segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Uivo

O documentário “Uivo” de Eduardo Morais marca os cinco anos da morte de António Sérgio e atesta que este não foi unicamente um radialista mas acima de tudo um homem que através dos seus programas revelou um ecletismo que o destacou dos seus colegas. Os entrevistados são músicos, radialistas, jornalistas, amigos e familiares e o ponto que os une é que existia em António Sérgio uma vontade expressa de representar uma minoria que não encontrava nos media um espelho no qual poderiam encontrar o seu reflexo. Ao colmatar este vazio António Sérgio é a voz de uma geração que quando sintonizava, por exemplo o “Som da Frente” (1982-1993) descobriam um líder que personificava uma marginalidade imposta pela sociedade. Numa época em que a internet era uma ficção e o acesso a determinados discos tinha que ser realizado através da sua importação. António Sérgio tem uma história profissional que é responsável pela produção do primeiro álbum dos Xutos e Pontapés “78/82” e do patrocínio de inúmeras bandas portuguesas como os Gift. Acima de tudo o António Sérgio usou a rádio como meio para difundir os géneros musicais Punk/Pop/Rock/Noise/Metal que eram rejeitados pelas rádios que difundiam uma estética imposta pelas multinacionais que exigiam o retorno imediato aos seus músicos. “Boa noite Coimbra. Cumpre-nos estar de novo em Coimbra com os Subway Riders” é a voz de Jinx o cantor e guitarrista dos Dirty Coal Train que é acompanhado por uma femme fatale na guitarra e eléctrica e por uma jovem na bateria. O percurso que iniciam é pontuado por garagens situadas numa cidade falida como Detroit como se as guitarras de Jinx e da Femme Fatale estivessem configuradas numa sujidade melódica. Disso é exemplo a quarta canção em que a distorção é preponderantemente entrecortada pelos breaks da bateria de Lena Huracán Coltrane. A quinta canção é de uma pulsão lenta mas pesada e as guitarras transportam-na para uma Pop incinerada. A sexta canção, deriva de um ritmo sujo e a nervura a céu aberto das guitarras de Jinx e da Femme Fale uivam: “EYEY”; “AAA”; “UAU”, instituindo alternadamente riffs viscerais sobre o ritmo pesado. A sétima canção tem um início tépido mas pesado que é gradualmente altercado pela dupla de guitarras: “I mean”. Na oitava canção o Jinx e a Femme Fatale cantam em uníssono sobre o ritmo acelerado das guitarras semi-distorcidas: “I love you”. “UAUAUA”. A nona canção tem pouco mais de dois minutos mas o que a torna mágica é o saxofone de Pedro Calhau que minimalmente transgride por entre a malha garage realçando o seu carácter de urgência Jazz. E após a última canção do alinhamento fica um eco que ressoa nos ouvidos do Salão Brazil e o transformam num espaço conspurcado por um pecado original. A segunda banda a subir ao palco do Salão Brazil são os Subway Riders que apresentam uma Pop eclética em constante desconstrução que é acrescida pela voz de Carlos Subway que se impõe como um denominador do absurdo. Nas canções em que esta vertente não é seguida, sobressai o kitsch da guitarra eléctrica de Victor Torpedo que encontra no teclado de Augusto Cardoso um cúmplice que lhe dá espaço para elevar cada um dos seus acordes ao Olimpo. A terceira canção tem uma enunciação de um flamenco embriagado que é dançada por Calhau Subway e este episódio revela acima de tudo que os Subway Riders não têm pretensões de particionar uma vida agrilhoada a um sistema económico-social que os torna recipientes de faits divers. Na quarta canção apropriam-se do México, na seguinte param na Jamaica, e a quinta é um “clássico low fi”. A entrada em cena do Marquis de Cha Cha: “Um génio de Portalegre que vai fazer um dueto com o Calhau”, surgem passarinhos a namorar à janela de um hospital psiquiátrico. A sexta canção é apresentada por Carlos Subway: “Agora vamos tocar uma canção do Marques” que é dominada por um beat atmosférico viciado num groove dançante. A sétima “I can`t get no satisfaction” é dominada pela guitarra eléctrica de Victor Torpedo que reproduz os acordes da canção dos Rolling Stones sem os mimetizar antes oferece-lhe um minimalismo rock and billy. “James Brown” é uma sátira à soul mas envolvida numa convulsão constante. “África” tem um loop melódico produzido pelo teclado de Augusto Cardoso que é repercutido acidentalmente pelos Subway Riders. Para encerrar o concerto convidam os diversos músicos presentes na sala a subir ao palco, melodicamente surge uma substância espessa que trama uma opacidade sonora.

