Matadero é um conjunto de várias estruturas concebidas no início do século passado, onde eram abatidos os animais que posteriormente seriam distribuídos pelos talhos madrilenos, encontrava-se no exterior de Madrid, hoje faz parte do perímetro da capital espanhola. São diversos os módulos de carácter pré-industrial que a Câmara Municipal esta a converter em teatro, café, galeria, etc. Neste último espaço encontra-se a dupla portuguesa João Mário Gusmão e Pedro Paiva, que apresentam peças carregadas de um simbolismo filosófico, mergulhadas numa sala escura, os focos incidem sobre uma caveira que sobressai de um bloco de pedra; filmes de 60 milímetros projectam imagens de homens à procura de algo inenarrável; uma rocha de várias toneladas encontra-se suspensa, através de um jogo complexo de luzes o seu reflexo surge reduzido em miligramas. Predomina o paradoxo em “Horizonte de Acontecimentos”, como se cada obra fosse um foco de perturbação e de desconcerto.
Matadero- PhotoEspaña, patente de 17 de Julho a 24 de Junho
Thomas Demand apresenta um conjunto de fotografias de médio porte nas quais surgem interiores com telefone e fax, folhas A4 desorganizadas, numa clara alusão a uma utilidade do espaço e ao mesmo tempo a uma desumanidade que é sublinhada pelas cores cinzentas, branca, azul. Realça uma uniformidade global da época digital onde tudo é muito similar de espaço para espaço, monótono, incómodo, rotineiro, há um filme com um carro que ouvimos e vemo-nos a entrar na garagem velozmente mas nunca conhecemos as características do carro. A “Cámara” é um elemento meramente presencial quase omnipresente.
Fundación Telefonica- PhotoEspaña, patente de 5 de Junho a 24 de Agosto
Numa sala soturna semi-circular projecta-se uma sequência de imagens em slide acompanhadas pelas notas de um piano bem comportado. Vemos quatro adultos e uma criança a passarem uma bola uns aos outros, ao ar livre, rodeados de edifícios habitacionais. Durante a projecção os planos vão variando, aéreo, americano, meio plano. Através desta sequência David Claerbout imprime movimento à família japonesa que apenas se concentra num jogo banal, num dia filtrado por um cinzento que ilude a presença de uma luz solarenga.
Circulo de Bellas Artes (Sala Minerva)- PhotoEspaña, patente de 5 de Junho a 27 de Julho
A repetição de um mesmo rosto de quadro para quadro, ao qual apenas é alterada a cor do fundo. O autor Roni Horn demonstra a obsessão pela perfeição que fez sempre parte de todas as sociedades, para alcançar uma pequena evolução é obrigatória a repetição do mesmo gesto, a leitura de um texto, o ensaio da peça de teatro, o desenho de um rosto adormecido, etc.
Circulo de Bellas Artes (Sala Picasso)- PhotoEspaña, patente de 5 de Junho a 27 de Julho
As fotografias são de grandes dimensões e os planos aéreos, posteriormente manipuladas em computador por Florian Maier-Aichen, que lhes altera a cor, instalando uma realidade artificial que oferece às cidades ou às paisagens marítimas uma adjectivação cibernética. Através do repintar da realidade com cores negras ou de crómio, como se a realidade fosse queimada e transformada num outro espaço que diverge com a sua base. São obras extremamente sedutoras que sobressaem das paredes como se de elementos lunares se tratassem, produto de uma visão mergulhada em LSD que é traficado numa Los Angeles de urbe negra e céu azul.
Madrid, 04 de Junho. Museu Carmen Thyssen- Bornemisza- PhotoEspaña, patente de 3 de Junho a 27 de Julho.
O Prado é um museu que tem uma colecção muito vasta que passa pela escola Flamenga, por artistas como Goya, Rubens, Velasquez, são séculos e séculos de obras marcantes e popularizadas por reproduções como o são “As Meninas”, que ainda hoje são objecto de teses sobre o jogo de espelho. As salas são incontáveis e o acervo é de tal forma vasto que é impossível fazer uma escolha do que é mais belo ou representativo, há tendência para que se fique com uma ideia vaga do que está exposto, seguir cronologicamente as salas nem sempre é fácil. O Prado é a catedral da beleza ainda subjugada a mecenas reais ou à igreja, que impunham os temas que os pintores tinham que executar, dai os motivos serem na sua maioria religiosos ou de cariz cortesão. Através deles podemos perceber as inquietações de cada época, as técnicas usadas, as paisagens onde passeavam os reis à cavalo numa caçada pela tapada do Palácio. São testemunhos precisos sobre um passado alicerçado numa sociedade piramidal, que tinha como fundamento filosófico a Bíblia que impunha uma moral e por conseguinte os costumes. Há obras de fantasia que representam o inferno, ou Adão e Eva com folhas a tapar delicadamente as partes sensíveis, o inferno é local onde a dor é fruída de forma sanguinária, no céu os anjos fazem-nos companhia enquanto dedilham a harpa, ou cupido dispara a seta que nos infecta com amor.
Museu do Prado
O Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia é consignado a uma época pós-Revolução Francesa, quando o tempo deixa de ter um carácter circular para se instituir uma linearidade que ainda hoje está vigente. Os nomes mais sonantes são Dali e Picasso, o primeiro pintou todos os estilos até se estabelecer no surrealismo onírico. Picasso foi o constante perturbado, que explorava cada pincelada como se fosse criar uma nova estética, a síntese encontra-se na “Guernica”, ode épica às vítimas da Segunda Guerra Mundial. Mas há mais artistas como: Carlos Saura, Bacon, Juan Muños, Harun Fracrok, Sachiko Kodama, Ben Rubin e Mark Hansen, Magrite, Tapies, etc, uma overdose que perpassa a história da arte contemporânea.
Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia
A colecção permanente do Museu Carmen Thyssen- Bornemisza começa no século XIII e acaba no século XX. É uma mistura condensada do Prado e do Reina Sofia, numa sequência temporal agrupada esteticamente, o que prevalece um didactismo latente. Desde os retábulos em edícula passando por Rodin, John Constable, Salomon van Ruysdael, Alfred Sisley, Paul Gaugin, Edgar Degas, Van Goth, Edward Hopper, Picasso, Dali, os impressionistas, expressionistas, o cubismo, surrealismo, simbolismo, etc. Um conjunto soberbo e em simultâneo eloquente, que emociona os sentidos como se cada sala fosse um atentado à nossa ignorância, é deste terrorismo que as sociedades carecem.
Madrid, 05 de Junho. Museu Carmen Thyssen-Bornemisza.