segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Black Celebration

As nuvens adensam-se em redor do perímetro do Pavilhão Atlântico, composto na sua maioria por prédios longos, constituídos por materiais que os tornam leves, quase inexistentes. No interior do Pavilhão há muitas mulheres vestidas de preto, a elegância predomina, não seria surpreendente que estivessem algures a Kate Moss, ou, a Tracy Vandal. O ecrã led que ilumina o palco tem um círculo a meio do topo, passam as iniciais D.M, as pessoas aplaudem, o som da sala aumenta gradualmente. Os Depeche Mode estão a subir ao palco pela direita baixa, o compositor Martin Gore é o primeiro a surgir, de casaco de lantejoulas cinzentas e sapatos da mesma cor. “In Chains,” abre a celebração em volta de um agrupamento que no início da década de oitenta uniu dois campos estéticos aparentemente opostos: a pop e a música electrónica com origem nos alemães Kraftwerk. “In chains,” mistura-se com o ecrã vermelho a pingar sangue, no círculo um homem caminha mas o seu destino é inequívoco: “In chains,” com a voz de Gore a fazer de coro à do cantor-performer Dave Gahan, de fato e colete pretos, sem camisa. “I `m in chains!”, a canção tem como princípio o blues misturado com um tóxico que o torna cibernético. Dave dança e abre os braços como se estivesse a espalhar uma fé, que se transmite através do seu sex-appeal. “I´m in Chains,” despe o casaco e ouvem-se os gritos de uma muralha desafinada de mulheres. “Wrong” é o extremo do erro, da má conduta, da perversão, “wrong!”, de todas as maldades ocorridas e que são da nossa responsabilidade. O ritmo é violento e a conjugação dos acordes tem mais plasticidade do que o original, o primeiro single que serviu de apresentação a “Songs of The Universe,” o último álbum, que os D. M promovem em Lisboa. No ecrã surge a banda, que em palco é apoiada por mais dois músicos, um baterista e um pianista. Dave dança antes de surgir a batida tribal de “Hole to Feed,” as duas vozes encontram-se afinadas ao mesmo nível. Inicialmente o tema começa a impor uma maior agressividade, mas tal foi apenas desenhado e não totalmente concretizado. “Good evening Lisboa!”, Dave recebe em troca um milhar de gritos. “Walking in My Shoes,” é um tema tétrico, de apelo a que os outros se solidarizem com a nossa dor, tremendamente desesperada, e por conseguinte ajudar-nos a fugir da ansiedade que nos encaminha para o suicídio: no ecrã um corvo negro sobre um fundo cinzento, está empoleirado numa trave, à espera do nosso cadáver. “I´m not looking for absolution”, “forgive me”, “I do”, “star walking in my shoes”, “star walking in my shoes”, “if you try, try walking in my shoes.” A música segue o percurso que nos leva até à demência electrónica, o corvo esvoaça ao sentir o vento mórbido. Desce o jogo de luzes e torna o palco mais pequeno. Dave rodopia com o tripé do microfone nas mãos, “only fifteen”, “you look good,” Dave coloca as mãos entre as pernas e ri ao ouvir os gritos das, “only fifeteen”, “you look good,” e quando o refrão: “It´s a question of tiiiaame”, “a question of time,” movimenta-se com o tripé, do lado esquerdo para o direito, como se o objecto fosse o seu ponto gravitacional. “Precious,” perde o pendor sintético e ganha rugosidade e o preâmbulo da primeira para a segunda parte da canção é acidentada, quase em contra-circulo para com os acordes suaves. A responsável é a guitarra de Martin Gore que transpõe a canção do slow para o psico-rock. “World in my eyes,” é a primeira vez que Gore se coloca atrás do teclado, a narrativa insinua que as palavras são supérfluas, “let the body to the talking”, “let me show you, the world in my eyes!”, “I take you to the highest mountains”, “belive me”. “Can you hear me Lisboa?” Gritos. Dave Gahan transforma o tripé do