxofone percorre a melodia por dentro com uma nota inferior, “scream”, a E. Sreet Band enceta a progressão. “Lisboa! Lisboa! Lisboa!”. Rock and Roll com uma melodia pop de tal forma grandiosa que é libertadora, e o ritmo tenso do batuque do prato choque e o orgão fazem-na flutuar: “I had a big friend”, “Big bass player”. E a celebração: “Make love like a fool”, contínua: “had fun”. O refrão libertário: “Glory Days”, “Glory Days”. A paixão: “A girl lives on the block”. A repressão que a voz grave rasga em cada vogal: “Talk about the old man”, ah “Glory Days”, a multidão berra e acompanha o ritmo profundamente binário que transgride o Rock and Roll. O desafio de Bruce Springsteem: “Common Steven”, solo do Boss: “Teens sleep all day”, a multidão canta com o Boss: “Glory Days”, “Common”. Público: “All right”. Bruce Sprignsteen: “All right”, “YEYEYE”. Bruce Springsteen: “OOO”. Público: “OOO”. Bruce Springsteen: “OOO”. Público: “OOO”. Bruce Springsteen: “OOO”. Público: “OOO”. “Common Steven!”, o choque da bateria e os metais delineiam “Glory Days”, sem rastos de cinzas do 11 de Setembro, “All rigth”, “OH! Fear!”. Poesia violentamente épica com uma luminosidade popular que transmite a América como a terra da fortuna e sem violencia e imune a tiroteios em Secundárias e nas Universidades. Bruce Springsteen desloca-se para fora do palco e no gradeamento retira um cartaz com a inscrição: “Hungry Heart”. Sobe ao palco e exibe o seu coração americano: levanta os braços: e grita: “1-2-3”. “Everybody has a hungry heart”. Público: “That`s good”. Bruce Springsteen: “COMMON!”. E. Steet Band num ritmo binário “h-e-a-r-t”, “Everybody needs a place to rest”. Coro: “OOOOOOO”. “COMMON” . “Everybody has a hungry heart”, cantado em uníssono por Portugal, “now”, “common now”, “common now”. Solo do saxofone. “One More: 1-2-3”. “Dancing in the dark”, os metais sublinham as notas épicas de “dancing in the Dark”, “the evening got nothing to say”, “can start”, “baby” , “I can start a fire”, “higher”, “Dancing in the Dark”. “I want to change my journey”. “Can´t stop the fireeeee”. “Daancing in the Dark”, “get older” as palmas de Bruce Springsteen repercurtem-se na multidão e a E. Street Band aumenta a progressão em altura: “Hungry”, “We can`t stop the fire”, “higher”, “Dancing in the Dark”, os metais transmitem as ondas sonoras do refrão, desconstruido pelo solo do saxofone. O Boss recebe em palco duas mulheres que o abaçam apertadamente, ele ri e é beijado. “Baby!”, e a da E. Street Band sobressai o saxofone. Bruce Springsteen deita-se na boca de cena, gestuliza: “No more songs”, está cansado, estoirado. Litle Steven, surge com uma esponja amarela da qual cai um jorro de àgua benta sobre rosto do Boss: Levanta-se e atira a guitarra pelo ar a um roadie. “One More”. Teclado mais metais, guitarras eléctricas sobre estes: “1-2-3”. Bruce Springsteen deitado sob o seu microfone na boca do Palco Mundo, “in the school searche for his group”, voz grave: “Back”. Coro: “Preacher”. Pausa. A voz eterna suave e grave e doentia e perversa e moralista: a personagem: Bruce Springsteen congrega a iluminação branca: “The day big man join the Band” e surge nos ecrãs dispostos lateralmente ao palco, imagens do saxofonista Clarence Williams. Bruce Springsteen, aponta o microfone sobre a plateia, que lhe responde num silêncio vacular. Quando estoira o fogo de artifico Bruce Springsteen não cede o espectáculo a essa arte efémera e convoca a E. Street Band para se insurgirem contra o invasor pirotécnico: “Twist and Shout”.