“Uivo” documentário de Eduardo Morais, The Dirty Coal Train, Subway Riders, 8 de Novembro, Salão Brazil @ Coimbra

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Fado Alexandrino

Sobe ao palco do Salão Brazil a Joana Tê a responsável pelo festival multidisciplinar Re-Factory alusão à Factory de Andy Warhol em New York e à Factory de Tony Wilson de Manchester. Joana Tê discursa através do microfone: “Boa noite a todos. Bem-vindos à segunda parte do Re-Factory”; a tarde havia sido ocupada com o concerto dos Nó Cego, documentário, conversa com os Subway Riders, exposição de pintura. No palco do Salão Brazil estão os Vaginas Convulsivas constituídos por um trio: baixo, guitarra, guitarra e teclados e voz. A música que executam é apoiada num minimalismo low fi pontuada pela guitarra de Pedro Calhau que peja as canções com uma suprema vertente western do Ennio Morricone. A voz de Carlos Dias é um declamar cantado que causa inicialmente uma estranheza que se entranha e que não deixa que os presentes se ausentem para parte incerta. Quando as programações ganham corpo diáfano de pedra a partir da qual das quais a guitarra eléctrica de Calhau e o baixo eléctrico de Sérgio Cardoso a espessura sónica é arrepiante por apelar pelo desconhecido, um salto no escuro do escuro, um fechar de olhos que vê para dentro e perscruta a inconsciência com o seu labirinto de esgares que instigam o medo. Carlos Dias antes de executar a derradeira canção da noite despede-se da seguinte forma: “Vamos então tocar a última. Não sem antes de acabar, darmos os parabéns à Joana Tê por ter organizado esta coisa toda!”. Os segundos convidados do Re-Factory são os Cavemen, um trio de rapazes com uma formação clássica de banda de rock constituída pelo baixo e voz, guitarra e bateria. Os meus rascunhos apontam para termos como: “repetitivo”; “ritmo and blues”; “estereotipado”. “Somos os Cavemen aqui de Coimbra”. A execução dos Cavemen do rock and blues é de facto irrepreensível, mas este poderia ser facilmente descartado se as canções tivessem alguns laivos de originalidade, algo que é deficitário na sua linguagem à la carte, resumindo-as a decalques apresentados em diferentes ritmos para dessa forma ganharem um caracter artístico, logo único. Este vazio repercute-se no ouvinte de duas formas: a familiaridade do género leva-o a gostar dos Cavemen; na falta de soluções que acrescentem algo mais às canções impõe-lhe um tédio pernicioso. Os Cavemen têm humor: “Conhecemo-nos na caverna”, três jovens ambiciosos que se um dia se distanciarem das raízes que prendem a caverna à Terra poderão emancipar-se artisticamente. Surgem os míticos M`As Foice que envergam fatos diversos: há três palhaços, um cowboy com balões, mafioso e um lutador de judo de quimono com balões, banda histórica da cidade de Coimbra por se terem insurgido artisticamente contra a ordem estabelecida imposta pela cultura académica e consequentemente opunham-se a uma cidade que em 1987 ainda vivia da memória dos fados de Coimbra compostos por Zeca Afonso. Um transístor assinala a existência de “António Sala” e de “Júlio Isidro”. “Destino Coimbra”. Toni Fortuna é um homem educado e sublinha: “Queria agradecer gentilmente ao Salão Brazil por este chocalho”, exibe-o e lança um olhar tresloucado sobre o público. Ouvem-se badalos e chocalhos é a ruralidade a invadir um ambiente profundamente urbano e através deste paradoxo revela um Portugal de minifúndio. Nito é o Cowboy destemido, homem alto e de estrutura totémica, as suas palavras são de ordem: “Cá mais prá frente!”; e ameaçador: “Devo