segunda-feira, 23 de maio de 2011

Mars Attacks

Noite quente enche o porto da Casa da Música com um número inferior de visitantes do que a noite que acolheu Nina Haguen. Passeamos pelo espaço lunar de vidros ondulantes, na Cibermúsica apenas estão os técnicos e Álvaro Costa, à espera das vinte e três horas para iniciar a sessão. Espreito pelo envidraçado para a Sala Suggia e vejo uns rapazes a tocar instrumentos ritmicos, denominados de “Drumming”, deito-me num puf, próximo da entrada da sala Suggia, e os músicos são a ser projectados no tecto. Na Sala Suggia há uma instalação: entre o público e o palco escuro está uma teia transparente que tapa o palco de onde emana uma música distorcida progressiva, para abrirmos as portas da percepção. Ergue-se o pano e encontram-se objectos dispares em palco, à esquerda uma tenda, à direita um escadote onde se encontra um teclado, ao centro a mesa de misturas. As canções foram sujeitas a uma perpectiva de Club, o Dj veste tshirt preta, é parcialmente careca e barbudo, baixo e magro. A estrutura das músicas é o beat, que faz levantar um casal de teenagers, que lideram os que se encontram atrás a dançar. Matthew Herbert saltita consoante os beats, que insere ou os acordes acrescidos do respectivo ritmo, sobe à escada e tecla, porém a sua noção de teatralidade esgota-se no seu movimento corporal e na sequencia da encenação. O resto é o seu natural virtuosismo que por ser genial e se apresentar de uma forma substancialmente exibicionista, obriga-me a levantar-me e procurar companhia no Bar contiguo à Sala 2, o mais belo dos que abastece a Casa da Música, mas não se encontram estrelas pop. Super-Bock. Sala 2, Laurel Halo tocou quarenta minutos que tive oportunidade de não presenciar, espreito pelo vidro curvo e Herbet ainda está a subir e a descer a escada. Na Suggia o trance está instalado e consequentemente o público passou de dois a dançar entre o palco e as cadeiras para uma multidão, Herbert segura numa bandeira onde está inscrito: “The End”, sorri, e recebe uma ovação que o coroa de Jaques Tatti do Club? Os quatro músicos que acompanham Ariel Pink estão a fazer o sound-sheck, há dois teclados, baixo, bateria, e ao centro uma mesa que Ariel Pink usa para processar a voz. Primeiro tema: meio tempo, dois teclados, baixo, bateria, voz, é por esta ordem que se apresentam: “sometimes”, desloca-se com o tripé. Ariel Pink tem na cabeça uma touca laranja, e os óculos escuros encobrem o olhar do génio californiano. “Sometimes”. “EI”. Segunda canção: duas guitarras, baixo, bateria, harmonias vocais proximas dos Beach Boys, a voz processada de Ariel: “for you”, num falseto agudo. Solo da guitarra, pop solar, california dreaming, “for you”, belo/quente, “no more”, falseto do coro: “for you”. “OH PORTO”, ouve-se da boca de Ariel como um cântico clubista, ironia. “Bright Lit Blue Skies”, o single que decorrere de “Before Today”, oitavo album de originais, é pop singela, clássica, mas espartilhada por uma emissão low fi que perpassa todo o concerto. “Blues Skies”, “AAAIAIAIIAIIAIA”, o público ocupa a parte de frente do palco, dança, “AIAIIAIAIIAIAI”. Quarto tema: “OOOOOOOOUUUU”, rock-blues, “stay”. Seguinte: instrumental: teclas: voz: “OOOO”. Quinta canção: funk com uma óbvia imersão do baixo como uma força pulsante, teclado, voz: “Mais uma cerveza por favor”, é o pedido de Ariel Pink. O sexto, mantém a metrica funk, “it`s allways the same”, por vezes Pink processa a voz para um nível inferior aos instrumentos, tornando-a imperceptivel, Ariel gesticula, já sem a touca laranja, mas com uma fita de tenista branca a segurar os cabelos louros, mantém os óculos escuros para se proteger das radiações das luzes. Há arranjos nesta canção, nomeadamente os acordes da guitarra que sugerem Prince da década de oitenta, misturado com drogas brancas. Palmas do público. Sétima canção: Beach Boys, mas com ritmo dois por dois, pop-com-cocaina, agudos: “EEEEE”, baixo, “Oh! NO!”. Oitavo: Mantém o ritmo da anterior, que é gradualmente corrompida por uma progressão, punk-pop. Nono: o baterista mimetiza o ritmo dos Queen, “We Will Rock You”, “she at”, os teclados adocicam a canção. Dezimo: instrumental em que predomina a distorção numa clara citação aos Sonic Youth. Dezima primeira, baixo mais bateria, com a canção dividida em dois ritmos, a primeira rapida, a segunda lenta, “get on”, “put on”, sobreposição de vozes, recta final noise-rock, low fi, grita e processa a voz: eco: “AUAUUU”, psicoterapia. Dezima segunda: o baixo impõe uma métrica entre o blues e o soul, que os outros seguem, Ariel desloca-se com o tripé a cantar em silêncio. “Obrigada”, ri. Penúltimo tema: pop incongruente, low fi. Fim: Pop incidental, “AAAA”, dois por dois. Fim 2: progressão pop, “AAEEAEAEAEEAOOOO”, cacofonia, piscadelica. Manicómio.

Clubbing= Mattew Herbert+Ariel Pink`s and Haunted Graffiti, 21 de Maio, Casa da Música@ Porto