terça-feira, 28 de abril de 2015
domingo, 26 de abril de 2015
Lord of the Flies
A tocar a guitarra eléctrica encontra-se Diogo Augusto é franzino e de rosto triangular e tem um olhar difuso, poderia ser filho de D. Quixote e Dulcineia caso estes se tivessem casado na obra de Cervantes; o seu parceiro na bateria é Samuel Silva que é corpulento e azas rápido quando faz estalar os pratos e bombar o bombo, ele é o coração que ritmicamente impõe o rock enquanto Diogo Augusto expira para o interior de uma harmónica. Estão devidamente apresentados Los Saguaros, que antes de executarem a segunda canção da noite no palco mínimo da Casa Havanesa, Diogo Augusto explica que “a próxima música chama-se ´Go`”. A guitarra eléctrica é melodicamente agressiva com a devida marcação acelerada da bateria de Samuel Silva, o seu parceiro grita para o microfone algo imperceptivel, desta equação emana um Rock and Roll fervilhante com raízes numa América do Norte onde reinam os sem-abrigo. Quanto à terceira canção Diogo Augusto é peremptório: “É a loucura deste género”, a guitarra é uma fonte da qual emanam acordes grandiosos que repetidos convergem para um precipício onde a vertigem é naturalmente imposta através do seu epicíssimo, com a devida perseguição da bateria de Samuel Silva, há um solo minimal da guitarra que aprofunda a agressividade rock, Diogo Augusto canta gravemente para o microfone. Às escassas palmas provindas do escasso público obrigam o cantor a usar a sua educação bilingue: “Obrigado! Muito obrigado! You are very kind! A todos os presentes por cá estarem!”. A quarta canção reporta a um rock espagueti mas assinado por Ry Cooder nas noites de impossíveis bebedeiras a ouvir os lobos a uivarem à lua com o período. A quinta canção segundo o filho bastardo de D. Quixote: “Never being rehearsed”, em que Los Saguaros incorrem num blues low fi, a harmónica revela a alma de um ser isolado num deserto denominado de Grace Land, baptizado por um guerreiro de poupa e de rosto angelical com patilhas até os lóbulos das orelhas, é este que canta e discursa como um reverendo doente de peyote através de D. Quixada, que se desloca em direcção ao público inexistente tocando a sua guitarra como uma lyra de ouro tangida por um anjo puti enlouquecido, a métrica acelera-se e instala uma hipnose frugalmente bela. Às palmas mudas do público D. Quixada agradece em inglês: “Thank you all for being here!”. A sexta canção é dotada de um tempero Rock and Roll que é provincialmente imposta pela relação bestial entre a bateria de Samuel Silva e pela guitarra (blues) eléctrica de D. Quixada que desfere um solo dissonante e grita para o microfone: “I say yeah”. A sétima canção tem uma cadência espaçada com a guitarra de D. Quixada a ocupar o espaço sobrante com uns acordes rock and pop. Após o intervalo Los Saguaros regressam revigorados para enfrentar os clientes habituais na Casa Havanesa nascidos na fantasmagórica Figueira da Foz. A relação que procriam na oitava canção estabelece a bateria de Samuel Silva e a guitarra eléctrica de D. Quixada numa prepotente Pop; a pausa marca o deflagrar da guitarra que cita o surf rock e que se contorce perante a assertividade do seu colega Samuel Silva. A nona canção é uma perfusão Rock and Roll em que se destaca a violência melódica da guitarra eléctrica de D. Quixada devidamente coberta pela visceralidade da bateria de Samuel Silva que humedece a sua t-shirt cinzenta, as variações rítmicas e melódicas somam-se à Pop que posteriormente é vilipendiada pela intensidade rugosa inevitavelmente rock, um composto tóxico de tão soberbo. A décima canção tem um domínio perdidamente western oriundo da guitarra eléctrica do incansável D. Quixada, os breaks da bateria de Samuel Silva relegam-na para o rock, há uma variação da melodia que se inscreve na Pop enquanto solos western são rejeitados pelo demente D. Quixada, a densidade é uma veloz imagem a esvair-se num vidro fumado de negro. A décima primeira canção é uma união de facto entre os dois instrumentos colados como se fossem um feto composto por gémeos falsos simiescos, uma dependência absurdamente imposta pela puta da natureza resultando num vibrante rock and billy, quem se destaca da relação é