segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Man on the Moon

O espetáculo conceptual, do artista Victor Torpedo, “Karaoke”, tem como princípio a emissão de canções pré-gravadas, que estão em sintonia com um ecrã, onde surgem imagens com as letras das canções escritas pela estrela Pop conimbricense. Victor Torpedo veste calças pretas, o blazer esconde a camisa com a paisagem de uma floresta tropical, e enquanto canta para o microfone, a declaração de guerra, “so dead”, invade a cadeira vazia que se encontra numa mesa de um casal romântico. As luzes estáticas da Casa Havanesa ilumina os seus rostos, que encobrem um espanto difícil de digerir, desenham um sorriso tímido e ela mete a palhinha, mergulhada num bebida exótica, entre os lábios. No ecrã surgem homens a dançar ao ritmo de “So Dead”, que versa uma decadente “Madchester”, quando a água ganhou um companheiro chamado ácido. “Sick of myself”. A terceira canção, que evoca a alma indie de Manchester, dominada pela guitarra de Johnny Marr, dedica-a, “esta é para o Eurico”; Victor Torpedo rodopia como se tivesse uma multidão infinita à sua frente. Por vezes Victor Torpedo abocanha o microfone evocando um canibalismo Sci-fi, e no ecrã surgem senhoras de saia e casaco que bebem Coca-cola. Enquanto Victor Torpedo despe o casaco, a canção é de uma melodia fúnebre, sublinhado pelo pendor tétrico do baixo, “they are calling for us”. Victor Torpedo sobe para o cimo de uma cadeira, e como que por encantamento, vê uma multidão de fãs, que gritam: “Victor Torpedo! Victor Torpedo! Victor Torpedo!”. E responde-lhes: “Why people die?”. A quinta canção leva-o a roubar o copo exótico, à tímida e entediada jovem, o companheiro não reage. Posteriormente surge Eurico com dois copos de shot cheios de sangue, entrega o copo a Victor Torpedo, elevam-nos ao ar e emborcam-nos num folego. Victor Torpedo canta sobre uma tragédia diária: “no time for fun”. A sétima canção, é descrita por Victor Torpedo: “É ainda mais triste. Obrigado Figueira, vocês estão todos felizes”. O tema versa um universo electrónico com harmonias sugeridas pelos Electronic, mas exploradas numa perspectiva kitsch. Há ainda a destacar a hipnótica “Meet my tribe”, que é cantada como se Victor Torpedo fosse um robot sobrecarregado com sentimentos dos humanos. Na canção, em que surgem no ecrã pessoas a dançar ao ritmo do twist, Victor Torpedo empunha o microfone a um homem que tem um boné branco, que surgiu do chão através de um inexistente alçapão, este retira do bolso do casaco de basebol americano colheres reluzentes, transforma-as num objecto musical de precursão, irrompem cavalos a ser esporeados por cavalheiros à caça de peles vermelhas, e Elvis Presley canta através de Victor Torpedo. O músico que não foi convidado a aparecer autointitula-se: “Jimmy Spoon” e tem “71 years old”. E recebe uma misericordiosa salva de palmas por parte dos presentes e dos ausentes. Victor Torpedo declara que já só faltam, “três ou quatro canções”, para o fim da sua performance na antiga livraria Casa Havanesa, durante as quais, expurga um contínuo e sedento desejo de extroverter o conflito entre as inúmeras personagens que compulsivamente o dominam, relegando-o para uma inexpugnável elegia ao absurdo.

Victor Torpedo, “Karaoke”, 12 de Setembro, Casa Havanesa @ Figueira da Foz