sexta-feira, 25 de julho de 2008

Bansky

“Violet como é que se faz?, ´Quando me vens com essas métricas a-b-b, não sejas bué C.C, mas mesmo que não dê, mas como é que é? Porque é que é, como é, quando é,é,é,? Tu vais meter essas FF words, porque esses fins de frase, hoje em dia já enjoam, este é o fim da fase, estruturas que não destoam. Boy, eu vim da base, e as minhas rimas já ecoam`”, e, “tu és muito lento, precisas de muito alento para teres o meu talento”, “essa cabeça é monocórdica”, e as A.M.O.R questionam-se: “Será que já ouvi algo parecido?”. São um duo de Alcântara, “elas dançam como eles, cantam como eles, mexem-se como eles, até se vestem como eles”. Quando as vozes de Mi e da Violet se entrelaçam as canções ganham um dinamismo hip hop sedutor, com uma produção imagética do Bronx. “Girls assumam-se como girls que são! Quero ver little sisters em total comunhão, com quem está nas listas de artistas no feminino, eu só te peço que insistas, que tornes o macho num menino”. A revolta das A.M.O.R em “Abecedário”, “eles cagam na cena”. “Cor-de-rosa” é uma obra extremamente ousada e exuberante, estranha e simultaneamente extravagante, as vozes e os beats conjugam-se com a melodia, ora pop sintético, ou, gansta-rap com reminiscências de LL. Cool J., quando era produzido por Rick Rubin em Nova Iorque. Algo que é evidente em “1”, recuso transpor o texto e relatar o circuito das vozes. “O que é que fizeste a cinco de Outubro? Estavas a leste e nós ao rubro”, e, “nós com a agenda vazia o que é que a gente fazia? Vamos mudar a vida em só um dia. Já sei, borá lá ser MCs. Não sei, mas temos raiz? Ouvimos. Conhecemos. Decoramos, yeah nós somos bué rapers! Não temos beats! Temos the beat generation. Não temos griefts!”, “só? Yeah, só? Um ano. Ooooo. Um ano. Oooo. Escrevemos grande letra, arranjamos um grande beat, chamamos-lhe ´Abecedário` e foi um grande hit. Rádios pediram o som. Djs pediram o som! Já nos pagavam copos”. A.M.O.R, “chegou a Inglaterra, Alemanha e Brasil, agora estamos na berra mas chill. Primeiro concerto foi desconcertante, apareceu tanta gente que a porta fechou antes, e quem ficou de fora esperou mais de uma hora, só para nos ver, antes, de irmos embora. Naturalmente convidaram-nos para um segundo gig”.
“Cor-de-rosa” é um CD-R que agrupa três originais e duas remisturas de “Reality Check”, na capa consta um bebé e uma criança, sobre os seus rostos encontra-se grafitado a cor-de-rosa: A.M.O.R. A banda terá álbum em 2010, o que parece longínquo e incómodo esperar por algo tão sexy. Este Verão é abalado com estas canções e que sugere, “ao contrário do que dizias, A.M.O.R é eficiente”, descarreguem da net para o Ipod, Iphone, telemóvel, ofereçam a amigos o futuro do hip hop.

A.M.O.R, “Cor-de-rosa”, edição de autor.

sábado, 19 de julho de 2008

Magnólia

O jardim em declive empurra o público para o palco do Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, que espera pelos The National. Entram no palco suados e a cor dominante das roupas é o negro e o verde, “Start a War”, dá inicio a um concerto que revela novos arranjos em algumas canções, apoiados numa secção de metais discreta mas eficiente. Brett apresenta a sua voz de forma poética, quando “Muder me Rachel” eclode, a temperatura é uma brasa que queima a pele e a cicatriz não é algo passageiro, antes, eterno, pessoal e intransmissível. “You are worst than the irish”, o guitarrista ri, da sua perspicácia perante o público que canta uma música que não irá constar do alinhamento. É certo que estamos perante uma máquina que de cada acorde cria uma instalação sonora que é acutilante e dilacerante, agreste ou delicada. “Fake Empire”, sobre a utopia do sonho e a sua materialização através do amor. Quem esteve neste espectáculo perceberá as diferenças entre o do Alive, que foi oposto, em que Brett desejou “Sun, go down! Down!”, em Guimarães o monumento ganhou por fim contornos de efemeridade que o tímpano jamais irá olvidar.

