domingo, 13 de abril de 2025

Fuck the World

Victor Torpedo and The Pop Kids sobem ao palco do Salão Brazil em Coimbra onde apresentam o último álbum “Fuck the World”. E a música versa sobre a decadência a que este mundo tem resvalado, década após década, e que está patente como exemplo em “Society”, o primeiro single a ser extraído do álbum acima descriminado. Não há neste concerto lugar a tristeza ou depressões descontroladas, antes uma alegria que contamina os ouvintes e os leva a dançar, pouco lhes importa se o Mundo vai acabar ou se é feito de esgotos e lixeiras a céu aberto, ou de Ilhas desertas contaminadas com uma fauna de doentes mentais. É certo que a movimentação do Victor Torpedo e do seu saxofonista entrando pelo publico adentro tipo espalha-brasas incita-o a movimentarem-se como que a acorda-los da hipnose que música provoca. A música sublinha a pop mas uma pop que se deixa contaminar por outros géneros musicais como o ska, mas tudo misturado de forma a que haja um equilíbrio entre as diferentes influências, e desta forma pode-se declarar que toda a energia que é imposta pelos músicos é espelhada na música que sofre com a urgência de transformar o Mundo num lugar onde reina a felicidade.

 Victor Torpedo and The Pop Kids, “Fuck the World”, 12 de Abril, Salão Brazil, Coimbra.  


sábado, 22 de março de 2025

Surrender (quarenta canções e uma história)

Gavin Friday apresentou-se na sala 2 do Hard Club no Porto no dia 21 de Março, com um trio de músicos que se dividiam por vários instrumentos como os teclados, baixo, sopros, estes elementos foram fundamentais para oferecer às canções um nível de profundidade assinalável já que os temas primavam por serem construídos através de ritmos dançáveis. Quero com isto afirmar que a sala facilmente se transformava numa pista de dança, mas com ritmos atuais, e letras que versavam sobre o amor assim foi, por exemplo, em “The Church of Love”, ou o afirmar de uma determinada masculinidade em “Ecce Homo” ou “Best Boys in Dublin”.

Na biografia de Bono “Surrender (quarenta canções e uma história)” refere que dos seus amigos de infância um deles era gay; e esse era precisamente Gavin Friday, não deverá ter sido fácil sê-lo na década de setenta numa Irlanda dividida e católica, e nessa altura liderar os Virgin Prunes (dos quais tocou dois temas).

A presença de Gavin Friday preenchia o palco e com a sua voz de tenor oferecia às canções um caracter muito especial, se me permitirem, quase divino. A excentricidade de Gavin Friday liberta os outros dos seus complexos e medos, a sua forma guerreira de se expressar é de confrontação ao outro sobre as implicações que tem em manter a homossexualidade escondida ou encoberta com um manto de medo. É este o fundamento de um alinhamento composto por sucessivas canções que ampliam o desejo de liberdade-- de emancipação de algo que possa estar escondido somente para que o ouvinte se integre facilmente na sociedade.

 Gavin Friday, Ecce Homo, 21 de Março, Sala 2 do Hard Club, Porto.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

The Loved One

Noah Lennox mais conhecido por Panda Bear é um músico americano e membro fundador dos Animal Collective, e que se irá apresentar no Salão Brazil que se encontra lotado. Para meu espanto Panda Bear, traz consigo duas teclistas ou processadoras de som, um baixista e um baterista, e o Panda Bear assegura a guitarra e a voz;  porque dada a complexidade da sua música esta seria apresentada através de um teclado ligado a um computador. As primeiras músicas referem-se à uma electrónica que remete para locais tropicais, mas o género é pop quase com a pretensão de ser psicadélica. A partir daqui o leque vai-se abrindo devagar como se fosse um arco-íris que teve início na mencionada pop, para passar para uma versão que se aproxima da pop-rock mas numa vertente psicadélica que gradualmente se esvai para resultar no rock. Este último raciocínio parece simplista, e é o de facto, mas poderemos criar uma trave mestra que se deveria apelidar de pop psicadélica que se transmuta para outros domínios que sejam mais psicadélicos somados ao rock que por sua vez é indie. Mas estas denominações apenas servem para situar o ouvinte sobre quais os efeitos destas sonoridades têm sobre quem está no Salão Brazil, e estes dançam e gritam ao Panda Bear no intervalo das canções, como se estivessem hipnotizados pela sua música.  

 Panda Bear, 4 de Dezembro, Salão Brazil.