segunda-feira, 28 de maio de 2018

Die Weise von Liebe und Tod des Cornets Christoph Rilke

O Teatrão desde o ano passado tem realizado concertos na sua Tabacaria onde tem um palco junto ao bar e para o festival T.N.T (a Tabacaria No Teatrão) com a curadoria do Victor Torpedo abrem as portas do Teatrão onde se encontra instalado um palco de dimensões consideráveis iluminado por vary lights e os responsáveis por subir ao da Tabacaria são os Flugy que apresentam um conjunto de canções aceleradíssimas e nas quais têm a habilidade de incutir inúmeros pormenores os quais potenciam a melodia que é cercada pela vertigem punk que é misturada com o rock e estas são as que agrilhoam o psicadelismo que é relegado para um enquadramento decorativo esta complexidade de texturas é executada com um talento invulgar que os torna arrebatadores; o duo Sunflowers se apresenta com o baixista dos 800 Gondomar no palco do Teatrão algo que os retira da homogeneidade do atol punk que os estava a cristalizar e se associam a um psicadelismo noise que é de facto portentoso de tão grandioso e que paradoxalmente é sufocante inapropriado a quem sofra de ataques de pânico; Cow Cos correspondem a quatro rapazes de fato de macaco laranja liderados por uma bailarina e musicalmente associam-se ao ska e ao dancehall e ao funk e ao blues e à música marroquina segundo uma constante desconstrução que as impregna de nonsense e a voz da bailarina é um grito ou um outro grito ou vogais e frases que são absurdas e veste uma t-shirt de cavas cinzenta apertada que aprisiona os seus mamilos e a saia é um friso que roda à volta das suas nádegas delicadas que atraem o olhar dos presentes mas a sua expressão corporal é de quem pretende ser um objecto de desejo mas que no instante seguinte se reflecte na sua rejeição um jogo hipnótico que Freud usaria para um ensaio sobre a sensualidade versus o líbio; Scúru Fitchádu (palco Teatrão) têm por base o funana que é manipulado numa ordem marcial e ao esgotarem passam para o break beat ambos injectados por doses soberbas de texturas perturbantes que encontram o seu apogeu quando citam o punk e o hardcore mas não é só de violência sonora que se nutrem há também a delicadeza de uma canção com um acordeão que transforma a ruralidade em algo nocturno e fantasmagórico e este é maximizado pelo vocalista/percussionista/performer que nos transporta para um ritual de iniciação em que a antropofagia servia para adquirir a alma do difundo e daí ganhar as suas propriedades de líder da aldeia algures em África representam a paixão pelo abismo; Wipeout Beat (palco Tabacaria) são três ilustres de Coimbra a tocar sintetizadores e os temas versam sobre o kraut rock e a synth pop retro e estes são deliberadamente amestrados a um psicadelismo que os transpõe para um domínio inexoravelmente lúdico num espaço onde somente existe o presente no mínimo arrebatador; The Pacers (palco Teatrão) oriundos do Reino Unido apresentam catorze canções de recorte clássico datadas da década de setenta já que as guitarras ora são elegantemente rock ora soberbamente pop com a mais-valia de terem um guitarrista/cantor com um timbre soul que lhes dá uma vivacidade áspera e que obriga ao ouvinte a se concentrar e aceder à narrativa sobre um universo pop idílico; há uma passagem subterrânea por onde uma toupeira circula numa rotina imposta pelo instinto de sobrevivência que a obriga a percorrer diversas ruas onde se prostitui aos turistas e num quarto fétido com uma teia de aranha suspensa no tecto que se sente atraída por uma luz que lhe provoca uma cegueira que a seduz e o seu calor lhe dá energia e projecta a sua sombra numa dimensão maximizada longitudinalmente e se afasta e observa dois vultos a canibalizarem-se sobre a cama de ferro que chia aceleradamente que associa ao de uma ninhada de ratos famintos à espera da ratazana e o silêncio é acompanhado por uma escuridão que é para si um cinza escuro que é branqueado pelo fumo de um cigarro e identifica a sua ponta vermelha a se iluminar quando é sustida na boca da prostituta que o abandona num cinzeiro transparente e o seu circulo é um anel repleto de beatas com filtros manchados de baton vermelho e acende o candeeiro acompanhado pela Bíblia sobre a qual se encontra uma cruz em prata e o separador é uma fotografia da sua mãe a folheia aleatoriamente e se concentra numa página onde Ele lhe promete a eternidade que não questiona pois está codifica a parábola e a coloca entre as pernas depiladas e junta as mãos e em surdina