sábado, 26 de novembro de 2016

Born to Run

As luzes vermelhas sobre o palco do Salão Brazil incidem em três pontos: no centro encontra-se um kit de bateria atrás do qual se posiciona em pé o Carlos Mendes; à esquerda consta Sérgio Cardoso com um baixo eléctrico e no lado oposto a guitarra eléctrica do Samuel Silva, atrás dos quais se encontra uma tela negra com a inscrição: The Twist Connection. A primeira canção da noite denomina-se, “Cruising for a Bad Time”, e tem um ritmo rock mas com uma métrica repetitiva rápida e incisiva que é distorcida pelo baixo eléctrico do Sérgio Cardoso; Carlos Mendes canta: “Alone”; sobre os quais a guitarra eléctrica do Samuel Silva sola minimalmente; instauram um ritmo mais acelerado, “don`t you kown”; finalizam-na num repetente tão violento quanto ensurdecedor. Na seguinte, “Sweet Stranger”, Carlos Mendes introduz um ritmo que gradualmente se torna mais agressivo; que encontra nos solos angulares do Samuel Silva uma angústia dilacerante, “time”, que se prolongam minimalmente e a bateria Carlos Mendes e o baixo eléctrico do Sérgio Cardoso mantêm-se omnipresentes, “auau”, que se comprometem com um rock and roll hipnotizante; “behind”; “shadow”; e durante os breaks da bateria do Carlos Mendes contorcem-se os solos do Samuel Silva; “I want to see the blue skies”. Palmas. Carlos Mendes dirige-se educadamente ao público: “Obrigado, meus caros. Três coisas muito rápidas: obrigado por tudo, meus caros. Segundo: estou a estrear esta camisa. Terceiro: esta música chama-se ´Night Shift`” e o seu vídeo “foi filmado aqui”, no Salão Brazil. À bateria mecânica-marcial do Carlos Mendes associa-se o baixo eléctrico do Sérgio Cardoso denso e inscrevem um pendor de marcha para um precipício, que com a guitarra eléctrica do Samuel Silva instauram uma queda livre em direcção ao rock and roll conspurcado pelo blues, “last night”; “you where the one”; “remember this”. Samuel Silva executa solos tão precisos quanto perfeitos na sua dimensão sónica; pausa; reinscrevem a marcha mecânica e que é sintetizada em rapidez e substância num bloco de pedra flutuante. “Night shift”; “the best is yet to come”; e os solos do Samuel Silva destacam-se como se fossem lâminas de barbear usadas para cortar os pulsos. A quarta canção é “It`s not Working Out”; Carlos Mendes domina com a sua bateria sincopada que é acompanhada pelo baixo eléctrico do Sérgio Cardoso; a guitarra semi-distorcida do Samuel Silva mimetiza a cadência rock e pespega-a a um fundo rock minimal; este canta/grita algo imperceptível para o seu microfone e que é correspondido pelo Carlos Mendes; e sobre a métrica rock Samuel Silva reintroduz os solos mas mais rápidos e incisivos que são parte da equação e simultaneamente o seu oposto, que alternam entre as vozes do Carlos Mendes e do Samuel Silva. “Away”. O rock and roll que os The Twist Connection instituem tem uma matriz que é violentada pela guitarra eléctrica do Samuel Silva; há uma alternância das vozes de Samuel Silva e do Carlos Mendes; e aumentam a altura e o ritmo e sobressai o baixo agreste do Sérgio Cardoso e a guitarra do Samuel Silva é tão vital quanto tresloucada. Carlos Mendes assegura que “a próxima música chama-se ´Long Drive`”; a guitarra do Samuel Silva inscreve uns acordes semi-distorcidos que são acomodados pelo baixo do Sérgio Cardoso em consonância com a bateria do Carlos Mendes que canta: “So long”; “long drive”; o rock tem uma infusão de uma densidade dramática transcrita pela guitarra eléctrica do Samuel Silva em solos de uma agudeza perturbante; os três vértices produzem uma melodia preponderantemente rock que encontra o seu ponto de clivagem na guitarra eléctrica do Samuel Silva, que epicamente sola e a transforma num rock and roll viciante e vicioso. A próxima canção é “Move Over”; a bateria do Carlos Mendes marca um compasso que é prolongado pelo baixo eléctrico do Sérgio Cardoso, entrecortado por um solo disruptivo da guitarra do Samuel Silva; misturam-se num aglomerado em que impera uma decomposição que se transforma numa composição carregada de dor; retomam a cadência inicial e a voz do Carlos Mendes canta: “I don`t known where I have being”; solo da guitarra de Samuel Silva num timbre angustiante; e o trio em bloco repercute-se num convite ao abismo; “my face”; Carlos Mendes e Samuel Siva: “Good days”; estendem o negrume rock and roll numa rapidez visceral, que encontra no solo semi-distorcido da guitarra do Samuel Silva um reflexo num espelho côncavo, dilui-se num replicar espaçado por parte da bateria do Carlos Mendes com parcimónia do baixo eléctrico do Sérgio Cardoso; o solo da guitarra do Samuel Silva é prenúncio de que se transmutam numa violência destorcida; “have