sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Dancing Queen

O Parque da Bela Vista está composto por cores exóticas, as mulheres retiraram a sensualidade do armário, ao exibir decotes generosos, cavaleiras de chapéu de cowboy, muito “Music”. É o mega-concerto da Madonna, cinquenta anos, branca e americana, amiga de Andy Wharhol e de Keith Haring. A artista atrai 70 mil pessoas, a um anfiteatro incapaz de oferecer conforto ou visibilidade adequada para o palco, mas onde resistem três gerações, tias perfumadas e com plásticas envelhecidas, adolescentes, casais de mão dada.O palco é constituído por quatro partes: uma estrutura amovível que se encontra sobre o palco principal, uma passadeira que permite o acesso a um outro palco mais pequeno e circular com elevador, mecanismo também usado nas laterais (do palco principal), para permitir a entrada e a saída dos bailarinos e não perturbar os excelentes músicos que a acompanham. A animação nos ecrãs, induz os portugueses para a biografia musical de Madonna, que surge sentada num trono de estofo preto, com as pernas abertas e uma bengala na mão direita, casaco de cetim negro. Desce os degraus que a conduzem para a boca de cena, os bailarinos despem-na, “dance floor”, “Hello Lisboa!”, ou, a conduzem para dentro de um carro dos anos cinquenta prateado, que circula sobre a passadeira e faz a rotunda da direita para esquerda. Madonna abandona o veículo e empurra-o para a garagem, para cantar “Human Nature”, à guitarra distorcida. Revive “Vogue”, “I `m not your bitch!”, coloca-se na lateral direita e desaparece estaticamente, as palmas bombeiam o Parque. Vídeo projectado nos ecrãs: “Die Another Day”. Transforma “Into the Groove”, num ginásio com adolescentes a brincar na hora do recreio das aulas, predominam os fatos de treino Run-D.M.C, do “into the Groove”, dos anos oitenta. “Borderlaine”, “loose my mind”, é transcrita numa vertente distorcida com a rainha da pop à guitarra, “ladies are you going to fuck with your boyfriends?” Em “She is not Me”, Madonna confronta-se com quatro mulheres, instaladas no exterior do segundo palco, revolta-se com a presença da Madonna-virgem, Madonna-marilyn, Madonna-streaper, Madonna-efémera, “she is not me!”, dança e os carros animados encontram-se num choque frontal e a música pára e as luzes apagam-se. Ouvem-se os coros “last night a Dj save my life”, e Madonna gatinha na passadeira em direcção ao palco principal, ergue-se para cantar “Music”, “boogie, boogie”, pouco antes do fim a cantora-ícone encena um orgasmo, inclinando-se de frente sobre o palco. Vídeo: “Rain”. O ecrã led circular, que ilumina o segundo palco, desce e encobre-o com uma luz aquática, entreabre-se e descobrimos Madonna-romântica sobre um piano negro, slow, “Devil Won`t Recognize you”. O centro de luz ergue-se, a cantora-actriz despe o casaco e a forra do casaco cor-de-rosa cobre o piano, os bailarinos totalmente encobertos com hábito negro, quando os retiram surgem toreros: “obrigado Lisboa? Habla español?”; “besa-me, besa-me mucho, are you having good time? Are you going to sing these song? Do you promise?”, sobre a cantora o ecrã circular emite imagens do terceiro mundo. “La isla Bonita” é irmanada com um grupo de ciganos do leste, que a retalham em “Lela Pala Tute”, um quadro cénico à Zorro. E as imagens dos ecrãs flutuantes emitem Madonna ajoelhada, que ouve “Doli Doli”, e contempla o universo dos explorados. Com o apoio do trio em regime acústico canta, “You Must Love Me”, com imagens de um filme de Hollywood em fundo, é encoberta pelo ecrã led circular, e sai de cena. Vídeo : “Get Stupid”, o voto da “Sticky and Sweet Tour” à campanha de Obama. Os bailarinos colocam paralelamente ecrãs que circulam pelo palco, ouve-se o “tiquetaque” de Timbaland. Madonna dança com Justin Timberlake, que em quatro minutos querem “save the world”, através de um jogo de sedução. “Life is a mistery”, ganha uma ovação colectiva, um dos bailarinos negro encarna Jesus Cristo, o tecno toma partido do ritmo, “feel like home”, dramático, com os ecrãs a arderem. “Ray of Light” à guitarra e cantada sem o apoio das coristas, é uma canção falhada, o erro, desafina e o vento perturba-a. “Do you want to hear a song? How about a old song? Will you sing along? ´Your love is real, Express Your Self”, as palmas acompanham os acordes da guitarra da Madonna, “that`s an extra!”. “Tell me, is these song, is that you are going to sing along? Are you fucking ready?” é a Madonna travesti rodeada dos bailarinos: “time goes by, so slowly”, com sample Abba, “I`m the Queen, the King… Mothefuckers” e as guitarras distorcem, roçadas nos amplificadores a pontuar e rebeldia de uma outsider. Madonna convoca Pharell para cantar “give it to me”, “give me a record and I break it”, “give it to me yeah!”; “give it to me Lisboa, it`s your last chance, give it to me” reina a apoteose, Madonna, despede-se: “Game Over”. “God Save the Queen”.

“Stick and Sweet Tour”, Madonna, Parque da Bela Vista (Lisboa), 14 de Setembro.