segunda-feira, 21 de março de 2011

Pipe Show

É possível que às 00h30 suba ao palco a alemã da Alemanha do Leste, Nina Hagen, que é oposto à Ângela Meckel. Hagen jamais apertaria a mão de um homem snob. Entregam-me o jornal Blitz, à entrada uma mulher jovem e vistosa uma chama ou um raio, quem sabe? Iggy Pop, no Alive 11, com os Stooges a banda que o formou, mas posteriormente obteve o doutoramento de David Bowie, que o acompanhou como músico de palco numa digressão no final da década de setenta. Passa o Rei para o bar contíguo ao palco dois, onde tocam os Aquaparque, dueto esforçado, repetitivo, chatos, pretensos minimalistas, vegetas. Sujam-me as calças de cerveja gelada servida em copo de plástico, no bar transparente com mulheres belas a pontuar o espaço lunar, muitas louras, altas, baixas, vestidas de bonecas de banda desenhada. Recordo o acto dos GNR num aquaparque de Albufeira, no início dos anos noventa, a mandar todos os bêbados “para a piscina”, e esta tinha ondas artificiais. Comemoram-se os trinta anos de “Portugal na CEE”, uma promessa amarga: hoje temos todos a quarta classe: “Na rádio na TV, Portugal no BCE”. A entrada para a Sala Suggia está entupida, e são 00h20, há muita ansiedade no ar, “eu sou uma coelhinha”, fico perturbado com tanta volúpia. No Clubbing a Sala Suggia alberga mais do que as mil pessoas legalmente estipuladas, muitos estão de pé, mulheres que eram jovens, quando nasceu o fenómeno Nina Hagen, que atrai professores ou o Paulo Azevedo. A sala aplaude histericamente a entrada em palco da provocadora alemã, tem um vestido preto com folhos brancos, sob o qual constam calça de licra, salto-alto de travesti. O seu rosto parece uma mascara de tanta base branca aplicada heterogeneamente, inerentemente uma bifurcação. Os olhos e a boca sobressaem naturalmente, “Personal Jesus”, é o representante mais sublime de duas horas de espectáculo, sobressai o groove do baixo. Acrescida de comentários diversos no fim: “Thank you Portugal! It´s so good to be here, in this beautiful Portugalo!”. E evoca: “Japan disaster, I`m not the same anymore”, “spirits in the sky”, “in Worldwide World”, que é retribuída com aplausos. O segundo tema já pronuncia um mal corrosivo: espreita um bandolim libertino que namora o country, “on you”. A versão de Seal, “Killer”, apresenta um baixo possante e um groove explosivo, e a movimentação de Hagen, explora o conceito abstracto de animal de palco. Passa pelo industrial, com os clichés necessários para ser estanque, para um rock and roll de bar de alterne. A sexta canção é apresentada como “Agaist all evils”, slow soturno, “flesh”, voz grotesca, a partir do meio é repetitiva. E o discurso vale a pena memoriza-lo: “Stick together”, assim combateremos “Nuclear Disasters”, “social path”, “psycho path”, “secret society’s”, “I really hope to turn this game around”, “Portugal!! I LOVE YOU”, histeria. À sétima o desastre, hard rock, vale pela atitude de Hagen: atira o microfone para o chão, pausa, “1975”, “sorry to fuck up! But now I´m happy with my new micro!”, “east Berlim, 17, someone came from Poland”, começam a emergir os clichés estilísticos, hard-rock. Hagen: “Every place is good to pray! I `m so happy to be a human being. I could be a cow or a snake. But I`m a humain being”, uma constatação que me leva à vertigem da filosofia de alcova. A canção é um slow, a beleza recai sobre Hagen a dançar como uma lágrima de heroína sobre a prata à brasa do isqueiro Bic. A partir desta canção os apontamentos escasseiam somente se poderá explicar pela versão acústica-country de pelo menos oito canções, durante as coisas Hagen esqueceu parte das letras e à sua voz falta-lhe timbre melódico, não que seja defeito, mas nela parece postiço, típico romance decadente. Abandonam o pântano para meterem três drogas ao mesmo tempo: pop-rock-clichet. A nossa narradora continua a fazer às contas à vida, não esquece a guerra fria alimentada por figuras como “Kennedy”, “idiots”, “too visible”, “testing” , “We must tell them= Peace!”, “United Nations”, “spray in red heaven”, “once you say NO!”. Segue-se um slow de pipe show, a voz falha mas a expressão corporal ganha a atenção dos presentes, “My Way” é antecedido por um tema blues-soul. “My Way” procura ser tão drogado quanto o Sid Vicious, uma baixa na pobre artilharia punk, mas ficam-se: “did my grave”, falha a voz e mete a cabeça do microfone, que se encontra no tripé na boca como se pertencesse a um pénis. “Remember the 70s”, “remember Nick Drake?”, e aparentemente canta, apenas entoa. “Justice and Peace”, uma mulher do público encavalita-se, à frente do palco, nos ombros de um cúmplice, atira beijos à Nina, abana os braços e a revolução começa. No tema seguinte uma tia sobe ao palco, beija Hagen, é o torpedo que jamais sairá dos submarinos, a nossa lança em África. “No nuclear flames”, mais um anúncio de Hagen, a delirar com catástrofes nucleares como Chernobyl. “Riders on the Storms” é apresentada de forma hipnótica, com blues subtil do baixo, que sempre que sobressai (apenas três vezes até ao momento), reduz um excelente músico a um mero elemento presencial, uma pena: “don´t be afraid”. Que é destruída da nossa memória com duas músicas punk, a querer ser ainda mais punk, elevado grau mimético mas que o tempo anulou. As luzes acendem-se, os músicos juntam-se na boca de cena e recebem uma ovação, que jamais daremos à Ângela Merckel. Hagen, resiste à saída, aceita beijos, capas de disco para autografar, fotografias, ri, ri, e abandona o palco.

