quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

El Cementerio De Los Barcos Sin Nombre

E se durante a manhã o nevoeiro apague o rosto maquilhado a pó de terra e se a chuva se retenha no seu rosto e o manche de lágrimas coloridas que pingam sobre o soalho em madeira que escurece o seu brilho e formam uma caveira perfurada pela tristeza que copiosamente se exorciza e se transforma numa memória onde somente existe essa figura nova velha ou morta de pétalas que perfumam os campos onde o pastor assobia às suas ovelhas que são orientadas por um cão fiel aos desígnios da arte do pastoreio e verdade vos digo que sem eles este campo seria uma selva de virgens desorientadas durante as estações do ano que sem fé são somente ovelhas para abate; From Atomic apresentam-se através de canções de teor onírico a partir de uma pop de teor predominantemente negra mas melodiosa algo que é por si só deveras cativante há ainda um segundo vector que é o rock e esse deriva do noise e esta conjugação causa estranheza que gradualmente se entranha e se por vezes raiam o épico isso deve-se à segurança com que sonicamente se extravasam para um domínio em que se suplanta a perdição; e se a contemplação é o desígnio das almas que petrificadas são objecto de estudo por parte de historiadores de arte cegos e mudos que as tacteiam para as enquadrar estilisticamente e historicamente e o resultado é inconclusivo e não esperam por outros objectos que estão espalhados no futuro e porque é assim é desafiante refazer uma história por contar às crianças que esperam pelo conto de encantar que as liberte dos atritos do dia segundo a qual seguem o desígnio de que um dia talvez um dia tal como os pais sejam outros pais e mães de outras crianças à espera de acordar para se infiltrarem no horário escolar onde são obrigadas a estudar para que não sejam marginais como os pais que são uns anjos para com os toxicodependentes mesmo que sejam os da morte e se um dia sejam perpassados por um outro destino talvez tenham lugar no céu ao lado de outros tantos traficantes de carne humana ou de pó de corno de rinoceronte e de mulheres destinadas a bordeis onde se escravizam em troca de um prato de lentilhas; The Parkinsons são o gang que irresponsavelmente se diverte através do punk e que o torna numa equação em que domina uma perspectiva para o abismo seja da relação dos músicos em palco (em constante movimento ou a confrontar e assediar o público para que instalem a anarquia) assim como o risco de as canções serem bombas em constantes e circulares explosões no ar e ou em espirais em que não há percepção do principio do meio e do fim numa apropriação sónica com origem no jazz e a somar a estas consideração há a destacar a guitarra eléctrica (épica) e a postura demente do Victor Torpedo assim como a performance do Alzheimer isto sem esquecer os restantes músicos de uma competência extrema mesmo a exorcizar o caos; verdade vos digo que a condição destes seres é de uma pobreza que os consigna a pertencer a um tempo que não é o de festejar antes se o ignorarem é um acto de covardia haja turbulência nos vossos corações cozidos à uma harmonia hipócrita à espera de um milagre de um santo de fancaria por lhe ser impossível analisar e resolver as contradições que vos prendem à vida e resolver o insolúvel e se há estrelas a reflectirem nas poças de água é sinal de que as ruas são canais onde se espelha um infinito cósmico que gradualmente são escurecidas pelas nuvens que cercam os contornos da lua tornando-a tão enigmática quanto sedutora talvez esteja tão longe quanto o tempo que me separa do seu rosto que paradoxalmente desconheço talvez seja somente um ideal utópico que continuamente me ostraciza numa casa com grades de ferro que se limitam a separar-me das palavras lavradas em terreno fértil se a seu cérebro é um girassol e a sua boca um continuo inquieto por dactilografar a minha pele um diário de inúmeros e contrastantes universos paradoxais que se erguem em monumentos a soldados desconhecidos com flores mortas aos seus pés de barro amém vos digo que se um dia perecer que seja em nome de um sacrifício tal como o meu pai.

The Parkinsons + From Atomic, 24 de Dezembro, Texas Bar, Leiria.

