A noite é fustigada por um intenso temporal em Coimbra ou será outra cidade qualquer a beira do Mondego ou então é Coimbra e por isso devo estar na proximidade do Teatrão ou talvez esteja perdido na Praça da República a beber uma cerveja de um copo inquebrantável que se parte acidentalmente contra a calçada portuguesa pontuada por portuguesas e por portugueses e de outras nacionalidades vagamente provincianas acende-se a luz verde de uma porta e é a da Tabacaria sítio do rock and pop e outros tóxicos saudáveis tal como é a relação antagónica entre os Wakadelics e os PSICOTRONICS; os Wackadelics são uma profusão de referências académicas que passam pelo rock progressivo ou pelo flamenco e esta díspar e heterogénea oferta é quase um sortilégio esquizofrénico que se espraia proficuamente mas que pode provocar uma distorção proporcionada pela contínua alteração do ritmo a quem se encontra presente e nessa consequência poderão ser nocivos a quem seja sensível a tais variações sobre variações de variações; quanto aos PSICOTRONICS recorrem a samples e a programações predominantemente synth que são ora corrompidas ou canibalizadas pela guitarra eléctrica do Victor Torpedo com a conivência do Pedro Antunes que alterna a guitarra eléctrica com o baixo e a liderar este dueto visceral encontra-se o Marquis de Cha Cha vestido de Pierrot mas que tem o rosto maquilhado de “Joker” tal como o psicopata interpretado por Joaquin Phoniex que dança com o intuito de contagiar o público no meio do qual se encontra a cantar algo destituído de lógica isto é Dada impondo-se à banda como uma personagem que passa da tristeza ao êxtase sem que para tal haja um motivo que segue decadentemente o beat e a frequência melódica que instauram um kraut kitsch rock; uma outra velha nova cidade onde desagua o Mondego suponho que a hibernada Figueira da Foz essa bela colectividade de andaimes ferrugentos e ocupada por uma burguesia de pensamento de baixa altitude que se poderá erradamente apelidar de criminosa do bem-estar se este for a delapidação da natureza e a ditadura do alcatrão e do betão mas tais considerações são de um político que somente faz da liberdade de expressão a sua cátedra mas leia-se o código penal como uma ficção escrita por um doido para se perceber porque as prisões estão sem esses delinquentes e perceber-se-á o que de mal fez a democracia a esta cidade mas isso pouco importa e o que me traz ao Meeting Point (espaço debaixo da Esplanada Silva Guimarães) é o Woodrock In Town que apresenta Johnny Dead Radio e Twelve Billions e é este colectivo que assume a primeira parte e a oferta musical é de um hard rock que se encontra limitado à sua génese sem que tal lhe seja benéfico antes pelo contrário isto é obviamente mas por outro lado quando adicionam algo mais heavy ganham alguma força motriz criativa e reticências mas esta virtude perde-se quando o vocalista/guitarrista dá uma ordem nazi ao público: “Mexam-se caralho!”; Johnny Dead Radio são um composto que se exprime através de um hard rock deveras finalizado com o intuito de ser objecto de atenção pela rádio e outras formas de comunicação digitais e este trunfo tem um valor insofismável assim como a forma competente com que executam as canções sem que haja qualquer falha e a somar a estes pontos há a performance inexcedível do vocalista assim como a de um público no limiar de uma loucura que os enfurece num exorcismo colectivo que é reflexo de que os Johnny Dead Radio não deveriam estar a tocar sob a Esplanada Silva Guimarães antes o lugar deles é lá em cima.
PSICOTRONICS + Wakadelics, 22 de Novembro, Teatrão.
Woodrock In Town (Johnny Dead Radio + Twelve Billions), 23 de Novembro, Meeting Point, Figueira da Foz.
Em memória do António Tavares-Teles.
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