lembrar que o meu microfone chega aí!” e aponta ameaçadoramente para a plateia que esgota o Salão Brazil. “Obrigado capital do Rock”, o ritmo da primeira canção é curto, “pessoal”, “latada”, os balões arrebentam e largam pó talco, a guitarra eléctrica do Palhaço Triste expele um riff rock and roleiro que se impõe como denominador comum, “não sei, não sei”. Toni Fortuna encarna no Judoca educado: “Obrigado!”, o seu papel é o de um desestabilizador por se retratar como se fosse um atrasado mental com pronuncia beirã, o tolinho da aldeia, o acólito que acompanha o padre na pascoela para se embebedar gratuitamente. Judoca: “Pró caralho!”. Cowboy: “Quarta-feira”; “Quinta-feira”. Os M`As Foice impõem uma pausa ao rock. O Judoca recebe uma chamada telefónica e responde com a sua pronúncia que sublinha as palavras de um sibilar de uma cobra perdida no pinhal: “a sério, bâton, capim”. “ir prá merda!”, os M`As Foice mantêm a propensão rock até ao fim, “prá estudante, vai anda merda!”. A segunda canção tem como propulsão o baixo eléctrico do Palhaço Alegre e a guitarra eléctrica do Palhaço Triste, ouvem-se galinhas a coaxar como rãs embriagadas durante o eclipse da Lua. O ritmo é popular mas não é popularucho, antes uma satírica às canções de bailes onde os casais namoravam na época da vindima ou na colheita da espiga. O Cowboy e o Judoca intervêm na sátira: “Lalala pospos”, o solo da guitarra eléctrica do Palhaço Triste inculca-lhe uma urgência festiva que é repercutida pelo do baixo eléctrico do Palhaço Alegre, explodem balões na cabeça do Judoca como se fossem balas a perfurar-lhe o crânio mas a substância que daí emana é um pó que foi inalado pelo inadaptado da “Laranja Mecanica” antes de brindar com Moloko a vitória de mais um crime gratuito. A harmónica inscreve-se numa contemporaneidade pertinente, a fornecer à canção um tónico que impõe a disruptiva. Explodem mais balões que inundam o palco com uma propriedade lunar mas simultaneamente tóxica. Na terceira canção o Judoca num loop: “Houve um dia ao entrar na porta, na janela”, que é absurdamente entrecortado e transforma o desportista do oriente num gago digital, por fim o Judoca consegue libertar-se da sua anormalidade e resume: “A porta era uma janela que tinha saída”. A estética que os M`As Foice se propõem explorar é o Rock, “no futebol”, mas as palavras de ordem do Judoca e do Cowboy remetem para um universo festivo de jovens a delirar com a estupidificação. “Mau Maria e era tudo o que eu mais queria”, o baixo eléctrico do Palhaço Alegre transporta-a para o colo de um Blues mas que é metricamente proscrito pelo solo da guitarra eléctrica do Palhaço Triste, “coração”. Explodem balões que exortam o despertar do público que não se consegue abstrair da progressão hard rock que a remata com laivos épicos. O público ovaciona os M`As Foice. A quarta canção tem como potenciómetro o baixo eléctrico do Palhaço Alegre, o Judoca entoa manhosamente: “É pá franja só uma vez se usa franja”. “É pá franja só uma vez se usa franja”. “É pá franja só uma vez se usa franja”. “É pá franja só uma vez se usa franja”. A secção rítmica responde em bloco a este refrão através de uma pontuação curta e repetitiva, as guitarras do Palhaço Triste e do Mafioso revertem para um universo Rock, mas é a entoação do Cowboy e do Judoca satirizam o fado através da onomatopeia: “Lalareirei”, “Lalareirei”, solo semi distorcido da guitarra eléctrica do Palhaço Triste. “Emocion hurts”. As cores que os Mas Foice procuram evidenciar são naturalistas aplicadas na tela de forma abstracta satírica. “Sejas de