Se fosse uma tarde
quente de Junho seria o ideal e por isso pergunto o porquê desta aragem gélida que
percorre o Parque da Bela Vista e perturba os festivaleiros (fãs de gorros e de
flores nas cabeças e ou pinturas faciais) sente-se uma excitação generalizada
por estarem a participar no RIR (Rock in Rio).
Há quem esteja atento
aos UB 40 com Ali Campbell (este é irmão do anterior vocalista) que tem um
timbre similar a esse seu familiar-- fazendo pensar que é o original algo que
não custa nada a crer --oferecendo à banda uma voz aguda e superiormente
irritante que sobressai a um reggae que é de uma linearidade atroz por se
adaptar maioritariamente a um contexto de socialização onde domina a
festividade, fugindo à canção de intervenção que teve como expoente de representatividade
o Bob Marley, sendo assim a música dos UB40 com Ali Campbell é tão superficial
quanto alienante algo que agrada por norma às multidões.
No palco EDP Music
Valley (que dista do Palco Mundo o suficiente para não se ouvir ecos dos UB 40)
espera-se pela entrada em cena do Ney Matogrosso-- que se apresenta após a
entrada dos músicos que foram apresentados por uma voz off assim como é referenciado
o designer das luzes, etc— e é invadido por uma ovação dos fãs que se deveriam
ajoelhar perante este mito brasileiro que canta como se cada palavra fosse um
organismo vivo que se complementa numa poética que recorre aos Secos &
Molhados e ao seu repertório a solo, e as canções (MPB, rock, bossa nova)
evocam locais onde a emancipação do homem se dá através do momento que toma
conhecimento da razão e está faz crer ao individuo que a liberdade é
fundamental para a sua felicidade, estas canções são tão pertinentes hoje quanto
fizeram quando dominava a ditadura militar no Brasil, que infelizmente continua
manietada às mãos dos militares e dos juízes, tendo como representante alguém
tão néscio quanto Bolsonaro. (Ney Matogrosso não é só um mito da música popular
brasileira é um guerreiro que através dos seu canto de ave de rapina se enuncia
como um corpo livre e assim lhe segue a alma, do primeiro a multidão pediu que
despisse o casaquinho mas recusou: “Está correndo um vento frio nas minhas
costas…”, mas mesmo assim anui e abre-o ligeiramente e a galera delira por o
cantor ser tão complacente quanto simpático).
No Palco Mundo surgem
os noruegueses a-ha que são compostos por um trio no qual se insere o vocalista
Mortem Harket que apresentam um conjunto de canções predominante pop com laivos
de uma sobriedade que é somente assoberbado pelos teclados que lhes incutem uma
característica synth mas afincadamente kitsch, mas o centro das atenções não é
somente Mortem Harket com o seu timbre em falseto (e que esteve irrepreensível durante
a hora que esteve em palco), mas também o guitarrista Paul Waaktaar que fez
solos épicos mas contidos que introduziram uma urgência rock às canções que
disso precisavam, há ainda a realçar que apesar de transporem fielmente os
originais que lhes deram fama na década de oitenta (principalmente) estas
tinham inúmeros pormenores lhes ofereciam laivos de alguma contemporaneidade. De
realçar o discurso de Magne Furuholmen sobre o atentado a um grupo de gays em
Oslo, sublinhando que todos têm o direito de se relacionarem livremente.
Duran Duran (também no
Palco Mundo) iniciam com “Wild Boys” e aparentam uma coesão soberba que ganha e
domina o público que acompanha na gritaria do Simon Le Bom, porém há um
retrocesso quando arriscam as músicas do novo disco “Past/Present” (e que
alternam com os clássicos) pois parecem uma outra banda porque os cinco
elementos não se encontram passando de banda a um grupo de músicos que mal ou pouco
ensaiaram as novas músicas, algo que é tão desconcertante quanto frustrante para
quem como eu está em pé numa ribanceira (e o vento que me acompanha desde o
inicio e que está cada vez mais gélido), a somar a isto está a voz de Simon Le Bon
que inexplicavelmente ao fim de uma hora de concerto dá o berro (isto é cana
rachada) e que é mero ruído (nem o Auto-Tune consegue resolver), e de negativo
acrescenta-se a postura do vocalista que é um tanto ou quanto sobranceira e arrogante:
para que o acento cockney Simon? Se tanto ele como os restantes membros da
banda (excepto o guitarrista que está com eles há dezoito anos) são de
Birmingham onde não se fala com tal sotaque. De elogiar a canção que Simon Le Bon
dedica ao povo da Ucrania.
Rock
In Rio, 25 de Junho, Parque da Bela Vista, Lisboa.