microfone num varão de uma casa de streap, sobe e desce, com ele entre as pernas e olha para a plateia, e convida-os a entrar no jogo da… “My eyes”, “my eyes”, "my eyes" a voz grave leva-nos para dentro de um corpo nu. O ecrã ganha tonalidades laranjas, os samples lançados são um fraseado árabe, a batida é reminiscente à dos Einstürzende Neubauten. Variando do rápido ao lento, as vozes relatam: “touch me.” Dave Gahan abandona o palco e é Martin Gore: “Sister of the night”, num binário lento, “breaking down your wheel”, denota algumas limitações vocais de Gore, tentando gradualmente instalar-se na melodia do tema, em vão. “Hey sister?”, com um solo réplica de uma geografia acidentada, mas simultaneamente calculista. O piano surge delicado e a voz ganha tonalidades quentes, num chamamento irresistível, “and I Thank you, from bringing me here, for bringing me home”, “belong here”, o público: canta o coro: “Home”. “My last praaaay”, palmas, as luzes iluminam os espectadores. Martin ergue os braços e movimenta-os como as de um maestro, marcando o ritmo do coro: “OoOoOOooOoOoOoOO”, passeia, “Thank you, for bringing me here”, coro: “OoOOOOOOooooOOOO”, do público, Martin dobra-se e agradece a atenção e o carinho dos portugueses. “Mr. Martin Gore!”, sublinha Dave Gahan. “Miles away,” com a guitarra em estrela de Martin Gore, “you are miles away”, num gingar de bordel repleto de clientes com chapéus de cowboys prontos a snifar a nossa alma. O solo distorcido, destrói o passado e estabelece um outro futuro, onde “your eyes tell me something”, “you are miles away”, voz diabólica: “Miles away”. “Thank you very much!” Dave dança quando os acordes míticos de “Policy of Truth,” são disparados pelos três teclados e a bateria pontua-a com o respectivo balanço, “never again”, com o ecrã a projectar um jogo Tetris, Dave rodopia, “never again, is what you saw”, “never again”, “never again”. “Don´t say you love me, don´t say you want me, cause`s no good,” comparativamente com o original, este ganha na vertente extravagante, como se estivesse Andy Warhol na mesa de som de palco, a misturar o Kitsh e a dar-lhe uma conotação comercialmente seriamente icónica: “You now you can´t be”, “it´s no good”. “Thank you!” O sadomasoquismo é revelado, quando as luzes descem, e o ecrã se enche de tinto, que nos inebria, alcooliza, e o inconsciente invade o consciente, vestimos a mascara e sufocamos em cabedal preto: “In your room”, “your favoritive slave”, solo agudo e rápido a rasgar as nádegas, a dor é orgasmo: “In your room, Where time disapear”, “your favoritive mirror”, “your favoritive slave”, “away”, Dave dança, as luzes sobem e o prazer desaparece. “I Feel you” é tão penetrante quanto um sentimento que estamos a praticar pela primeira vez, o ritmo seco, leva Dave a beber de uma garrafa de plástico com conteúdo escuro, as luzes dançam lentamente, os acordes percorrerm a canção e transformam-na num Inferno, para onde correm os desalmados. “I Feel YOU! AAAAAAAAAAAA!”, solo, a maquina não pára, o sentir de: “AAAAA”, com a voz a ser o elemento distorcido. No ecrã três astronautas: Dave Gahan, Martin Gore, Dave Fletcher, ficam em suspenso, mas os acordes circulares, “words are very unnecessary”, “hearts to be broken”, são as palavras-chave de “Enjoy the Silence”, “to be broken.” Dave Gahan desloca-se pela passadeira, pede ao público para mexer os braços da esquerda para a direita, tenta dar continuidade à canção, mas todos os músicos seguem a guitarra de Martin Gore, que em regime progressivo, alavanca consigo tudo e todos, ignorando o cantor, épico: Dave, agacha-se e coloca a sua boca junto à guitarra de Martin, e finaliza: “Enjoy the Silence”. “Never let me Down again”, “taking a ride with my best friend”, “ride”, “come down”, “my feet on the ground.” O primeiro tema do encore é um passo atrás na interpretação de Martin Gore, “One Caress”, não consegue ser expressiva, reduzindo-se a um momento nulo, apesar da letra: “Oh girl!”, “in your darkness”, “obrigado!”