segunda-feira, 16 de junho de 2014

Patty Diphusa

O palco do Salão Brazil tem uma tela instalada atrás da bateria, onde está estampada uma fotografia com os cinco músicos que compõe os The Walks, surpreendidos por um paparazzi conimbricense. O cantor surge com um blazer branco sobre a camisa e as calças pretas, a secção rítmica tem gravatas escuras, estes pormenores são fundamentais para os enquadrar numa moda Mood “clean”, e muito orgulhosa da coroa inglesa. O mapa estético que os Walks promovem já não se coíbe somente ao Mood, e o exemplo disto é a primeira canção onde as tonalidades negras são mais desgarradas. E este ponto de partida é fundamental porque infecta o alinhamento de um condimento que os ouvidos teimam em expurgar. As guitarras, no terceiro tema, revelam uma agressividade arty mas paradoxalmente a letra versa sobre um “disaster”, e o baixo marca o compasso de uma dança educada. Palmas. “Muito obrigado! Boa noite Coimbra. Nós somos os The Walks”. A quinta canção é marcada por uma visceralidade contida que corresponde um dejecto sónico de pura poesia. O trajeto que percorrem até ao fim do espetáculo é percetível que são uma máquina de rock and mood-- com a presença em palco do maior guitarrista de Coimbra, Victor Torpedo-- algo que aparentemente é paradoxal, mas que faz sentido nos The Walks, porque há uma entrega total como se fosse uma overdose de adrenalina. E a catarse é um convite que domina e modifica a percepção sobre a realidade algo que incute uma sedutora alienação.
A estrela que se segue é Victor Torpedo, veste fato escuro, tem uma poupa de rockabilly. A performance de Victor Torpedo denomina-se de” Karaoke”, este conceito é devidamente sintetizado por um ecrã, onde são projetados vídeos legendados com as respetivas letras das canções, e das colunas saí a música. A primeira canção tem um ritmo tribal de um grupo de pretos africanos em redor de uma fogueira onde grelham um porco branco. A segunda canção-- que é marcada pelo estoiro do microfone na testa de Victor Torpedo-- tem uma melodia rude muito próxima a um lowfi punk. Victor Torpedo atira o microfone a um membro do público que canta para o seu interior. Enquadrado nesta mesma vertente encontra-se a terceira canção, Victor Torpedo exercita a autopunição cravando o microfone de murros. “Obrigado aos The Walks”. Quando a herança punk gradualmente desaparece do alinhamento o concerto ganha uma profundidade kitsch pop, com a exploração de tipos rítmicos com origem em Madchester. E é nestas canções que sobressai a persona Victor Torpedo, pois se vê infetado por uma lascívia que orienta o imaginário para uma ambiguidade sexual. Em “Meet my Tribe”, é o drum and bass com MD a efervescer, e o microfone é atirado para Pedro Calhau que canta: “meet my tribe” e dança. Palmas. Victor Torpedo: “Obrigado Capital do Rock”. A última canção tem uma batida disco com intervenções constantes de uma frequência Rock and Roll, datado de 1950, Victor Torpedo coloca o microfone na boca e faz flexões, e vêm-se: “baby”.


Victor Torpedo “Karaoke” + The Walks, 14 de Junho, Salão Brazil @ Coimbra