Festival Manta, The National, Centro Cultural Vila Flor, Guimarães, 18 de Julho

terça-feira, 15 de julho de 2008

Manuel de Brito

Manuel de Brito (1928/ 2005) foi proprietário da Galeria 111, desde 1964, onde expunha autores de vanguarda como Noronha da Costa, Mário Botas, Nikias Skapinakis, Jorge Martins, e Paula Rego. Algo, que foi representativo da sua capacidade de reconhecer antecipadamente o valor estético desta artista, que na década de setenta construía os seus trabalhos através de colagens soturnas e agressivas. Não são essas as obras que constam na exposição colectiva, no Centro de Arte Manuel de Brito, mas antes aguarelas com capítulos de Lewis Carroll. Veira da Silva crava no papel uma fachada de um edifício da Mouraria, ou, o silêncio em dois trabalhos monocromáticos de azul e cinzento de Fernando Calhau. Nesta colectiva, constam os artistas plásticos portugueses mais representativos de cada tendência estética, dos últimos trinta e três anos de democracia. A exposição denomina-se: “100 artistas à Volta do Papel”, este suporte é picotado, esculpido por José de Guimarães numa mascara tribal. O Marchand doou a sua sumptuosa colecção a Oeiras, instalada num Palácio neo-colonial azul com excertos para ganhar espaço de museu. As obras apresentadas (uma infima parte de todo o acervo), apesar de serem de autores díspares, sobrepõe-se uma narrativa e isso é que lhe dá vida.
Em Outubro estará Paula Rego a ocupar a totalidade das seis salas.

12 de Julho, Centro de Arte Manuel de Brito, “100 Artistas à Volta do Papel”, patente de 31 de Setembro a 21 de Setembro

domingo, 13 de julho de 2008

As Vinhas da Ira

Dia de calor ou apenas estufa-fria variante de alcatrão quente, os comboios passam velozmente e acordam as gaivotas que cruzam o céu enviadas para limpar o lixo. As pessoas andam devagar num tempo preciso de submissão à temperatura ardente, fogo, fogueira ou sol onde ardem florestas de almas ou serão corpos no Tejo que banha paralelamente o cenário do Optimus Alive? Postos de abastecimento de Sagres, hot dogs, pizzas, W.C, e há mulheres vindas do estrangeiro, de vestidos de seda até aos joelhos, tops de alças, tops azuis, meias brancas, sapatilhas, saltos altos, pisam a terra batida que separa o palco Optimus e o Metro, pelo meio está uma área de dança, com palmeiras de bambu a imitar o harém do Rui Reininho, de branco a engatar uma adolescente de biquíni que dança sobre a lama. Perco a merda que trazia num dos bolsos onde o papel higiénico é riscado por uma caneta permanente vermelha para me recordar que sou mortal, sanguinário ou simples atrasado mental que não consegue sair da cadeira de rodas. Descubro as a.m.o.r , o duo mais sexy deste festival de ébrios, drogado, alucinado, disparo o flash sobre os seus sorrisos de adolescentes e melenas louras, beijo de despedida, amor? Há quem diga que estou aqui para ver os National? Há quem me cuspa na cara com o preconceito do costume? Envio uma mensagem mas as gaivotas perseguem os pombos para lhes comer a cabeça, excêntrico desejo? Concerto frio e distante, longe do oferecido na Aula Magna, mas com momentos para suspender no museu da arte efémera. Encontro rostos conhecidos que enterrei em Évora, numa peripécia que me levou seis anos de vida, a derreter o tempo para fugir dali, abraçar mar e por fim morrer. Equivoco construído com vista para um futuro perpétuo, relutante e promíscuo, acelero para longe deste precipício, que fere os ouvidos numa Eurovisão que vai ser ganha pelos Gogol Bordello, um número de circo com bailarinas e um violinista que abandonou as ruas de onde nunca deveria ter saído. “Is there someone who wants to fuck me? You can go backstage and I `ll fuck you!”, o vocalista dos The Hives repetiu esta private joke três vezes, e em cada uma delas tentei esgana-lo, partir-lhe a boca com umas botas de biqueira de cimento, para que não se esqueça de mim, aos mortos nada se lhes pode privar, vistam-me de homem aranha antes de entrar no forno, cuspam-me na cara se estiverem vivos. E cantem como Zack, dos incendiários Rage Against the Machine, que rappa contra Bush e toda América branca, preta, amarela, verde, vermelha, que tem o mundo como refém, violento, concentrado de distorção sobre ritmo funk.