. "Stripped" é um hino que se poderia ouvir num bar, repleto de espelhos, o ritmo mistura-se com os acordes de “Stripped”, “take my hand”, “back to the land”, refrão é cantado pelo público: "Let me see you stripped down to the bone," a progressão é violenta, a carne é apenas a decoração dos ossos, Dave e Martin fazem headbanging junto ao bombo da bateria, segundos em que o delírio não faz parte da razão.“Behind the Wheel”, palmas, acordes, teclados, samples, loops, voz: “I don`t care,” desvairo, delirio: “Tonight”, “passenger”, “tonight.” O epílogo é um ponto equacionado através de uma imagem de montes a serem montados por cavaleiras, prontas a estarem nas esquinas dos círculos das cidades, onde se vendem por uma bebida, um fósforo ou um cigarro, desde que haja pavio, e se tenha confiança no nosso “Personal Jesus.” Com os acordes da guitarra em constante distorção, e os samples a nos transporem para o deserto e se formos atingidos pela alucinação da miragem, e esta seja uma mulher de pernas longas, cobertas por meias de rede negras, um casaco curto com um friso ao longo dos braços, e uma mini-saia, que quando se abaixa mostra as zonas que nos providencia a devoção aos Depeche Mode.

“Tour of the Universe”, Depeche Mode, Pavilhão Atlântico, 14 de Novembro.

domingo, 8 de novembro de 2009

Blade Runner

As ruas criadas por Vittorio Gregotti e Manuel Salgado são percorridas por um acorde fino de frio. O Tejo que toca a costa e gradualmente mistura-se com o mar salgado, passando próximo de uma base área de Tires, onde vivi, com a minha avó, pai, mãe e irmão. Sou filho de duas mães, sou João Aguardela. Vou ser sempre este binómio, como se houvesse um outro para descobrir, a portugalidade, esse conceito cultural. Está a passar um conjunto de segways conduzidos por um par de anjos, um homem caminha lentamente e segue o carro de tubos pretos que tem umas colunas suspensas a cantar: “diz-me amor quem são os teus pais? Eles são normais?”; “Morcão de um raio, tu não passes mais no meu bairro!”; “Logo, logo de seguida perco sintonia”; “mas gosto de sentir a tua língua dentro de mim, dizem os meus bons amigos, que não se beija assim! Os lábios? Os lábios nos lábios e o coração? O coração à míngua. E a tua língua na minha língua!”; “Sonho com uma princesa… Eu sooou escravo do amor”, “um Marciano no congelador.” O carro tem no cimo um anúncio Blade Runner: “Megafone 5= Atelier? Teatro de Rua,” e ostenta uma bandeira cravada como uma antena e na ponta um Coração Independente, “diz-me amor quem são os teus pais?” A plateia do Centro Cultural de Belém está cheia, assim como os camarotes, estão reunidos para ouvir: “Eu só com a boca faço isto:” e ouve-se uma mola a saltitar de palavra em palavra circularmente. O programa semanário da "As Quintas dos Portugueses" da Antena 3, é misturada conjugando frases em inglês do nono ano. Os anjos transportam o Coração Independente do cimo da plateia até à fronteira com o palco, e erguem-no psicadelicamente e as suas luzes expandem-se gradualmente pela sala. Uma gaivota é projectada, o ritmo é acelerado, “dentro do meu peito”, “meu peito há um alambique de aguardente!”, surge a síncope com um baixo pesado, os anjos separam-se e bebem de pequenos cantis o álcool. O Coração Independente apaga-se. Silêncio. Desce um ecrã sobre o pano de cena, surge a ficha técnica e artística dos que irão subir ao palco, apareço numa planície a misturar a origem das coisas, e a alterar definitivamente o percurso cultural de uma ruralidade que foi gradualmente urbanizada, pela tradição e modernidade importada. Megafone ao