Reckering Ball, Bruce Springsteen and The E. Street Band, 3 de Junho, Rock in Rio Lisboa @ Lisboa

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Hiroshima meu Amor

Laurie Anderson entra pela direita alta no palco do Teatro Académico Gil Vicente pega no violino o seu instrumento de eleição falicamente instruído: grave alto, pausa, grave mais alto, pausa, graves ainda mais altos, institui a psicanálise, introduzidos como samples. Agudos contínuos misturados com os graves contínuos, surge uma caixa de ritmos sobre os agudos que repetem as frases melódicas, grave sustenido introduz o emergir dos agudos suavemente como uma penetração anal, sobre os quais surge o teclado, voz: “you know recently I have read about innocence”, “stereo”, “really wrong”, “very heavy”, “blue tale”, “not the most insane is beautiful”, “decisions”, “let`s say”, “the enigma of evolution”, “some reasons”, o cliché americano da mulher: “beautiful after all”. A ironia: “Kind of nightmare for Darwin”. O cabeleireiro: “Air sublime!”, mas “single”, desgraça, a lengalenga: “The determination of evolution”. A inversão: “Complete nightmare”, surgem sons subaquáticos, “Church”, “potentialy dangerous”, “just like”, em que grupo nos inserimos: “The question is: which group?”, “blue tale”, “Why call this planet Earth?”, refrão: “Mars, Venus and Dirty”, “Heaven and Dirty”. Insurge-se contra “pigs in Israel”, não podem ser colocados em pocilgas porque estariam a conspurcar o solo sagrado: “They built plataforms to race the pigs”, deste fundamentalismo religioso transmite contra “the new laws in the States”, permitem que a polícia prenda “citizens indefinitely”, “citizens are enemies”. Rapidamente desfere o paradoxo: a América está a ser invadida, “The british are coming”, “exactly who is coming?”, a autopunição? “Ourselves, be the enemy”, orgão, orgão de igreja ritmada por anjos puti com erva a adornar os seios. Sobre os quais o violino tece notas neo-clássicas, desferidas para diversos campos de concentração, somos sobrevoados por um Helicóptero, violino grave/contínuos como o orgasmo do útero, Helicóptero, solo de violino sustenido num gemido, o som aumenta em altura e as pás do Helicóptero aproximam-se e somos invadidos, violino, Helicóptero, vilonio + Helicóptero e o climax é contínuo e penetrante. Surgem escovas sobre a tarola, o ritmo estético de Bruce Nauman, “remembering”, “I think I dream”, a conclusão: “Memories and dreams” a dúvida: “I couldn`t be”, “down street”, “thought”. Refrão: “Predictions are for sale” e passa os olhos sobre Wallstreet: “that keeps the market spinning (teclado grave mistura-se com a voz)”, que é “avant garde, animated movie”, “brains sleep”. A eterna questão: “Why can we dream?”, a doçura: “Heart of a baby”, “The babies die during the R.E.M”, e a tragédia extremada do feto a converter-se em cadaver: “his death began even before he began to breath”. A biografia matemática: “1/3 of my life”, “18/19 hours to sleep”, “1/3 of my life”, “drink Martinies” dito sobre sons subaquáticos, “Candy”, “The big”. A deixa: “Relatives you never meet”. Surge uma voz satã: “The dream keep expanding”, “ a battle underground”, “all countries”, “presidencial elections are coming up”, “history of the past and the future”, “no actual reason”, “We prefer him for no reason enroll”, voz satã desaparece. Teclado doce sobre a programação grave, voz in: “Keep sleeping”, “with his power force”, o refrão um slogan nazi: “Spiders to return to their origins”. O blues: “Spining, spining around”, canta: “Spining (feedback)”, voz + alta + grave duplicada “Spining”, teclado contorna a voz