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Enemies, A Love Story

Juncos cobrem os rochedos abandonados por sereias apaixonadas por escravos de piratas que navegam na deriva dos sonhos que se assemelham a uma tóxica liberdade similar a uma canção que se confunde com as tempestades e os seduz aquando da bonança que os mareia como a mim e não há nada para ver e refazer num cone de papel onde se afunila a realidade e se a ubiquidade é delimitada ao poder de outrem que circula por entre os fortalezas de papel em branco que esperam a violência de um aparo ou o assalto de forças da ordem que as transforme em pó a civilização é delineada a partir da destruição de um outro tempo arquitectónico; Baleia Baleia Baleia é o primeiro convidado do Stereogun e a sua actuação é de uma pobreza que arrepia por a maioria das canções versarem a pop ou rock mas tal é somente necessário para os enquadrar estilisticamente pois na prática resumem-se a clichés muito mal colados de tal forma que parecem uma banda que jamais deveria ter saído da garagem e ainda nota negativa à forma e ao uso da língua portuguesa pois é no mínimo aflitivo ouvir slogans pobres e sem sentido e isto durante uma tortuosa hora (durante a qual pede uma canção que seja escolhida pelo público mas aparentemente desdenha o seu pedido “nós fazemos sempre isto e depois cagamos…” ); e se há chamas têm origem num eclodir de diferentes linguagens que naturalmente se apropriam umas das outras para fecundar numa só que descreve o impossível do acaso e o silêncio que as palavras quebram somente por existirem entre nós que em vez de serem fronteiras são esteios onde gravita o amor erguem-se do lado da outra vez o mistério que contamina os supostos seres malditos por se nutrirem do legado negro impossível de decantar haja Deus ou diabo que o conheça e os tente destruir e se tal suceder que se desfaça em lágrimas cada uma destas palavras sentidas para além do meu coração que bombeia sem que tenha consciência que me dá vida somente porque assim é obrigado por um organismo tão saudável quanto organizado segundo um tempo que estremece ao acordar e ao adormecer num travesseiro de milhares de pérolas que irradiam luz para o interior do meu cérebro e que cultivam imagens que vos dou graciosamente; Cave Story dividem-se em dois pontos o primeiro versa a new wave à qual associam um psicadelismo que lhes confere uma vivacidade atraente as outras seguem uma linha rock que por vezes é punk e são de facto de uma unidimensionalidade atroz provocando desequilíbrio no concerto algo que é deveras entediante; porque amém vos digo que não sou eu talvez um gémeo destituído de saudade e lamurias infundadas que se insurge contra os caprichos e as veleidades de quem se encontra sentado no topo da pirâmide haja destino que me separe dos verbos e dos adjectivos e esta contemplação verbal se reduza a escombros de ossadas e o repudio seja um veneno que infecta com repugnância os vossos olhos de quem está imerso num jogo de lógicas instituídas que enaltecem a existência da alienação e tal está ferido de moralidade; Fugly são um estilhaço punk que é expresso velozmente sem que haja tempo para absorver cada um dos acordes e tal é de facto de salutar assim como a postura de quem está aparentemente a realizar a sua última actuação (épico); desligam-se os interruptores que escurecem as vivendas de fachadas empobrecidas que sujeitas ao cinza parecem de matéria biodegradável em cada uma há famílias abandonadas aos jogos das cartas numa paciência de quem está a por em risco o seu futuro e atrás de cada porta há um túmulo marmóreo onde descansa o rei das espadas e num outro os versos de Alberto Caeiro são declamados por um voz que plana suavemente e tem um perfume a pétalas dissecadas que intensamente se propagam pelas janelas para o exterior onde o frio escurece as árvores e silencia os pássaros que planam em redor do rebanho que é controlado por um cão que os orienta num terreno inóspito e o sol é fumado por nuvens cinzentas atrás das quais continua a brilhar como se fosse um rosto ao qual é anulado a expressão da melancolia e que venha o messias que por vezes envia sinais antagónicos sobre a condição humana.

