segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

New York

O meu bloco de notas, está manchado de ritmos afro minimal, baixo pulsante, e vozes fantasmagóricas. O ecrã acompanha a narrativa musical de uma forma cinestésica, Panda Bear é alto magro, veste casual, dedilha o baixo e canta, como se fosse um homem-soundsystem. O jogo sonoro que cria através do sampler, que manipula durante as canções, torna-o num Dj cibernético, entre Frank Zappa e Brian Eno. Conjugados por um vértice de agonia, sombria, quase esquizofrenia, Allen Ginsberg e William S. Burroughs, a queimar ópio em Marrocos. Hipnose, o público no Lux, dança ordeiramente, acentuada presença de adolescentes. Há diferentes graus de profundidade em cada um dos temas, que formam melodias circulares, que se conjugam como um remoinho obscuro, esquizofrénico, violento, “robot”, “robot.” Panda Bear processa a voz através do sampler, um eco, que ora constrói ou destrói as frases seguintes, impondo um paradoxo que se revela em distanciamento. Aceita timidamente as palmas quando decompõe um tema ao subtrai-lo à distorção, acto de violência premeditada, que gera o grotesco. As colunas irrompem a partir do chão, confiscando, aos presentes a incapacidade de fuga do indutor musical-visual, num cenário de néons que pendem do tecto, apagadas. A luz que percorre Panda Bear heterogeneamente é o vermelho e o azul, assumindo a dupla figura: a humana e a digital. O ecrã é como o seu alter-ego, o seu duplo, que converge para a disfunção, associação é realizada através do onírico, é aí que preside o transcendental.

Panda Bear, Lux/Frágil, 13 de Fevereiro, Lisboa.