“Eu estava a folhear o livro e descobri a fotografia, era uma sala com armários a cobrir as paredes, com fichas, e uma mesa com um relógio parado nas seis horas.” Daniel Blaufuks é fotógrafo formado nas escolas da ArCo, “passei pela moda, pelo Blitz onde tirava fotos a concertos, e pelo Independente, onde passei do caderno 1 para o 3 onde trabalhava com as loucuras do Miguel Esteves Cardoso!” Onde se “encontrava a fotografia, era numa antiga prisão, onde foi aprisionado o assassino do Arquiduque da Hungria [Franz Ferdinand.” E sabia que a iria descobrir? “Eu parti para a Checoslováquia com a perspectiva de a encontrar, porque no tal livro não existia data ou localização exacta” e “quando a descobri tirei logo a fotografia” mas foi como mero turista? Não usou qualquer género de artifício, como a luz? “Não, quando estava a visitar a prisão, encontrei o espaço e fotografei, através de um vidro.” E o que sentiu… ah não lhe vou perguntar isso, mas o que lhe pareceu? São as dúvidas de Ana Sousa Dias (“Por Outro Lado”): “a prisão ficava numa cidade chamada Terezín [anteriormente conhecida por:Terezienstadt] que fora usada pelos alemães para depositar os judeus, eles tinham que andar com a estrela amarela, os Nazis chegaram a cunhar moeda para eles terem acesso ao comércio, aliás, era uma cidade como outra qualquer, a única diferença é que eles não sabiam que iriam dali para os campos de concentração. Aliás, esta cidade foi utilizada como forma de propaganda, os alemães realizaram um filme que durava 90 minutos, mas que hoje tem apenas vinte, e foi utilizada para ser visitada pelos diplomatas para fazerem o reconhecimento da boa relação entre os judeus e os Nazis. As pessoas que vemos no filme não sabiam que iam morrer, integrei-o na exposição do BES Photo, mas em câmara lenta, para durar exactamente noventa minutos, porque achei, que só assim as pessoas se iriam aperceber do que sucedeu a todas aquelas pessoas. Os judeus estavam proibidos de sair da cidade”, mas não viam os aviões? “Viam mas julgavam que eles estavam a ser protegidos ou que iriam salvar outras pessoas, aliás aquilo era visto como se fosse o Club Méditerranée ou um Kibutz.” Portanto essas pessoas estavam alheias à guerra? “Completamente. Mas eles sabiam que algo estava a passar, agora exactamente o quê não” e “ a cidade era composta por idosos e crianças, maioritariamente, porque os outros eram usados para diversos trabalhos.”Quanto à sua opinião sobre “a fotografia será sempre abstracta”, é “porque depende sempre de uma perspectiva” e “os meus avós também foram vítimas da Guerra e tiveram que fugir para Portugal. Eu nasci na Alemanha, e vim cedo para Portugal;” com que idade? “Com nove anos.” E chegou a voltar à Alemanha? “Voltei com a minha mãe, e recebi, o que aqui não existe: uma grande carga cultural.” Quanto à imagem integrada no prémio BES Photo, --e da qual ainda não sabemos quem será o vencedor--quando descobriu o local sentiu algum impacto? “Eu coloquei um filtro vermelho, em algumas imagens, para as pessoas se relacionarem e perceberem que aquilo não é nenhuma ficção.”
Daniel Blaufuks em "Por Outro Lado"