segunda-feira, 14 de novembro de 2022
domingo, 13 de novembro de 2022
True Grit
Seis anos volvidos da última
apresentação a solo da Tracy Vandal, porém durante este tempo tem cantado com
os a jigsaw, ou recentemente no concerto de homenagem ao Jack Kerouak autor de “On
the Road” à convite de João Rui aka John Mercy que também se irá apresentar ao
lado da diva escocesa no Salão Brazil.
Poder-se-ia presumir
que seria um concerto quase exclusivo para amigos ou para fãs, nada mais errado
o Salão Brazil encontra-se de lotação esgotado e as pessoas estão na
expectativa e ou na dúvida sobre que género de espectáculo será, o que
sobressai do cartaz de apresentação (que é a capa do disco) é um pássaro preto
morto sobre fundo branco com a inscrição “Midnight Presents”, que reúne versões
a partir de obscuros originais.
“Still As The Night” (original de Stanford Clark) reúne os elementos que norteiam a Tracy Vandal seja o rockabilly associado a uma continua tensão a partir da qual sobressai a voz da cantora escocesa. Sendo assim estes elementos aqui detalhados ora se escondem ora são reflexo da inusitada capacidade de transformar canções (algumas com mais de cinquenta anos) em temas que para além de soarem actuais parecem originais; inevitavelmente o mesmo sucede com o segundo single “Far From Any Road” (original The Handsome Family) retirado de um álbum inesperado (pois acredito que muitos fãs estivessem à espera de um conjunto de originais). Há ainda a destacar um tema que se revela de uma força tremenda quase com tanta inesperada energia e tensão que não poderia ser mais negro na sua génese:decorre da descrição de quem se está a afastar do Inverno e a entrar noutra estação do ano imaginária, pois esta é tão densa quanto o inverso e esse tema é “Winter`s Going” (da Bonnie Dobson), que se revela quase como se fosse uma explosão mas que nunca logra romper o espaço em está cerceada de tal forma é a sua beleza, e a interpretação da Tracy Vandal é sublime (aliás irrepreensível ao longo do concerto). Por fim nada mais nada menos que a calma sublime de “Wicked Game” (de Cris Isaak) que se revela através de um tempo lento quase na busca de uns acordes mas que em simultâneo tenta anula-los, e é neste paradoxo que canta a Tracy Vandal com delicadeza e beleza como se estivesse por instantes a flutuar.
quinta-feira, 3 de novembro de 2022
quarta-feira, 2 de novembro de 2022
The Long Trip
Acid Mothers Temple encontram-se junto a uma mesa com os seus discos e alguns desenhos psicadélicos à venda junto à inscrição “Cash”; o concerto de hoje está integrado na digressão denominada de “MetaReboot Tour 2022”, e é uma extravagância pois Coimbra é uma das quarenta e sete cidades a vê-los ao vivo em outros quarenta e sete dias de viagem.
Acid Mothers Temple
corresponde a um colectivo japonês de cinco elementos que dão primazia às
guitarras eléctricas e a um teclado. As dinâmicas que estabelecem dão
prioridade à distorção e outras raras vezes à melodia, na qual se imiscui uma
distorção que ora aumenta o seu espectro ora o diminui. Isto jogando sempre no
plano dissociativo, em que cérebro procura acercar-se de um (da melodia) ou de
outro (da distorção), procurando fazer um reconhecimento entre o que se
aproxima da perturbação (a distorção) ou da harmonia (a melodia). Entre estes
há uma fronteira-- mas é somente para quem se encontra consciente deste mecanismo--
que obriga o ouvinte a que não esqueça a mortalidade por contraposição do
imaginário sonoro associado à imortalidade (leveza e a beleza dos acordes pop),
o problema é a incapacidade de identificar um ou outro dada a sua contínua
mistura.
O concerto jamais será um convite a quem se
julga de uma forma ou de outra preso no seu ego que de tão grande impede que
outras formas do ser se expandam e recriem outras maneiras de apresentar o “eu”
(para muitos um desconhecido que se limita a ser uma mimetização de elementos
chave nesta sociedade de consumo).
É certo que é mais
fácil viver através de outros que de uma forma ou de outra venceram os
obstáculos que a vida lhes foi “proporcionando” (entre aspas para sublinhar o
seu carácter pleno de ironia). É possível que este método seja falível e obrigue
um reinicio desse percurso, desta feita com a tomada de posse do “eu” e dessa
forma usufruir livremente a música destes japoneses que tem como objectivo
lembrar que entre o céu e o inferno haverá sempre música.
Acid Mothers Temple, MetaReboot
Tour 2022, 1 de Novembro, Salão Brazil, Coimbra.
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