segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Ente Querido

O Coliseu do Porto está com lotação esgotada para celebrar os quarenta e cinco anos de carreira de uma das grandes bandas deste país: os GNR. Mas ao se abrir o tecelão surgem três rapazes a substituir os GNR, Lopo Romão, D. Sancho e o António Machado, acompanhados pela dupla que acompanha o Grupo Novo Rock, Samuel Palitos (há dez anos na bateria) e o recente Ben Monteiro (nos teclados/guitarras); o público passa do êxtase para um nervoso miudinho, pois julgam verem a tocar os membros da banda, e isto sucede durante a primeira canção “Espelho”. Os GNR originais substituem os GNR infantes; e a partir daqui o concerto ganha uma forma nada saudosista, mas é inevitável que assim seja, é impossível fugir aos êxitos, apesar de começarem com “Bem-vindo ao Passado”, que é seguida de “Vídeo Maria” que leva ao rubro o público, posteriormente “Caixa Negra”, e “Eu Não Sou Ninguém” conta com a presença em suspenso no palco no interior de uma rede de um contorcionista; seguem-se três canções extremamente populares, “Sub 16”, “Mais Vale Nunca” e “Efectivamente” que são cantadas em uníssono com o público, rendido desde que Rui Reininho, Jorge Romão e Tóli Cesar Machado surgiram em cena. Rui Reininho dedica “Asas” “para os bombeiros” e o slow pop é acompanhado com imagens do vídeo clip e ouve-se o canto de voz suave: “as asas servem para voar”; seguem-se os acordes de “Pronúncia do Norte” que gera que se acendam os telemóveis e que façam do coliseu um universo estrelado e as vozes suplantam a do cantor, “é a pronúncia do norte”; destaco ainda “Tirana” a esquizofrénica “Popless” ou a esvoaçante “Voos Domésticos” ou a pop “Cais”; “Bellevue” é similar a ferro fundido que vai ganhar uma forma abstracta. “Morte ao Sol” é uma sentença por cumprir mas que é paradoxalmente cantada pela maioria dos presentes, “Sangue Oculto” um portento rock. “Las Vagas” é um transcendente delírio synth pop como se fosse um sonho que gradualmente nos atrofia e subsequentemente nos liberta e por fim é-nos permitido respirar. “Inferno” de Roberto Carlos e de Erasmo Carlos é executada como se estivéssemos em LA; a dupla que encerra a noite é “Ana Lee” e a inevitável “Dunas”, a primeira revela-se através de um exotismo pop (cantada juntamente com o público) e a segunda é uma canção de Verão e ao remeter para este universo é de uma inusitada felicidade.

GNR, “OPERAÇÃO STOP”, 19 de Outubro, Coliseu do Porto, Porto.    


sábado, 14 de junho de 2025

The Comedians

 Wipeout Beat celebram a edição de “It happens because we are, not because we exist” no Salão Brazil, mas a primeira parte coube aos Caustic, Babe! que se estreiam a sua primeira homónima edição discográfica. Caustic Babe! correspondem ou socorrem-se da new wave para estruturar às suas canções mas ficam a ganhar quando transfere o ruido para a distorção.

Os Wipeout Beat são uma entidade que poderia constar no interior de catedrais e faze-las arder, dada a frequência dos teclados que mimetizam de forma naif os órgãos de igreja, e a guitarra eléctrica exasperante aniquila o passado trazido pelos teclados e recoloca as canções no século XXI. É nestes dois polos temporais que emergem as suas canções e desta inter-relação que presente e passado se consomem mutuamente num vigor que não deixa espaço a que imaginação consiga fugir e exilar-se num país distante. Há uma ilha no panorama actual da música portuguesa, mas que não é paradisíaca, antes alicerces contruídos em tempos para aprisionar os que de uma forma ou de outra ignoram os Wipeout Beat.

Wipeout Beat + Caustic, Babe!, 14 de Junho, Salão Brazil.

domingo, 13 de abril de 2025

Fuck the World

Victor Torpedo and The Pop Kids sobem ao palco do Salão Brazil em Coimbra onde apresentam o último álbum “Fuck the World”. E a música versa sobre a decadência a que este mundo tem resvalado, década após década, e que está patente como exemplo em “Society”, o primeiro single a ser extraído do álbum acima descriminado. Não há neste concerto lugar a tristeza ou depressões descontroladas, antes uma alegria que contamina os ouvintes e os leva a dançar, pouco lhes importa se o Mundo vai acabar ou se é feito de esgotos e lixeiras a céu aberto, ou de Ilhas desertas contaminadas com uma fauna de doentes mentais. É certo que a movimentação do Victor Torpedo e do seu saxofonista entrando pelo publico adentro tipo espalha-brasas incita-o a movimentarem-se como que a acorda-los da hipnose que música provoca. A música sublinha a pop mas uma pop que se deixa contaminar por outros géneros musicais como o ska, mas tudo misturado de forma a que haja um equilíbrio entre as diferentes influências, e desta forma pode-se declarar que toda a energia que é imposta pelos músicos é espelhada na música que sofre com a urgência de transformar o Mundo num lugar onde reina a felicidade.

 Victor Torpedo and The Pop Kids, “Fuck the World”, 12 de Abril, Salão Brazil, Coimbra.