obviamente o Rock and Roll. A décima segunda canção é dedicada por D. Quixada: “Às caras que eu não conheço”, segundo a ciência são fantasmas de rostos alienados. A guitarra eléctrica de D. Quixada é intensionalmente trash (rock) com os pratos a estoirarem no ar como bardos do 25 de Abril a serem torturados pela democracia, em segundos surge umas miligramas de uma tóxica Pop que é corrompida pelo hard and billy disparatados pelo rock. A décima terceira canção é velozmente executada como se Los Saguaros estivessem a actuar o seu último concerto, há tanta violência na composição que se fosse doméstica seria perfeita. O mestre franzino e de olhar tresloucado apresenta-se: “Sou o Diogo mas a minha mãe chama-me o ´narciso`, o Diogo”, para os amigos e inimigos será sempre D. Quixada filho ilegítimo da imaginação majestática de Cervantes, “adeus”, é a última canção da noite na escura Casa Havanesa, “até à próxima”. “I`m Waiting for my Man” dos Velvet Underground é revista e aumentada numa vertente acelerada por parte de Los Saguaros, com ressalvos rock and billy, D.Quixada canta distorcidamente: “Feel”, vem à superfície um ritmo pausado que converge numa densidade cinematográfica a preto e branco da autoria de Andy Warhol, “waiting for my man” numa esquina de Nova Iorque com “Twenty-six dollars in my hand”, presumivelmente o dealer não comparece na noite nevada numa transversal da Quinta Avenida com ratos, a voz sobre o pendor sustenido da bateria de Samuel Silva canta tristemente: “I`m waiting for my man”.
Los Saguaros, 25 de Abril, Casa Havanesa @ Figueira da Foz
Los Saguaros, 25 de Abril, Casa Havanesa @ Figueira da Foz
terça-feira, 21 de abril de 2015
Die Blechtrommel
À entrada do Coliseu dos Recreios é-me entregue um invólucro vermelho com a inscrição a preto “Kraftwerk”, contém uns óculos de cartão branco com números numa haste e numa outra a designação do ofertante: “Kraftwerk”. A boca de cena encontra-se tapada por um pano negro onde se encontram graficamente a vermelho quatro homens em pé à frente dos respectivos teclados. Quando o pano é levantado é acompanhado por um som digital e uma voz robótica transmite uma contagem decrescente, devidamente ilustrada por números verdes que surgem aleatoriamente no ecrã instalado atrás dos quatro músicos, o ritmo é saltitante e assim saltitam os números enquanto uma voz enumera: “Eins, zwei, drei”. “1-2-3-4-5-6-7-8”, a batida é consideravelmente mais pesada e instala uma tensão em que a frequência numérica se impõe como se fosse um ditado de um cérebro imerso em chips que descodifica a realidade através das suas proporções matemáticas. A canção que se segue a “Numbers” é “Computer World” e é composta por uma melodia digital afectada por uma frequência determinada por computadores pessoais datados da década de setenta, um dos quais surge no ecrã em 3D; e os números são substituídos por termos simbólicos robotizados: “Bank”, “FBI”, “business”, “money”, “people”, que se atêm à melodia sintetizada. “Computer world”, dito por uma voz humana, assim como: “Interpol”, “FBI”, “CIA”, “KGB”… A terceira canção “Home Computer” tem uma batida deep com um fraseado de sintetizador kitsch do qual emanam uns acordes de uma harpa Pop, que é intercalada por um recrudescer do ritmo naturalmente dançante, há um solo de um dos teclados que poderá ser rock ou pop ou synth pop. Ralf Hütter fala em alemão, “g, k, w”, e a vertente synth pop é reavivada e imiscuída na batida dançante, aceleram o ritmo e o Coliseu dos Recreios é uma gigantesca pista de dança destinada para robots humanos, o transe dá-se como uma figura de estilo do futuro, um solo de teclado dá azo a uma variação synth jazz, seguido do qual os teclados solam intercaladamente, finalizada pela melodia digital Pop à partir da qual tudo emanou. A quarta canção “Computer Love” é dotada de um ritmo denso minimal, no ecrã surgem quadrados que se vilipendiam, um dos sintetizadores desenha a melodia vivificante, o ritmo ganha um corpo pesado oxigenado por uma bomba que expira para o interior de uma máquina inteligente, “TV screen”; instala-se uma progressão minimal curta sobre a qual flutua o solo do sintetizador que dá continuidade aos acordes vivificados da década de