Está uma noite quente de Abril, na Charneca, uma freguesia rural de Pombal. Onde se encontra o colectivo de metal RAMP, ainda estão a jantar, juntamente com as duas bandas que os irão anteceder. A sala onde irá decorrer o espectáculo tem um friso superior onde constam taças de casados contra solteiros, t-shirts emolduradas com as equipas visitantes, e uma guilhotina encostada à esquerda do palco, com a lâmina afiada pronta para decapitar os amantes de Deus. Rui Duarte está nas escadas oblíquas que dão acesso a esta sala: “É agora”, é uma da manhã, e os putos estão transformados em devoradores de cerveja, charros, cigarros. Rui, contorna-os com a confiança de quem enfrenta multidões há vinte e cinco anos, os seus cabelos encaracolados, chegam-lhe à cintura, é possante, e cada passo é uma marca de poluição contra o ambiente. Um intro antecede a entrada da banda em palco, os primeiros sessenta minutos de concerto, são de uma violência excessiva, as guitarras jogam entre si, como se estivessem a descarregar choques eléctricos sobre os putos, que abanam as cabeças e fazem das suas cabeleiras espanadores, que o Diabo usaria para limpar os ventres das suas amantes que se recusaram a abortar os filhos de Deus. “Somos milhares”, e os “RAMP gostam de ter os amigos consigo”, “obrigado!”. Os miúdos erguem os dedos como se fossem os cornos do Diabo, e exalam todas as energias acumuladas das rotinas diárias, gritam, e a histeria é contagiante. Rui Duarte é o incendiário, o pirómano, que congrega em si a atenção dos milhões que ficaram em casa a ver “as novelas da TVI”, e aponta o dedo “ao BLITZ” que no passado ainda dava atenção à música dos “RAMP”, mas, “isso, pouco importa!!! O que nos interessa é que temos connosco os nossos amigos!” Que veneram, mais uma hora e quarenta e cinco de espectáculo, de decibéis distorcidos, de voz grutural, de mandamentos que instalam a irracionalidade. “Alone”, será “SEMPRE MAS SEMPRE PARA A MINHA MÃE”, o tema rejeita o meio tempo do original e é decapitado na sua tensão, ouve-se a lâmina da guilhotina a decepar a cabeça multifunções de DEUS.
Subversion Tour, RAMP, Associação Desportiva Acção Cultural da Charneca,Pombal, 9 de Abril.
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