domingo, 4 de maio de 2008

Der Spiegel

No centro de uma fonte hexagonal está colocada uma estátua de uma criança de caracóis entrelaçados, a urinar, Cupido feriu-a de morte, o futuro vai ser a conceptualização do holocausto sonoro. A sua personificação é Blixa Bargeld cabeça de cartaz do ruído tornado realidade, reproduzido para perturbação da sociedade que valoriza o silêncio. O excesso representava a revolução industrial, quando as maquinas passaram a alimentar as famílias, que por sua vez produziam para outras regiões do país. A carburação assume-se como o motor desse novo paradigma e com ela o advento de outros sons incapazes de serem produzidos pela natureza, estranhos, perturbadores, artificias. Bargeld o vanguardista-perfomer-screamer de cabeleira electrocutada, que no fim da década de setenta e durante a de oitenta, alimentava-se a speeds, alienava positivamente as pessoas ao proporcionar-lhes um readymade, entre quatro paredes, traduzido por instrumentos que simbolizavam a modelação do metal, através de rebarbadoras, ou, o estrilho da roda do carril a travar a posteridade. A perturbação dos parafusos a caírem sobre areia a arder, ferramentas a baterem em placas de aço, os martelos pneumáticos a demolirem o Muro de Berlim, o grito de um demente em fuga do manicómio a empunhar um megafone a anunciar a sua evasão aos carcereiros. A sucata era controlada pelo percussionista F.M. Einheit e por Mark Chung, hoje ausentes dos Einstürzende Neubauten (E.N). Na Casa da Música, sala Clubbing com acesso de escadas rolantes, assessorado por um bar com vidros ondulados, de onde se avista uma parcela da Avenida da Boavista. O sexteto alemão reduziu-se a um agrupamento maioritariamente digital, com um aparato de pratos de bateria carcomidos, aspecto rude mas não agressivo, a componente imagética é induzida através de um fundo sonoro onírico, com micro-sons a crescerem ao longo das canções, pontuadas por um hiato de descontinuidade como único património do passado: a voz apenas se agudiza teatralmente, o baixo não partiu uma única corda, caíram pregos como de uma cascata da “Lagoa Azul”. “At first this concert it was propose at three o `clock and I said, no I `m already a man, with almost fifty years”. “The problem with `Silence is Sexy` is that we are all, very smoky”, Blixa abre os olhos para memória futura.

"Alles Wieder Offen" Einstürzende Neubauten, Casa da Música (Porto), Sala Clubbing, 03 de Maio