de Laurie Anderson, “regrets” e cita: “Almost all the people in the World ends with the wrong person”, “Willie Nelson”. Voz satã: “Spinning”. Voz angelical: “New York City”, “return in the apparent emptiness”, “the emptiness of the aparência”. Emerge um ritmo sequencial, “you know?”, “How much you pay for the download?”, “exactly”, riscos de cocaina: “punch the line in the end”, snifo: “punch the line”. A voz ganha contornos de antropomorfia robotizada: “Get out”, “people do like to change, they do, they do”, “get on”, “We miss our dearest friends”, o lamento: “Great guy”, a ironia puéril: “Pure Love”. “Get on”, “get on”, “get on”. Satã: “Love”, “broke them to pieces”, “together”, “impossible”, “memories” impera o ritmo minimal repetitivo, “get on!” , “get on!” os sons confluem num único ponto no ar experguindo erupções graves. Angelical: “New Jersey”, “more and more people looses their houses”, “I wonder how this place looks”, “all kinds”, a paisagem de sem-abrigos: “Large army of tents” com geradores “working somewhere in the woods”, “lot`s of snakes in your eyes”, “the kind of New Jersey”, o quadro: “a nightmare”. Mas “nothing is all that bad” surge uma figura recorrente: “A woman comes out of the trees”, “She starts talking”, “Why?”, fundo sonoro subaquático, “something went wrong, We are the enemies”, e “crying”. A sem-abrigo: “I`m so sorry to get so emotional”. Laurie Anderson: “She leaves up to the trees,” teclado grave sobre a onda sonora maritime. A sem-abrigo: “She stops crying”, “She was living there for seven years since the beginning of the Trees Town”. A sem-abrigo: “She starts crying again”. A sem-abrigo: “Marilyn came out the tree tends”, “strange”, “cave people”, “Joules is out of the Town Tree at the moment”, a inversão da narrativa pausada para um timbre suave e adocicado: “But please come to see the houses of the birds”, e o Mercado: “Marilyn hopes to sell her clothes in the fair”, piano, “and Jessica the social worker”, “She cries”, “constant back downs”, “are too emotional”, “She was not a social worker, but someone who wants to be a social worker”. Anti-Israel: “Chickens live in the tents too”. “Chickens can fly”, “really strange”, “chickens”, “And Marilyn said”: surge um timbre sensual e visceral: Marilyn: “Chickens are so lovely and what a beautiful day”. A narradora omnisciente: “Next time”, violino sobre o fundo imerso e contínuo, dito pausadamente: “have a nice day”, “They have no idea how you are”, “small”, “have a nice day”, “a really pleasant day”. Orgão sequenciado que se suspende no ar, voz: “GO”, “this landscape”. As invasoras: “Spiders came”, “came”, dois por dois sequenciado, “Spiders came”, a declaração de guerra: “The Dark, the War”, acordes graves do teclado, “The future, The True, The End”, grave, “The Spiders”, “bright”, “and empty”. A claustrofobia associada a uma anacrofobia, “and you see something you say something”, “suitcases in the middle of the Station”, “real”, “might just be in the front of me”, emergem acordes paradoxais grave e agudo do teclado. “This landscape”, que destroi a onda sonora trepidante submersa associada ao inconsciente, “like a suitcase in the middle of the Station”. “Spiders came”. “Train Sation is on fire”, graves submersos e suspensos, sobre o qual irrompe o vilino agudamente (notas entre-cortadas) introduzem agudissimos como sampler e cavalga-os através do Pizzicato. Desloca-se para a esquerda alta e senta-se num maple “Orange plastic”, tem um livro entre as mãos, lê: “Abstract Painting”, associa a esta estética à “They have a great time hearing” e “never bored”, “Let`s do that”. “Walking