Fugly, Cave Story, Baleia Baleia Baleia, Festival Super Nova, 8 de Dezembro, Stereogun, Leiria.

domingo, 9 de dezembro de 2018

The Painted Veil

Se me afastar desta nossa senhora e acenda o archote que é o meu pescoço e cabeça dividida entre o bem e o mal é possível que duvide desta sentença e não me acenda como uma estrela cadente que se perde por entre a escuridão que inspira os sonâmbulos a vaguear de rua para rua estreita e suja com esquinas de pedras corroídas pelos dejectos dos pombos e não consigo exibir-me através de ti rosa ou folha caída há semanas de uma árvore genealógica de autores desconhecidos que enterrados numa vala comum com iletrados num livro de memórias vazio de texto ditado pela autonomia de um outro ser que se inquieta com a transversalidade de um tempo que tende para a tragédia escrita por um dramaturgo grego que é filho do joio tal como eu e tu que se esmaga no imediato contra o futuro num triângulo que perfaz um sortilégio de tranquilizantes que se remetem através da veia linhas de terebintina percorrem o vidro translúcido e opaco simultaneamente num grito que eclode e se desfaz em diversos espantos e no lugar do nosso sombreado ateiam-se as línguas bipolares que se enrolam em duas línguas irmãs que se gemem é somente uma sugestão de que o coito é pernicioso porque precisa de um outro ou outra vez e outra sem que haja descanso para o colchão de palha manchado de sangue num corrimento imposto pela mãe natureza essa puta filha de putas que se limita a impor a finitude do orgasmo e a redundância é tão redutora quanto o silêncio; os a jigsaw celebram dezanove anos são e obriga a tradição que se realize no Salão Brazil que correspondem a Jorri e a João Rui acompanhados por quatro músicos: Victor Torpedo (guitarra eléctrica), Maria Côrte (violino, harpa e teclados), Pedro Antunes (baixo eléctrico) e a Tracy Vandal (voz); que emana desta violência como um manto que se dissipa através do tempo sem respeitar o passado ou o futuro e a nostalgia que envenena as plantas carnívoras dilacera os corpos que infectos contemplam a tempestade sem que lhes seja incutido o medo que irracionalmente se propaga por vidas nulas de horizonte ou poema que se ergue para os enfrentar mas a sua razão é incompreendida até hoje e haja quem ainda sonhe imune à solidão imersa na volatilidade de imagens que resumem um desgosto na infância e ainda se julga uma criança pois somente estas têm lugar no reino de Deus; e as canções versam sobre universos dramáticos e por isto de teor fílmico que facultam ao ouvinte a possibilidade de se abstrair e abandonar-se às melodias maioritariamente negras e a banda de Coimbra é mestre em esconjurar os corpos e torna-los aptos a encarar a mortalidade algo que deveria repugnar aos presentes antes estão envolvidos nas canções tais crianças de desconhecem quando é hora de despertar; e se acordar talvez se assemelhe a um adulto que luta em vão contra o envelhecimento e se desfaz o que considera eterno numa intangibilidade em que domina a certeza de que há um espaço onde reina um outro vácuo que confisca as almas que se insurgem contra a impossibilidade de se suprimirem umas às outras para se libertarem de um intermédio que as remete para o purgatório onde estão enclausuradas a definhar por sal e água para que possam ondular elegantemente mas o tirano chicoteia-as para que se mantenham em continência para quando passe o comprador de ovelhas negras de intensidade eléctrica arruinadas e as sombras no Outono agigantam-se como se fossem homens de mãos esfomeadas à espera de um milagre que transforme os rochedos das suas cavernas em pães e há quem empurre um ponto de interrogação sobre a montanha cravada de sobressaltos e adeus vos digo mesmo que esteja contrariado com tal determinação que julgo eterna mesmo que este seja o desconhecido pretexto para erguer uma nova bandeira garante da tão ambicionada liberdade que dividida por todos é centro de uma valia que atrozmente se compraz com a inércia de um pensamento enclausurado em paranóias que evidentemente o subjaz ao medo que se ramifica por entre os ossos e se faz carne que de veias dispersas afluem a um coração faminto por um outro futuro.

a jigsaw and The Great Moonshiners Band, 19º Aniversário, 7 de Dezembro, Salão Brazil, Coimbra.