vivo, ou, era um DJ, ou, três músicos em palco, as pessoas dançaram na Expo 98. “Eu basicamente quero fazer um trabalho de guerrilha.” Sobe o pano e surgem vários vultos vestidos de preto, tocam flauta, e tambores, há uma voz principal masculina secundada por outras duas, mas como são de timbre muito próximos, formam um coro de avarentos que cantam sobre os costumes rurais: “cruel vento”, e ainda o caso de uma mulher que andava com o padre da paróquia, “mora lá uma mulher perto de uma vizinha”, “ou sacerdote de missa.” E o “piripiri em excesso”, os Gaiteiros de Lisboa quando se tornam arrítmicos, as canções ganham garra, mas são uma minoria. “É para nós uma honra, esta festa de homenagem. Porque sei que o João detestaria que fosse uma homenagem. Antes uma festa à música portuguesa e da liberdade e irreverência!” Desce o ecrã e surjo a explicar quando começaram os Sitiados, “com um grupo de amigos do mesmo bairro”, “que se juntaram com o propósito de irmos ao Rock Rendez Vous”, a, “partir daqui percebemos que íamos ter futuros diferentes.” Sou projectado a vociferar e a gritar, “SE CONDUZIR NÃO BEBA!” Surge a banda de uma cantora com um comportamento febril como se quisesse absorver toda as pessoas à sua volta, tem um microfone à boca, e canta, fala pelo meio, despe o casaco de cabedal, canta, há uma voz off de um macho, que dialoga com a artista, os músicos vestem fatos de bares do fim do século XX. O acordeonista lidera o grupo encaminhando-o para as ruas de Paris e a um subúrbio latino-americano. Cada tema é um postal ilustrado percorrendo diversas geografias europeias, acentuada pela presença de um “pugilista.” Que canta o fado como se estivesse a fazer o refogado para a “porcalhota”, repetiu o termo três vezes, foi continuamente interrompido pela cantora dos Oquestrada, “ahahah, repete que o som estava muito mau! Ahaha,” à segunda algo parecido, e à terceira foi enxotada pelo pugilista. “Tony Paiva: O maior fadista das noites de Lisboa!” Intervalo. No ecrã surge o Megafone 5, o site que continua a espalhar as minhas canções através de descarregamento gratuito dos quatro Megafone, o primeiro editado em 1997. Dead Combo são dupla de baixo e guitarra, vestem fato de segunda-mão, cartola tétrica, e uma sequência de canções que quando se separam da métrica ficcional de Ray Cooder, e isso sucede quando a guitarra de Tó Trips, está ligada ao pedal da distorção, ganham um autónomo pendor visceral. Desce o pano e surgem imagens do meu passado instigado por uma obsessão em que queria ser 50% por cento da equação do outro lado está o público a cantar, a dançar, a bater palmas, a fazer moshe. E eu a gritar em Alvalade: “as formigas no carreiro da Ponte 25 de Abril”, “mudaram de rumo”, "mudaram de RUMO!", na atitude mais punk do Portugal ao Vivo, a seguir aos Xutos com stripers que se despiram integralmente! Sobe o pano lentamente e ouve-se o trinar das garras do Luís Varatojo nas doze cordas da guitarra de Lisboa. E Maria Antónia Mendes de luto de uma elegância irresistível segura o microfone, e canta: “Antes que o Mundo seja um incêndio”, “quantos ciclones queres?”, “éramos rebeldes por sistema”, “o terrorista carregava às escondidas uma bomba”, “no peito era o coração,” é este turbilhão que incendeia a sala. Soa o baixo e entra Sandra Baptista, que é ovacionada, veste calças negras largas, e um top negro com decote em V, que se prolonga para as costas, dedilha o baixo como se estivesse a revelar-se o meu anjo, de noite e de dia. Estou em palco com duas mães: a Sandra e a Música. “Nosso”, “remorso”. “Monotone”, surge numa frequência groovebox, “largas o coração ainda adormecido”, e “esqueces essa canção, já não passa na rádio mas que vive secretamente dentro de ti”, “bem dentro do teu corpo, esqueces essa canção”, “mas que vive secretamente dentro de ti”, “mas que vive secretamente dentro de mim”= Bairro Alto a passear pelos estúdios da Motown. “Encontrei-o no Teatro”. “Não me queres?”