Há uma composição de igreja ateada por jovens do Ku Klux Klan que marca a entrada em palco dessa força armada denominada de GNR—Rui Reininho (voz); Jorge Romão (baixo eléctrico); Tóli César Machado (guitarras, teclado, acordeão) aos quais se juntam Samuel Palitos (bateria), Andy Torrence (guitarra eléctrica) e Paulo Borges (Hammond e afins). Para os mais distraídos-- e que são muitos neste este país onde graça o engano e a má língua-- os trinta e quatro anos percorridos pelos GNR, não foram em vão ou gratuitos; ou tendo como fim único o lucro; ou terem vivido de feitos históricos para todo o sempre: e por tudo isto e muito mais, o trio sediado na cidade do Porto, terão um lugar cativo num panteão Pop. Há uma alegria contida mas desmedida por parte dos GNR em apresentarem ao povo as canções do último albúm “Caixa Negra” com a excelente produção de Mário Barreiros. Mas antes, tocaram de forma irrepreensível: “Telephone Pecca”; “Popless”; “Vídeo Maria”; “Efectivamente”; “Tirana”; perderam o fôlego? Todas dignas de figurarem no manual escolar de como escrever canções Pop sublimes, para serem recordadas para todo o sempre; e se Deus fosse crente seria fã dos GNR mesmo que estes tenham pecado ao libertar a virgem Maria da sua virgindade-- como que um cinto de castidade orgânico imposto por anjos castrati. O tema que dá título ao décimo segundo álbum de originais “Caixa Negra” tem todas as qualidades melodicas para apresentar um passado revigorado e consequentemente é actualmente um composto Pop kitsch; liricamente está mergulhada numa ambiguidade desarmante que ao ouvinte ecoa como um jogo de espelhos onde se reflectem cegos. “Triste Titan” é uma bomba de inexcedível delicadeza sumptuosamente agridoce, se fosse um relógio seria de sol, se fosse amor seria uma eterna paixão; e se não tivesse sido composta pelo Tóli César Machado jamais alguém teria tal talento. Rui Reininho redigiu/canta um poema que é uma declaração de amor a Portugal, quem mais vai a “banhos, a milhares de anos”? Maravilhoso. A temperatura aumenta com “Cais” que é vilipendiada pela fúnebre “Morte ao Sol” e electrocutada por “Las Vagas” e por fim “Ana Lee” exorciza o seu exotismo erótico. “MacAbro” parece que foi composta por um músico no convés de um navio onde os ratos são pessoas, que oram para que a neblina fantasmagórica não seja do teor das suas almas; o coro composto por Jorge Romão e por duas silhuetas masculinas são iluminados por um sangue que pinga das luzes da ribalta, que identificam a incapacidade de nos libertar da fatalidade que a vida impõe. “LáLáLáLáLá”. “Asas”; “Pronúncia do Norte” e “Sete Naves” deveriam constar como estrelas num firmamento embriagado perseguido por um poeta em busca da sua musa para que lhe permita redigir uma ode à sua beleza. “Cadeira Eléctrica” é digna de uma beleza Pop acelerada para além dos limites que perpetuam uma redundância existencial, não há promessas na lírica do Rui Reininho, o paraíso é uma montanha de notas de crédito artificiais. “Sangue Oculto” é dominada por um Rock and Roll em duas vozes: uma castelhana a outra lusa, asseguradas exclusivamente por Rui Reininho. “Dunas” tem uma cadência da década de sessenta em que a ingenuidade foi anulada pela beat generation que transformou a América num lugar sombrio e marginal onde as flores são de alcatrão que rasgam os desertos e transportam os passageiros para estâncias alucinogénicas. Stop. “Sub 16” e “Mais vale Nunca”, a primeira é uma canção Pop que sentencia os “Djs” ao enforcamento, por instituírem o vazio e a futilidade como cultura dominante; a segunda é a canção preferida do Peter Pan nascido na Terra do Nunca vizinho dos GNR. Viva o “Inferno”, que se fosse o de Dante estaria em constante combustão, mas como é o do Roberto Carlos essa múmia residente do ié brasileiro, é violentada pelos GNR!
Caixa Negra, GNR, 14 de Agosto, Festival do Bacalhau @ Gafanha da Nazaré
sábado, 15 de agosto de 2015
O Meu País Inventado
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