A bateria e o baixo estão ensaiados para se equipararem a gémeos a lutar pela luz, e ter “Brainy”, com o pormenor do violino, e o guitarrista da direita a executar o solo na boca de cena do palco da Aula Magna, um anfiteatro ditatorial.“I think this place is full of spies, I think I'm ruined, Didn't anybody, didn't anybody tell you, Didn't anybody tell you, this river's full of lost sharks, I know you put in the hours to keep me in sunglasses, I know” and “I had a secret meeting in the basement of my brain, It went the dull and wicked ordinary way”, com o coro dos guitarristas congénitos, a arderem a canção com gritos, Matt Berninger aproxima-se do público, a suplicar à mesma mulher, ao espelho quando a gilette limpa o rosto da espuma de barbear, corta-se. A perdição é eterna em “surprise, surprise they wouldn’t wannna watch, another uninnocent elegant fall into the unmagnificent lives of adults”, com a voz introvertida no microfone nervoso, numa harmonia desconcertante, Matt Berninger mexe os braços e marca o ritmo com murros sobre a mão esquerda, auto-punitivamente, ao reviver o que se passou numa noite de Primavera, os acordes são dementes o ritmo complexo de tesão equivalente. “I'm so sorry for everything, Baby, come over, I need entertaining, I had a stilted, pretending day”, remete para a ondulação cortejada pelo mar, “freak out” , “all we have to do is”; “I'm so sorry for everything, I'm so sorry for everything, I'm so sorry for everything” ; “I pull off your jeans, and you spill jack and coke in my collar, I melt, like a witch and scream, I'm so sorry for everything” a poética que sintetiza a existência do amor, o violino de Padma Newsome sobre a muralha sonora delicada tecida por dois pares de gémeos e um outsider. “We are very happy of being in Portugal. Tree times these year.” E finaliza: “We feel like we are not been judged, do you now?”, Matt Berninger, apresenta The National, a transpirar, concentra-se na sua decadência que é aplaudida efusivamente. “Slow Show”, a introdução é fresca e suaviza-se com o decorrer da narrativa, ganha densidade infectada pelo pulsar do orgão, infinitamente, "twenty nine years”, melancólico. O ritmo marcial de “Squalor Victoria, squalor Victoria”, suplanta na sua visualização fílmica, caída, desmaiada, num espasmo cinético, cresce e deixa-se levar pelos acordes do piano e o rasgar do violino a contrapor com a voz grave. “Abel” rouca e submissa e as palmas e os murros no ar, as palmas ao ritmo de maracas, com o gémeo da guitarra esquerdina ao piano, a perturbação do psicadélico obsessivo, retro, distorcido. Berninger violenta a boca de cena desloca-se para a esquerda, a cantar, gritar e a remexer as veias, a eriçar a pele do microfone numa convulsão. “Your mind is racing like a pro, now, Oh my god it doesn’t mean a lot to you, One time you were a glowing young ruffian, Oh my god, it was a million years ago”, com arranjo sustenido da pandeireta, a incutir um ritmo delicado, num ricochete de perturbação. O cantor bebe de uma garrafa de vinho compulsivamente: “I fell like Collin Powelll”; “If you were Collin Powell I would kick your ass!”. “Ada” melodia sincopada que se submete a uma equação delineada por um colectivo embriagador, “Stand inside an empty tuxedo with grapes in my mouth waiting for Ada”, etérea “Ada”, por vezes “Ada” é insubmissa. "Apartament Story" a banda sonora do Chelsea Hotel, “alright”, com as guitarras a deflagarem sobre a melodia, a voz “la, la” ah, mimeticamente, e a secção rítmica a precisar o tempo médio do nascimento de um carácter uno, a invasão do presente. A sequência de “Fake Empire”: “Tiptoe through our shiny city with our diamond slippers on, Do our gay ballet on ice, bluebirds on our shoulders, we’re half-awake in a fake empire, we’re half-awake in a fake empire” e “Star a War” numa lógica de terrorismo poético, as peças que faltavam à nossa civilização para ceder à evidencia da perfeição. A última é um sortilégio de profusão contida, “star a war”, em qualquer canto da sala, do nosso organismo. “Mr. November”, irrompe da mesma casta dos Joy Division, o sangue é infecto-contagioso, “Mr. November! I won't fuck us over, I'm Mr. November! I'm Mr. November, I won't fuck us over!”, gritado em vertigem sobre os cadeirais da Aula Magna, Matt raspa com os lábios no microfone, segura-o, grita, canta, esperneia, eleva-se acima da gravidade.
“Boxer”, The National, Aula de Magna (Lisboa), 11 de Maio.