domingo, 21 de dezembro de 2008

Luta de Classe

Queres um beijo, meu solitário amor ou descaracterizado rosto,
Se me queres numa noite tens que pagar com o corpo
Tens que fazer de conta que estás viva no canto da sala
Como uma boneca estilhaçada por um extintor

A urgência do adeus encerra em si o abismo
O fogo que cheire a fumo de fancaria
As luzes das ambulâncias iluminam-te
O caldo entornado de uma sopa da pedra
Que arde, e se apaga num instante

A lua é a prostituta de serviço
Ela é todas as noites uma outra mulher
Nunca se personifica na tua pessoa
Nem se maravilha com as bombas
Que circulam de órgão para órgão
Quando uma arrebenta em cancro
Que se aninha como um lar de ratos
No teu peito de mulher eterna
Deixa os mamilos excitados
Com a perspectiva de uma pequena morte
Se sabes o enigma da felicidade
Elimina-me da lista de contactos
Exerce o teu poder de dona do infinito
Dá vida ao meu amigo Primavril
Acrescenta-lhe o tempo que não viverei
Insulta o prognóstico dos médicos

Deus, será o eterno absolvido
A testemunha do milagre da procriação
Que perdoa às putas o uso do corpo
Aos drogados o abuso do vício
Aos ignorantes o uso do raciocínio
Às mães que abortam por amor ao feto

Amor, emoldura-me no teu coração
Inscreve-me num curso de chinês
Para descodificar o livro vermelho
A revolução é iletrada
A raiva fruto da pobreza
Dá-me a vida dos pobres
Irei distribui-la aos doentes e pelos desaparecidos
Livrarei o Mundo de cemitério de meninas
Dos frutos podres que caem das árvores
Das velhas paralíticas com a reforma de fome