A entrada da Ute Lemper no Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz, é antecedida por três músicos que se dividem pelo piano, contra-baixo e bandoleon que são aplaudidos pelos presentes; a primeira canção é um original de Tom Waits que é um blues associado ao jazz; subsequentemente transcrevem canções do Philip Glass, Jaques Brel, um autor do século XII, Kurt Weill, uma composição da cantora alemã com letra do escritor brasileiro Paulo Coelho, uma outra com letra do escritor americano Charles Bukowski, Bertolt Brecht, Hans Leip e Norbert Schultze, Charles Dumont e Michel Vaucaire (entre outros), segundo diversos géneros musicais, o blues, o jazz, vaudeville, a chanson francaise, tango e a música clássica (no arranjo de uma canção), por vezes estes são apenas desenhados para que o interior da canção seja diversamente estruturada, outras é redundante ao se apropriam somente dos seus clichés; Ute Lemper por norma fala antes de cada uma destas (isto sobre os acordes do piano) para as enquadrar temporalmente, ou informar quem é o autor que irá cantar, ou fazer um conjunto de considerações políticas e ou pessoal, algo que é pedagogicamente correcto mas sua constante repetição é obviamente entediante; a sua voz, apesar dos tiques de cantora de jazz (o seu virtuosismo nunca é excessivo), tem o poder de transformar as palavras nas diversas línguas (francês, inglês, hebraico, alemão) em suas e nessa medida transmite ao espectador um universo que marcou o século XX; destaco “Ne Me Quitte Pas”em que há mais espaço entre os instrumentos e se no original graça uma dor incomensurável no CAE ressalva uma delicadeza desarmante; fisicamente é magra e esguia e quando dança por vezes raia o ridículo, noutras (na sua maioria) é elegante ao enquadrar cada uma das canções num determinado contexto, dai advém uma teatralidade que emoldura o espectáculo e lhe confere um cenário familiar; o público comporta-se como se fossem alunos a ouvir uma professora que respeitam não pelo medo que ela poderia emanar mas pela admiração que lhe têm, somente na recta final murmuraram ou aplaudiram ao ritmo do contrabaixo; a ovação final é demonstrativa que estão satisfeitos com o espectáculo “Songs From The Heart”, e é no “heart” que Ute Lemper deve morar …
“Songs From The Heart”, Ute Lemper, 16 de Março
sábado, 18 de março de 2017
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