reza para se libertar do seu pecado que a consome em cada cliente e a aranha ouve um som sustenido que ondula e que gradualmente se dissipa e a jovem sente as lágrimas a sulcarem o seu rosto de mulata descendente de servos da gleba e reincide na leitura e Ele é beijado nos pés pela Maria Madalena e sorri ao ouvir o toque do telemóvel de um outro cliente que ostensivamente ignora e se levanta e acende a luz e de um papel de prata esmiúça a cocaína que deixa cair sobre um espelho e depois de a dividir se socorre de uma palhinha e a inspira e ao contaminar o seu cérebro ergue-se e vê a aranha a percorrer o seu robe de cetim branco e num gesto urgente o despe e o atira contra a cama e inexplicavelmente pára e se aproxima do seu reflexo que lhe é de uma exactidão que a surpreende pois não se reconhece e dá meia volta e na mesa repete o ritual com a palhinha e sente um estrondo que lhe dá energia para saltitar sobre o colchão e o telemóvel toca e tanto faz pouco importa quem seja porque o que a move é a liberdade nem que esta seja tóxica; Bone Zeno (palco Tabacaria) está sentado com a guitarra eléctrica ao colo e uma pandeireta no pé esquerdo e a sua voz é um rasgo de uma navalha num pano-cru e as canções são rock ou punk ou noise ou blues mas o que há a destacar é a sapiência com que manipula cada um destes géneros e os inverte para algo novo num equilíbrio desarmante e sendo assim o músico alemão não é mais um one man band mas um one man show excelente; Queers of Rock´n`Roll (palco Teatrão) não são rapazes com perucas coloridas vestidos de látex e nem a música provém do hair metal que dominou a MTV americana para alastrar aos países ocidentais na década de oitenta antes vestem à punks rockers e as canções são um derivado desta miscelânea e neste ponto são medíocres dada a falta de criatividade mas há uma encenação que é no mínimo abjecta e que passa por exibir o traseiro e aponta-lo para um dos colegas ou ainda um beijo de língua de quem julga que isso é chocante mas o absurdo encontra o seu apogeu quando sobe ao palco um dos membros do público e tenta sodomizar o baixista não sei em que livro sobre o punk encontraram tais exemplos e para ser sincero tal me é indiferente o que eu tenho como certo é que transformar um concerto num antro exibicionista em que domina a idiotia é censurável e como tal é admissível os etiquetar de freak show; Moon Preachers (palco Tabacaria) vertem consecutivamente uma distorção inebriante que se imiscui num psicadelismo perverso já que não tem como objectivo seduzir o ouvinte e a voz é um elemento que grita contra a alienação e bateria advém um tumulto incendiário f-a-n-t-á-s-t-i-c-o; Miscalculations (palco Teatrão) têm como eixo central um vocalista oxigenado com um fato que evoca uma ordem militar que remete para um formalismo excêntrico ao qual se associa os óculos escuros e o guitarrista é o responsável pela fluência sónica de recorte visceral que tanto o é no punk ou no rock e ao se afastarem destas estéticas ao inserirem o pedal do delay surge uma maravilha pop rock soberba com a complacência de uma secção rítmica segura e se me esqueci da descrever a voz do cantor é porque está é de uma incidência predominante eloquente pois é um cantor exímio; Alien Church (palco Tabacaria) são quatro rapazes de Portalegre e a sua proposta se centra no noise mas numa frequência em que as progressões são invertidas para um domínio em que são dilacerantes e o público responde às investidas do guitarrista que implementa descargas inusitadas de rock and roll e ainda enquadram a balada kitsch ou subvertem diversos géneros num ângulo em que impera o espanto imperdível; The Parkinsons (palco Teatrão) são a banda que quase conquistou o Reino Unido e ainda é a única banda portuguesa a subir ao palco do festival Glastonbury mas isto são apontamentos num currículo repleto de glória mas também de tragédia mas está é central no discurso que é predominantemente punk que é épico pois encontram um tradutor exígimio que dá pelo nome de Victor Torpedo e no Alzheimer um cantor que de tronco nu e lesionado numa perna um performer intemporal devidamente apoiados num duo rítmico que sustem a estrutura de forma exemplar e ainda o teclista/percussionista Jorri que insere um azedume esquizofrénico e a isto o público responde com uma mosh ou atiram garrafas de plástico e a certa altura sobem ao palco que milagrosamente os suporta e são enxotados por diversos técnicos que repõem uma ordem que é subsequentemente destruída pelos Parkinsons.

