Os RAMP são um remoinho de esquizofrenia bruta, liderados por um Minotauro de cabelos encaracolados que o vestem da cabeça até aos ombros. Quando abre a boca as chamas incendeiam o Alfa Bar, repleto de adolescentes que se acotovelam, abanam a cabeça a seguir o ritmo de “Blind Enchantment”, o primeiro tema de Visions, o álbum que se distribuiu à entrada. Ou se atropelam, empurram, ao instalar a desordem, surge o reduto da demência, onde o grotesco é a nota que impera como fio condutor de duas horas de terror sonoro, nunca encontraremos o início ou fim do novelo, o labirinto é um claustro onde os corvos devoram os cadáveres dos cães atropelados por Mercedes descapotáveis. “Esta música, queria dedica-la a quem fez parte de mim, faz parte de mim, e continua a fazer parte de mim. Apesar de já não estar cá!”, “Alone”, “OoooooOOOOOO”, “vocês:”, “OOoooOOOOo”, “MAIS ALTO!!!!”, “OOoooOOOOO”. Os miúdos atiram-se sobre o palco, o roadie manager, a Velha, entra e tenta segura-los com a paciência de uma idosa amante do croché, “CALMA!!!!”, “CALMA!”. A tensão dissipa-se gradualmente mas paradoxalmente o Minotauro encaminha-os para o clímax. “Anjo da Guarda” de António Variações é revisto sobre uma palete de solos distorcidos e em ritmo arrítmico, são as frequências de um coração à beira do ataque de nervos, a voz: “eu tenho anjo, anjo da guarda que me protege de noite e de dia!”. “Nesta altura recuamos ainda mais no tempo, o próximo tema chama-se ´Thoughts`”. A sequência de solos entre os dois guitarristas transformam, “Walk Like an Egipcian” da girls band mais sensual do planeta, as Bangels, num bordel onde o pagamento se efectua através de escárnio e de gozo, “Lá, lá, lá, lá, lá, lá”. “Vocês não são nossos fãs, mas nossos amigos. Este é o momento em que recuamos vinte anos, este é o momento em que partilhamos o nosso Inferno!”
Visions Tour, RAMP, 25 de Abril, Alfa Bar.
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