domingo, 17 de outubro de 2021

Stranger Music

 

A Festa d`Anaia divide-se por duas noites (Sexta-feira e Sábado) e a tarde de Domingo no Centro Cultural e Recreativo da Pena, na sala rectangular e de dimensões consideráveis irão decorrer os concertos de Cave Story ou de Gator the Alligator; os primeiros apresentam um testemunho sonoro assertivo e associado à uma pop lo fi que por vezes se aproxima de um discurso em que as guitarras distorcidas dominam, nunca ou sem nunca deixarem de lado a componente pop que na génese é o que lhes dá um sentido melódico suficientemente apelativo; Solar Corona é um compêndio de diversos géneros musicais que não encontram relação uns com os outros como se cada canção fosse executada por outros músicos que não aqueles os que compõe os Solar Corona, com a agravante dos decibéis serem de tal forma altos e agressivos que a rejeição é instintiva; Fugue são na essência rapazes ligados ao tecno (ou um derivativo deste género), mas o problema que se põe é a incapacidade de personificação dos beats, resumindo-se à contínua repetição dos mesmos sem que haja uma verdadeira ou definida destrinça de canção para canção; Joana Espadinha um caso único, isto é, tem melodias pop delicadas e outras dançantes e a coroa-las a sua voz doce, que lhes dá o cunho de serem representativas das preocupações de uma jovem que recentemente foi mãe, mas que à audiência pouco esteve interessada no novo capítulo da vida da cantora Lisboa, para além disto ainda dança e é de uma simpatia arrasadora, pode ser que seja a voz da sua geração e se assim for representa o futuro da pop composta em Portugal; Marinho corresponde a uma jovem a tocar viola acústica e a cantar em inglês e a aproximar-se a cantautores das Américas seja dos Estados Unidos, Bruce Springsteen do qual toca uma versão, do Canada a Joni Mitchel ou o Leonard Cohen, fora destes dois grupos o Lloyd Cole ou o José Mário Branco do qual toca “Inquietação”, estas referências primam por serem de estrutura e de conteúdo complexas, e esta cantautora sintetiza-as de forma coerente o que impregna as suas canções de originalidade; Gator the Alligator um quarteto de heavy metal sem grandes manobras de diversão para adicionar ao género algo mais do que ele já representa.

Festa d`Anaia, 15, 16, 17 de Outubro, Pena, Cantanhede.

sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Book of Mercy

Há dois sexagenários na porta da bilheteira do Teatro José Lúcio que têm bilhetes para venda para o primeiro balcão, por um conjunto de circunstâncias não podem assistir ao concerto dos GNR, umas das poucas aparições do trio neste ano— isto devido aos efeitos secundários da pandemia na indústria do espectáculo; os dois idosos estão ansiosos em vende-los de preferência sem qualquer prejuízo, algo que almejam com alguma dificuldade, seria discriminatório converter estes dois vendedores em jovens, assim como grande parte das pessoas que me rodeiam que fazem gala de uma indumentária escolhida para uma noite especial. O concerto tem diversas escalas é iniciado pela hipnótica “O Arranca-coração” e a sequência é marcada pela popularucha “Nova Gente” ou a pop “Efectivamente”, de sublinhar que Rui Reininho não se limita a cantar de forma irrepreensível cada uma dessas canções mas a sua performance versa o realçar do ridículo e neste reverberar expressivo o público ri, este ponto é fundamental para que se tenha em atenção o outro lado da poesia do Rui Reininho que sendo pop é passível de ser desmistificada; “Sub 16”, “Las Vagas”, “Sangue Oculto” revelam uma frescura abrasadora (em especial a segunda), e há ainda a realçar que a maioria das canções sofreram novos arranjos que se permitem ouvi-las sem que tenham as cicatrizes de vinte anos (ou mais…) de estrada e radiodifusão; “Dunas” permite ao ouvinte predispor-se e retomar as tardes de Verão que recentemente findaram, não sem antes tropeçar no lixo e em outros objectos “salgados”, uma história de amor adolescente sintetizada de forma sublime por parte dos GNR. Há como campo de fuga as “Dunas”, mas para a dança de contornos pecaminosos conta-se com “Vídeo Maria” que se eterniza como a canção que tanto joga com o pecado carnal quanto o espiritual, e se ambos estão interligados há um que é o gatilho para que o outro se desenvolva e desse virá os estímulos sentidos pelo indivíduo. De sublinhar que neste ano os GNR completam 40 anos de carreira que deveria ter sido celebrada com pompa, mas dada a situação pantanosa criada pela pandemia é possível que os festejos se realizem no 2022, numa sala perto de si e onde os GNR terão oportunidade de justificar mais uma vez o porque de serem a maior banda pop Portuguesa.

GNR, Os Primeiros 40 Anos, 14 de Outubro, Teatro José Lúcio da Silva, Leiria.