in the east of the Village”, “across the Street, any way, are Stores”, “this”, “to get a Toy”. O quadro sentimental: “In the middle of a Divorce”, e eu? “The Boy wanted, but nobody wanted the Boy”, e este une-se à “invisible people”. E faz a apologia do “Budas Teacher”, “Without being Sad”, ou, “Sick”, “for some reasons”. Laurie Anderson: “I thought my dogs can play Piano”, a entoação da voz é própria do Stand-up Comedy: “She made a Christmas record”; “middle class organization”. Luxo: “Lot`s of time on the Vet”, “another shoot”, “listening”, “I`m not young to do this”, “I`m in the End”: “Professionalism”, “everyone”, “Teacher”: “Animals are like people they approach to dead”. “Out of the Hospital”. “Friends gorgeous Sculpture”, “House by half”, a afirmação dramaticamente sentimental: “Twin Brother, Sebastian, jump from the Window”, “24 hours difficult to leave”, “hearing is the last sense to go”. Fez uma festa com os amigos e familiares do morto, gritaram-lhe ao ouvido: “Gordon you are Dead now”. “All Creatures have forty days at the limbo”, “The spirit prepares to get another life form as mine”, a meditação poética soul: “I`m a kind of believer”. “Bin Laden”, “a lot of humans have died”, no mesmo dia em que o líder da Al-Qaeda. associado ao 11 de Setembro. “It’s the past the first to disappear”, “With your feelings”, “never understood before”, “love”, “dies of Cancer”. Refrão: “Don`t know what to do, don`t know how to love, don`t know him”. Laurie abandona o maiple, e coloca-se à frente de uma tela onde surge um cão pianista, “My dog thought me more”: “LOLALEBELLE my Dog”, teclado acordes circenses, um cão: ladra e toca piano. Um cão está ligado a “advance tecnics” e no teclado repete a textura dos acordes que Laurie Anderson usou até ao momento e ladra e o público, no Teatro Académico Gil Vicente, ri. Laurie Anderson projectou-se no espelho através de um canino e voluntariamente ridicularizou-se provocando a perplexidade ao espectador. “Thank you Lolabelle”. Desloca-se para a direita e ao introduzir um microfone circular na boca, projecta uma voz de soprano com origem em sinapses a chocarem violentamente. “Round, round, round, round” cada “round” dito longamente e languidamente seguida de uma explosão do violino que insere o groove que gradual e lentamente desaparece. “A Snake came in with the Twilight”, “about a life”, “to a mice”, “Diamonds”, “How can I create desire?”. Um postal: “Paris afternoon, November”, o fundo sonoro está continuamente suspenso, “Catherine Deneuve so glamorous”, “my favorite”, mas: “I never been to Paris anyway”. Aliados: “Americans love the French”, “the ballets (sotaque frânces)”, “and the calories? A long recount of tales (sotaque frânces)”. Voz Robótica: “Walking around France, Flowers”, “night”, “everywhere is a perfume”. “It was only a picture book”, o fundo ganha uma dinâmica circular agreste, “Land, the Sky, Land, Fire, this Landscape”, “desire”, programações ritmicas, violino: grave, curto, longo, entre-cortado, sobreposição de agudos + grave. “Never happened in the History of the World”, “cigarettes”, “scenarios”, “feel”, “a Duck”, “happen before”, “more details”, “like: just Stop”, “forty Stories just say”, “are perhaps made of glass?”. “The Heart of Buda, empty?”.“The Real Town”. A indução ao mergulho na precipitação do paradoxo: “Close your eyes, what can you see? Nothing?” apropria-te do vazio: violino: agudos curtos, graves contínuos, mais agudos circulares, exasperam uma melódia tétrica com um recrudescer constante em altura de remoinho negro, graves, agudos, graves...épico. “Thank you! Goodnight”.

