domingo, 9 de dezembro de 2007

Abril

Surge uma formiga com voz de cigarra que encarna um “Menino D` Oiro”. Chama-se Cristina Branco e vem acompanhada por uma trupe de músicos que enaltecem a perfeição, mesmo que seja a primeira data da “ tour e vocês estão-nos a dar sorte.” A pauta ajuda-a na releitura de “Comboio Descendente,” com falsete no refrão. A sua silhueta veste vestido com decote em semicírculo, altiva nuns saltos altos, afaga nos seus braços o TAGV na “Canção de Embalar”, passeia-se pela “Avenida de Angola,” numa toada trágica perante as baixas na frente da guerra colonial. A sua ladainha é da pena de Zeca Afonso, o escultor das paisagens expressionistas, às quais ela empresta a alma e descodifica o “Redondo Vocábulo.” À “Cantigas de Maio” adiciona em seguida “A morte Saiu à Rua”, com uma introdução do baterista Alexandre Frazão que lhe incute um compasso fúnebre e arrítmico. A violência instala-se com a cumplicidade de “cinquenta” Antigos Orfeões da Universidade de Coimbra que entoam o refrão de “Coro da Primavera”, em cada pausa de bateria a voz da cigarra eleva-se num chamamento caloroso. O Verão ilumina a plateia que protesta de pé, a bater palmas no fim de “Índios da Meia Praia”, anavalhada por um colectivo de músicos que eliminam a angústia do passado estar presente, retalhado em dinâmicas acidentais, violento, mortal: Abril.

Cristina Branco “Zeca de Corpo e Alma” Teatro Académico Gil Vicente (Coimbra), 07 de Dezembro