Não há baixo ou bateria nem teclados, mas estes são fundamentais para a música The Sisters of Mercy, reduzidos a Mr. Eldrich e a dois guitarristas e um outro elemento escondido que se ocupa da maquinaria. Portanto: noventa por cento é artificial o resto humano. A voz é o elemento mais familiar que uiva ou grita e debita as palavras em inglês como se ainda fosse um adolescente, mas a careca e os óculos escuros escondem um homem próximo dos cinquenta, veste um fato de mercenário, poupa na gestualidade, e esconde-se constantemente no fumo, de tão excessivo impede ver de onde vem a voz, as luzes estão viradas na direcção da plateia do Coliseu de Lisboa, para nos encadear. The Sisters of Mercy representam o gótico flamejante que graça na Inglaterra, pode-se denominar de maneirista, a cor nas canções deriva da melodia, decepada pelas guitarras em constante distorção ou a jogarem em dupla assassina, o ritmo por vezes assenta em programações datadas da década de oitenta do milénio passado. A decadência enfeitiça como se o desperdício fosse o único elemento a ser valorizado por uma sociedade em profundo declínio, onde as adolescentes grávidas fazem fila para dar à luz um bebé de uma criança de 12 anos. The Sisters of Mercy são os embaixadores de um império de sons que atrai corpos tatuados com corpetes que exibem os seios, ou, homens com cabelos compridos e chapéus de cowboy, deliram com um “dirty boulevard” e “Temple of Love”, são realidades que apesar de desordenadas, fazem sentido na voz de Mr. Eldrich. Que diz “obrigado” ou “thank you”, antes de se esconder no templo onde se recria o passado, numa inesgotável negação da realidade que o circunda, num ciclo viciado no interior de um túnel onde o fumo é sinónimo de mistério e de cemitério por onde escorregam as almas.
The Sisters of Mercy, Coliseu de Lisboa, 16 de Março
terça-feira, 17 de março de 2009
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