As obras de Paula Rego que se encontram agrupadas no Centro de Arte Manuel de Brito. Estão inseridas nas décadas de sessenta, setenta, oitenta, noventa e dois mil. Nas colagens há uma sobreposição das imagens, onde a perspectiva era imperscrutável, subsequentemente há uma desagregação destes elementos que passam para uma flutuação, é de contraposições que a obra de Paula Rego cresce, recusa riscar sempre com o mesmo intuito. A nível da narrativa ou são lineares, com o principio meio e fim com possível leitura da esquerda para a direita, noutros casos este elemento é explorado verticalmente, sem que exista harmonia. Outra característica proeminentemente é a adequação do traço às cores e aos elementos que estão ser pintados. Mesmo nas telas grandes e de forte pendor cromático, há uma anarquia feliz, onde os bichos-do-mato, ganham comportamento humano. Algo que é uma constante é a contra-cena entre humanos e animais sem que seja perceptível a fronteira entre estes dois universos. As figuras têm uma grande carga de Goya, estas obras são de uma elegância extrema, belas dicotomias entre cão e dona, entre chefe e dona-de-casa, entre mestre e escravo, e entre nascimento e o aborto, o álcool num biberão na boca de um bebé, uma mulher que mata um macaco que não perscrutamos se é um boneco ou ser vivo. A nível literário responde com águas fortes do “Peter Pan”, “Perlimpinpin”, “Contos de Fadas”, “Maria Moíses”, “Para lá Para Cá”. Há os corpos cadáveres com dentes na vagina, mulheres levianas, anões fadistas, a morte é transversal à exposição, porque a fantasia suprema é aquela que desconhecemos se estamos vivos ou mortos.
Paula Rego, Centro de Arte Manuel de Brito (Algés), 16 de Novembro. Patente de 4 de Outubro a 18 de Janeiro.