Festival T.N.T, 25 e 26 de Maio, Teatrão, Coimbra.

segunda-feira, 21 de maio de 2018

Ubu Roi

A respiração ofegante de uma máquina em quinta gravita em redor de uma lâmpada led que se apaga e a paisagem urbana no interior da bola de vidro é de uma opacidade desarmante que é rabiscada por raios que atingem um palacete que arde e o fumo intoxica o casal; Lucifer`s Ensemble é composto por três músicos que se dividem pelo contrabaixo eléctrico a bateria e o trombone de varas/mesa de mistura e por dois performers um toca guitarra e o outro assegura a voz mas este último facto somente sucede após a primeira parte da performance e em que estes delimitam o espaço com cinza que sucessivamente é destruído e é deste jogo que se nutre a performance a transformação de seres humanos em algo negativo e que é levado a um extremo em que domina uma loucura advinda da subtracção da razão e é este centro a origem da metamorfose destes dois homens em algo que se aproxima de um bestiário que é o espelho de uma consciência que combate tudo o que aparenta o belo e a música que os estimula a agir dessa forma tem origem num ritmo africano que é o indutor central submetido a uma sucessiva transposição delimitados pelo free jazz imperdível; e após a combustão as cinzas de mãos dadas são noticiadas nos jornais e na televisão estatal associados a um amor tipificado segundo um cliché de dramatismo secular e os espectadores consternados alternam os canais à procura de algo que os liberte da dor e momentaneamente lhes é possível se distraírem com um idoso que dactilografa telegramas que são enviados por um mensageiro que cavalga montanhas e irrompe de um desfiladeiro e o horizonte se afirma através de uma linha irrequieta que é adversária e o seu esforço redunda numa frustração imparável e ecoa o chamamento de um Centauro; Jorge Barco está sentado à frente de uma mesa com diversos objectos que remetem para a ciência tem uns óculos escuros para se proteger da câmara de projecção que predominantemente o ilumina inscrevendo a sua sombra sobre a parede e o músico limita-se a tocar nuns botões e a produzir sons que têm por base o ruído que são manipulados sem que haja qualquer rasgo de génio ou que se aproxime de algo satisfatório porque se limita timidamente a reproduzir o que outros compositores de música electrónica de vanguarda o fizeram há pelo menos uns quarenta anos atrás; que o atrai para um destino com borboletas com asas de cetim que beijam os lábios violetas das estrelícias e uma praga de almas enrolam o cavaleiro e o influenciam a seguir viagem que é uma sucessão círculos que o orientam para um olho que o vê e o hipnotiza a perseguir em vão os quilómetros que o separam da vida e o preto o cinza e o branco se movimentam alternadamente e umas listas brancas e pretas cancelam a emissão do satélite que é iniciada e espelha objectos consumíveis para mitigar a solidão e a música é o sinal para o início de um conjunto de letras a se misturarem numa associação paradoxal que são subtraídas pelo preto e branco que revelam um gigante; Hhy & The Macumbas são compostos por um baterista e um trompetista e um manipulador de uma mesa de mistura e por um percussionista e um maestro que se encontra de costas para o público com uma máscara na cabeça que remete para os sobas das aldeias africanas e é neste continente que advém a sua música que versa a repetição de um ritmo tribal que impõe a hipnose em ciclos e contra ciclos que têm como objectivo transpor os corpos dançantes e os induzir a vivenciar um ritual que os se associam a outras almas que os encaminham a um estado libertário que somente o sonho ou a meditação têm esse poder épico; que através de um monóculo foca uma bailarina que rodopia no gelo e dá a mão a um amigo e deambulam por entre paredes de vidro onde a transparência os reflecte disformemente e os remete para um tempo em que se dissolvem e somente é visível os seus contornos que regressam à moldura óssea onde encaixam as suas carnes irrigadas por glóbulos brancos e vermelhos e se beijam demoradamente algo que entristece o espia que se sente diminuído e eles contornam minas e perpassam árvores de pedra de ançã sujas e sossegam num monte sob uma nuvem encostados a uma coluna jónica e ele colhe uma flor de pétalas em corações em chapa e a coloca entre os botões da camisa da namorada com azulejos de pé de galinha; Hhy & The Macumbas são compostos por um baterista e um trompetista e um manipulador de uma mesa de mistura e por um percussionista e um maestro que se encontra de costas para o público com uma máscara na cabeça que remete para os sobas das aldeias africanas e é neste continente que advém a sua música que versa a repetição de um ritmo tribal que induz à hipnose em ciclos e contra ciclos que têm como objectivo transpor os corpos dançantes e os induzir a vivenciar um ritual que os ilumina a se associarem a uma outra alma que os encaminha a um estado libertário que somente o sonho ou a meditação têm esse poder épico; e o mirone desvia o monóculo e observa estátuas da época rosa do Picasso que ganha a expressão corporal de funâmbulo que percorre lentamente um arame e escorrega e cai sobre a rede verde e a multidão sustém a respiração e o número seguinte é da responsabilidade de um ilusionista que transforma uma mulher em dois; Antippode são um dueto de manipuladores de mesas de mistura e a sua proposta tem como base o beat que é explorado segundo a norma de um esoterismo synth que discorre com o intuito de impor a dança dos presentes que têm que encontrar outras formas de expressão corporal que corporiza uma mecanização com origem no intelecto; e surpreende os presentes que batem palmas de espanto que se silenciam gradualmente o observador dirige a sua atenção para uns passarinhos assobiam intercaladamente num dueto em que domina uma poesia campestre que dura até que o dia se esgote e seja a noite a pigmentar a natureza com uma eloquência nocturna; entre cada um dos concertos o Dj Dead Expotations apresentou um compêndio rap de bandas americanas da década de oitenta do século XX e do hip hop com assinatura de músicos portugueses.