DIRTYDAY, Laurie Anderson, 23 de Maio, Teatro Académico Gil Vicente @ Coimbra

domingo, 25 de março de 2012

Psicopátria

As luzes do palco do Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz estão estáticas marcando a ausência dos músicos que acompanham GNR que durante trinta anos sobrevoaram Portugal. Palmas. Orgão e piano introduzem “numa terra sem leões” numa casa portuguesa “cheira-me a fêmeas fatais” concerteza: “algumas confusões, problemas ideias”. O violino marca o início de uma leve progressão: “Rei da rádio dá-me a voz, canta por nós, Rei da pop dá-me um som”, baixo de Jorge Romão impõe o acelerar da progressão. “As cidades tão banais e rurais, faz das tripas corações”, o baixo traz consigo a banda: “Rei da rádio dá-me a voz”, “esquimós”, “morreu por nós” (eco), teclado, palmas. “Boa noite”. As teclas assumem uma melodia tépida, como se fosse uma harpa, a bateria coloca-se entre este eixo e o baixo visceral: “Tarde de chuva a Península inteira a chorar”. Amélia ergue-se como um “sirio cintilante” , observada pelo Padre Amaro: “em frente ao altar” o que se crê “um anjo fumegante”, o violino sobrepõe-se ao ritmo binário: “Um desejo profano a crescer” do português de aqui e além mar “até sinto a língua morta” no centro há um anjo petrarquista que “devem tentar compreender”, será que vacila entre o sacrifício e o pecado, “estará a meditar”? Solo de violino, “Ai” (eco), “Ui” (eco), o ritual: “Atirem-me água benta”, “por ela assalto a caixa de esmolas”, “é Maria, casta eu sei, virgem ou não depende da vossa fantasia” . O convite irrecusável ao nosso Estado: “Vai para o Inferno de Dante”, solo Hamond e o violino a intervir circularmente: “Ai” (eco), “Ui” (eco). “Atirem-me água benta”, por ela assaltamos “a caixa de esmolas” e seguimos para “o Inferno de Dante”, atirem-lhe água “bem fria” (eco), “Ai” (eco), “Ui” (eco). “Elvis Costello e o David Byrne”. “Leve, levemente como quem chama por mim”, a canção da película: “o odor do medo puro”, não sabemos que o anel de “diamantes” é de fancaria. Rei de POPortugal canta sobre as ondas sonoras de orgão negro, “com muita atenção, ai! O meu coração!”. O cerne do problema: “Sabem que me escondo na Bellevue”. O aviso na placa do portão da Bellevue: “Cuidado com o cão”, mas a sua presença feroz não o impede de violar a propriedade “e subo a mão”, o sintetizador introduz uma textura artificial “diamantes” e seguimos o narrador “com muita atenção”, que sofre “Ai! O meu coração!” e não sabemos: “Sabem que me escondo na Bellevue”, e a casa dos espíritos tem um “corredor” que nos conduz para um “sorriso cruel”, seduz e instiga a saltar para a “cama de Dossel” , “experimento o colchão”. “Sabem que me escondo na Bellevue” e as “minhas amigas no fundo do jardim agora mais ninguém confia em mois”, a bateria quebra a rotina lugubre dos teclados e insurge-se como o batimento de um coração receoso do fim. “Agora mais ninguém espera por mim”, pausa, palmas, o violino é uma lamina cortante para dessosar os cadáveres e partir da qual se impõe a progressão da banda. Rei de POPortugal mimetiza a posse introspectiva de um professor catedrático perante uma equação por resolver e com o indicador aponta para a janela: “Sabem que me escondo na Bellevue”, os corpos ainda estão quentes sob a relva “as minhas amiguinhas no fundo do jardim”, “agora mais ninguém confia em mim” era só para “brincar ao cinema negro” a tela branca projecta um país com “jovens no de-sem-pre-go”. “Penteado igual ao do David Bowie, ´Ziggy Stardust and the Spiders from Mars`”. Violino sobre o piano de cauda dedilhado por Antonio Cesar Machado: “Lá vamos nós!”