segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Pop Off

Noite de Inverno tropical confisca o frio ao Dezembro que se vê excluído da sua estação. Na margem norte do Tejo, junto à Bica no Sapato, um paquete espera pelos turistas de terceira idade que estão a visitar Lisboa em autocarros. O Lux tem nova decoração que reflecte a contemporaneidade em diversas disciplinas das artes visuais, o valor acrescentado é a heterogeneidade. A reunião na sala de concertos é a propósito de “Equilibrio”, o último registo de originais de Balla, banda de um homem: Armando Teixeira, uma das figuras mais prolíficas do cenário pop com carimbo português, fez parte de inúmeros colectivos, o mais reconhecido é Da Weasel, que abandonou durante a década de noventa. Armando Teixeira entra em palco com um objecto nas mãos que irradia luz branca, a sonoridade é próxima de um tremelim electrónico e as máquinas fotográficas disparam assim como palmas que instigam uma histeria contida. As luzes acendem-se e exibem a silhueta de Armando Teixeira, magro e de olhos grandes a rasgar o rosto e com nariz rectilíneo, se parece um lobo é porque o seu corpo cobre-se de negro para se saciar da nossa alma para ser mais forte, mais humano. A sua voz é grave e a gestualidade está presa ao microfone revelando introversão e timidez, mas os acordes são alegres. “Como mais ninguém”, o coro gravado: “EEEAAAOAO”, o beat é pesado que convida a dançar, “reflexo numa montra que nos viu passar”, voz de Balla: “OOLALA”, coro, “EEEEAOOO”, a constatação “quando me encontras forte como mais ninguém!”, “e sabe tão bem”. “Boa noite!”, os acordes agudos da guitarra levam-nos para junto de David Bowie, na sua fase Berlim, misturado com Kraftwerk, “com isso”, “e tudo em nós será querer”, “silêncio”, e instaura-se a melancolia, “gozo”, “tudo em nós será”, “quis ser”, “dedos nos teus”, “querer”, “quis ser”, “nada me consome mais”, mantêm-se o ritmo pesado da electrónica. No terceiro tema o baixo samplado ganha preponderância, que é entrecortado pelas teclas, “corpo”, cinético-erotico, “não vou ter medo, nunca mais”, “não deixes espaço dentro de mim”, “nunca mais”, coro: “Ei”, os teclados repetem os acordes da guitarra: “será de mais?”. “Estamos aqui a apresentar o nosso quarto trabalho: ´Equilibrio`, aproveitem!”. O meio-tempo arrefece a sala ligeiramente, black-blues, “diz-se”, “tempo”, teclado kitsch. A pop binária: “desejo”, “saltei”, “tem cuidado contigo”, com o teclado a ser a força dissonante dos Balla. Liliana é convidada a acompanhar Armando Teixeira, enverga um vestido cor-de-rosa claro de alças e meias de vidro com um padrão amazónico, a música é lenta, a letra paradoxal, está-lhe inerente uma sentença: “Vai-te embora, vai-te embora já”, a voz grave é secundada pela de Lili, ele diz-lhe: “Eu não gosto de ti, mas tu gostas de mim”, a impotência perante a sua beleza omnipresente: “Toda a gente que gosto apaixona-se por ti”. A contradição: “Não posso negar que sou doido por ti”, o slow-tétrico é um contínuo jogo de espelhos. A sexta canção divide-se em duas partes, a primeira tem ritmo lento pontuado por discretos break-beats: “sombras”, “as tuas mãos a fechar”, solo da guitarra, “o vento fuma”, “sombras”, “é o 12º dia”, pop-blues, “as tuas mãos a fechar”. Na segunda parte o ritmo acelera, “respirar”, “sinto”. A “tempestade”, está por chegar através dos “ventos do Norte”, o ritmo muito curto, para dançar como um robot: “já subi”, “não dormi”, “paguei”, “fraco”, a voz de Lili: “é o vento”, “dentro”, Armando: “já subi”, “nunca fui tão forte”. A seguir, “a minha favorita”, “Lixo”, da bateria ouve-se o bombo, a guitarra de três acordes dedilhados lentamente, a canção convoca à terra que o viu nascer João Aguardela quando encabeçou o fado do futuro na Naifa: “ouve o que eu vou fazer”, “espalhavas o segredo”, “porque eu sou lixo e tu também”. O último convidado de Balla é Samuel Uria, mas Armando avisa que “não é um dueto romântico”. A censura alicerçada no ciúme: “não gosto de ver-te pousar”, pop para danças de salão, “vou até ao fim da luta”, “tanto mal”, “falar”, “mas eu não sou”, “não vou”, mas vai, “não vou até ao fim da luta”. A electrónica ganha contornos de relevo acelerado, e a impossibilidade a incapacidade a frustração: “não me vais encontrar”, “a passar”, “não tenho sete vidas”, “não quero saltar antes de tempo”, “a passar”, “não tenho sete vidas”, “não quero saltar antes de tempo”, instaura-se uma florescente união psico-distorcida repetitiva, palmas e histeria, conjugam-se mutuamente. O penúltimo tema, é electro-pop, “gostava de ti, eu nunca dei um passo sem um dia o inventar”, “ninguém”, “sonhar com outro futuro”. “Foi muito bom voltarmos a Lisboa! Obrigado a Miguel Esteves Cardoso, Pedro Mexia, Luís Peixoto, Luís Varatojo, Samuel Uria, à Liliana” e aos músicos que acompanham Armando Teixeira que permite que a música se transforme numa filigrana que ao ser compósita revela-se em sonhos pop off.

Equilíbrio, Balla, 10 de Dezembro, Lux/Frágil @ Lisboa