domingo, 31 de agosto de 2014

Yin and Yang

O festival Gliding and Barnacles, convidou para cabeça de cartaz, da segunda noite de concertos na garagem Auto Peninsular, os Subway Riders que estão a tocar sobre um palco de madeira suspenso no ar, as paredes que os circundam são de cimento vivo. Os Subway Riders são uma máquina em que as frequências arrítmicas de Chau Subway, e a guitarra freak de Victor Subway, o teclado moog fantasmagórico de Augusto Subway, e o saxofone esquizofrénico de Calhau Subway (e a sua dança flamenca), e por fim a voz declamadora de Carlos Subway, resultam numa decomposição de diversos géneros musicais, apresentados com uma dose reforçada de nonsense kitsch. A sala tem um pé direito que é vítima de gigantismo, e os troncos salientes do tecto sustentam as telhas onde as gaivotas, durante o dia, esperam que os caixotes de lixo vomitem lixo. O som dos Subway Riders propaga-se aquém do esperado, o que revela que houve mão criminosa, e extirpou-os com uma faca do mato, dos instrumentos pinga o sangue venoso, e a frustração não tolhe os presentes que se alimentam do absurdo sónico do quinteto conimbricense.
A terceira e derradeira noite do Gliding Barnacles é encabeçada por três músicos, que se dividem por, voz e guitarra, guitarra, e bateria, baptizaram-se de D3O. “A próxima música chama-se ´Go`”, pejada com uma verve rock, as guitarras funcionam como catalisadoras da potência da bateria. O mestre-de-cerimónias deste trio, é o mítico Toni Fortuna, homem magro, veste camisa e calças negras, e fala para o microfone ironicamente: “É a loucura deste género”. As canções dos D3O versam uma métrica ostensivamente Rock and Roll, mas o que os torna imunes à mediocridade, são estes factores: a exactidão com que executam os diversos temas, e a intromissão de solos minimais os transformam em objectos artísticos, proporcionando uma rugosidade em que impera uma agressividade incontida. Às salvas de palmas Toni Fortuna declara: “Muito obrigado! São muito gentis! You are very kind”, “obrigado a todos os presentes por estarem presentes”. Na canção em que são acrescidos por um músico, “never being rehearse before” , e apresenta o tocador de harmónica como o “pé de tartaruga”; o ritmo blues é o de uma locomotiva a cortar o deserto com o expirar a gás da harmónica, motor que polui com esperma a paisagem. Toni Fortuna emprega as palavras como se encarna-se num demente que julga que é Elvis Presley e Martin Luther King, tem a intenção suprema de nos converter ao Rock and Roll. Algo que é patenteado pelo punhado de pessoas que dançam violentamente aos pés dos D3O, respondendo ao impulso conectado com o líbido. Palmas. “Thank you all for being here”. Quando sobe ao palco um homem de t-shirt vermelha, e que dança entre os dois guitarristas, este retira gradualmente a atenção à música dos D3O. E o que parecia ser um acto isolado, passa a ser alargado aos jovens bailarinos, o palco torna-se escasso para tanta gente, que atiram com um microfone para o chão, e ainda ocupam o microfone de Toni Fortuna, com uma tonta entoação. O caos é continuamente contido, e o que começou por ser uma mera presença do homem da t-shirt vermelha passa para o domínio da idiotice quando faz gala de um striptease parcial, revelando a gordura felpuda. Os D3O são reféns dos seus fãs, mas continuam a debitar o seu elegante e potente Rock and Roll, até ao fim do concerto, em que são aclamados apoteoticamente pelo público.

Subway Riders + D30 , 29 de Agosto. 30 de Agosto, Gliding and Barnacles, Garagem da Auto Peninsular @ Figueira da Foz