. Palmas. “Obrigado gente sentada!” A bateria toma a pulsão da canção pop com borbulhas de sabão suspensas no ar, “pra limpar”, irrompe o grito do Ipiranga “logo ao nascer” e o drama “nada apetecer” e a resposta: “Mais vale nunca mais crescer”, a bateria dá o ritmo cardíaco ao recém nascido e é alegre e divertido estar vivo, “mas olha para o que eu faço: mais vale nunca mais beber”, os pratos da bateria deixam espaço para os acordes abertos da guitarra e a doçura do teclado: “nunca mais crescer” e “mais vale nada”. O baixo de Jorge Romão insurge-se como se fosse uma das artérias que nos liga ao cérebro e uma resposta em forma de wha wha é introduzida pelo teclado de Hugo Novo. Rei de POPortugal bate palmas ao ritmo de um parto feliz providenciado pela pulsão alegre da bateria e os acordes de cor de papel de parede de um quarto bebé. Pausa. “Vais ouvir e ver”. “Nada acontecer”. “Mais vale nada”. “Mais nunca mais crescer: Nunca mais querer”. “Mais vale nunca mais crescer”, “nunca”. “Mais vale nunca mais crescer”. Violino: o rompimento do cordão umbilical: “NUNCA!”: “NADA”, violino, e uma estrondosa ovação é desferida a GNR por parte dos presentes.“Obrigado! Também às vezes... E biba e biba Espanha: TERÉTER. Inteligência e sensibilidade da canção número cinco”. O piano de cauda é dedilhado por um anjo de blaiser preto secundado por um sintetizador “Asas”, “your song; encosta-te a mim”, resolve a equação com um falseto iconoclasta “asas servem para voar, espreitar mil casas no ar”, soa um único prato da bateria sequênciada pelo bombo, estoiram “do alto do ar”. O baixo amplia a canção: “quiseres pousar na paixão que te roer” e o violino prolonga-se languidamente e lascivamente “aconteça o que acontecer”, o hammond pelvilha-a com mortalidade. Rei de POPortugal, segura o tripé com as mãos e a progressão circular é direcionada num ponto preto sobre a tela branca. “Pousar na paixão que te roer”, o buraco na tela aumenta rapidamente “de acabar”, o falseto corresponde à voz da alma: “Já não há leis para te prender” adicionado por um final épico. “Tóli Cesar Machado no piano forte. Chegamos esta tarde e ligou-se ao piano, é um espécie de Mexia mas na poupança! ´Valsa dos Delatores`”, violino, teclado infantil, Nursery Rhymes: piano de Antonio Cesar Machado, “tens medo do escuro tal criança sem futuro, és fraco velhaco cobarde armado em duro”, violino subtil, “no caixão”, o piano a rezar com o rosário nas mãos e o violino persegue o pecado e emerge uma textura infantil injectada por Hugo Novo. “Nem na cama estas seguro”, “sofre de medo puro”, Ruca Lacerda dá um tempo longo sobre o bombo, dando ritmo à marcha contra quem “sofre do medo puro”, “dos mortais que te rodeiam” e o português como as mentiras: “mesquinhas serpenteiam” . “É uma volta no caixão, perseguição”, o poeta abre os braços e o convite denota rejeição pela profunda oração/ordem: “E vai pelo Mundo”. O Rei de POPortugal levanta o braço e movimenta a mão para à frente e para trás e instaneamente dança como um soviético e o bombo encurta o seu batimento, aumenta a progressão e o circo de feras pega chamas. “Nós deitamo-nos todos os dias cedo, para que isto dê certo. É uma espécie de erecção”. O piano de cauda de Antonio Cesar Machado, a voz do criador e artista: “A chuva esconde-se no orvalho”, “na casca de carvalho”, o ritmo é processo perpétuo “única a dar gás”, és “a Rainha das marés”, és “única a dar gás”, a certeza “podes seguir aí sentado, o crucifixo, nas mãos uns dentes de alho” e se o narrador se transmutar numa antropoformia: “Se eu uivar e acordar cheio de grelos”, “a Rainha das marés o Mundo salta aos seus pés”. O violino irrompe num solo circular mas a partir do qual irá lançar notas diagonais a assumir o advir da tempestade secundarizada pelo piano, baixo, bateria. “És a única a dar gás a Rainha das marés”, “és única, a única”, “trégua”, benze-se sobre o ritmo binário e o epílogo é pontual e simultâneo e em altura. “Em vez de tratar vocês por tu. Vou tratar voceses por tu”. “Todos me tratam por você, menos tu não sei porquê”, a silaba tónica “o” é reproduzida pelo