São cinco da tarde e o público no interior do Pavilhão Atlântico marca lugar em redor do palco circular dos Metallica, que se situa no centro da arena. As colunas estão colocadas sobre o palco mas direccionadas para os balcões, as luzes são jogos variados, há umas que estão acopladas a sarcofágos de lata, que têm a forma dos utilizados no Antigo Egipto, pelos faraós que se mumificavam para manter a beleza após a morte. Antes, dos cabeças de cartaz tocam duas bandas, a primeira é de facto de um primarismo sintéctico, a segunda joga com ritmos pop, que mistura com distorções, têm como objectivo despertar o público que anseia pela chegada dos Master of Puppets. Pois, o suor, tabaco, os charros, a cerveja, que irá inundar o chão e torná-lo pegajoso e escorregadio, são sinais claros de que o caos é eminente. Elton John, jamais apareceria para cantar, pois o odor nauseabundo, lhe entupiria as cordas vocais, apesar da possibilidade de ver os troncos nus tatuados, com cabelos pelos ombros, alguns trazem no tornocelo a pulseira eléctronica, outros, cicatrizes no rosto, o segredo para sobreviver é não olhar directamente, ver as horas, são quase nove e quarenta, as luzes apagam-se: Metallica! A guitarra é acompanhada por raios lazer que variam entre o verde e o azul, ouve-se a bateria e a voz, mas o baixo somente é audivel à um quarto do espectáculo. A histéria é brutal, “OOOO”, o público sobrepõe-se a James Hetfield, e as palmas acompanham Lars Uldrich, os dois membros históricos desta banda californiana que publicou, “Kill Them All” em 1983, destacado como um marco no trash-metal americano. “Your life!”, “right now is your life!”. A gritaria é constante, os Metallica estão no patamar dos consagrados, e qualquer gesto ou questão é respeitada e respondida pelos metaleiros: “After life?”, haverá mais questões filosoficas por responder, dor, sangue e suor. A guitarra de Kirk Hammett irá ganhar personalidade, não se confinando a apenas ao deflagar de distorção em paralelo com a de Hetfield: “Are we going to have more fun than yesterday?”. “OOOOOO”. “Thank you! Did you hear the early bands? Did you see Metallica?”, o cantor responde: “So, so... Do you like it heavy?”. Imagiam a resposta dos portugueses? “I `m your life”, “I`m sure”, “you are the one”, “I`m your dream.”. A mosh é de tal forma violenta que é complicado não ser empurrado para o meio do turbilhão, “Keeps me satisfye”, com os acordes da guitarra a romper a malha da distorção, “anytime”, “everywere”, James Hetfield, assume que errou nos acordes: “I lost my head! Sorry! Thank you to show me that!”. O speed-metal, “don´t care”, “ARE YOU UP THERE?”: “YES!”. O ritmo abranda com a canção country-metal: “On the road again”, “here I ´m, here I go”, “here I´m, on the road again”, voz grave, solo de Kirk. O tiroteio toma conta do Pavilhão os corpos empurram-se para o interior das chamas que o palco cospe, os quatro Metallica, encaixam-se nos sarcófagos a caminho da imortalidade: “Cos nothing else mathers.”
Death Magnetic, Metallica, 19 de Maio, Pavilhão Atlantico.
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