sexta-feira, 2 de junho de 2023

Tintin au Tibet

O Salão Brazil está lotado à espera da entrada em cena de Rui Reininho e dos seus três músicos que se dividem pelos teclados, guitarra e bateria, sente-se a ansiedade no ar que é satisfeita quando surge o Rui Reininho que interpreta “Aqua Regia”.

Já com a presença dos seus companheiros de banda enveredam pelo espiritual “Namastea” e pelo surreal “Turafões” para desembocarem no “Enfado Vegetariano” uma canção de inspiração flamenca com um poema deveras irónico pois ridiculariza o universo das touradas.

A primeira incursão pelo o oriente passa por “Tan Tan no Tibet” e através de um tema novo “Japan” cantado em mandarim, algo que causa estranheza e simultaneamente espanto: como é possível o Rui Reininho cantar numa língua tão estranha à nossa?

“Quando um de nós morre, sete se levantam…”, numa lembrança ao recente falecimento do músico dos Ornatos Violeta, Elísio Donas, ao qual dedica a fúnebre “Palmas”.

“Animais Errantes” é o reflexo das substâncias que nutrem o “20.000 Éguas Submarinas”, o segundo álbum a solo do Rui Reininho e que expõe através de um conjunto referencias estéticas, na sua maioria de pendor assumidamente experimental tentando quebrar a lógica pop/rock que é popularmente é consumido, nesta canção exacerba-se essa vontade de liberdade com a conjunção dos músicos a levarem-na ao extremo como se fossem vértices contra vértices num jogo de geometria autodestrutiva recriado pelo Almada Negreiros. 

Um dos temas do álbum “20.000 Éguas Submarinas” é o mar como elemento agregador de uma nação como Portugal que teve como desígnio atravessa-lo e de certa forma ser dono e senhor de um caminho marítimo para a Índia, este fado parece que se espraiou na alma portuguesa e se repetiu noutras aventuras que deixaram uma marca indelével na alma lusa. O mar no último álbum do Rui Reininho tanto liberta como é um elemento asfixiante assim é “Hidrofone” como em “Fartos do Mar” ou no majestático “…The Sea…”, como fossem os três últimos fôlegos de um naufrago.

 Por fim uma lembrança do álbum “Os Homens não se Querem Bonitos” (dos GNR) um tema composto por “Alexandre Soares” o guitarrista que acompanhou os GNR até 1986 e que faz parte da banda que aqui se apresenta a defender uma história musical que começou à três anos; “Sete Naves” que encerra um concerto memorável pois na génese se reinventou gradualmente relegando para os píncaros dos sentidos todo um manancial onde por vezes pontua a loucura numa procura através desta da liberdade do espirito.

Rui Reininho, “20.000 Éguas Submarinas”, 1 de Junho, Salão Brazil.