Um piano gravado sustém as luzes apagadas que esperam pelos Cult of Luna, que entram gradualmente no palco instalado num Convento em ruínas. A distorção é proporcionada pelas guitarras que dançam no ar como se fossem machados a cortar a carne que rodeia os tímpanos. As credenciais que os dominam conspurcam as paredes com sede pelo pecado original, como se fosse uma espiral de terror perante a fragilidade da mortalidade. O útero da lua é conciso e frequentemente sustenido numa delicadeza esotérica com pormenores electrónicos que lhes presta uma melodia Kafkiana. A hipnose é cinemática e ultrapassa o negro que se apodera dos corpos dos espectadores, que sangram fluentemente. No proscénio instala-se uma voz cavernosa que emite a partir de um megafone directamente para as nossas almas, jorra-mos em direcção ao Mondego. Um feedback inadvertido assinala o único traço humano de uma besta que transmite um holocausto sonoro que se quebra com a saída de três elementos da banda. O palco fica mutilado. Quando regressam, a epopeia infecta o altar de cores sombrias que é inundado por um delírio sónico da envergadura de lua eclipsada.
Coimbra, Convento de São Francisco, Cult of Luna 21 de Abril
domingo, 22 de abril de 2007
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