sábado, 3 de fevereiro de 2007
1978
A oito de Abril de 1978 morreu Jacques Brel, um património inestimável para a humanidade. Na sua obra predominava a ironia decadente de um século que assistiu a guerra de estudantes e sindicatos contra o Estado. A origem belga e a família burguesa, retratou-as ao pormenor, o recorte dos amores extremos, bombons, «Les bigottes», «eu choro como eles mijam sobre as suas mulheres infiéis!», a sua interpretação de Don Quixote a subir à cruz da redenção em cada verso. Esteve quinze minutos a ser aplaudido de pé: Brel sobe ao palco d ` Olímpia, de robe, as luzes iluminam o rosto suado, a câmara aproxima-se dos seus olhos: «ça justifie, quinze ans d` amour!» Aplausos. Nunca mais voltou, dedicou-se a encarnar uma alma errante, que atracava de ilha em ilha, à demanda do heterónimo perfeito. Em palco era incansável, violento, misógino, a cuspir os versos fumarentos, visceral, incólume. As suas canções são gritadas em Paris, ele é a alma da geração do romantismo eloquente, não acreditamos na desigualdade! Jacques Brel é a voz dos megafones, os acordes graves dos carros revirados a arder que acompanham o compasso das botas dos estudantes: «les bourgois! Les Bourgois! Les bourgois!»
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