Os Mão Morta são originários da Roma portuguesa, Braga, e o seu nome deriva de imposto cobrado na Idade Média. A cabeça cantante é Adolfo Luxúria Canibal que lidera o quinteto de músicos, três guitarras, baixo, bateria, os "Ventos Animais" sopram do palco do Cine-Teatro de S. Pedro, Abrantes. “As noites de Budapeste são noites de rock and roll”, é um tema gingão, que transpira noitadas com prostitutas embriagadas, o solo da guitarra é contraponto a tudo o resto, “as tardes de Budapeste são tardes de rock and roll”, a voz de Adolfo rasga a melodia pop, “mulheres lindas de morrer”. “As Tetas da Alienação” assume-se como uma premissa que se concretizou com a actual crise mundial, “e com isso ocultar a pobreza real”, “são as tetas da alienação”, as tetas que alienam mas também matam a fome, e os dependentes viciam-se na alienação que lhes impõe felicidade. “E se depois o fogo te perseguir?”, as guitarras assumem-se como as artérias das canções, é delas que verte a cor indecisa de “corre atrás dele!”, “e se depois?”. Adolfo começa a distanciar-se da sua persona para encarnar as palavras, as sílabas, as consoantes, o ritmo, a voz é garrida de sangue ou de distorção, “e se depois?”, “e se depois!”, “e se depois?”, “o fogo te perseguir?”. A voz adensa o “silêncio”, “ninguém dizia nada”, “o silêncio”, “ninguém dizia nada”, o solo angular sobressai por entre as guitarras e o baixo em distorção. “Um dia”, “o que é que isso interessa?”, “tu disseste: nada”, “um bater de asas”, “o que é que isso interessa?”, “tu disseste: nada”, o baixo equilibra a hipnose impregnando-a de adjectivação dos blues, perigosa, desalinhada, “o que é que é isso interessa?”, “vocês disseram:”, público: “nada!”. O cabaret delicado de uma bailarina que procura dominar o equilíbrio num bar onde lhe pagam copos para a apalparem, e ela dança de colo em colo, “olha a menina a dançar”, “da sorte e do azar”, “xadrez”, “jogo para nunca, nunca mais acabar”, “olha a menina a rodar”, “mistérios da sorte e do azar”, Adolfo dança sozinho como se tivesse um corpo no qual coloca a mão no ombro e na cintura. “Este tema foi tocado pelos Mão Morta muito antes de terem qualquer disco editado”, as guitarras digladiam-se e o baixo é a única voz que mantém o discernimento, “pé”, “pontapé”, “só sangue”, “sangue”, sangue”, “AAAAAHAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!AAAAAHAAAAA!AAAA!HA!AAAAAH!AAH!”. O discurso contra a manipulação dos meios de comunicação sobre a população: “Em directo para a televisão”, “ahahah”, “a confusão, é a guerra sem quartel, de empresas locais. Ou então, ou então, encena-se o directo para a televisão. Em busca do controlo, de mercados locais”, “chamem a ambulância por favor”, “chamem a ambulância por favor”, “ahahahah”. “Penso que penso” é circular com a guitarra em regime de slide, “penso, e penso que vou flipar”, “estou farto de mim”, “penso que penso, penso que penso”, a origem do falso pensador, que se vê no beco da alienação porque o seu pensamento está viciado a inúmeros jogos de auto-elevação e superação de si próprio, a resposta é sempre a mesma, “murmurar, murmurar, murmurar, murmurar, murmurar, murmurar, murmurar, murmurar, murmurar, murmurar”, a agonia, a origem do suicídio “estou farto de mim, estou farto de mim, estou farto de mim!”. A voz de Adolfo contrai-se e puxa os cabelos como se fossem fios eléctricos, “estou farto de mim, estou farto de mim” e o choro irrompe. O “Primeiro de Novembro”, é iniciado pelo público, “lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá”, “solidão, saudade!”, “lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá”, em ritmo marcial, mas dos que provocam vertigem. “Guarda civil”, “divertiam-se que nem doidos”, “a ver o sol a nascer no Mediterrâneo”, o noise é visceral e Adolfo dança durante o solo e liberta-se do super-ego. “Quero morder-te as mãos”, “ahahahha”, “respiração de foda”, “auauauauauaua”. “Lisboa, Cais do Sodré”, “com as suas caras fugidias”, “o fantasma de luz e de cor”, “fantasias”, é o hino das vias por onde circulam os corpos que decoram as ruas, são apenas elementos orgânicos viciados e presos a uma situação que os subjuga a um fatalismo, “o dealer roubou-me, roubou-me a alma, raios partam! O deaaaleeeer”, “enorme letargia”, “Táxi!!!!” e a distorção é um vómito de ressaca, que suja a calçada portuguesa com bílis, “Casal Ventoso se faz favor!”. “Cão da morte”, “beleza no teu rosto”, “a foder até ao osso”, “morder no meu…”, “sinto um cão da morte a bafejar no meu rosto”, “aaaAAAaaaaAAAaaaAAAa”. “Vamos tocar uma música muito linda, para quem gosta de músicas lindas, chama-se ´Chabala`”, “uma pistola na algibeira”, “a fria noite envolta em nevoeiro”, “chabala”, o refrão é em falsete a imitar a voz de um chabala tonta, daquelas que dançam numa caixa à qual damos à corda para a ver dançar, o agudo de “Chabala”, é o canto de uma sereia que se prostitui aos marinheiros “Chabala”, a síncope e um solo atmosférico irrompe de blues tétrico, “chabala”, “chabala”, “chabala”. “Caídos”, “duas garrafas”, “onde as cinzas e os mortos repousam crescem flores”, “onde os anjos pernoitam”, ruído, “e as mulheres que eles amaram”, “rigorosamente”, “escondidos”, “nascida dos ratos”, “as mulheres que eles amaram jamais se despertaram”, “os demónios fervorosamente escondidos”. “Sou”, semeia o caos e a destruição, “meu nome”, “sabes quem eu sou? Uma miragem”, “Anarquista Duval”, “AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA”.
Ventos Animais, Mão Morta, Cine-Teatro S. Pedro, Abrantes, 03 de Abril.
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