É uma overdose, será o termo mais adequado? A displicência é algo que se acomoda lentamente com o passar dos anos? Pouco importa. O Museu Serralves está consignado à penumbra, a razão desta iluminação prende-se ao cineasta Manoel de Oliveira. Os comissários desta exposição foram o Presidente da Cinemateca Portuguesa, João Bernard da Costa e João Fernandes, director artístico da Fundação.
Numa das salas principais encontra-se uma máquina de projecção onde roda um filme de 57 milímetros “O Homem da Câmara de Filmar” , obra que influenciou o realizador no início da sua carreira. O filme é de Dziga Vertov, é-nos permitido conhecer a máquina usada na sala de montagem pelo realizador.
De seguida, metade do Museu rende homenagem ao mais ancestral dos realizadores, as paredes são usadas para projectar filmes como: “Douro, Faina Fluvial”; “Acto da Primavera”; “Benilde ou a Virgem Mãe”.
Instalaram cubículos de madeira onde é permitido sentar e ver com mais exactidão os filmes do Mestre, usufruir do tempo e senti-lo, subjugar o ritmo do Porto, à pulsação de capítulos da história do cinema. Seja a sua relação com o documentário, pintura, a censura da Pide aos guiões, e à sua relação com o teatro e a literatura como é o caso, “O Passado e O Presente” de 1971.
Toda esta dinâmica de ecrãs suspensos, telas que são paredes, fotografias, cartazes, imprensa, argumentos manuscritos, confissões à João Bernard da Costa e a Agustina Bessa-Luís; é abrasador, violento, desconcertante, perpetua e enaltece uma memória fílmica que deveria constar dos manuais escolares, celebrado anualmente e elevado a feriado. Viva o Mestre! Viva Manoel de Oliveira!
Manoel de Oliveira, patente de 13 de Julho-2 de Novembro
“Todas as Histórias” ocupa a sala inferior de Serralves onde há salas escuras, através de headphones ouvimos as vozes dos actores. Dos ecrãs podemos ver um filme de dois ângulos diferentes em simultâneo, e, a rotação da câmara sobre um casal pintado a sépia, o vídeo também é usado como suporte em “Rua Islam”. Obras assinadas por Tacita Dean, Marcel Broodthaers, Michael Snow, Cristian Boztanski, Francesco Vezzoli, João Onofre. Desta forma o espectador pode visualizar a vanguarda do documentário, ou, da falsa ficção, da repetição de um plano, a frase e o rosto perturbado de uma actriz que está preparada para o seu close-up.
“Todas as Histórias”, patente de 26 Julho-02 Novembro
O sul-africano David Coldblatt apresenta fotografias de media dimensão coladas directamente na parede. São retratos essencialmente do passado, e do presente. Vemos rostos negros, cemitérios, crianças descalças, olhos com hematomas, sinais de trânsito que discriminam os pretos/negros que eram escravizados por uma minoria africânderes. Que impedia a comunidade negra de circular em artérias “brancas”, o casamento entre ambos era proibido, o olhar, a crítica sobre um branco era ameaçado de prisão e violentado à queima-roupa. O Apartheid manteve cativo Nelson Mandela, condenado a prisão perpétua, por somente exigir a igualdade racial. As fotografias são testemunho do princípio e do fim de uma segregação que acabou em 1987, apenas há 21 anos. É emotivo ser testemunha desta tragédia, deste apocalipse racial, que vitimou gerações de seres humanos.
“Intersecções Intersectadas”, patente de 25 de Julho-12 de Outubro
Museu Serralves, Museu de Arte Contemporânea (Porto), 12 de Setembro