Aveiroshima2027, 19 de Maio, GrETUA, Aveiro.

Em memória do Glen Branca.

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Les Mamelles Tirésias

Uma porta entreaberta espreita para uma laranja descascada de pele esbranquiçada e pontualmente felpuda deitada num colchão de mármore cor-de-rosa pousa na almofada a quebra cabeça com resquícios de vitamina C e as imagens irrequietas que sonha a televisão são um debate de vozes intercaladas num eco oco e ela fantasmagoricamente vomita pela bica pregos de agulhas de aço escudos para investir em próteses cúbicas biodegradáveis e alastram lágrimas de cera que pingam sobre a superfície branca que representam uma beleza efémera de pérolas que luzem durante o luar numa corrente em que prevalece um intercâmbio de pensamentos sobre o desabrochar de uma flor colhida para decorar o seu coração viciado num egocentrismo umbilical que a prende às oliveiras nuas que se bronzeiam por amor ao azeite; Unholy Madness são um trio de mataleiros com capas pretas e com um anagrama branco nas costas poderiam ser musicalmente misteriosos ou profanadores de túmulos mas resumem-se a um decalque heavy do cânone de bandas americanas que iniciaram a sua carreira no inicio da década de oitenta do século passado; Sins Of A Man diminuem o peso sonoro comparativamente com os Unholy Madness porque começam com um funk misturado com rock que dominam com mestria mas o FM é um veneno que os torna tão unidimensionais quanto supérfluos e dedicam uma canção ao amigo desaparecido “Zézito” ao qual os Gypos dedicarão a sua actuação; o Billy Lobster é um rapaz que domina a guitarra eléctrica e o bombo com a respectiva pandeireta no prato de choque e as suas canções são similares aos de outros one man band que ouviram os discos dos mestres do Missisipi e as canções até são suportáveis contudo as suas observações são de uma boçalidade censurável “música para ir ao cu devagarinho”; “a próxima é estúpida”; “isto está uma desgraça”; “não vai-te bater”; “vamos fazer uma cena” a “cena” seria corre-lo à pedrada; Lazy Eye Society são quatro rapazes de Coimbra que descarregam o grunge na sua vertente mais comercial que fez sucesso na década de noventa e são de tal forma fiéis ao género que poderiam estar outros músicos a substitui-los que não haveria qualquer diferença; e um metrónomo marca o tempo de uma valsa que ondula sobre o teclado de um piano de cauda de palhaço e a sua melodia é de uma soturnidade que evoca uma serva aos logótipos estampados em sinais de trânsito num mar desfeito em salitre anti-congelante a sua alma se reverte para o interior da reverência às pirâmides erigidas por maremotos com peles pontuadas por craquelé e as sombras dos pássaros que voam aleatoriamente são perseguidas por um nómada que as tenta descrever em frases póstumas e futuras e presentes e erige um quadro em que a morte é nula algo que a faz sorrir e olha para um raio de luz que perfura a sua consciência e a irriga de santidade que a instiga a arrastar os seus coutos sobre as brasas que crepitam num sacrifício que a faz se sentir tão viva quanto as serpentes que se enrolam na sua coroa que inspira o poder de dinamitar a eloquência da poesia e se alguém a declama é em nome dos anónimos soterrados em páginas de tecidos vermelhos; A Pupet Show Named Julio o nome