Dia 2: Relutantemente escurece e apresenta-se a lua em estado de graça à espera de dar à luz. O vento insinua-se através de uma brisa discreta, suave que me arrepia a pele de caveira datada de 1972, fardo de tempo, peso, leve ou o contrario também serve desde que não peças mais uma música nem cerveja. Ser subjectivo gratuitamente e cair no poço da beleza, que venham todas as mulheres que me levaram ao epitáfio da poesia, e às linhas snifadas de um livro assinado por Cervantes, épico e burlesco, cada vogal ou consoante, verbo difuso utilitário, caixão de cartão para poupar as árvores que nos alimentam a respiração, tóxico solitário. Tenho amigo ausente algures num quarto a compor a melodia que nos falta ouvir, sitiado de máquinas que ouvem o pulsar, cavaquinhos e um megafone, de onde grita o seu nome: João Aguardela. As estrangeiras estão bronzeadas como se estivessem revestidas de uma película brilhante, apalpo e exala o perfume doce, rosto delicado de poesia convexa e sexo introvertido, húmida, um fungo exorbitante de hipérbole. Beijo-a no momento em que Bob Dylan sobe ao palco, com o seu grupo de amigos com os quais verteu umas garrafas de Jack Daniels, enrolou uns charros, e riu. Os meus apontamentos ditam o seguinte: esteve em pé no órgão, e cantou como se estivesse sozinho, as músicas tinham sempre a mesma estrutura, solo da guitarra eléctrica/solo da harmónica de Bob/ a banda atenta as deambulações do mestre, no encore cantou “Like a Rolling Stone”. Foi-se embora, não sei quem é ele, se é o mito se o cadáver do mesmo, enterrem-no de chapéu de feltro e fato preto com uma fita branca nas laterais das calças. Colocam no palco umas esculturas de anjos negros, cópias góticas, mas de esferovite para lhes retirar peso, é colocado um tecelão atrás do baterista e do teclista com um anagrama: Within Temptation, a distorção das guitarras é constante, entra em conflito com a voz etérea de soprano da cantora morena, de cabelos negros compridos, com um corpete e saia brancos, a sua silhueta é o corpo de uma estátua em movimento, que canta histórias da novela das seis da tarde, que o amante fugiu com outra na hora do altar e de enfrentar o padre e outras misérias rocambolescas, “today is my birthday” anuncia a soprano, parabéns.

