Há dois sexagenários na
porta da bilheteira do Teatro José Lúcio que têm bilhetes para venda para o
primeiro balcão, por um conjunto de circunstâncias não podem assistir ao
concerto dos GNR, umas das poucas aparições do trio neste ano— isto devido aos
efeitos secundários da pandemia na indústria do espectáculo; os dois idosos
estão ansiosos em vende-los de preferência sem qualquer prejuízo, algo que
almejam com alguma dificuldade, seria discriminatório converter estes dois
vendedores em jovens, assim como grande parte das pessoas que me rodeiam que
fazem gala de uma indumentária escolhida para uma noite especial. O concerto
tem diversas escalas é iniciado pela hipnótica “O Arranca-coração” e a
sequência é marcada pela popularucha “Nova Gente” ou a pop “Efectivamente”, de
sublinhar que Rui Reininho não se limita a cantar de forma irrepreensível cada
uma dessas canções mas a sua performance versa o realçar do ridículo e neste
reverberar expressivo o público ri, este ponto é fundamental para que se tenha
em atenção o outro lado da poesia do Rui Reininho que sendo pop é passível de
ser desmistificada; “Sub 16”, “Las Vagas”, “Sangue Oculto” revelam uma frescura
abrasadora (em especial a segunda), e há ainda a realçar que a maioria das
canções sofreram novos arranjos que se permitem ouvi-las sem que tenham as
cicatrizes de vinte anos (ou mais…) de estrada e radiodifusão; “Dunas” permite
ao ouvinte predispor-se e retomar as tardes de Verão que recentemente findaram,
não sem antes tropeçar no lixo e em outros objectos “salgados”, uma história de
amor adolescente sintetizada de forma sublime por parte dos GNR. Há como campo
de fuga as “Dunas”, mas para a dança de contornos pecaminosos conta-se com
“Vídeo Maria” que se eterniza como a canção que tanto joga com o pecado carnal
quanto o espiritual, e se ambos estão interligados há um que é o gatilho para que
o outro se desenvolva e desse virá os estímulos sentidos pelo indivíduo. De
sublinhar que neste ano os GNR completam 40 anos de carreira que deveria ter
sido celebrada com pompa, mas dada a situação pantanosa criada pela pandemia é
possível que os festejos se realizem no 2022, numa sala perto de si e onde os
GNR terão oportunidade de justificar mais uma vez o porque de serem a maior
banda pop Portuguesa.
GNR, Os Primeiros 40
Anos, 14 de Outubro, Teatro José Lúcio da Silva, Leiria.