being”; “outside”; a canção é assoberbada num tumulto rock and roll que transmite a castração do medo. A sétima canção, “Breath In”, tem um ritmo compassado da bateria do Carlos Mendes que é preenchido pelo baixo eléctrico do Sérgio Cardoso sobre os quais deflagra a guitarra eléctrica do Samuel Silva em solos milimétricos-- Carlos Mendes: “All the way”; “worry”— que consistentemente revelam-se tão eficazes quanto hipnóticos no seu minimalismo agnóstico. “I don`t care”; “real, real”; The Twist Connection em crescendo instauram sobre a métrica rock and roll uma violência incontinente; “out”; pausa; “1-2-3-4” e relançam-se num torpor rock and roll conspurcado pelos solos da guitarra do Samuel Silva. Durante a pausa Carlos Mendes agradece aos presentes a sua presença e atira as baquetas violentamente sobre o palco que saltam num ricochete absurdo; reinvestem num rock and roll tão rápido quanto um último esgar. Antes da oitava canção, “I´m watching You” da autoria de Jay Reatard, Carlos Mendes convida os Birds are Indie para subirem ao palco do Salão Brazil. O ritmo lento que implementa Carlos Mendes é delicado mas não deixa de ser incisivo e associado à lenta pandeireta da Joana Corker emanam uma alegria que é uma vã esperança; Ricardo Jerónimo com a sua guitarra acústica polvilha-a com cores veraneantes; Henrique Toscano dedilha a sua guitarra eléctrica de forma a se contrapor à do Samuel Silva. Os seis músicos sintetizam uma composição indie-pop; mas Samuel Silva retira-a desse reduto e coloca-a num indie-rock que lhe desgarra as cores POPism; a voz de Carlos Mendes projecta um canto delicado de amante que ficou enclausurado numa jaula de lençóis: “I want you…”; e sobre a melodia tristonha ouve-se a confissão do cantor/baterista: “And all the things you do to me… you see?”. O infatigável e extravagante Carlos Dias dedica, “They are Coming” ao “Bruno Pires”, fotógrafo e realizador dos vídeos das canções que decorreram de “Stranded Downtown”, o primeiro álbum da banda conimbricense. O ritmo implementado por Carlos Dias é um dois por dois que é secundarizado pelo baixo do Sérgio Cardoso, vilipendiado pelos solos pirómanos da guitarra eléctrica do Samuel Silva; o trio é acompanhado pelos Birds are Indie que desfiam uma malha puramente expectante: “They are coming”; o coro pop intervém: “They are coming”. Samuel Silva reinscreve os seus solos hipnóticos de tão minimais; os The Twist Connection e os Birds are Indie misturam-se e a melodia é pop-indie-rock, mas que transformam numa vivificação violenta. Carlos Dias agradece ao contributo dos Birds are Indie, que abandonam o palco sob palmas. A décima canção, “Stranded Downtown” , tem um ritmo curto sincopado da responsabilidade do Carlos Dias, que é dilacerado pelo solo do Samuel Silva; pausa; “gone”; “stranded downtown”; o break da bateria é acompanhado pelo baixo do Sérgio Cardoso, por entre o torpor rock a guitarra do Samuel Silva é western. Antes da penúltima canção Carlos Dias despede-se do público: “Obrigado e até à próxima, meus caros”. “Turn of the Radio” tem um ritmo mecânico nos quais se intrometem os solos repetitivos do Samuel Silva; “talking”; “the boggie man”; “turn of the radio”; pausa; Carlos Mendes e Samuel Silva: “Turn of the radio”; Samuel Silva repete os solos; “every single night”; “smile”; “I can´t stop”; “turn of the radio”; e o rock and roll que comungam é prolongado pela guitarra solo do Samuel Silva que é de um machismo minimal; “people go”; “alone”; os solos desbundam milimetricamente intercalando no ritmo rock agressivo e viril; “talking”; “turn of the radio, turn of the radio”; “I can`t stop”; os The Twist Connection sustêm as notas rock e Carlos Dias discursa enquanto toca bateria: “Obrigado foi um prazer meus caros…”. As palmas demandam que os músicos regressem ao palco e estes aparecem para tocar, “I Can`t Stay”, que tem um ritmo sincopado de rock incisivo e sujo que Samuel Silva se compromete aprofundar com solos épicos; “I don`t want”; “I can`t wait”; “to walk away”; o ritmo perde a sujidade e ganha uma leveza quase pop; “I can`t say”; reacende-se a síncope e a violência; “remember”; “take a walk”; após o break da bateria do Carlos Mendes destaca-se o baixo semi-distorcido do Sérgio Cardoso e Samuel Silva retira a máscara rock dos seus solos e surge o blues como uma doença infecto-contagiosa; “I can`t say”; “walk away”; Carlos Mendes instaura um ritmo que se mistura com a guitarra solo do Samuel Silva representantes de etnias rivais; pausa; o ritmo é uma sincope que derrama sangue por entre os pratos bateria e gradualmente repetem o negrume rock numa brutalidade rock.

“Stranded Downtown”, The Twist Connection, 25 de Novembro @ Salão Brazil