oitenta, surge um computador: “Computer love”. O ritmo acelerado é sincronizado com pontos coloridos que abrem e fecham como se fossem furos que expelem um hipnotismo synth pop, “computer love”. Antes de “Man Machine” irrompe a primeira ovação para o quarteto germânico, no ecrã surgem quadrados vermelhos que jogam entre si como se fossem almas do Tetris, o pendor rítmico é curto e pesado sobre o qual os sintetizadores repetem três notas, algo que é estruturalmente provindo do Rock and Roll, quando uma voz diz: “Man Machine” esta é inscrita no ecrã como um imperativo absolutista, e que é repetida para que seja devidamente absorvida pelos óculos 3D, após uma variação que mistura circularmente os acordes rock, o ritmo é acelerado e a melodia remete para uma memória passada no futuro, “Human being”. “Spacelab” é marcada por um ritmo lento e progressivo, no ecrã surge o planeta terra, e a melodia é prog-Pop, e uma voz robótica é tão relaxante quanto um chá de micro organismos; no ecrã a terra é reduzida à Península Ibérica, surge um satélite que voa em direcção ao público; a Pop é doce, ouve-se uma voz robótica e um satélite voa sobre o público, enquanto o ritmo se encurta e um ovni sobrevoa-nos, a programação é finalizada quando a nave aterra no Rossio, abre uma comporta mas não surgem extraterrestres e os lisboetas assinam uma apoteose em que agradecem aos Kraftwerk a distinção. A sétima canção “The Model” é ilustrada através do movimento do ecrã a preto e branco que acompanha os sintetizadores que rejeitam paralelamente uma melodia suave com ligeiras variações de teclado para teclado sobre o ritmo curto, mas este não fere o seu esoterismo synth. “Models”. A melodia é de uma densidade cromática quase poética, “she”, o solo de um dos teclados cita a música clássica, “words”, “breath she can”. A oitava canção denomina-se “Neon Light” e a fluência é lenta e a batida obscura, no ecrã surgem néons, há um que tem a inscrição “Hotel Cristallo”, a voz é processada: “Of us”, “universe”, o synth slow é assumidamente Pop, “the two of us”. Ralf Hütter canta em alemão sobre o amor que o tolheu na noite em que o muro de Berlim foi derrubado em nome da liberdade e da união entre dois povos siameses, o seu coração bate sincronicamente com o acelerar do ritmo, e a melodia gradualmente e lentamente intensifica-se e envolve os presentes no seu véu transparente mas negro. Quanto a “Autobahn” é uma ode à auto-estrada na qual surgem motas e carros que se deslocam graficamente no ecrã cinzento, de um dos automóveis sai uma buzina, os quatro teclados são contornados por luzes led, o ecrã fica azul onde surge o símbolo da auto-estrada, responde-nos uma voz robótica “autobahn”. O ritmo em que navega o Mercedes da década de setenta, é lento e irrompe da tela em direcção ao público num choque efectivamente virtual, do rádio o radialista confirma que a tecnologia é alemã, o ritmo curto transmuta-se para uma lentidão que acompanha o surgimento de um Volkswagen Beetle, há uma variação da lentidão para um aceleramento, mas sob o expulsar da progressão lenta deep, que é seguida pelo condutor do Mercedes, buzina, a densidade induz à hipnose, pausa, “von von autbahn”. Um coro cibernético repete: “Von von autobahn”, “von von autobahn”, “von von autobahn”, do auto-rádio surgem notas musicais que voam lentamente para o público, infectando-nos com uma sinestesia programada. O Volkswagen segue ao ritmo acelerado das máquinas digitais que minimalmente transpõem a melodia para um nível intelectual, irrompe majestaticamente um solo de uma guitarra com o pedal semi-distorcido e que encaminha a nona canção para a sinfonia prog-rock-kitsch, um robot relembra-nos que há uma “Autobahn” em cada esquina neste jardim de aldeias fumegantes de saudade. Os amantes dos Kraftwerk batem palmas efusivamente tornando-se discípulos de uma alienação digital que os torna reais e como tal dotados de mentes em 3D. “Airwaves” é imiscuída numa lentidão romântica, ouve-se uma voz feminina que obtém a resposta de uma masculina, os violinos são de um barroquismo sinfónico que acendem uma vela que perfuma o Coliseu dos Recreios de um perfume a pétalas pisadas pelo capitalismo, esse macho habituado a violentar