Coimbra”. O cowboy: “Dunas são como divãns”. O Judoca atira-se sobre a plateia. E por fim um conselho oportuno de um padre ébrio: “Não se preocupem que as nossas mães lavam tudo”. Na quinta canção os Mas Foice desferem um Rock dominado pela bateria hard rock da bateria do Palhaço Rico e pelas guitarras distorcidas do Palhaço Triste e do Mafioso, “AAAA” , “não o quis”, a progressão que encetam é uma virtuosa analogia à estética hard rock com madeixas hair metal, “a gaja não o quis”. A sexta canção tem como premissa a bateria do Palhaço Rico e o solo do baixo eléctrico do Palhaço Triste impõe um Rock and Roll preponderantemente demente pois estilhaçado pelos riffs da guitarra semi-distorcida do Palhaço Triste. O Cowboy possui a dona de casa como se fosse “uma meretriz”, um balão explode junto à cabeça do Judoca expelindo esperma em pó e os M`As Foice convertem-se em hard rockers saídos de uma garagem de teias de aranha. Antes da sétima canção o Cowboy é cordial: “Esta música é dedicada a toda à gente que ainda tem borbulhas” e questiona: “quem é que aqui ainda tem borbulhas?”. Da plateia a resposta é um gélido silêncio que os impede de insurgirem-se contra o insulto disferido do palco: “Imberbes!!”. E baptiza a sétima canção; “A próxima música chama-se ´Acne Juvenil`”. O riff distorcido da guitarra eléctrica do Palhaço Triste apresenta uma exortação violenta repercutida pela secção rítmica, o Cowboy e o Judoca entoam uma ladainha infantil que se impõe através do absurdo: “Há muito perdi a vontade de brincar”. “Há muito perdi a vontade de brincar”. “Há muito perdi a vontade de brincar”. O Judoca dança e atira-se como uma estátua sobre o palco instalando uma tensão angustiante, e reina a contínua exortação do Rock destinado a ser vivenciada durante a adolescência em que a realidade perde o seu carácter determinista. A oitava canção é iniciada por palavras de ordem do Judoca: “Esta merda toda em conjunto!”, “o que andam a fazer caralho?”. Os M`As Foice introduzem o Blues com pigmentação proficuamente kitsch disso é exemplo o solo da guitarra eléctrica do Palhaço Triste, o ritmo relega-se para um arrastamento de mãos sobre a areia de um deserto iluminado pela lua. “E uma sopa de feijão?”. A guitarra entrecortada e semi-distorcida do Palhaço Triste ensimesma-se do Blues e consentaneamente realça o seu carácter kitsch. “Bacalhau à portuguesa”. O solo do baixo eléctrico do Palhaço Alegre não é mais do que o prolongamento da escala típica do Blues para ser o nervo que sustenta a oitava canção vilipendiada pela guitarra do Palhaço Triste e secundarizada pela do Mafioso. “Cheiro a merda”. “Bacalhau à portuguesa”. “Laralaralara”. O Cowboy em discurso directo: “Na impossibilidade desta possível”. O Judoca impõe um suspense inspirado na Agatha Christie através da frase destituída de lógica: “Como se canta isto?”. A veia que os M`As Foice exploram é a Pop para ser incluída numa playlist de uma rádio que tem como target uma creche com crianças enlouquecidas por causa do consumismo paternal: “Pingo Doce venha cá”. O Cowboy e o Judoca numa entoação adolescente: “Coca, Coca Cola Billy, Coca, Coca Cola Billy, sou um Coca Cola Billy com poupinha no ar”. Anulam a Pop para deficientes mentais quando as guitarras eléctricas semi-distorcidas do Palhaço Triste e do Mafioso inscrevem a nona canção num hard pop contaminado pela adjetivação kitsch. “Coca, Cola Billy”, a bateria do Palhaço Rico encurta o seu ritmo, “reggae”, “Angola” e a melodia africana é devedora ao Duo Ouro Negro envenenados por cogumelos alucinogénios. Os M`As Foice enquadram-se numa vertente predominantemente rock pub que é contaminada pela guitarra reggae do Palhaço Rico e do Mafioso e aparentemente surgem troncos de canábis a serem incineradas em Auschwitz. O Cowboy ganha balanço e faz-se à plateia que não é violentada pela correria enlouquecida de um Totem humano; e por fim o hard rock encontra-se nas harmonias rudes e aceleradas. “Coca, Coca Cola Billy”. Palmas. O cowboy descobre: “Só coca no chão” e insulta o público: “Drogados!”