Clubbing=Aquaparque, Nina Hagen, 19 de Março, Casa da Música @ Porto

sexta-feira, 18 de março de 2011

Wolf

Joan as Police Woman entra em palco a falar com os seus dois músicos de palco, o baterista, que poderia ser o trunfo do concerto, caso não estivesse pedrado. É possível que tenha cheirado o ar poluído que Cacia espirra sobre Estarreja, o Cine encontra-se a um quarto da sua capacidade. E o teclista que é por vezes, o fio condutor entre os dois, contudo é maioritariamente subalterno outras poético. Joan, vestida the catwoman: macacão de cabedal preto, botas pretas, casaquinho de cabedal vermelho. A dominatrix da narrativa que domina um teclado ausente e uma voz que quando se eleva sobre as notas das canções, mesmo que estas sejam medíocres, a voz ganha sempre. De realçar que os técnicos de som contribuíram para tornar por vezes o concerto inaudível. Joan sobre o teclado tem dois microfones, canta deslocadamente a tentar acertar com o ritmo de “Magic”, uma canção que Britney Spears não desdenharia, não precisaria de voltar de vender a vagina. “Chemmie”, Joan aproxima-se da guitarra, coloca-a ao ombro, e coloca a sua boca de piranha de lábios pintados de rubro: “Coucou, right!”, gritos do público, “UUUU”, “only animals sounds tonight”, “I allways felt childish”. E apresentam “Chemmie” numa cadência blues old school, descai para a pop incaracterística, pop-vazia, a voz entre o macho e a fêmea: “Down”, os acordes são percorridos pelo baterista através dos pratos e a massa sonora ganha sobre o princípio e o meio. “HWW”, baixo samplado, “AAAAAA”, “Make you mine”, “AAAAAAA”, joan dedilha a guitarra como se fossem acordes de Jef Buckley, que era seu amante, aquando do seu afogamento no rio Wolf, afluente do Rio Mississípi em 1997. “Anyone”, “junkies”, “I won`t cry”, soul da Motown Records, lentamente a vomitar os dejectos, “”I feel”, “I want you”, “feel”, “for me”, “free back from the city”, “desire”, “secret”, choro, “now you”, “I `m ready to show you, how do I feel”, “you are…”, “It`s been a long time”, a lámuria do coro: “OoOOOOOOOO”, linear, Joan: “”AAAAAAAAA”, falsetto, “AAAOOOOOOAOO”. Na segunda parte desta canção, a bateria acerta no equilíbrio entre os teclados, de um sai algo inaudível, “cause anyone can see”, “anyone can see trought me” e acabam conjuntamente. “Run for Love”, bateria, 2X2, teclados progressivos com efeitos psicadélicos, “I fly”, coro: “OOOO Won`t you see”, Joan: “I want to talk about the future”, “make love”, canto desconcertante possuído, coro, “Won`t you see”, Joan: “AAAAA”, teclado em loop, “you can call me criminal”, “stop so easily”, rock-blues. “Flash”, “slow the clouds”, imaginem um céu com nuvens a flutuar no céu, que escarram: “I have a flame”, em sussurro: “flame”, “ooOO”, “feel”, “I have a flame”, incontestavelmente fantasmagórico, com tensão. “Nervous”, a canção tem um ritmo de discoteca onde se instaura o bacanal, coro: “SEEE”, Joan “long ago”, solo do teclado, orgão, “rape me”, teclado fantasmagórico, “but you said, you want a friend”, coro: “you see”, Joan artilha o braço da guitarra, coro: “OOOO”. As unhas vermelhas de Joan sobem a escala do braço da guitarra e incendeia-o com distorção, e a partir do maneio da guitarra o seu corpo contorce-se ligeiramente, lentamente ou rapidamente, pouco importa. Dirige-se desta forma ao público, penitente de Estarreja: “You are OK? In your seats?”, erótico. “Save me”, blues com break-beats, “I Don`t want to live for tomorrow”. Décimo tema: “Kiss”, começado com conversa entre Joan e o baterista, “I find in the morning”, blues linear, “forever”, “chance forever”, “Is she in Love? I think I `m in Love”, “turn in the sky”, “loooove”, “dream” linear. Joan: “This is our five show in Portugal, that`s nice. I have to say that I never been here before. But it`s lovely. I `m terrify to say the name of your town. But the people in Guimarães teached me, last night” e expira num sussuro grutural: “Estarrejaaaa”.