. O drama, “nunca me quisestes!”. “Um dia tão bonito e eu não fornico!”, secundada por uma guitarra com efeitos psicadélicos. Maria Antónia Mendes segura as mãos junto ao rosto, “tenho 365 sonhos”, num ritmo mergulhado em algo, como os passos de elefante de pernas de girafa que surgem no horizonte de uma peregrinação no deserto. Ah Dali? Dada? , “tenho uma estatua fluorescente da Virgem”, a iluminar a mesa de cabeceira, “tenho uma estatua da Virgem Maria, que me dá confiança e brilho à noite,” a voz desce umas oitavas e cava dentro de mim: “Tenho joelhos magoados, o calvário dos fiéis deveria ser menos árduo!” O pop-fado de, “um saco de merceeira”, “um só prato para o jantar”. Maria Antónia Mendes: “Sandra no baixo! Obrigado Sandra!”, palmas. Vou chamar ao palco um grande amigo do João que tocou com A Naifa, quando o João já estava doente,” Rodrigo Dias que balança um baixo familiar. “Como água como pão”, “assim te vi”, “que te vi a rasgar a vida.” A Naifa assume uma linhagem com as canções de intervenção que rugiram no Alentejo, com a guitarra portuguesa de Varatojo a frasear a pauta com acordes que se assumem a veia da sublimação. Paulinho cede o lugar a Samuel Palitos, ex-baterista dos Censurados, “fui apanhada aos 22 dois anos”, “a verdade apanha-se com enganos”, é uma verdade lúcida, a bateria dança juntamente com a baixista, a guitarra mergulha em si, a sorte, a frase neo-kitsh: “Sobrevivi a um coração míope”, “em amantíssima posse viral.” A voz e a guitarra enrolam-se, com o baixo a sustentar gravemente, pulsante, demente, “em amantíssima posse viral.” Paulinho, baterista dos RAMP, regressa ao seu lugar: “Obrigado Samuel!”, palmas. Um marinheiro soviético atraca em Lisboa e pergunta onde, “há senhoritas?”, de “um barco soviético a meio gás”,“disse-lhe que em Portugal haviam muitos comunistas,” mas o é que ele queria? Uma prostituta. Palmas. Do cenário austero da Naifa surge o João Aguardela, numa fotografia rectangular em t-shirt e a tocar baixo, atrás de Varatojo e de Paulinho. O olhar azul está ligeiramente a contemplar o céu. Maria Antónia Mentes emociona-se, ao revê-lo ao seu lado, “está um rapaz a arder no cimo de um muro”, “no cimo do muuuro,” é a cedência do meu corpo à imortalidade. “Antes de acabarmos, que queria dizer que foi o João que escreveu os poemas do último álbum ocultando-o da própria banda. Assumindo o Nome da avó,” e a sua mãe, são as suas duas mães. Reina o psicadelismo kitsh, com a voz embargada de tristeza, “mas levo muito a mal a ideia de ser feliz”, Groove, “ensinar-te em meu amor em praticar a caridade, nunca direi Saudade mas levo muito a mal a ideia de ser feliz. Filho de duas mães, adoro vesti-las de igual, tenho andado à tua procura para te amar. Sobre a mesa posta sem nenhuma vaidade, ensinar-te em meu amor a praticar a caridade. ENSINAR-TE EM MEU AMOR A PRATICAR A CARIDADE, ENSINAR-TE EM MEU AMOR A PRATICAR A CARIDADE, NUNCA DIREI SAUDADE MAS LEVO MUITO A MAL A IDEIA DE SER FELIZ." Sobem à alta esquerda do palco os anjos, apoiam a subida dos meus pais enlutados, no centro ao microfone, o meu pai: “O nosso filho esteja onde estiver, agradece e de facto não seria uma homenagem, mas uma festa da música portuguesa, como já foi dito. Ao irmão do João, ao Luís Varatojo, e a essa mulher que nunca abandonou o João, essa mulher é a Sandra Baptista." A minha mãe esconde o rosto, constrangida com as luzes, os seus dois pais. Recebem uma salva de palmas de vários minutos, como se fosse um palpitar das almas presentes a reconhecer que existe o megafone: “JOÃO AGUARDELA!”

“Megafone 5”- Homenagem a João Aguardela: Centro Cultural de Belém, 04 de Novembro.