sábado, 1 de maio de 2010

Retropolitana

As luzes do Auditório Jorge Sampaio no Centro Olga Cadaval em Sintra apagam-se e a voz off informa: “A Rádio Comercial apresenta Retropolitana”, o novo álbum dos G.N.R. O palco emite sirenes e as luzes imitam o foco de uma prisão de alta segurança, entram os três músicos que acompanham, Jorge Romão no baixo, e Tóli César Machado na guitarra-ritmo, veste uma camisa branca sob colete azul. El Rei del Roque, canta: “Macacos imitações”, “Rei da rádio, compõe para nós”, as guitarras estão afinadas e equalizadas na mesma onda, são os reis de la rocke. A guerra é apenas uma pintura, “retrato em pó”, “o rádio berra”, “o Sr. Dos Anéis”.”Clube dos Desencalhados” , “não é?”, “e vivo à beira de um mar plantado” , “o sorriso à espera”, “bem-vindo ao Clube dos Desempregados”, o meio tempo ganha em crescendo, “sentir tremuras” , “como as estrelas”, “há festa na praia do afogado”, “sentir tonturas“, trágico, sensível, frágil, “sentir touturas”, “soltar amarras”, o abandono: “Ficar no bar a ouvir as estrelas”, a melodia é perpassada por uma descontinuidade, “soltar amarras”, “passar a barra”, “a cantar.”. “Efectivamente”, “engate”, “ratos do esgoto”, al El Rei le gustam las aparências. É implacável com as suas groupies: “Já não tocávamos para gente sentada, desde o Natal dos Hospitais. Antes sentados que acamados!”. A constatação: “qualquer escravo era feliz”, “a rir a ser imperatriz”, “a cabra faz-me mal”, “já cá estamos outra vez?”, “a culpa é das televisões”, “e os bebés vinham todos de Paris”, “Papa faz de mama”, “e o bebé até é pop” , “pó sai”, pop/soul, o falseto é tão irónico: “O Papa faz de mama”, ahahah, “e a bebé já sai com o papá”, eco, a canção acaba em regime de Eurovisão com El Rei a rodopiar no sentido dos ponteiros do relógio. “Chama-me um táxi, já amanhece”, slow de telenovela. “Ainda bem que a névoa anda por ai”, “overdoses”, “as trevas vão iluminar.”.”Dunas”, é um passatempo, apenas se destaca quando o guitarrista mimetiza a delicadeza tímbrica de Alexandre Soares. El Rei reflecte: “Depois da nossa música sobre os submarinos”, aproxima-se da bateria e segura um copo na mão e com o olhar mede o líquido amarelo: “O que é isto?”, bebe, “cerveja? É a minha análise.”. Asas, “hesitas”, “paixão”, retira do indicador a aliança que coloca no bolso esquerdo do casaco branco. “Também somos das profissões mais antigas do Mundo”, “somos os piratas”, vivemos em “Tirana.”. Emitem mais um novo tema a meio-tempo, “até do musgo, casca de carvalho.”. Ouve-se a perfeição onírica com a melodia do teclado de Tóli: “Os Diamantes são eternos, como os amores de Verão”, “acrobacias”, “as nossas manias”, “pulseira electrónica”, “a nossa vaidade sem”, “pulseira electrónica”, “as más companhias”, El Rei ensaia uma queda, enquanto um solo electrónico de guitarra eclode. A constatação: “Eu acho que o Papa, não deveria ir ao Porto, ser feriado, porque ele está lá todo o ano!”. “U.S.A”, El Rei despe o casaco branco, e enluta-se enquanto canta este clássico, “abusa”, “tratado por tu já nem se USA nem em Castelhano”, num groove que sintetiza o neo-kitsh, “uma Musa.”. E, “Popless”, é inebriante. “Quem é que aqui é que usa Tatoo?”, os casais de meia idade, sorriem contrariados: ”Não foi de acto natural”, El nancimineto del Rei, “higiene pessoal”, “marca tropical”, “ABC é um animal”, “um homem nu”, speed-pop, “eu vou pagar uma bebida Nacional”, o imperativo: “Quero ver o teu tatoo”, “de um homem nu”, o sintetizador de Tóli, a sobrepor-se ao todo. “Quero ver o teu Tatoo”, Roxic Music é claramente o seu ADN, Del Rei! Viva El Rei! Viva El G.N.R: “Mostra lá esse tatoo”, “deixa ver esse tatto”, “o piercing é anal?”, ”paraíso fiscal.”. A narrativa do burro em pé é uma fábula gasta, que dorme “em pé”, harmonicamente devedora de um tema dos Beatles. “Mais vale nunca”, o tema hiper-pop, “crescer”, os sentados catapultam-se para a verticalidade, palmas, gritos, histeria. “Sangue Oculto”, loucura, espelho meu amor.

Retropolitana, G.N.R, Auditório Jorge Sampaio, Centro Cultural Olga Cadaval, Sintra, 30 de Abril.