indicava que poderia ser um número mexicano porém resumem-se a um agrupamento que toma como ponto de partida as bandas indies americanas que despoletaram no início do novo século e numa curva e derivam para Glasgow mas há uma canção que tem por base um teclado infantil e em que a melodia é dramaticamente dengosa e a voz é meramente presencial e é a melhor; El Señor correspondem a um trio pop indie mas este facto apenas os associa a clichés advindos dos USA com a agravante da secção rítmica denotar inúmeras limitações e em especial o baterista que tem o talento de transformar o concerto num contínuo similar algo que é entediante; e num postigo duas sócias de uma mulher barbuda que engole chamas e as expele de uma tromba que espanta as testemunhas que tremem com o hálito a combustível e do fumo surge uma estátua e as palmas de carne e osso têm o ritmo fúnebre da congregação com fé na sífilis liderada por Gaugin; os Gypos têm raízes no rock noise nova-iorquino da década de oitenta do século XX que é devidamente ilustrado canção após canção mas tornam-se deveras interessantes quando divagam por um psicadelismo fílmico e há ainda a destacar o Johnny Gil na voz e guitarra que para além de ser o curador do Rock Of revela uma performance em que desenha uma demência de quem encarna uma persona à beira de um abismo rock; e o toque da sereia desperta um fauno que estica os braços bronzeados e tonificados a empurrar o céu contra o universo com buracos negros e clivagens entre galáxias paradisíacas e ela mergulha num monte de entulho que no fundo tem um lençol de lixeira sobre o qual corre uma bola em direcção a um esgoto onde bóiam dois tampões e uma fez e uma dentadura postiça manchada de baton sorri para a posterioridade; Nancy Knox é uma jovem cantora pueril que se faz acompanhar por um guitarrista vestido de cabedal preto que empunha uma guitarra eléctrica em V que descarrega a distorção aos quais se juntam as programações maioritariamente dançantes temporalmente enquadradas nas duas últimas décadas do século passado geograficamente situadas em Nova Iorque e na Áustria o centro é a cantora que tem uma voz de uma alegria contagiante e quando dança é sedutora e a pop é um espelho descomplexo que mistura dois pontos sonoramente opostos e resulta em algo original a surpresa do festival há ainda a destacar o poema dito/cantado à capela que é de uma elegia pop desarmante de tão belo; os Moon Preachers são um duo noise rock psicadélico e cada um destes géneros é administrado perturbadoramente sublinhados por uma voz dilacerante induzem o espectador a trips em que domina a vertigem provocada pelo estatismo do tempo somente épico; com conchas pontuadas por mamilos e a chuva dourada irriga a superfície de uma banheira de dossel flutuante por esgotos nunca dantes navegados as ondas são foles de metal que emitem sons agudos e graves que anunciam o advento de um outro tempo que é similar ao que hoje lamuriosamente se decompõe; os 800 Gondomar se dividem pelo punk rock mas o que domina é o punk mas há um equívoco que domina as canções que é a incapacidade de anular a similitude de cada uma das mesmas e como tal teria bastado tocar uma e teriam resumido o seu contributo no Rock Of.

14º Rock Of, 11 e 12 de Maio, Clube União Vilanovense, Vila Nova, Cantanhede.