Dia 3: No palco Metro, sob uma tenda rectangular acumula-se o pó que o vento forte levanta, em cada onda a toxicidade é inspirada, rodam copos vazios, as saias são violadas e os cabelos conspurcados. Um dos donos das roulottes encharca o chão com uma mangueira, algo que é insuficiente para fixar a terra batida, o frio colhe os ossos devagar e poderia fazer uma comparação com algo relutantemente tétrico, mas faz parte do jogo de representação, sou uma simulação de sentimentos, apenas me exibo para me curvar para receber as palmas. Na pista do harém do Reininho vem o tecno que os machos gostam de dançar e as fêmeas pavoneiam-se numa sublime contra-cena, o jogo de costumes que acaba num W.C portátil para anular com a ansiedade. Não sei onde deixei os livros de ponto, onde gravo os acontecimentos dignos de registo, para evitar a repetição e o facilitismo das frases feitas, e ultrapassar um bloqueio artístico. Abandono a angustia e leio sobre os Midnight Juggernauts: “palhaçada com sintetizadores nojentos, um trio de gajos que parece que não lavam os dentes desde que nasceram, não fazem a barba ou cortam o cabelo e as canções são tão más quanto a dos Europe, a única banda familiar nas redondezas deste grupo de vadios que agradam os estetas que ignoram os cânones do belo”, puff, que merda, e onde é que andas? Perdi-te no primeiro dia! Estou sentado a pensar em ti, escreverei um poema eloquente, algo que dissipe a fealdade deste cubículo, esteja o céu negro e o trópico a palpitar num telemóvel onde te escrevo a mensagem: vai começar a tocar a Róisín Murphy, a ex-vocalista dos Moloko, que troca de roupa de beat após beat, brinca com as duas coristas, canta, dança, nunca tira o chapéu, beat, beat, sem intervalos, vira o traseiro para o público, abana-o, beat, beat, abana, e provoca um aplauso generalizado, Róisín é chama inglesa, é elegante, é popless. Deixo-a a cantar e avanço pelo pó para o palco principal, onde está instalada a alma de Neil Young, canadiano que tem uma vida sofrida, quase morreu nas mãos de um aneurisma cerebral, tem um filho com insuficiência mental, e desde que pegou numa guitarra que anda a cantar sobre a verdade de John Steinbeck. Há um profundo humanismo nas suas canções, ao longo de décadas colocou-se no lugar dos trabalhadores, do imigrante ilegal, dos índios expropriados e vítimas das doenças venéreas e vícios dos brancos. Executou um furacão de solos que rasgavam as canções violentamente, mexia-se como se fosse o seu primeiro e último concerto, a hipnose surgiu gradualmente. Young fecha os olhos enquanto canta e a sua boca ganha uma expressividade extraordinária, salta, senta-se no piano e instalamo-nos na sua sala de estar, repleta de pianos velhos, instrumentos de percussão, slides-guitars, um dólmen, uma pomba branca de metal, e várias telas pintadas a óleo, recordações de estrada. “Harvest Moon” como aquela que está cimeiramente instalada entre o céu e o inferno e a vertigem dedilhada por Deus.

Optimus Alive 08! Passeio Marítimo de Algés, Oeiras, 10/11/12 de Julho

segunda-feira, 7 de julho de 2008


Fim-de-Semana Lusitano

Matadero é um conjunto de várias estruturas concebidas no início do século passado, onde eram abatidos os animais que posteriormente seriam distribuídos pelos talhos madrilenos, encontrava-se no exterior de Madrid, hoje faz parte do perímetro da capital espanhola. São diversos os módulos de carácter pré-industrial que a Câmara Municipal esta a converter em teatro, café, galeria, etc. Neste último espaço encontra-se a dupla portuguesa João Mário Gusmão e Pedro Paiva, que apresentam peças carregadas de um simbolismo filosófico, mergulhadas numa sala escura, os focos incidem sobre uma caveira que sobressai de um bloco de pedra; filmes de 60 milímetros projectam imagens de homens à procura de algo inenarrável; uma rocha de várias toneladas encontra-se suspensa, através de um jogo complexo de luzes o seu reflexo surge reduzido em miligramas. Predomina o paradoxo em “Horizonte de Acontecimentos”, como se cada obra fosse um foco de perturbação e de desconcerto.

Matadero- PhotoEspaña, patente de 17 de Julho a 24 de Junho

Thomas Demand apresenta um conjunto de fotografias de médio porte nas quais surgem interiores com telefone e fax, folhas A4 desorganizadas, numa clara alusão a uma utilidade do espaço e ao mesmo tempo a uma desumanidade que é sublinhada pelas cores cinzentas, branca, azul. Realça uma uniformidade global da época digital onde tudo é muito similar de espaço para espaço, monótono, incómodo, rotineiro, há um filme com um carro que ouvimos e vemo-nos a entrar na garagem velozmente mas nunca conhecemos as características do carro. A “Cámara” é um elemento meramente presencial quase omnipresente.

Fundación Telefonica- PhotoEspaña, patente de 5 de Junho a 24 de Agosto

Numa sala soturna semi-circular projecta-se uma sequência de imagens em slide acompanhadas pelas notas de um piano bem comportado. Vemos quatro adultos e uma criança a passarem uma bola uns aos outros, ao ar livre, rodeados de edifícios habitacionais. Durante a projecção os planos vão variando, aéreo, americano, meio plano. Através desta sequência David Claerbout imprime movimento à família japonesa que apenas se concentra num jogo banal, num dia filtrado por um cinzento que ilude a presença de uma luz solarenga.