os seus escravos sexuais, os agudos guincham, mas são suprimidos pelo bem estar dos teclados, se estes fossem uma droga seria o ópio para o povo fumar durante um viagem transatlântica de este para oeste, para cada lado dos nossos cérebros frescos, secos, velhos e fluorescentes como uma luz que ilumina a escuridão repleta de grãos de cocaína. No ecrã estão linhas brancas que se dobram ondulantemente sobre um fundo negro, a batida hard recebe palmas que incitam à festa regada a MDA, uma voz robótica circula por entre as “airwaves”, a guitarra surge numa vertente prog-psicadélica prolongada pelos teclados, pausa, o beat acelera-se prudentemente e as ondas são cabelos ao vento imposto por satélites orgânicos da virgem na obra “The Birh of Venus” de Sandro Boticelli. “Intermission” um violino retro digital é prolongado pelo teclado, silêncio, notas tecnológicas sobrepõe-se romanticamente como um coração a abrandar o ritmo. Já em “News” as luzes estão apagadas, apenas é possível visualizar as silhuetas dos músicos que emanam luz azul, de um teclado sai uma nota repetida que poderia referir-se à música contemporânea, uma voz divaga em alemão, e os teclados sublinham o carácter incidental, as vozes multiplicam-se como se fossem oriundas de um corpo demoníaco. A décima terceira canção da noite é caracterizada no ecrã por um símbolo semi-circular e a data 1975, e uma voz em alemão lê textos digitais, “computer”, desloca-se sobre o público, “technologie”, a cadência é lenta como uma torrente que se esvai em câmara lenta, o ecrã contraria-o ao debitar rapidamente imagens que o público acompanha com palmas. No ecrã a preto e branco surge um telegrafo a emitir ondas sonoras--uma voz robótica disserta em alemão—e transforma-se numa cor amarela e vermelha fluorescente, o teclado docemente enumera uma melodia sobre a qual uma voz robótica identifica a cidade de “Fukushima”. “Radioactivity” é uma celebração negra contra a energia nuclear, no ecrã surge um satélite a identificar a origem de uma potência criminosa, o ritmo é deep (lento) com tendência a se intrometer inconscientemente na inconsciência dos mais incautos. Um protão dança ao ritmo de uma força que o quer dividir e consequentemente usá-lo para alimentar máquinas avidas por eléctricidade, após a progressão melódica-rítmica surge um pelotão de protões a dançar e a massa sonora ganha uma variação infusa numa alegria que entra em paradoxo em relação à profundidade (lenta) da central nuclear. Há uma ovação que coroa “Radioactivity” de um hino contra a natural devastação da natureza humana. “Ohm Sweet Ohm” é iniciada por um ritmo que lentamente instaura uma negritude melódica que é injectada por um kitsch sinfónico, no ecrã flutuam violoncelos que se aproximam da nossa visão e através do qual emanamos um bem-estar digno de um hipnotismo que consigna a imortalidade como fim eterno. “Electric Café” o ritmo é deliberadamente curto e obriga à dança, um dos sintetizadores desenha a melodia alegre, há uma solução inesperadamente rock que se resume a pontuar as notas com uma palavra de ordem minimal, como por exemplo: “Musik”. Os Kraftwerk surgem no ecrã num fundo branco, “arte”, cresce a frequência, “politik”, e os sintetizadores reinscrevem a melodia melancólica em elipses impossíveis de descrever. “Tour de France (1983-2003)” é iniciada por um fluir lento e uma voz humana respira forçadamente e expira: “Tour de France”, um dos teclados expurgue uns acordes melódicos e sinfónicos assumidamente 1983; no ecrã encontra-se a inscrição “Tour de France” sobre um fundo branco, a voz humana masculina repete “Tour de France” como se estivesse a retirar as palavras directamente do diafragma, o ritmo acelera e a injecção de ar provinda de um compressor que metaforicamente representa um ciclista, a roda da sua bicicleta surge graficamente numa paisagem computorizada, e o minimalismo synth ocorre e revela-se ritmicamente até uma profundidade deep, um robot subtrai a voz humana: “Tour de France”, na qual os Kraftwerk celebram a criação da roda como a invenção que mudou o tempo real e o psicológico, os verbos ganharam outra presença na sociedade e consequentemente subtraíram o arcaísmo que era um denominador comum. Julgo