sábado, 29 de outubro de 2022

On The Road

Concerto marcado às dezanove horas na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), mais concretamente no Teatro Paulo Quintela onde John Mercy (isto é, João Rui dos a jigsaw) and the Dead Beats apresentam “West of the American Night” inserido no colóquio “Kerouak 100” organizado pela Secção de Estudos Anglo-Americanos do Departamento de Línguas, Literaturas e Culturas da Faculdade de Letras que celebra os sessenta e cinco anos da publicação deste clássico americano.

É o Jazz que em 1957 dominava os bares bafientos de Nova Iorque, onde se ouvia Charlie Parker ou Miles Davis, que dá sinal de entrada para os músicos que acompanham John Mercy como por exemplo Victor Torpedo, Pedro Antunes, Raquel Ralha, Tracy Vandal e Miguel Cordeiro, e à leitura de excertos do clássico do Kerouak por parte de entre outros Manuel Portela (poeta e docente da FLUC) e das actrizes Margarida Sousa e Isabel Craveiro (da companhia de teatro “O Teatrão); e enquanto decorre o concerto irá dominar a projecção de imagens da América no que aparenta ser o suporte Super 8. O que ocupa os intervalos entre as canções são o jazz e a leitura da obra, ambas estão interligadas já que foi a partir do bebop, isto é, através da sua estrutura de cortes abruptos e criação de novas linhas melódicas ou rítmicas que traduzidas para literatura poderão ser comparáveis ao redireccionamento do raciocínio para assuntos similares e ou próximos ao que estava a narrar Jack Kerouak. Este assimilou o que se poderá denominar uma outra forma de narrativa, ou de estabelecimento de um novo estilo de contar uma história, de alguém que se encontra num quase permanente movimento perpétuo, trata-se assim de uma nova forma de ver o mundo e tudo o que nele cabe e que é passível de ser transcrito para o papel. 

“Holding On” é uma balada rural em que a voz de John Mercy alterna com a da Tracy Vandal e é de uma profundidade exasperante dada a perspectiva que lança sobre a América, o country será substituída pela americana, à qual se somarão outras canções com um recrudescer do ritmo e uma rudeza na forma como são apresentados os seus acordes aproximando-se do country rock. Isto é, apenas uma súmula do foi apresentado neste espectáculo que assinala o aniversário de uma das obras mais importantes do século XX que retrata gente como William S. Burroughs, Allen Ginsberg e Neal Cassady (pertencentes à beat generation).

Apensar de a obra do Kerouak se assumir como uma obra onde o que reina é a mais profunda da liberdade estética, há que contrapor uma realidade de um país dividido entre brancos e pretos onde se viviam inúmeros tumultos sociais, e os polícias se vestiam de Ku Klux Klan para combater manifestações de paz organizadas por Malcolm X (que viria a ser vitima da sua inteligência e tenacidade) assim como do seu congénere Martin Luther King Jr.

Esta América dividida é um traço geral na obra que procura realçar os diversos episódios que foi escrevendo Kerouak descrevendo-a através de uma ruralidade exasperante mas predominantemente é nas metrópoles é que se encontra o olhar de alguém que se detém para transcrever o que lhe sucede e nessa medida dar a conhecer ao leitor o porque de tal lhe atrair à atenção. Viva “On the Road!”, Viva Jack Keouak!.

John Mercy & The Dead Beats, “West Of The American Night”, 28 de Outubro, Teatro Paulo Quintela, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Coimbra.