segunda-feira, 17 de março de 2014
domingo, 16 de março de 2014
Smog
A noite está fria e um nevoeiro encontra-se suspenso sobre Ceira, uma localidade pacata e rural que é invadida por três bandas: The Walks, Canja Rave e Sam Alone and The Grave Diggers. O palco está instalado na Associação Recreativa e Musical de Ceira e enquadrado numa sala rectangular com paredes brancas que têm autocolantes pretos redondos como se fossem perfurações realizadas por um tanque que desferiu cravos em luto. The Walks é um quinteto de rapazes aprumados, que usam as guitarras numa profícua convergência mood-pop mas a teia que os suporta é a secção rítmica que é particularmente imaginativa e segura, e é a partir desta que se explora uma constante veia blues (funk) rock. A voz de John Silva, magro e alto com uma cabeleira desalinhada, é substancialmente comprometida com uma frequência deflagradora das canções, “oh yeah”.Quando o ritmo acelera os The Walks aproximam-se do rock pop com anfetaminas a ferver num copo onde se encontra emergida a dentadura postiça de um idoso habituado a lavrar a terra com uma enxada. “Obrigado, mais uma vez, nós somos os The Walks, de Coimbra”, “e estamos a dar início a esta festa, esta noite é vossa”. À frente do palco encontra-se um vazio, as pessoas encontram-se recuadas, o medo impede-as de estarem na linha da frente, e contagiarem-se com a eficácia estilística dos The Walks; principalmente quando emana de um passado em que impera o brit-mood- pop associado a um ritmo cativante que eleva as canções a um panteão ocupado por fiéis dignitários, que promoveram o Rock and Roll como forma de se libertarem dos estigmas que inquestionavelmente provoca o atrito. Para a última canção é convidado Victor Torpedo, o Rei da Capital do Rock (vulgarmente conhecida por Coimbra), é apresentado por John Silva como “o grande”, “o nosso amigo Victor Torpedo”, “para nos ajudar nesta música”.
“Nós somos os Canja Rave” é a voz de Paula Nozzari, mulher de estatura minúscula mas que se revela uma eximia dominadora da sua bateria, que tem um “W” inscrito no bombo gigante, que a transforma num brinquedo destinado a crianças surdas. Para além da bateria Paula Nozzari canta e intercala a sua voz com a do Chris Kochenborger que empunha uma guitarra castanha com caixa acústica. O percurso geográfico que promovem é entre cidades do sul da América do Norte, como se fossem os representantes de diversos centros em que o rock é continuamente polvilhado pela country, pela pop com corantes e anabolizantes low fi, e o alt rock com cicatrizes que são sulcos num deserto noctívago patrulhado pela cascavel. “Olá”. Os Canja Rave é um dueto improvável de uma pin up tropical e de um cantor que personifica as diversas influências estéticas e que tem a competência de verter os acordes com harmonias que distorcidas se revelam em canções apátridas.
Sam Alone & The Grave Diggers é um sexteto de machos em que se destaca a inexistência do contra baixo, que dada a sua natureza acústica, raramente consegue sobressair ao trio de guitarras eléctricas. A estrutura das canções é a clássica, algo que corresponde a uma equação em que as frases musicais se intercalam revelando uma incapaz progressão, o que desperta um potencial enfado ao ouvinte. Sam Alone exibe tatuagens no braço e no pescoço, de onde pende um fio com uma chapa, veste uma T-shirt branca que é parcialmente encoberta por uma camisa aberta, a sua postura é a de quem está habituado a palcos instalados em estádios. A prova são as canções que debitam, sejam as de meio tempo com forte adjectivação rock fm, ou, as de pendor rock em que citam autores do imaginário hard rock americano da década de oitenta. Os pormenores mais preciosos são promovidos pelo Hammond que se verga perante a herança de Bruce Springsteen. Mas a eficácia da voz de Sam Alone, para além do seu cavalheirismo ao agradecer “às pessoas que vieram do Porto para nos ver”, somados à desenvoltura do guitarrista solo, relegam-nos para uma esfera onde impera a fama e a fortuna, e as rock stars estão alinhadas com um tempo em que a testosterona tem mais valor do que a cocaína.
9º Ceira Rock Fest, 15 de Março, Associação Recreativa e Musical de Ceira @ Ceira
“Nós somos os Canja Rave” é a voz de Paula Nozzari, mulher de estatura minúscula mas que se revela uma eximia dominadora da sua bateria, que tem um “W” inscrito no bombo gigante, que a transforma num brinquedo destinado a crianças surdas. Para além da bateria Paula Nozzari canta e intercala a sua voz com a do Chris Kochenborger que empunha uma guitarra castanha com caixa acústica. O percurso geográfico que promovem é entre cidades do sul da América do Norte, como se fossem os representantes de diversos centros em que o rock é continuamente polvilhado pela country, pela pop com corantes e anabolizantes low fi, e o alt rock com cicatrizes que são sulcos num deserto noctívago patrulhado pela cascavel. “Olá”. Os Canja Rave é um dueto improvável de uma pin up tropical e de um cantor que personifica as diversas influências estéticas e que tem a competência de verter os acordes com harmonias que distorcidas se revelam em canções apátridas.
Sam Alone & The Grave Diggers é um sexteto de machos em que se destaca a inexistência do contra baixo, que dada a sua natureza acústica, raramente consegue sobressair ao trio de guitarras eléctricas. A estrutura das canções é a clássica, algo que corresponde a uma equação em que as frases musicais se intercalam revelando uma incapaz progressão, o que desperta um potencial enfado ao ouvinte. Sam Alone exibe tatuagens no braço e no pescoço, de onde pende um fio com uma chapa, veste uma T-shirt branca que é parcialmente encoberta por uma camisa aberta, a sua postura é a de quem está habituado a palcos instalados em estádios. A prova são as canções que debitam, sejam as de meio tempo com forte adjectivação rock fm, ou, as de pendor rock em que citam autores do imaginário hard rock americano da década de oitenta. Os pormenores mais preciosos são promovidos pelo Hammond que se verga perante a herança de Bruce Springsteen. Mas a eficácia da voz de Sam Alone, para além do seu cavalheirismo ao agradecer “às pessoas que vieram do Porto para nos ver”, somados à desenvoltura do guitarrista solo, relegam-nos para uma esfera onde impera a fama e a fortuna, e as rock stars estão alinhadas com um tempo em que a testosterona tem mais valor do que a cocaína.
9º Ceira Rock Fest, 15 de Março, Associação Recreativa e Musical de Ceira @ Ceira
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