Circulo de Bellas Artes (Sala Minerva)- PhotoEspaña, patente de 5 de Junho a 27 de Julho

A repetição de um mesmo rosto de quadro para quadro, ao qual apenas é alterada a cor do fundo. O autor Roni Horn demonstra a obsessão pela perfeição que fez sempre parte de todas as sociedades, para alcançar uma pequena evolução é obrigatória a repetição do mesmo gesto, a leitura de um texto, o ensaio da peça de teatro, o desenho de um rosto adormecido, etc.

Circulo de Bellas Artes (Sala Picasso)- PhotoEspaña, patente de 5 de Junho a 27 de Julho

As fotografias são de grandes dimensões e os planos aéreos, posteriormente manipuladas em computador por Florian Maier-Aichen, que lhes altera a cor, instalando uma realidade artificial que oferece às cidades ou às paisagens marítimas uma adjectivação cibernética. Através do repintar da realidade com cores negras ou de crómio, como se a realidade fosse queimada e transformada num outro espaço que diverge com a sua base. São obras extremamente sedutoras que sobressaem das paredes como se de elementos lunares se tratassem, produto de uma visão mergulhada em LSD que é traficado numa Los Angeles de urbe negra e céu azul.

Madrid, 04 de Junho. Museu Carmen Thyssen- Bornemisza- PhotoEspaña, patente de 3 de Junho a 27 de Julho.

O Prado é um museu que tem uma colecção muito vasta que passa pela escola Flamenga, por artistas como Goya, Rubens, Velasquez, são séculos e séculos de obras marcantes e popularizadas por reproduções como o são “As Meninas”, que ainda hoje são objecto de teses sobre o jogo de espelho. As salas são incontáveis e o acervo é de tal forma vasto que é impossível fazer uma escolha do que é mais belo ou representativo, há tendência para que se fique com uma ideia vaga do que está exposto, seguir cronologicamente as salas nem sempre é fácil. O Prado é a catedral da beleza ainda subjugada a mecenas reais ou à igreja, que impunham os temas que os pintores tinham que executar, dai os motivos serem na sua maioria religiosos ou de cariz cortesão. Através deles podemos perceber as inquietações de cada época, as técnicas usadas, as paisagens onde passeavam os reis à cavalo numa caçada pela tapada do Palácio. São testemunhos precisos sobre um passado alicerçado numa sociedade piramidal, que tinha como fundamento filosófico a Bíblia que impunha uma moral e por conseguinte os costumes. Há obras de fantasia que representam o inferno, ou Adão e Eva com folhas a tapar delicadamente as partes sensíveis, o inferno é local onde a dor é fruída de forma sanguinária, no céu os anjos fazem-nos companhia enquanto dedilham a harpa, ou cupido dispara a seta que nos infecta com amor.

Museu do Prado

O Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia é consignado a uma época pós-Revolução Francesa, quando o tempo deixa de ter um carácter circular para se instituir uma linearidade que ainda hoje está vigente. Os nomes mais sonantes são Dali e Picasso, o primeiro pintou todos os estilos até se estabelecer no surrealismo onírico. Picasso foi o constante perturbado, que explorava cada pincelada como se fosse criar uma nova estética, a síntese encontra-se na “Guernica”, ode épica às vítimas da Segunda Guerra Mundial. Mas há mais artistas como: Carlos Saura, Bacon, Juan Muños, Harun Fracrok, Sachiko Kodama, Ben Rubin e Mark Hansen, Magrite, Tapies, etc, uma overdose que perpassa a história da arte contemporânea.

Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia

A colecção permanente do Museu Carmen Thyssen- Bornemisza começa no século XIII e acaba no século XX. É uma mistura condensada do Prado e do Reina Sofia, numa sequência temporal agrupada esteticamente, o que prevalece um didactismo latente. Desde os retábulos em edícula passando por Rodin, John Constable, Salomon van Ruysdael, Alfred Sisley, Paul Gaugin, Edgar Degas, Van Goth, Edward Hopper, Picasso, Dali, os impressionistas, expressionistas, o cubismo, surrealismo, simbolismo, etc. Um conjunto soberbo e em simultâneo eloquente, que emociona os sentidos como se cada sala fosse um atentado à nossa ignorância, é deste terrorismo que as sociedades carecem.

Madrid, 05 de Junho. Museu Carmen Thyssen-Bornemisza.