piano de cauda, “já não sei onde parei”, “voltei”, “fiquei”. “Eu inventei o verbo amar”, no Trópico de Capricórnio de Miller, Henry, “eu gosto de voce brasileiro”, pausa, o violino insurge-se sobre o piano, “onde cheguei”, “se parti e não voltei”, aceleram vagamente o ritmo, “Eu não gosto de vocês, parti sem hesitar”, “chorar”. O balanço de Copacabana com uma mulata ao colo: Rui Reininho vê-se no seu ginásio com o Carlos Carreiro: “Eu que inventei o verbo amar”. “Esqueci o calor do lar” e o assobio é o espelho do chamamento da serpente: “eu”, “voces”, “partir”, “vou ficar” (eco). “Obrigado Figueira da Foz! A última vez que viemos aqui, estava o nosso amigo Santana Lopes, assim com menos cabelo do que eu” e mexe no cabelo, o público ri. “Quando aqui voltarmos já devemos estar hospedados no IPO”, público ri sonoramente. “E o Tóli no Casino até às seis da manhã? Las Vegas, ´Las vagas`, let`s dance and be alright”, teclado Korg, insere os acordes macros: “AH! É tão grande é macro onda”, é um Tsunami que vai “inundar de ouro a mina”, violino, baixo, bateria 2X2, violentos de hair metal. O revólver passa de cabeça em cabeça dos ouvintes: “Roleta Russa aceita apostas”, a selva, “eu serei a gorda, serás a magra, a cabra cega”, “a vaca”, “a magra”, a antopoformia a sugerir a transmutação do ser: “Estarás de foca”, “peixe fora d` água”, solo tresloucado do violino a incutir a perspectiva: “a magra”, “não havia vaga”, estarei de “foca, tu de tanga”. “Todos de tanga”. “Somos todos peixes fora de água”, “um peixe fora de água”. Palmas. “O Jorge Romão está com um ar encaralhado porque será?”. No imperativo para o público: “É definitivamente ´Sexta-feira` na Figueira”, a guitarra de Antonio Cesar Machado assume-se na condução da canção incutindo-lhe acordes poderosamente pop, afastando-se da vertente light red neck, as pessoas abandonam as cadeiras e regressam a cada “Sexta-feira na Figueira”. “Estes são os sapatos que nos vão enterrar. A canção francesa é dedicada ao nosso amigo Tony Carreira”. A Psicopátria: “Pássaros estupidos a esvoaçar”, teclado saltitante, “os cagados de pernas para o ar. ´Efectivamente`”, o baixo impõe-se na diversão estilistica Pop, somos “ratos do esgoto habituados a controlar”. Rei de POPortugal: “Escuto as conversas”, baixo, teclado: “sem moralizar”, a marcação é dada pelo piano trepado pelo teclado, a paisagem é rupestre com “Bichos” de Torga presente(s): Palmas. “Super nada”. E sobe o sangue à cabeça de Ruca Laçerda: Rei de POPortugal: “Estás a ficar corado?”. Os acordes do piano surgem como elementos decorativos em relação ao teclado que insere os elementos fundadores de um leito de onde “há um prénuncio de morte lá do fundo donde eu venho”, a inóspita e poderosa verdade irrefutável do dono do Trono de POPortugal: “Canto a pronúncia do Norte”. Rei sob as luzes brancas ouve a sua voz e o teclado: acordeão: cada nota dedilhada em tempos diversos transporta a consciência para um nível superior, sublime: “Não tenho barqueiro nem hei-de remar”, a barca baloiça com a incursão da bateria, as encostas do Douro “secaram”, vinha após vinha, que encontram o seu dissipar no movimento pérpetuo de “corre o rio para o mar”. Os acordes marcam uma constante emolação: “é a pronúncia do Norte”, “e as teias que vibram nas janelas esperam um gajo parecido com elas”. O compromiso com a independência lírica: “Não tenho barqueiro nem hei-de remar”. “Corre o rio para o mar” (eco) para cessar as almas presentes que esperam a barca do Anjo. “Moscovo? Lindas praias!”