A lua envolve Coimbra exalando um perfume suave e intenso que se cola à pele lentamente. Circunda a arquitectura repleta de rugas impostas pelas estações, que durante o ano, se passeiam pelas ruas. A fuga é um acto falhado. O fado é o travo de um trevo que dá sorte por ser diferente dos seus idênticos, crescem à sombra das árvores centenárias do Jardim da Sereia, que a noite esconde, por ser um pulmão marginal. Acendem-se as luzes e a música, é um instrumental de contornos rock and billy, quando os brancos tomaram de assalto o blues e lhe deram um tempero mais agressivo, menos rural e consequentemente citadino. Entra uma mulher de franja, que lhe esconde os olhos e atira o rosto para o mistério que o conceito de beleza encerra. O seu corpo robusto, é vestido por uma seda de alças preto, que a cobrem somente até abaixo das ancas, as meias de licra calçam uns sapatos de salto alto metalizados. A sua voz é tão suave quanto volátil, “I now my faith”, “give a litle of your heart”, com as guitarras a deflagrarem em distorção, e o contra-baixo juntamente com a bateria a se justapor a este dueto. “It`s against the law”, “these kind of love”, “to feel the way, I feel about love”, com um ritmo marcial e as guitarras a ocuparem o espaço deixado vago pela voz para adensar a fatalidade da canção: “It`s against the law!”. “I `m coming home”, é a promessa, cantada por Tracy Vandal, é um convite irrecusável, atrevam-se a ouvir este canto e estarão próximos de um lar doce, doce, doce e febril, “don`t waste my time, I`m coming home.”. “And your blood is going cold tonight, bye (train), bye (train), bye (train)”, o início desta canção é pautada por um ritmo lento que nos mergulha num vácuo, mas as guitarras elevam-na para uma outra dimensão, como se um par de facas a esquarteja-se em pontos sensíveis e a perpetua-se para o épico, “goodbye train, he `s going to take you home.”. “There `s a place where lovers go, to cry their troubles away, and call it, lonesome town, where the broken hearts stay”, tão aveludado que se se entornasse sobre uma mesa seria um vinho espirituoso, degustado de olhos fechados veríamos um reduto onde o infinito impera. Tracy, “you are the first people to hear this song”, é a única canção que segue uma métrica pop, fugindo ao escrutínio das guitarras, “I don`t care anymore”, “I don`t care anymooooore”, “there is no escape in our lives”. O segundo instrumental leva Morricone a incendiar as suas pautas e dançar com uma amiga ao abrigo de uma lei que impõe à natureza o seu trágico circuito de renovação. “Lost words” é apresentada numa frequência mais lenta à sua congénere tocada inicialmente, Tracy, aproxima-se da boca de cena, senta-se, canta, abre as pernas, canta, fecha as pernas, e de joelhos desloca-se como uma escrava a cumprir uma promessa por uma santa: Blue Velvet?
“Child of the Moon”, Tiguana Bibles, Teatro Académico Gil Vicente, 24 de Junho.
quinta-feira, 25 de junho de 2009
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