quinta-feira, 15 de maio de 2008

Uma Revolução Imagética

O ponto de partida para esta exposição colectiva, que tem como suporte a pintura, assemblage, instalação, filmes, é a distorção da realidade de uma forma consciente: “Revolução Cinética”. Reunidas por Emmanuel Guigón, director do Musée dês Beaux-Arts et Archéologique de Besançon, no Museu do Chiado. O conceito desta exposição alicerça numa ilusão: o artista cria objectos com mecanismos que redireccionam a luz que incide sobre as cores, recorrendo a espelhos, alterando e proporcionando movimento às mesmas. O nosso olho é incapaz de descodificar o que é real da fantasia, cinético. Nas salas onde a luz é “clara” as partículas movem-se diluídas no colorido, tela com quadrados que se “mexem” gradualmente provocando o efeito de ilusão, uma sala com néons policromáticos pintam o compartimento branco. O objectivo é transportar o espectador para a ilusão inconscientemente, assim, não sofre qualquer resistência aos jogos de luzes. O cinetismo perturba na sua beleza esquemática, do familiar para o improvável, do real para a fantasia, o brinquedo que é uma alegoria do infinito. “Revolução Cinética” faz um resumo do movimento cinético que surgiu na Europa entre 1955/75 e que incluiu os nomes de Marcel Duchamp e Francisco Sobrino, Joël Stein, Gregorio Vardanega, Victor Vasarely e Jean-Pierre Yvaral, entre outros. Duchamp apresenta um filme de sete minutos, nonsense visual, a preto e branco. Esta obra encontra-se numa sala escura onde nos é proporcionado usufruir com mais nitidez dos mecanismos da fantasia. O paradoxo e o desconcerto predominam, como se as artes plásticas procurassem ocupar de forma irónica o espaço criado pelo cinema, desconstruindo a sua estrutura, anulando o carácter narrativo e ater-se somente às cores e ao seu reflexo quando lhes é incutido o movimento. A visão perturba-se e seduz-se, ao ser retirada da rotina diária, onde prevalece a lógica como normativa dominante. Nota negativa para os vigilantes que parecem turistas desorientados, e o porteiro que prima pela antipatia monocórdica, para além de não existir outra forma de pagar a entrada ou comprar o catálogo senão com dinheiro.

"Revolução Cinética" Museu Nacional de Arte Contemporânea, Museu do Chiado (Lisboa), 11 de Maio, patente de 14 de Março a 16 de Junho.