Desconheço em que espaço me encontro a rabiscar palavras pretas sobre fundo branco as quais são reflexos turvos do seu rosto de sibila que traduz em cada olhar sobre a realidade a moldura de um romantismo pejado de pétalas vermelhas num pontilhismo que lhes oferece um distanciamento no qual é perceptível destrinçar o mistério da sua aura de anjo que caiu por acidente numa terra que não estava preparada para a albergar no seu seio julgo-a iluminada por uma luz artificial que lhe confere uma cor de lustros areados por um roberto vestido de mordomo como se tivesse sido bronzeada por um sol escravo das estações do ano e ao pisar as ondas do mar o seu corpo é sucessivamente transcrito para o ritmo da maré que o refaz e o desfaz num jogo desordenado que lhe confere uma efemeridade eterna que somente é reflexo da sua beleza alheia da natureza humana; acabei de sair do Pátio onde decorreu o jantar de aniversário do Carlos Dias ou Carlos Subway (militante nos Wipeout Beat) e da fã número num dos Subway Riders Dulce Coimbra, transporto uma bateria preta e a rádio debita uma voz que repete “cena” e “imagina” uma metanarrativa absurda que me tortura e desligo-o paro à porta do Pinga Amor e descarrego a bateria que os Subway Riders irão utilizar daqui a pouco; e desta vez Carlos Subway (voz), Victor Subway (guitarra eléctrica), Calhau Subway (maracas, saxofone, voz), Chau Subway (bateria), Augusto Subway (teclados) fazem-se acompanhar por João Pedro Viegas Subway (saxofone), e as canções são sufragadas segundo critérios diversos: a composição/decomposição, minimalismo e o seu contrário, o jazz versus o rock, o romantismo kitsch, a pop e o anti-pop, o dub e o techno; umas são citações de clássicos da cultura anglo-americana outras originais que por vezes são tão pastiches quanto hipnóticas tecidas com a vertigem sob o olhar dos tímpanos, há a destacar a visceral performance do Carlos Subway tão enraivecida quanto um cão alemão de crómio a orientar um rebanho de judeus para a Capela dos Ossos; se é ela à janela a meditar sobre o silêncio que é a energia do nada e no vazio cresce uma flor carnívora no meio de juncos policiada por espantalhos que a aprisionam num sombreado intermitente soprado pela aragem diurna e creio que está à minha frente a questionar-se sobre os efeitos nocivos do tempo em que tinha que enfrentar os alçapões de um palco onde julgava que era a musa de um dramaturgo do absurdo e tento acariciar o seu perfil que se esfuma mas mesmo assim desenho com o dedo no ar o seu sorriso tão cândido quanto delicado que me transmite a totalidade do seu ser e que por ventura um dia terei o talento de descodificar.
Subway Riders, 4 de Outubro, Pinga Amor, Coimbra.
Festa de aniversário do Carlos Dias e da Dulce Coimbra.
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