“Cadela com cio, mal amada”, “fazem descontos na auto-estrada?”, “já podemos ir à lua ahahaha?”, “homens louros”, “cadelas com cio, mal amada”. “Já sabemos andar na lua, já podemos ir à ruaaah”, “roleta russa, enforcado, vida dupla, besta-quadrada”, “minimercado e vão de escada, constelações desordenadas, ortodoxo com desconfiado!”. “Fazem desconto na auto-estrada”, “já podemos ir à ruaaahah?”. “Homens louros a gritar das gruas, a pendurar gajas nuas, descontroladas, desarrumadas, sagitário, celibatário.". "Saturno em camião. Até amanhã camaradas. Laikas virgem, Laikai virgem, Laika”. “Laika Virgem” é o coração do primeiro álbum a solo de Rui Reininho, a música é assinada pelo ex-guitarrista dos GNR, Alexandre Soares, um génio esquecido, que nunca perdeu a veia pop, e “Laika Virgem” é brutal, delicada, fodida, como uma puta que se deixa dominar pelo tigre que tem no bolso notas riscadas, foda, puta, ahhha. “Companhia das Índias” não tem somente este clássico para novela de esqueletos com cio, há mais, “Turbina e Moça”: “Pará de falar de dinheiro e de amor, nenhum de nós foi o primeiro, houve sempre um estupor, um ladrão, um marinheiro, turbina e moça”, “meninas na Night, às vezes são damas, sem o xadrez dos pregos das cama, turbina e moça, sai, turbina e moçaaaaaa. Na minha da rua há árvores de fruto, e tu, esse ar de jovem prostituto, e tens maneira de andar, de quem não dá luta e vens com esse olhar de filho daaaaa….” puta!, poderia constar no “Sob-escuta”, tal é a sua vertente desalinhada, “meninas na night” banda sonora para bar de alterne, “não pagas nada, aiaiaiaiaiaiaiai”. Ambas são tão viciantes quanto a heroína. “A escrava africana soprava as velas à pequenina. Venham mais mouras e celtas, venham mais poetas, marquises de alumínio, menos romenas, menos ciganas, mas mais indianas, para elas cancelas abertas sem condomínio”, hino pop-chunga, Blondie transexual de “Morremos a Rir”, “fomos naufragar e morremos a rir, morremos a rir. Alguém sabe onde é o Quinto Império? Alguém sabe onde mora o terceiro Mundo?” Alguém? Alguém? Alguém? Alguém? “Sabes bem, esta Lisboa, sabes quem? Esta Lisboa”, o saxofone amortece a densidade monocórdica, mecânica, electrónica, no “Estranho Caso do Amante Preguiçoso”. Do telemóvel sai a voz de uma boneca de plástico, “olá, onde está? Queres vir então vá.” O Rui responde: “olé, quem és queres vir a pé? Sou o Dr. Optmista, minha oclusão não passou por dentista. Sou perito em raiki”. Ela: “olá”, o Rui: “e em massagens rectal, até bebemos chichi” são recomendações de um médico, formado no Rock Rendez Vous, “a senhora é de cá? Descontraia-se no divã”, “sei que não sou daqui, uso sempre meias pretas”, com solo de trotineta, “aceita uma sopa de letras?”, “mais um gin!”, “calço sempre meias pretas!”. Ela: “queres vir a pé?”. O blues calustrofóbico de Paulo Furtado: “Há um médico na sala? Há um médico na sala? Monokono, ahahha, cheio de ódio, ah, vem dançar em monokini, vem ouvir o cantoono, Yokona, Yokomono, Yokoama, aha, outro moço, jogo de cama, enfermeiras de chuteiras, ahahaha, um médico na sala, yokomono, no Japão, appapapa, Yomoama outro moço, aliás bom rapaz, fogo poço, ela ama, jazz, outro moço, Yokomno, ama outro moço, jogo de cama, enfermeiras, ahahahahhaa um médico na sala, haha um médico na sala? Xiiixxxiiixiixixixiixixixixixixixiixixiixixixixixiix”.
Rui Reininho, "Companhia das Índias", edição Sony Music.