. Palmas. Segundo o Cowboy os M`As Foice podem tocar: “Duas músicas e meia! Só para vocês!”, e o Judoca informa: “que há um incêndio aqui ao lado” e nem o seu sotaque de Cardeal Cerejeira credibiliza a personagem e consequentemente não instala o pânico na multidão, mas não desiste e profetiza um digno fim para os fãs dos M`As Foice: “Morremos todos queimados!”. A décima canção é dotada de um ritmo com uma protuberância infantil mas gradualmente o Palhaço Rico posiciona-a numa vertente dois por dois vilipendiados pela guitarra semi-distorcida do Palhaço Pobre, transcrevem um Rock anti-pedagógico pois demonstrativo de uma severa modelação satírica. “Não estou a fazer nada”; “passear na rua, passear na rua”. O riff da guitarra eléctrica do Palhaço Pobre sustenta a canção através da sua contínua presença perturbante, o Judoca modifica o seu timbre adolescente para o de um monstro que devora os ácaros: “Terror”. “Todos os dias eu passeava”. O ritmo Pop é imposto pela bateria do Palhaço Rico conspurcado pela guitarra de arame farpado do Palhaço Pobre. O gozo é permanente como o estado de espírito de um sem-abrigo que se ri dos escravos das cidades que para ele não passam de erva daninha que lhe dão esmolas misericordiosas: “AIAIAIA”. Pausa. O Cowboy aponta com a sua mão direita para o tecto do Salão Brazil: “Ele estava”, “mas”. O judoca: “Emergência”. O Cowboy ensaia deslocar-se por um cabo de metal com uma vara nas mãos para o manter seguro enquanto se deslocado por entre arranja céus. O Judoca com sotaque castelhano: “Lolita e seus sapatos” de bailarina virgem para seduzir Woody Allen. Por instantes a métrica Pop funde-se à Rock e a melodia é um sedutor zumbido melódico proveniente de uma esfera suspensa no espaço à espera da sua cara-metade com cicatrizes de robot hominívoro. Os M`As Foice transcrevem as harmonias de um casamento de ciganos da Mancha em que reina una fiesta que festeja o fim da virgindade da Lovenita. A valsa é o último acrescento à decima canção: “EIEIEI”. “EIEI”. A décima primeira canção tem um elixir de baile mas a melodia quente que os M`As Foice membros ponderadamente executam é um “Fado Alexandrino” que não foi escrito por António Lobo Antunes. O Cowboy encarna no fadista vadio que cruza as ruas sujas do Bairro Alto com bordéis emancipadores de jovens perdidos na cegueira provocada pelo estímulo do líbido. O Cowboy é fiel aos seus segredos; “De quem eu gosto nem as paredes confesso”, ele e o Judoca levantam os braços a celebrar uma portugalidade de papel de cozinha chamuscado pelo terremoto de 1755. “Não gosto de ninguém”. Palmas. Na última canção os M`As Foice inscrevem-se num pendor Rock repetitivo da responsabilidade do baixo eléctrico do Palhaço Alegre e da bateria do Palhaço Rico que sustentam o refrão: “É Mas Foice”, numa toada à laia de um hino de futebol que é pontuado por ovelhas clonadas que procuram o seu pastor numa deambulação perdida sobre a lava petrificada. O público acompanha o Cowboy e o Judoca: “È Mas Foice” numa festividade digna de ser inscrita na nossa memória futura.

Re-Factory, 01 de Novembro, Salão Brazil @ Coimbra