sexta-feira, 3 de agosto de 2018
quinta-feira, 2 de agosto de 2018
Vieira da Silva / Arpad Szenes ou o Castelo Surrealista
E para onde vão os homens que habitam nas cavernas talvez para um outro espaço onde se comem uns aos outros num freak show emitido numa onda de calor pestilento para as divisões dominadas por fantasmas o nada é verdade e parece verosímil que é o seu oposto relembra o objecto pernicioso é possível que a esperança esteja ofusca à luz do sol e sentida na amargura da escuridão vertida por um rosto de olhos azuis de ondas amargas contidas pela maré alta e num inventário discriminam-se as almas no refúgio de damas de honor no casamento entre dois seres celestiais deixam as pessoas no lodo do falatório que lhes anulam o vazio proporcionado por uma existência inexistente guarda o trocado porque essas palavras são apenas e somente títulos de jornais de província ou gralhas que me mutilam e se configuram como as minhas inimigas se és a rotina de um amor caduco ou fissura no meu coração fecha essas pernas e penteia as unhas e eventualmente os demónios estejam à espera de uma outra liturgia para reviverem o interior das coisas que na natureza são testemunhos de Deus para quê duvidar da Sua imagem se a encontro ao espelho com coração de ouro e a dissolução institui um outro além que é o Infinito que na sua génese se multiplica até ao nada do nada em notas numa partitura onde se encerra a não-existência não é promessa de uma religião que não se revolta contra o seu âmago de substituto da razão infectando-a com uma parábola que confere um outro tempo num lugar Finito e na suspensão se deseje outro corpo outra cultura uma outra religião e uma mesma consciência que se compraz com a realidade que se equipara a paredes brancas que devagar se aproximam para espremerem o que se encontra com vida; a Expofacic agendou para o último dia do mês de Julho uma combinação bizarra os Waterboys e o José Cid e este último discrimino-o porque o seu cançonetismo pop é tão obsoleto quando popularucho e como tal resta-me o colectivo com origem na Irlanda e quem os apresenta é um roadie que especifica a nacionalidade dos sete músicos entre os quais duas coristas e Mike Scott que domina o cenário com o nome da banda à amarelo e estranhamente os ecrãs laterais não os emitem a tocar “Medicine Bow” que prefigura um domínio sónico de diferentes centros mas o que domina é o Rock and Roll e este é subsequentemente em outras canções associado à folk e a fusão é de uma elegância primorosa porém às que injectam o rock fm ou blues resvalam para uma tipificação que os consigna à vulgaridade e estas são portentosas ao ponto de provocarem aversão mas felizmente são as primeiras a dominarem e há acrescentar a virilidade e a despretensão desenvolta que remetem para campos bucólicos ou paisagens marítimas e ainda o amor por alguém perfeito e há “The Pan Within” dividida entre o violinista e a voz e a guitarra semi-acústica do Mike Scott que é de uma simplicidade incomensurável que paradoxalmente a engrandece e é somente sublime e ainda devo sublinhar a sapiência do cantor a liderar a banda e nessa medida é um centro poderoso seja através de um timbre de voz grave e simultaneamente impositivo a encaminhar o ouvinte para um universo em que vive num outro tempo e o lugar esse está longe alguém que tenha a força suficiente de o alcançar; e ela tem razão quando se despede da mãe e do pai nosso adivinho para onde segue o seu pulsar de virgem por nunca ter sido amada por Deus e eu amo-a ah sim como às plantas e aos flamingos cor de rosa que flutuam em redor do seu olhar que me absorve para um hiato de profunda comunhão cancelam-se as vagas num repositório de malvadez e se estivessem tão longe seria possível resumi-las a uma silhueta que de tão inalcançável é subsequentemente esquecida como se a vida fosse um sonho e por sua vez o que será a morte essa é uma atmosfera que se movimenta a acariciar quem seja vítima de uma fraqueza que o dilacera e o predispõe a aceitar a boleia mesmo que seja para um não-lugar relutantemente restabeleço contacto e digito marcas digitais nas falésias que me remetem para o seu sorriso essa divagação onde se encontram sortilégios de felicidade e me envolve num rasgar suave de versos versados num cântico etéreo e flutuo numa felicidade desconcertante os lampejos que se sacrificam por nós são de uma pureza virginal resumem-se à loucura dos que se digladiam por um naco de carne ou de pão nosso que é o fulcro de uma luta insana entre dois partidos similares como gémeos siameses soldados no cérebro e nas imediações ouvem-se tiros de garras de aço que voluntariamente se apropriam dos bens perecíveis que são traficados de fronteira em fronteira num vai e vem em que impera a submissão dos que de pés descalços batem em bolas de sabão contra os muros que os aprisionam a um amontoado de cimento deficiente de onde se avistam os nossos rostos a beijarem-se.
The Waterboys, 31 de Julho, Expofacic, Cantanhede.
The Waterboys, 31 de Julho, Expofacic, Cantanhede.
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