que ninguém gritou “viva a roda! Viva a roda!”, curiosamente e paradoxalmente nem eu tão pouco, eu Jaime, eu Jimmy, eu James ou ritmo curto e robot: “Tour de France”. Na décima oitava canção “Chrono” o ritmo-deep passa para um épico techno, palmas, os sintetizadores numa dança poética decidem alternadamente acompanhar o ciclista que se desloca nos Alpes franceses a caminho da meta, palmas, “radio”, “information”, “television”, “tour de France”. Os Kraftwerk na décima nona canção “Trans-Europa Express” personificam uma máquina marcada por um synth sinfónico progressivo que se sobrepõe à batida curta, de um dos teclados emana uma variação oriunda da música clássica, “rendez-vous”, no ecrã surge o TGV, “Trans-Europa Express”, “Trans-Europa Express”, “Trans-Europa Express”, ouve-se um solo sinfónico minimal que não divaga por entre a sofisticação tecnológica imposta pelo quarteto alemão, o acelerar do ritmo marca o acompanhamento da viagem encetada pelo comboio de alta velocidade; os sintetizadores gradualmente reintroduzem o mecanismo melódico da canção que é sumptuosamente revelado pelo solo sinfónico, que é ovacionado pelo público. “Abzug” é dotada por um groove digital que minimalmente impõe a concentração, e a progressão é fustigada pelo ritmo deep house sinfónico-kitsch, que sublinha as tonalidades negras da melodia levemente arabesca entrecortada por violinos ninfomaníacos. “Metall auf Metall” não é um teatro de sombras chinesas apenas o encadear de um ritmo monótono, que é reavivado pelos teclados ora sinfónicos ora digitais. O pano é corrido enquanto ecoa uma ovação contínua, quando se abre no lugar dos quatro humanos surgem manequins engravatados, são os sósias robotizados dos Kraftwerk que movimentam os braços paralelamente sem teclarem os sintetizadores para executar a vigésima segunda canção “The Robots”, dos quais é projectado um tecno minimal, no ecrã surgem os robots e a frase de ordem robotizada: “We are the robots”, as pessoas aplaudem-nos ruidosamente, o acelerar do ritmo pressupõe de que estes são os ditadores de um planeta em que os humanos são os seus indigentes submissos. “We are the robots”. Os Kraftwerk recebem uma ovação enquanto se encontram a debitar “Aéro Dybamik”, a canção tem uma batida deep minimal sublinhada pelos teclados sinfónicos, no ecrã surge uma geometria verde e setas brancas perfuram a muralha ecológica, o surgimento de uma toada brasileira carnavalesca surpreende dada a sua inusitada proveniência, “aéro dybnamik” relembra uma voz robotizada, o minimalismo namora constantemente com os sintetizadores sinfónicos. “Planet of Visions” tem ritmo curto e uma voz robotizada refere que nos encontramos no “XXI century”, “architektur”, o solo do teclado instaura um acelerar rítmico, no ecrã surgem os Kraftwerk. A vigésima quarta canção “Boing Boom Tschak” parte do ritmo com que as palavras surgem ditadas no ecrã: “boing”, “boom”, “tschak” e a partir deste princípio --que se repete constantemente-- é pontualmente perturbado pelos sintetizadores sinfónicos. A penúltima canção “Tecno Pop” segue a lógica da repetição do termo “tecno Pop”, sobre o ritmo curto emergem solos lentos e predominantemente sinfónicos, a variação da melodia é imposta por violinos melancólicos embebidos numa tonalidade profundamente kitsch, após a repetição dos acordes que estruturam “Tecno Pop”, emana um blues estereotipado sublinhado por uma harmónica, ouve-se uma voz a falar em alemão. “Music Non Stop”, este termo é continuamente repetido, surge um boneco no ecrã, o beat é deep and hard minimal: “Music non stop”; “music non stop”; “music non stop”; “music non stop”, após os robots realizarem intercaladamente cada um dos seus solos, um a um abandonam o palco, não sem antes fazerem uma vénia ao público, o último é Ralf Hütter e é presenteado com uma ovação calorosa, enquanto se ouve o tecno e a ordem:“music non stop”; “music non stop”; “music non stop”; “music non stop”; “music non stop”; “music non stop”.
Kraftwerk, “3D”, 19 de Abril, Coliseu dos Recreios @ Lisboa
Dedicado a Eduardo Guerra Frazão
Kraftwerk, “3D”, 19 de Abril, Coliseu dos Recreios @ Lisboa
Dedicado a Eduardo Guerra Frazão
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