. A voz da Pop: “MUÁ. MUÁ”, a cantar num salão de baile num cruzeiro na companhia de Cervantes, “eu vejo destroços de metal a flutuar”, “vejo no Mondego”, ao situar a acção de “Sete Naves” numa geografia familiar instrui o público a seguir a narrativa claustrofóbica. GNR recorrem a uma repetição circular progressiva dos acordes, com um recorte interno de Jorge Romão irmanado à bateria e esta sequência minimal provoca sincope: “sinos sinetas ao acordar”, violino, breaks da bateria, hipnótico, ácido, e os dedos “frios vontade de me enferrujar”, a decomposição: “Matéria por soldar”, “peso o ritmo, paro de trabalhar”, “as vagas onde elas vogam”, falseto: “Voltam-se devagar”, cresce um odor de Marrocos de S. Burrogs, William, Naked Lunch. A voz do Rock: “AAAAAA”, “AAAAAAA”. Sincope. Baixo: “AAAAAA”. O contra-fado: “As vagas que eu construo não são feitas para navegar aguentam a violência de um beijo mas nunca a do mar”, contra o “Orgulhosamente Sós”, Salazar, Oliveira. Os breaks da bateria marcam o aumento do ritmo e a altura , através de um gradual 2x2: “LÁLÁLÁ”; Jorge Romão: “BOM! BOM!BOM!”; “LÁLÁLÁLÁ”; “BOM!BOM!BOM!”. “Há uma questão sexual entre mim e os bichos”. Rei de POPortugal balança no seu colo de braços compridos um bebé e as escovas da bateria reforçam o R.E.M do recém nascido. Jorge Romão. “Principal”, o ácido do vinho do Porto escorre das encostas do Douro, “ardem chamas de dois sóis”. Portugal: “Na luta na arena principal mato-me primeiro e a ti depois”, ao “saltar a fronteira”, “estou na Figueira” , sem “correr e sem saltar”, D. Quixote de La Mancha, Brel, Jacques, “oculto sangue que temos para dar”, cantado e finalizado em surdina pelo público. Ovação. Ovação quando o Rei da POPortugal regressa ao palco do Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz, senta-se ao piano e recorta o teclado, ri. “Há um ano atrás, estreamos, ´Voos Domésticos` no Portugal Fashion”. “Voos Domésticos” é Gardel vertido no Último Tango em Paris através da guitarra de Antonio Cesar Machado, violino agudamente: “aterrar aqui”, o desejo utópico: “Num tapete mágico” com Balthus, acutilante doce e belo: “Fim em mim”, a dependencia amorosa: “Olha a turbulência é da tua ausência”, o local: “algures na cozinha, jantar gourmet”, “café”, o violino progride e transporta consigo a força doentia de uma melodia “em pé”, “Torre de Control fantasia de lençol: adivinha quem és?”. O violino acelera exuberantemente mas o baixo de Jorge Romão domina-o através da sua prolongada obssessão, nesta sequência: Romão, Jorge. O violino insere os acordes da torre emissora para Paris e Berlim, contra MerKozy. “Era um GNR!”. “Tenho a anunciar às vossas moléculas, que o Carlos do Carmo canta hoje em Ilhavo. AHHAHAH! Ele sabe que eu tenho um humor mordaz! Gosto muito do Carlos”. A textura dos acordes da guitarra de Antonio Cesar Machado, exibem uma doçura grandiloquente, através da subtileza do seu ritmo a partir do qual circulam os outros instrumentos, ouve-se a nave a descolar: “Se há lodo no cais”, “onde o mercado impera e vamos longe de mais”, é a revolução sobre a escravatura dos cravos, “muito cuidado”, regresamos ao estrangeiro: “Voltas ao Cais”. A bateria desfere um ritmo afro beat, “sais”, é um banco de areia: “Ó neptunias, sereias sensuais”, e “se o perigo mora ao lado então vai ver ao cinema se ´Há Lodo no Cais`”, com Brando, Marlon, “vais escorregar: muito cuidado: voltas ao Cais.” O sujeito profético: “Muito cuidado, atina, voltas ao Cais”. “É o último show que fazemos para gente sentada”. O piano serpenteia como uma serpente egípcia “felizmente a noite sai, ainda bem que há névoa por aí”, “se a luz se esvai”, “e uma sombra se queimar neste lugar”, bombos, “metamorfoses de horror”. O holocausto travestido de democracia, “vão demorar”, ficamos estáticos “se o céu se fecha sobre nós” . E a voz de Portugal: “Revela ciesta rouca voz”, sobrepõe-se a guitarra de Antonio Cesar Machado, o piano serpenteia: “Directa sim. Eu declaro: Morte ao sol”, “imagem atroz”, “directa sim. Aí Vem a luz!”, a representação da morte num tríptico onde estão inconscientes os crucificados: “Ao sol”.


Voos Domésticos, GNR, 24 de Março, Centro de Artes e Espéctaculos @ Figueira da Foz