“The Deep Field”, Joan as Police Woman, 17 de Março Cine Teatro de Estarreja @ Estarreja

quinta-feira, 3 de março de 2011

Painkiller

A baixa de Coimbra está desértica parece uma aldeia periférica, o casario é pobre e mal agradecido, há a Sanzala com prostitutas à porta, a falar com dois clientes. O frio marca zero graus sobre a minha carne fraca, o Rock and Roll é foda na certa, foi por isso que nasceu: os homens cansaram-se das putas. Salão Brazil é um dos edifícios que sobressai por entre montras com modelos com o nariz partido. O pé direito de três metros dá-lhe uma sumptuosidade inesperada, 22h30, hora marcada para matar saudade dos Tiguana Bibles, em especial da Child of the Moon, Tracy Vandal aka Bunny Lake a sua nova personagem. A banda, exceptuando Bunny Lake, sobe ao palco estreito iluminado de azul, e o instrumental que se segue é uma composição em que a bateria e o contra-baixo seguram o tapete enquanto as guitarras gingam, mutilando-se mutuamente na segunda parte da canção. Bunny Lake está ao rubro da sua sensualidade, vestido de preto e tem uma franja próximo das sobrancelhas sobre um rosto com base clara e lábios de vermelho, salto alto negro. O género que se segue é para ser transmitido através de uma luz branca de danceteria num clube soturno de Nashvile, “their`s nothing but a heart”, “run away”, “milky way”, “Child of the Moon”, de billy passa para hell billy. “Nice to see you, is Tuesday”, “So we been away for a while “, são as primeiras plavras da escocesa Bunny. “Don`t be too long”, “don`t waste my time”, “I `m coming home”, acordes de Rock and Roll clássico, pausa, speed, “I ´m coming home”, dois minutos de delirante Rock and Roll. Rufo da bateria, acordes das guitarras, o baixo electrico pulsa, surge a voz de veludo, rock, “don`t”, narrativa amorosa, “run away”, “from my heart”, “but don`t…”, “don`t”, blues-rock, solo minimal do Torpedo, pausa, “shadow”, a banda perde altura, a voz: “I saw in the streets”, o ritmo acelera, “run away”, “don`t”, “OOOO”, “OOOO”, “OOOOO”, “OOOOOOO“, “OOOOOOOO”. Victor Torpedo coloca à frente de Bunny Lake, um teclado dos anos setenta: “this is the first time, I have a instrument in front of me”. A canção tem um ritmo tétrico, que prevê que um crime se irá cometer em segundos, e notícia que um povo é livre pelos segundos que dura a noticia. Após terem aumentado o ritmo, o teclado surge como se fosse a voz de um tremelim, fantasmagórico, “don`t tell”, “I `m swimming in your seee”. “This next song is ´Against the Law`”, e canta: “I can´t wait no more”, “it´s against the law”, com um forte domínio da bateria que a retira da mediania, e lhe dá uma porrada Rock and Roll. Bunny Lake desclaça os seus tacones lejanos negros e avisa a plateia feminia: “DON`T steal IT”, surrealismo nonsense. “Books”, pop-narrativa repleta de acordes sonhadores que transmitem uma íris sem arco, um homem e a sua pistola: “you talk to much”, “What can I say?”, “I don´t care anymore”, “in my blood”, solo do Torpedo minimal. “I usually have a philosophy”, “my philosophie today is drink, drink, drink”. “Rebound” é freak, “I find myself in sleep”, banda joga em paralelos que se desarticulam e articulam contrariamente, “I can´t stop”. “Next song is going to be our next single; ´Surrender”, Kalo atira-se ao bombo, que treme, as guitarras intrometem-se, “you push my heart”, “surrender”, pop-billy, “surrender” ouvido na frequência do eco, “from my heart”, ecoa e substitui o refrão. “Play with Devil”, informa Bunny Lake, ritmo 2X2, rápido, alto e sequencial, após uma falsa pausa, a música arrebenta contra a parede e suja-a, Torpedo geme, Rock and Roll. “This is our last song”, slow repleto de doçura cândida e suspensa no ar: “By, by dreams”, “ I can feel”, “soul”, “and”, “by, by dreams”, “goodbye”.

Tiguana Bibles, 2 de Fevereiro, Salão Brazil @ Coimbra